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03 abril 2011

Efeitos do críquete no mercado acionário

Por Pedro Correia


No dia 02/04/2011 ocorreu o evento esportivo mais aguardado na Índia[1]. Após 28 anos, a equipe indiana sagrou-se bi-campeã mundial de críquete contra os maiores rivais: a seleção do Sri Lanka.[2] O jogo ocorreu em Mumbai num estádio com capacidade de 30 mil pessoas. Os ingressos nas mãos de cambistas eram vendidos por 10 mil dólares. Assim, percebe-se o quão valioso é o críquete para o povo indiano. O esporte, que foi levado pelos ingleses para a Índia é o mais popular. É o futebol dos indianos.Por que prestar atenção no críquete? A ESPN responde.

Não obstante, este evento pode ser ainda mais interessante para o estudo de finanças comportamentais. Em 2006, os pesquisadores Edmans, Garcia e Norli, do MIT, da Tuck e da Norwegian School mostraram que existe uma relação entre o sentimento em esportes e o retorno das ações. No artigo intitulado Sports Sentiments and Stock Returns, os autores utilizaram vários esportes (futebol, basquete, críquete, rugby e hockey no gelo), e fizeram uma associação com o retorno do mercado acionário do dia seguinte ao jogo.


Como já foi dito neste blog:" o estudo faz parte de uma literatura recente ,que investiga como os preços dos ativos são influenciados por viés no comportamento.Utilizando uma amostra de mais de 2.600 observações, entre 1974 até 2004, os autores confirmaram uma ligação entre o comportamento do investidor e o resultado de eventos esportivos."


É bom ressaltar que os efeitos no mercado acionário são maiores nos locais em que o futebol é mais popular. No caso do basquete, críquete, rugby e hockey no gelo os efeitos encontrados são menores.


Esta vitória histórica terá algum efeito positivo na bolsa de Mumbai?


Na última sexta-feira o pregão fechou com baixa e o índice BSE Sensex 30 recuou 0,13%,para 19.420 pontos.


[1] A Índia desistiu do IFRS. ?


[2] O futuro da contabilidade depende do Sri Lanka


UPDATE: A bolsa de Mumbai subiu 1,45% e foi para 19.701 no 1º dia útil após o evento. Assim, percebe-se que existe uma correlação positiva entre a vitória histórica, o sentimento dos investidores e o retorno das ações. É claro que correlação não significa,necessariamente, causualidade.


Banqueiros e o gene da ganância

Por Pedro Correia

A crise financeira global pode ter sido causada pela genética. O Citywire relata que há um gene predominante em banqueiros que os impede de pensar sobre os outros. É o chamado gene "ganancioso", ou AFL11, que gera extraordinariamente altos níveis de testosterona e torna seus portadores incapazes de sentir empatia com outros seres humanos. Este gene restringe a produção de um neurotransmissor que é necessário para a cooperação social.


Segundo a pesquisa da University College, em Londres, os banqueiros estão cheios dele.


Um dos pesquisadores Phil Jenkins afirma que: "A genética tem historicamente focado em predisposições fisiológicas, tais como o "gene da altura etc - esta é a primeira vez que fomos capazes de fazer previsões confiáveis ​​sobre os traços psicológicos de um indivíduo, e o seu provável plano de carreira , com base no seu DNA."


Cerca de 2,7% da população possui o gene ganancioso, enquanto que entre os banqueiros, a taxa é de 84%.

Cegos de Nascença

Por Pedro Correia


Excelente frase do Paul Krugman:


"if you’ve reached the point where you don’t pay attention to anything that might disturb your orthodoxy, you’re not doing science, you’re not even pursuing a discipline. All you’re doing is perpetuating a smug, closed-minded sect."


Em suma, somos cegos quando nos julgamos os donos da verdade.

02 abril 2011

Rir é o melhor remédio

A seguir, um conjunto de cartões, feitos no início do século XX, sobre como seria o futuro nos anos 2000. Na ordem, a casa móvel, máquina voadora pessoal, máquina que controla o tempo, a cidade coberta, dirigíveis pessoais e o raio-X da polícia. Fonte: aqui







Quantitativo pode não ser preciso

Ao começarmos a usar métodos quantitativos acreditamos que estamos trabalhando com precisão. Entretanto, os próprios instrumentos são questionáveis. Como as pesquisas na área de contabilidade e finanças usam estas técnicas, passam despercebidos esses problemas.

Tome o exemplo do teste Dickey-Fuller, as vezes nomeado ADF. Este teste é usado para verificar a estacionariedade de uma série temporal. Isto significa dizer que a série histórica dos dados deve ter média e variância constante. Na área quantitativa, o teste Dickey-Fuller é considerado pobre. Entretanto, como o software Eviews, bastante usado pelos cientistas, só calcula este teste, os artigos produzidos na área financeira continuam usando o teste.

Mas os pesquisadores sabem disso? Provavelmente não. Para se ter uma idéia, aprendi isto esta semana, quando participei de uma banca de livre docência.

01 abril 2011

Rir é o melhor remédio

A seguir um conjunto de propagandas, que de tão "estranhas" chegam a ser engraçadas. Fonte: aqui

Reagir ou ficar indiferente?

Robert Kaplan é um dos cientistas influentes da historia da contabilidade. Depois de escrever um livro de contabilidade gerencial, com uso de método quantitativo, que tive a oportunidade de estudar durante meu doutorado, ele se uniu a Robert Cooper para criar a estrutura conceitual do custeamento por atividades (ABC). Isto após escrever Relevance Lost, uma das obras mais polêmicas da contabilidade gerencial. Mais adiante, já na década de 1990, juntamente com David Norton, propôs o Balanced Scorecard. Recentemente divulgou, com Anderson, um livro sobre o ABC simplificado.

No número de março de 2011 do periódico Accounting Review (1), Kaplan faz um balanço atual, honesto e crítico da pesquisa contábil. O texto deveria ser leitura obrigatória para os estudantes de mestrado e doutorado (2).

Fazendo um apanhado dos últimos quarenta anos de pesquisa contábil, podemos notar forte viés para pesquisa entre informação e mercado. Isto inclui tópicos como evidenciação, anomalias ou accruals.

Entretanto, mesmo com esta grande quantidade de pesquisa, Kaplan afirma que raramente isto contribui com a inovação e o avanço da prática contábil. ´Acadêmicos têm contribuído com a prática dos reguladores contábeis testando as reações dos padrões propostos e implementados e comunicados´, afirma Kaplan. A pesquisa tornou-se um fenômeno de estudos estatísticos, usando dados históricos. ´Uma característica destas pesquisas é a existência de múltiplas tabelas´.

Uma análise dos artigos submetidos na Accounting Review mostra uma grande parcela de pesquisas usando o método ´empirical-archival´.

Entretanto, a agregação do conhecimento quando lemos mais um artigo sobre accruals é reduzida. Isto significa que as pesquisas são reativas, estudando o que já existe, mas não contribuindo com o avanço da prática contábil. Kaplan estranha isto, já que nos últimos anos muitas coisas ocorreram na contabilidade. Em outras palavras, os pesquisadores estão perdendo uma oportunidade ao se tornarem desconectados da prática.

Ele cita como exemplo a questão do risco. Apesar de sua relevância, os reguladores (Iasb e Fasb) debatem ainda a avaliação de ativos e passivosa, mas não seus riscos. Citando o valor justo, para Kaplan a profissão contábil não está preparada para usar este conceito. Os contadores delegaram a outros a tarefa de aplicar o valor justo. Kaplan lança dúvida se os contadores possuem condição de validar as estimativas realizadas no seu cálculo. Isto ocorre em razão de não sabermos economia, matemática e estatistica na quantidade suficiente.

Assim, como no livro Relevance Lost, neste artigo ele faz uma crítica a pesquisa contábil. Resta saber se iremos reagir ou manter nossa indiferença.

(1) Accounting Scholarship that advances professional knowledge and practice. Accounting Review. vol 86, n2 p. 367-383
(2) Aos leitores interessados posso encaminhar o arquivo em PDF.