O texto técnico geralmente é mais chato que um texto jornalístico ou que um livro de divulgação científica. Existem algumas boas razões para que isto ocorra.
Em primeiro lugar, é muito difícil escrever fácil, de forma simples, sem perder a precisão. Assim, muitos cientistas, que são especialistas em fazer pesquisas, têm uma grande dificuldade de escrever seus relatórios numa linguagem acessível. Muitos pesquisadores achavam as aulas (e as regras) de português desnecessárias. Afinal, "qual a necessidade de um contador saber escrever? Ele precisa saber fazer os lançamentos contábeis, nada mais que isto".
Uma segunda explicação possível para a nossa questão é que as pessoas que escrevem textos técnicos acham que seus artigos devem ser "chatos". Muitas vezes as pessoas não querem que outros estudem com profundidade suas pesquisas ou relatórios, mas querem que os mesmo sejam elogiados. Uma forma de fazer isto é tornar o texto hermético, ou seja, difícil de ser compreendido. As pessoas associam textos complicados com textos de boa qualidade, o que nem sempre é verdade (veja o exemplo da postagem de hoje sobre o comunicado da CVM). Em certos casos, uma forma de aprovar um texto sem muita dor de cabeça para o autor é torná-lo inacessível. Se eu uso um monte de fórmulas quantitativas no meu texto, as chances do mesmo ser aceito num periódico aumenta, mas provavelmente a possibilidade de difusão das suas conclusões é menor.
Mas acredito que exista outra explicação: o texto científico deve ser preciso. E fazer um texto preciso exige muitas vezes repetição de palavras. Veja o seguinte exemplo, muito comum nas dissertações, artigos e outros textos científicos: "as empresas americanas foram usadas como amostra na pesquisa". Que empresas são essas? No meu dicionário, América significa uma porção de terra que vai da Patagônia até o Alasca. Mas parece que algumas pessoas acham que a América é sinônimo de "Estados Unidos". Para resolver este problema, outras pessoas escrevem: "as empresas norte-americanas foram usadas como amostra na pesquisa". Ou seja, a pesquisa contou com empresas do Canadá, Estados Unidos e México. Mas não é isto que era para ser dito. A solução seria escrever: "as empresas dos Estados Unidos foram usadas como amostra na pesquisa" ou "as empresas estadunidenses foram usadas como amostra na pesquisa". Agora chegamos à precisão necessária. Mas para isto, o texto ficou mais chato, com certeza, pois "estadunidenses" é muito mais esnobe e complicado que "americanas".
Finalmente, a linguagem científica, como qualquer outro tipo de comunicação, está carregada de abreviações, atalhos e termos técnicos que afastam o leitor comum. Falamos em "ceteribus paribus" e o entendimento é imediato para quem é da área. Escrever sobre impairment é natural para quem conhece, mas é "grego" para quem possui pouco conhecimento contábil. Para entendermos certos textos é necessário um mínimo de conhecimento do linguajar usado.