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14 dezembro 2010

O ano da Deloitte

Carrefour e Panamericano revelaram problemas contábeis de cerca de 4 bilhões de reais. Na Brasil Telecom, o provisionamento adicional de 1,45 bilhão de reais em dívidas judiciais teve de ser realizado neste ano. Todas as inconsistências escaparam à investigação da Delloite

Auditar vem do latim audire, que significa ouvir. Já o dicionário Houaiss explica que auditar é o “exame comprobatório relativo às atividades contábeis e financeiras de uma empresa”, que deve ser feito tanto com base em números como em uma verdadeira investigação sobre a realidade da companhia em questão. No caso da Deloitte, cuja sede fica em Londres, tanto a escuta quanto a investigação estão sendo contestadas. Neste ano, a consultoria teve seu nome envolvido em três escandalosos problemas contábeis: Carrefour, Panamericano e Brasil Telecom.

Os dois primeiros casos estão frescos na memória, pois vieram à tona nos últimos dois meses e representam perdas totais próximas de 4 bilhões de reais para as companhias. Já o terceiro caso, menos difundido, cavou um buraco de cerca de 1,45 bilhão de reais no balanço de 2009 da Brasil Telecom – e os acionistas tiveram de arcar com o passivo. Sobre esse fato, a Deloitte jamais se pronunciou – e justamente ele deu início ao inferno astral que paira sobre a empresa em 2010.

Provisão mal feita – No caso da Brasil Telecom, os problemas transcorreram de forma discreta. Por meio de fato relevante, a operadora informou aos acionistas que teria de fazer uma provisão adicional de 1,45 bilhão de reais para o pagamento de dívidas judiciais. Tais débitos corriam em função do aumento de capital relacionado ao plano de expansão da companhia no início dos anos 1990.

Provisionar perdas com dívidas judiciais é fato comum nas empresas. De acordo com as normas contábeis, devem ser provisionadas no balanço as perdas prováveis – que se referem às ações que, provavelmente, a empresa perderá. Já as possíveis podem não acontecer e devem ser apenas mencionadas em notas explicativas. Por fim, as perdas remotas não precisam ser discriminadas. Quando, em 2009, a fusão entre Oi e Brasil Telecom foi aprovada e a integração contábil começou, instantaneamente muitos dos passivos avaliados como possíveis transformaram-se em prováveis, gerando a provisão bilionária.

A Deloitte, que auditava a empresa desde 2007, não verificou os problemas. Desta forma, a auditoria BDO foi chamada a levantar quais eram, exatamente, as perdas. “Houve o erro no reconhecimento das ações judiciais já transitadas em julgado, e que deveriam constar como despesas, mas que não estavam sequer provisionadas”, afirma uma fonte ligada à Brasil Telecom.

Explicação à francesa – O varejista francês Carrefour, que anunciou perdas de 1,23 bilhão de reais no Brasil no último dia 30, também terá de explicar a seus acionistas o que, de fato, aconteceu. O peculiar mercado varejista brasileiro permite que as redes recebam descontos de seus fornecedores na compra de produtos – o que no jargão do varejo leva o nome de ‘verba promocional’ ou ‘bonificação’. Tais quantias não estavam sendo discriminadas de forma correta nos demonstrativos financeiros há cerca de cinco anos, gerando parte do rombo.

O site de VEJA apurou que outra parte do passivo pode estar relacionada a problemas com a provisão de despesas judiciais, tal como no caso da Brasil Telecom. A KPMG, que assumiu a auditoria da rede no último trimestre, teria colocado as despesas possíveis e remotas contidas nos demonstrativos elaborados pela Deloitte como provisão de despesas prováveis. Desta forma, se o Carrefour vencer as ações judiciais em questão, talvez, no próximo ano, o que era rombo poderá se transformar em caixa.

Em comunicado, a auditoria se exime de qualquer culpa. “Esses ajustes foram definidos pela administração da matriz do Grupo Carrefour e não foram submetidos à auditoria da Deloitte no Brasil. Portanto, não temos como nos posicionar a respeito e entendemos que estes em nada modificam as demonstrações financeiras de anos anteriores, auditadas pela Deloitte”, afirma o documento. Os ajustes, de fato, foram levantados neste trimestre por outra auditoria. No entanto, a Deloitte não quis explicar como não reparou nos problemas contidos nos demonstrativos. O grupo Carrefour trabalha em auditoria conjunta com as duas empresas – tanto na matriz como em todas as filiais. Em 2009, pagou 5,7 milhões de euros à Deloitte e 6,1 milhões de euros à KPMG para realizarem seus trabalhos.

Baú de surpresas – Vale ressaltar que, no caso do banco Panamericano, os problemas contábeis eram mais graves e geraram rombo maior – de 2,5 bilhões de reais (até o momento), além de colocarem em xeque a eficácia da elogiada regulação do sistema financeiro nacional. Apesar de não ter percebido as inconsistências nas carteiras de crédito, na provisão em relação a inadimplentes, e nem as irregularidades das operações com cartões, a Deloitte afirmou em entrevistas à imprensa que não é culpada pelo que ocorreu e que vai 'restaurar sua reputação'.

O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) não acredita que a imagem das empresas do setor (incluindo a própria Deloitte) será punida pelo mercado. Além disso, garantiu que, tanto em relação ao Panamericano, quanto ao Carrefour, medidas serão tomadas. “Estamos investigando ambos os casos e solicitamos informações para a auditoria para que possamos formar um juízo”, afirma o vice-presidente do conselho, Enory Spinelli.

Enquanto os verdadeiros culpados pelos problemas não forem desmascarados, as atenções se voltarão para os que não perceberam as fraudes, e eram pagos para fazê-lo. A Deloitte é a bola da vez. Suas concorrentes, Ernst&Young, Pricewaterhouse Coopers e KPMG, também já vivenciaram problemas parecidos no Brasil e no mundo. As auditorias costumam entoar em coro que acreditam na idoneidade das empresas no momento em que elas fornecem informações classificadas como verdadeiras. Talvez seja a hora de mudar esse conceito e transformar-se em xerife. Ou então, que se crie um xerife para monitorar as auditorias.


O ano que a Deloitte queria esquecer - Veja - Ana Clara Costa

13 dezembro 2010

Rir é o melhor remédio


Tipos de professores

Frase

o que endireitará o caminho do futuro será o afastamento firme de mentiras tortuosas da contabilidade, de contracurvas financeiras, de paraísos que são inferno para a economia real, de descrédito da poupança, da perda dramática da confiança, de atentados à criação.

D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e bispo auxiliar de Lisboa

Teste #394

O custo da proibição das drogas pode ser estimado, considerando os gastos do governo com o sistema jurídico. Uma estimativa recente, feita nos Estados Unidos, chegou a um valor que possui alguns problemas (não considera que parte dos custos do governo são fixos e, a liberação do consumo não iria cair na proporção indicada), mas pode ser "um bom ponto de partida" para discussão, conforme afirma o Nobel em Economia, Gary Becker. O valor obtido pelos pesquisadores é

maior que 100 bilhões de dólares
menor que 100 bilhões de dólares

Resposta: 2 milhões. Além do violino, foi roubado dois arcos, no valor de 100 mil dólares Fonte: aqui

Contador: Verbal ou Quantitativo?

Várias vezes, quando falei que sou professor de contabilidade, ouvi observações das pessoas sobre o fato do curso ser “quantitativo”. Entretanto, na minha experiência como professor, tenho notado que os alunos são avessos aos números. Por outro lado, os contadores geralmente possuem uma capacidade de expressão abaixo da média. Em ambientes com muitas pessoas, os contadores geralmente são tímidos.

Todas estas observações são empíricas e não podem ser comprovadas. Ou será que podem? Descobri um estudo comparativo entre diversas profissões, usando três escalas: quantitativa, verbal e escrita. Antes de continuar, é preciso fazer uma ressalva de que este estudo foi realizado no exterior, podendo não refletir o

Apesar de o estudo usar três dimensões, a relação entre a escrita e a habilidade verbal foi tão significativa (0,81) que as conclusões podem ser resumidas para duas escalas: a habilidade de lidar com os números e a habilidade de lidar com a expressão. As notícias não são boas para os contadores.

O primeiro gráfico mostra a relação entre o quantitativo e o verbal. O contador (“accounting”) está no menor nível da habilidade verbal – é isto mesmo – e no nível intermediário da habilidade quantitativa. Já os filósofos possuem uma grande capacidade verbal e uma capacidade quantitativa acima do contador.


O segundo gráfico mostra a relação entre a escrita e a habilidade quantitativa. Os resultados estão próximos ao obtido no gráfico anterior, já que a relação entre escrita e verbal é muito elevada. Observe o contador na parte de baixo do gráfico, em razão da péssima avaliação da escrita.


O autor do texto afirma que “os filósofos são os humanistas mais inteligentes, os físicos são os cientistas mais inteligentes e os economistas são os cientistas sociais mais inteligentes.

Leia mais: Verbal vs. mathematical aptitude in academics, Discover, 10 dez 2010

Oportunidade perdida

A história da Internet é, em parte, uma série de oportunidades perdidas: as grandes gravadoras deixaram a Apple dominar o negócio da música digital, a Blockbuster se recusou a comprar Netflix por meros cinquenta milhões de dólares; a Excite recusou a oportunidade de adquirir Google por menos de um milhão de dólares

Groupon Clipping - James Surowiecki 20 dez 2010 – New Yorker