30 agosto 2011
Banco Rural
A primeira página do balanço do banco Rural, publicado na semana passada, mostra que a instituição teve um lucro líquido de cerca de R$ 3 milhões no primeiro semestre deste ano. Magro, mas ainda assim azul. Mas quem tiver fôlego para chegar até a última página, a de número nove, verá que, para os auditores, a instituição mineira teve um prejuízo de R$ 26,5 milhões.
A diferença de R$ 29,5 milhões a menos no resultado do Rural é alvo de uma ressalva da firma de auditoria que revisou os números do banco, a Ernst & Young. Uma ressalva equivale a dizer que os auditores encontraram um erro na contabilidade da instituição.
O balanço do Rural teve três ressalvas e outros dois parágrafos de ênfase, que são os pontos considerados como incertos pelos auditores. Há muito tempo, segundo dois especialistas em contabilidade de bancos consultados pelo Valor, instituições financeiras não publicavam balanços com ressalvas.
A origem da discrepância dos números está no fato de o banco Rural ter decidido parcelar dívidas tributárias, em vez de discuti-las na Justiça, por considerar que os benefícios da renegociação dos impostos seriam mais vantajosos. Ao fazer isso, porém, o banco teve de reconhecer o pagamento de R$ 29,5 milhões ao governo.
E onde encaixar essa despesa no balanço? Segundo as normas contábeis, esse valor deveria representar um gasto [1] do semestre, o que, portanto, reduziria o tamanho da última linha da demonstração de resultados - aquela que determina a distribuição dos lucros [2]. Se isso tivesse sido feito, o banco teria ficado com um prejuízo de R$ 26,5 milhões, ante R$ 17,3 milhões no vermelho registrados um ano antes.
A opção do Rural foi por descontar os R$ 29,5 milhões diretamente de outra conta, a patrimonial. Dessa forma, o resultado do semestre não foi afetado, o que determinou, ao fim, um lucro líquido de R$ 2,9 milhões do banco.
"Tecnicamente, achamos que temos razão porque o parcelamento se refere a ações judiciais de muitos anos atrás. Não está relacionado a este ano", diz João Heraldo dos Santos Lima, presidente do banco Rural, que tem um ativo total de R$ 4,5 bilhões, o 47º maior do sistema financeiro do Brasil.
A discussão em torno do parcelamento de tributos, entretanto, não é o único ponto dos números do Rural em discordância com as regras contábeis. A Ernst & Young registrou outras duas ressalvas no balanço do banco.
Uma delas se refere a uma acusação feita pelo Banco Central de fraude em operações de câmbio em 1994. O processo, que agora corre na Justiça, foi considerado pelos advogados do banco como de perda "possível", o que não requer provisão pelas normas de contabilidade. Mesmo assim, o banco reservou R$ 27 milhões para arcar com o custo do processo, reduzindo seu patrimônio.
Lima diz que o banco decidiu ser mais conservador, por isso optou por já fazer a provisão. No balanço, o banco diz que as provisões foram feitas por determinação do Banco Central, em abril de 2010. Procurados pela reportagem, a Ernst & Young e o Banco Central informaram que não se pronunciariam sobre o assunto.
Outro ponto ressalvado pela auditoria se refere a R$ 130 milhões que o banco tem em provisões e em depósitos judiciais. Por falta de documentação, a auditoria não conseguiu checar esse valor.
Além disso, a Ernst & Young ainda acrescentou ao balanço do Rural dois parágrafos de ênfase - pontos considerados de incerteza pelos auditores -, em relação ao ganho de créditos tributários.
As ressalvas dos auditores vieram em um semestre em que o Rural sofreu perdas com as operações de crédito com desconto direto na folha de pagamento. O chamado consignado trouxe uma perda de R$ 11,8 milhões para o banco [3]. Já as transações com o crédito para empresas e com câmbio geraram ganhos de R$ 14,7 milhões. O resultado operacional do banco ficou negativo em R$ 15,3 milhões.
Rural foge da norma contábil e tem lucro - Por Carolina Mandl - Valor Econômico - 29 Ago 2011
[1] Despesa
[2] determina o resultado. A determinação dos dividendos depende da assembleia.
[3] Conseguir perder com o consignado...
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Mudanças no Parecer
Sobre a proposta de mudança do parecer de auditoria nos Estados Unidos:
O PCAOB estuda, por exemplo, passar a exigir que os pareceres incluam uma análise do auditor, parágrafos de ênfase ampliados e garantia do auditor em relação a veracidade das informações fora das demonstrações financeiras.
Além dessas, outras exigências que forem abordadas na mesa-redonda poderão ser incluídas na proposta original. “Qualquer melhora na comunicação sobre o processo de produção das demonstrações financeiras e outras informações sobre as companhias seria destinada a fornecer elementos valiosos para a tomada de decisão dos investidores e qualquer outra pessoa que usa os dados contábeis", diz Martin F. Baumann, auditor-chefe e diretor de padrões profissionais do PCAOB.
EUA vão debater mudança em parecer dos balanços - Valor Econômico - 26 Ago 2011
O PCAOB estuda, por exemplo, passar a exigir que os pareceres incluam uma análise do auditor, parágrafos de ênfase ampliados e garantia do auditor em relação a veracidade das informações fora das demonstrações financeiras.
Além dessas, outras exigências que forem abordadas na mesa-redonda poderão ser incluídas na proposta original. “Qualquer melhora na comunicação sobre o processo de produção das demonstrações financeiras e outras informações sobre as companhias seria destinada a fornecer elementos valiosos para a tomada de decisão dos investidores e qualquer outra pessoa que usa os dados contábeis", diz Martin F. Baumann, auditor-chefe e diretor de padrões profissionais do PCAOB.
EUA vão debater mudança em parecer dos balanços - Valor Econômico - 26 Ago 2011
Negócios de alta frequência e a crise
O aumento dos negócios nos primeiros dez dias de agosto sobre a média de 2011 foi de mais de 80% no volume de ações nos Estados Unidos, mostrando que os operadores de alta frequência foram responsáveis pela maior parte dos negócios do mercado durante a queda, diz Gary Wedbush, vice-presidente executivo e diretor de mercados de capitais da Wedbush Securities.
Os negócios de alta frequência são uma técnica que se apoia na apresentação rápida e automatizada de ordens de compra e venda, muitas das quais são imediatamente atualizadas ou canceladas, como parte de estratégias como formação de mercado e arbitragem estatística, e táticas baseadas no momento. Eles responderam por cerca de 53% dos negócios no começo do ano, contra 61% em 2009, segundo a Tabb Group, uma consultoria financeira de Nova York. Em 2006 eles foram 26% do mercado, segundo da Tabb. (...)
Os algoritmos, ou estratégias que executam grandes ordens desmembrando-as em grupos pequenos e enviando-os para diferentes bolsas, também usam técnicas de alta frequência. Fundos mútuos, de pensão e hedge empregam os algoritmos elaborados por corretoras para automatizar parte de seus negócios, em vez de apresentar manualmente ordens nos mercados ou recorrer a corretores humanos para comprar ou vende lotes de ações.
Gary Wedbush diz que os profissionais que lançam ordens de compra e venda nas bolsas tornam os negócios mais eficientes e reduzem os custos para os investidores em ações. "A maioria dos operadores de alta frequência está agregando liquidez ao mercado", diz Wedbush. "Os operadores automatizados empregam uma variedade de estratégias que buscam lucrar com a volatilidade de curto prazo de uma ação, mas a maior parte dos operadores de alta frequência está proporcionando liquidez ao estar nos dois lados do mercado, ou fazendo criação/resgate de arbitragem para os operadores de alta frequência." (...)
Negócios de alta frequência triplicam na crise Por Nina Mehta - Valor Econômico - 26 Ago 2011. Sobre o assunto, veja este cartoon:
Caixa forte
As empresas brasileiras nunca tiveram tanto dinheiro em caixa como em junho deste ano [1]. A mais recente turbulência nos mercados pegou as companhias abertas locais com R$ 252 bilhões na conta ou em aplicações de curto prazo. O volume é 43% maior que os R$ 176 bilhões que elas tinham em setembro de 2008, quando estourou a crise financeira internacional.
Os números, compilados em levantamento do Valor, referem-se a um grupo de 253 empresas não financeiras de capital aberto, com dados disponíveis no sistema da Economática desde 2007. Os valores antigos foram corridos pela variação da inflação, no caso o IPCA.
Com recursos à mão deve ser mais fácil a travessia das companhias por esse momento de turbulência nos mercados financeiros [2], principalmente se houver piora das condições econômicas e aperto de crédito. Entre as empresas ouvidas, nenhuma pretende frear, ao menos por enquanto, os projetos de investimento ou aquisição previstos. (...)
No levantamento feito pelo Valor com dados da Economática, as duas maiores empresas do país, Petrobras e Vale, despontam com folga na lista daqueles com mais dinheiro disponível. A petroleira, que tem plano de investimento de US$ 224 bilhões para os próximos cinco anos, tinha R$ 59,7 bilhões em caixa e aplicações financeiras.
A mineradora fechou junho com R$ 21,3 bilhões na conta e depois disso anunciou um programa de recompra de ações de US$ 3 bilhões e alocou a mesma quantia para pagamento adicional de dividendos.
Caixa Forte - Fernando Torres e Marina Falcão - Valor Econômico - 26 Ago 2011
[1] Existe uma tendência de longo prazo nos Estados Unidos em aumentar o volume de recursos em caixa. Parte do aumento poderia ser explicado por esta tendência.
[2] Existem três razões para uma empresa manter volume em caixa: fazer negócios, precaver de evento inesperado ou especular, aproveitando uma oportunidade. Aqui, o motivo precaução.
Os números, compilados em levantamento do Valor, referem-se a um grupo de 253 empresas não financeiras de capital aberto, com dados disponíveis no sistema da Economática desde 2007. Os valores antigos foram corridos pela variação da inflação, no caso o IPCA.
Com recursos à mão deve ser mais fácil a travessia das companhias por esse momento de turbulência nos mercados financeiros [2], principalmente se houver piora das condições econômicas e aperto de crédito. Entre as empresas ouvidas, nenhuma pretende frear, ao menos por enquanto, os projetos de investimento ou aquisição previstos. (...)
No levantamento feito pelo Valor com dados da Economática, as duas maiores empresas do país, Petrobras e Vale, despontam com folga na lista daqueles com mais dinheiro disponível. A petroleira, que tem plano de investimento de US$ 224 bilhões para os próximos cinco anos, tinha R$ 59,7 bilhões em caixa e aplicações financeiras.
A mineradora fechou junho com R$ 21,3 bilhões na conta e depois disso anunciou um programa de recompra de ações de US$ 3 bilhões e alocou a mesma quantia para pagamento adicional de dividendos.
Caixa Forte - Fernando Torres e Marina Falcão - Valor Econômico - 26 Ago 2011
[1] Existe uma tendência de longo prazo nos Estados Unidos em aumentar o volume de recursos em caixa. Parte do aumento poderia ser explicado por esta tendência.
[2] Existem três razões para uma empresa manter volume em caixa: fazer negócios, precaver de evento inesperado ou especular, aproveitando uma oportunidade. Aqui, o motivo precaução.
Corinthians
O Sport Club Corinthians Paulista é o único time de futebol do país a ter um Relatório de Sustentabilidade. E o único no mundo a lançar este documento de acordo com as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), uma organização não governamental sediada na Holanda, respeitada mundialmente pela elaboração de indicadores de ética e transparência, com foco nas questões financeiras, sociais e ambientais.(...)
O relatório foi divulgado em junho deste ano e corresponde às atividades de 2010, incorporando ainda fatos ocorridos até 30 de abril de 2011. Os dados econômico-financeiros tiveram auditoria da BDO Trevisan e verificação da PriceWaterhouse Coopers. O documento teve ainda o apoio da ReportComunicação, empresa de consultoria especializada em comunicação e sustentabilidade.
"Só corintianos trabalharam no documento. Fizemos um relatório da fiel para a fiel, com uma linguagem simples e acessível", diz o diretor de Finanças do Corinthians, Raul Corrêa da Silva. "Fiel" é o nome dado aos torcedores, que mesmo em períodos de má fase do time nunca deixam de ir aos estádios. Em uma provocação de torcedor, o diretor afirma que a cor verde não foi permitida. Mas nas 68 páginas do relatório, a cor da camisa do Palmeiras, o histórico arqui-rival do Timão, aparece em algumas fotos do gramado e também da fachada arborizada na entrada do clube. Já a tradicional cor verde do selo do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil), indicando que o papel utilizado foi "produzido a partir de fontes responsáveis", deu lugar ao preto. (...)
Corinthians joga pela sustentabilidade - Valor Econômico - 25 Ago 2011
Observe que o relatório não atendeu a neutralidade da informação contábil, já que foi produzido somente por corintianos.
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