Hans Hoogervorst, o novo presidente do Iasb, fez um discurso na China bastante interessante. Um resumo pode ser encontrado aqui
HH afirmou, de início, que os próximos 12 a 18 meses serão importantes para a direção futura das normas internacionais. Entretanto, através do seu discurso, não é possível entender a razão disto.
04 agosto 2011
Hans na China I
A figura abaixo apresenta as principais palavras do discurso do atual presidente do Iasb na China:
Emoção ao investir
Efeito manada, excesso de otimismo, aversão à perda, autoconfiança exagerada. Esses são alguns sintomas comuns em investidores e que têm sido foco de diversos estudos ao redor do mundo sob o tema das finanças comportamentais.
Despertar a consciência do investidor sobre os sintomas psicológicos que surgem a partir da relação com investimentos e dinheiro é uma maneira de aguçar a razão e evitar que a emoção influencie nas decisões, segundo especialistas.
De acordo com dados levantados pelo banco Santander, 40% dos clientes que fizeram cursos ou participaram de palestras sobre finanças comportamentais obtêm melhores rentabilidades nos investimentos.
"Isso ocorre porque o investidor percebe que é preciso raciocinar antes de tomar a decisão e não simplesmente fazer porque os outros fizeram", analisa Vera Rita de Mello Ferreira, psicanalista especializada em psicologia econômica e autora de dois livros sobre o tema.
Aquiles Mosca, estrategista de Investimentos Pessoais do Santander, cita um estudo da Universidade de Cambridge para comprovar a falta de racionalidade que há na relação com os investimentos. "O maior medo do ser humano é falar em público. Em segundo lugar está a morte. E a terceira aflição é o futuro financeiro. Se há esse medo, há emoção em excesso."
Aconselhamento. Um levantamento da Infomoney feito com centenas de brasileiros mostra que somente 4,75% dos investidores tomam decisões com base na opinião de profissionais especializados; 30,71% decidem unicamente por sua própria análise; 22,57% são pouco influenciados pela soma de análises próprias e profissionais; e 41,97% ponderam as opiniões de conhecidos e as percepções próprias.
Para Bernardo Nunes, que está desenvolvendo uma tese de doutorado sobre finanças na Nova School of Business Economics de Lisboa, o investidor que passa a conhecer "os vieses e desvios da racionalidade mais comuns pode evitar uma boa parte das perdas e passa a lidar com o assunto finanças de uma forma mais eficaz".
Institucional. Os estudiosos do assunto afirmam que já há uma incorporação do tema nos escopos mais tradicionais da economia, apesar de ainda haver preconceito dos economistas mais antigos. "Depois da crise financeira de 2008, certamente as finanças comportamentais ganharam ainda mais relevância", diz Vera Rita.
O próprio Santander é um exemplo de incorporação do tema. Há pouco mais de dois anos, as finanças comportamentais são tema de cursos e palestras do banco. "Há benefícios ao banco. Por exemplo, 12% dos clientes que participam desses cursos e palestras tornam-se mais promotores do banco", conta Mosca.
Nunes conta que Áustria, Inglaterra, Holanda e Suécia são os países mais avançados nesse processo em termos acadêmicos. "Na psicologia econômica como um todo", diz.
Especificamente sobre as finanças comportamentais, que são um braço da psicologia econômica, os Estados Unidos lideram a incorporação, tanto no meio acadêmico quanto no prático, de acordo com Nunes.
"Nos Estados Unidos, as certificações profissionais de finanças, como a CFA, incorporam questões de finanças comportamentais nas provas", explica. "No Brasil, o assunto também já é tratado na certificação CGA, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais)", exemplifica.
Conhecimento ajuda a domar a emoção ao investir - Roberta Scrivano - O Estado de S.Paulo - 4 de out de 2010
03 agosto 2011
Termômetro de Insolvência I
Termômetro de Insolvência
Por
Alexandre Alcantara da Silva
Visitando o Blog de Stephen
Kanitz, achei um texto do mesmo comentando sobre seu termômetro de
insolvência: Os Próximos 20 Anos Serão de Ouro
II. Neste post Kanitiz destaca o contexto que o motivou a criar o
seu conhecido Termômetro de Insolvência:
Estudei em Harvard uma matéria que me encantou: Management of
Lending - Administração de Carteiras de Empréstimos.
Era uma matéria difícil que exigia conhecimentos de
psicologia, negociação, análise de balanços, análise setorial, lei societária,
lei do crédito, crédito e cobrança, lei das falências, enfim uma área
em que eu teria poucos concorrentes.
A primeira coisa que fiz ao retornar foi criar o famoso Termômetro
de Insolvência, também conhecido como o Termômetro de Kanitz, uma das primeiras
experiências de credit scoring no Brasil.
No
mesmo post ele cita a divulgação do artigo "Como prever
falências de empresas",
publicado na Revista Exame, edição de dezembro de 1974. Como bem ele destaca,
este exemplar da Revista Exame é uma raridade, vide ao final link para a
íntegra do artigo.
De acordo com SILVA
(2010, p. 173)
O estado de insolvência de uma empresa pode ser definido como a
incapacidade para pagar as suas obrigações financeiras na data de seu
vencimento, bem como quando seus ativos forem inferiores ao valor dos seus
passivos.
Buscando subsidiar as decisões de concessões de crédito ou mesmo
subsidiar decisões estratégicas, alguns modelos têm sido desenvolvidos, e
quando associados a outras técnicas de análise tornam-se instrumentos valiosos
para permitir a caracterização da situação econômico-financeira das empresas.
Estes modelos têm por objetivo identificar, mediante procedimentos
estatísticos (em especial a análise discriminante), a relação funcional entre
os índices financeiros e o estado de solvência (lucros, fluxos de caixa,
rentabilidade), ou de insolvência (falência, incapacidade de cumprir com as
obrigações) de uma organização. Por ter como base a utilização de índices de
solvência, rentabilidade e lucratividade, devem ser adequados às
características de organizações de um mesmo setor.
Termômetro de Insolvência II
Termômetro de Insolvência
Por
Alexandre Alcantara da Silva
(continuação)
Quando
escrevi nosso livro de Análise de Balanço (SILVA, 2010) inseri
um capítulo por título “Modelos estatísticos de previsão de insolvência”, para
o qual obtive boas informações no artigo e na tese de livre docência de KANITZ:
"Indicadores Contábeis e Financeiros de previsão de insolvência: a
experiência da pequena e média empresa brasileira" (curiosidade: a
tese, defendida em 1976, foi toda datilografada. É possível obter uma fotocópia
junto a USP, pois é um excelente material para pesquisa). Posteriormente consegui
o seu livro "Como prever falências", editado em 1978, onde o
tema é apresentado de forma mais simplificada como o seu modelo foi
desenvolvido.
No que pese a existência
de vários modelos estatísticos para previsão de insolvência, uma coisa é certa
e deve ser ponderada: a contabilidade brasileira padece de qualidade em seus
balanços, em decorrência de alguns fatores, conforme já era citado por KANITZ
(1976, p. 10-12):
a) sistema contábil ineficiente para captar de forma adequada as
informações passíveis de escrituração;
b) falta de consciência quanto a princípios contábeis no Brasil,
pois não havia à época um órgão que efetuasse pesquisas neste sentido;
c) a adulteração de balanços; e
d) a prática do window dressing (contabilidade criativa).
O cenário não mudou
muito desde 1976, grande parte do empresariado brasileiro ainda não vislumbra a
contabilidade como ferramenta de gestão, especialmente entre os pequenos e
médios empresários. Esperamos que muito em breve nos livremos do jeitinho
brasileiro de, na hora da necessidade, elaborar um “balanço perguntado” para
satisfazer as necessidades dos analistas de crédito (vide artigo indicado sobre
este tema). Alguns afirmam que com a convergência do Brasil às normas
internacionais de contabilidade e de auditoria a qualidade das demonstrações
contábeis irá melhorar. Esta é outra história, ainda precisa de muita pesquisa
para revelar-se verdadeira.
Quando da leitura da tese
de livre docência e do livro de KANITZ observei que em ambos, na referência
bibliográfica, consta referenciado um livro de Lopes Sá: "Curso
Superior de Análise de Balanço". Achei interessante que em uma tese
defendida na USP constar uma referência à obra de Lopes Sá (dentre outros
autores brasileiros também referenciados como: Arnaldo REIS, Aulos FRANCO, R.
M. TREUHERZ, e N.H TUNG). Intrigado com isto, em uma das conversas que
mantive por telefone com o saudoso Prof. Lopes Sá o mesmo me relatou que havia
participado anteriormente, em 1973, da banca de Doutorado de Kanitz, ou seja,
antes do que ele chamava de conversão da USP ao modelo
"estadunidense".
Movido pela curiosidade,
eu fui dar uma lida no livro de SÁ sobre Análise de Balanço, onde verifiquei
que o mesmo, quando mais jovem foi pioneiro no Brasil na análise de grande
volume de balanço de empresas (7.100 balanços entre 1953 a 1957) com
vistas a identificar o perfil ideal de equilíbrio da empresas brasileiras (SÁ,
1977, p. 24-28; SILVA, 2010, p. 18-19 - vide tópico 2.2.1).
Em sua obra SÁ (1977, p.
25 – a primeira edição é de 1953) faz menção aos estudos realizados no início
do Séc. XX pelo alemão SCHAMALENBACH, que tentava avaliar o impacto da inflação
e do tempo sobre a análise de balanço, declarando a ineficácia das análises das
situações estáticas, em contraposição à teoria dualista de SCHMIDT. Os
trabalhos destes autores alemães são posteriormente citados por TINOCO (1992)
em seu trabalho sobre avaliação patrimonial.
Termômetro de Insolvência III
Termômetro de Insolvência
Por Alexandre Alcantara da Silva
(continuação 2)
Em outro trecho,
comentando o resultado de sua pesquisa, SÁ (1977, p.25) expõe:
Quando observamos, por exemplo, as proporções que devem
ser guardadas entre o volume dos créditos cedidos aos clientes e o dos
recebidos de fornecedores, não nos é possível ficar alheios aos pontos de
conexão no tempo, relativamente aos investimentos e financiamentos em
créditos. A importância da análise das situações na dinâmica é que nos
conduziu à elaboração da teoria da proporção definida dos valores, que chamamos
de ponto de equilíbrio do capital (ver nosso livro "O Equilíbrio do Capital
das Empresas").
Observamos, pela análise de milhares de balanços, que existem
proporções certas nas combinações dos valores de acordo com o giro ou a
velocidade dos mesmos no tempo e com o processo da formação do rédito.
Enunciamos a primeira das leis a respeito:
"Os valores que se combinam
para a formação da estrutura do capital de funcionamento
das empresas guardam entre si relações constantes".
Imagine como deve ter
sido trabalhoso fazer este levantamento no final da década de 1950 por SÁ e por
Kanitz na década de 70.
Ao abordarmos a questão
do uso de indicadores setoriais obtidos através de publicações especializadas
fizemos um breve comentário sobre a primeira edição da revista EXAME Melhores e
Maiores (SILVA, 2010. p. 89 – nota de rodapé), para demonstrar como era
complexo trabalhar como tão grande volume de dados antes do advento da
microinformática.
A primeira edição da Revista Melhores & Maiores –
uma raridade que encontrei na Biblioteca do Senado – saiu em setembro de 1974,
sob a direção do Prof. Stephen Kanitz, e foi chamada “Os melhores e os
maiores”. A capa destacava que seriam apresentadas as 500 maiores empresas
privadas por vendas e as 50 maiores empresas estatais e como se comportou cada
setor. No texto de apresentação – “como foi feito” – encontramos uma pérola do
“recurso tecnológico” utilizado na elaboração do ranking. Veja uma
parte do texto:
“Durante oito meses – a partir de 16 de dezembro de 1973 – foram
examinados mais de 10 mil balanços de empresas. Chegou-se, com isso, a uma
seleção de 1.600 balanços, que foram então analisados em profundidade. Os dados
recolhidos em cada balanço foram passados para cartões de computador, de modo a
permitir o processamento eletrônico – único meio de tornar viável um
empreendimento de tal porte, em que foram efetuados cerca de 18 milhões de
cálculos e consumidas 212 horas de computador.”
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