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27 novembro 2010

Felipão como CEO


Se Luiz Felipe Scolari trabalhasse na iniciativa privada, é bem provável que começasse a ler os jornais de domingo pelos classificados de emprego e não pelos cadernos de esportes.

Contratado a peso de ouro em junho para resolver os problemas do Palmeiras, Felipão deixou de fazer o que se espera de um alto executivo bem remunerado: não entregou resultados e não cumpriu as metas da “firma”.

O mercado da bola estima que Scolari receba R$ 750 mil por mês, valor que faz dele o profissional mais bem pago em seu setor no Brasil. Mano Menezes, técnico da Seleção Brasileira, não ganha mais que R$ 300 mil da CBF.

A remuneração do treinador palmeirense está no mesmo patamar da de altos executivos do Banco do Brasil, por exemplo. A diferença é que o BB é o maior banco do país e está entre os 20 maiores do mundo.

Já o Palmeiras... A dívida líquida do clube passou de R$ 59 milhões, em 2007, para R$ 117 milhões, no ano passado, segundo levantamento da consultoria Crowe Horwath RCS. Com a derrota para o Goiás na quarta-feira 24, o clube esgotou mais do que a paciência de sua torcida. Deixou escapar a chance de título e um prêmio de quase R$ 6 milhões.

Além de não alcançar as metas, Felipão cometeu o erro crasso de desvalorizar sua equipe. Mais de uma vez, o gerente Scolari declarou diante de câmeras de tevê que o elenco palmeirense estava abaixo do esperado e chegou a dizer que dinheiro não é tudo na vida – quando questionado se o mau desempenho da equipe estava diretamente atrelado ao fato de os salários sofrerem constantes atrasos.

O ano termina para o Palmeiras como começou e o presidente da “empresa”, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, caminha para o fim de sua gestão, em janeiro, com números pífios para mostrar.

As apostas caras, como Kleber e Valdívia, que teriam custado R$ 25 milhões, não trouxeram dividendos. Se desse expediente na iniciativa privada, Belluzzo estaria com Felipão na fila do seguro-desemprego.


Felipão teria vida longa como CEO? - Por Eliane Sobral - Isto é Dinheiro

26 novembro 2010

Rir é o melhor remédio

Propaganda do Visa. Troca (escambo).

Sobre metodologia para mensurar evidenciação

Nos últimos tempos têm sido comum artigos sobre nível de evidenciação das empresas. Em geral o pesquisador toma uma legislação, faz uma lista de variáveis e mede, para cada empresa, o que foi encontrado ou não. Este método é chamado de dicotômico, pois para cada item considera que a empresa está ou não está de acordo com a norma. Se a empresa estiver de acordo com o previsto na norma contábil, atribui-se um ponto; caso contrário, recebe zero. Assim, por conseqüência, quanto maior o número de pontos obtidos, maior a evidenciação.

Uma característica do método dicotômico é o fato de cada item receber peso idêntico. Ou seja, cada item é tratado igualmente. Isto pode ser um problema.

Além disto, o número de itens da norma incluídos na listagem a ser verificada em cada entidade pode variar conforme o pesquisador. Para se ter uma idéia, uma pesquisa * pediu a quatro pesquisadores para fazerem uma listagem de itens de diversas normas internacionais do Iasb. No Ias 8 (Accounting Policies, Changes in Accounting Estimates and Errors), um pesquisador considerou seis itens, outro listou oito, um terceiro dezesseis e o quarto vinte e um. Naturalmente que mudando a listagem de itens utilizada, pode alterar os resultados da pesquisa.

Outro problema da abordagem dicotômica ocorre quando a pesquisa é realizada com várias normas ou com uma norma que possui várias divisões. Neste caso, a abordagem dicotômica considera cada item, de ambas as normas, de forma idêntica. Para entender melhor, considere uma pesquisa sobre duas normas internacionais: o padrão um possui três itens e o padrão dois é composto de doze itens. Se uma empresa cumpriu todos os três itens do padrão um e somente quatro itens do padrão dois, o resultado da evidenciação pela abordagem dicotômica seria dado pela soma dos itens obtidos por uma empresa pelo total de itens da listagem do pesquisador. Neste caso: (3 + 4) / (3 + 12), que corresponde a 47% dos itens.

Entretanto, a empresa do exemplo cumpriu todos os itens do padrão um, mas não teve um bom desempenho no padrão dois: quatro itens de um total de doze, o que representa 33%. Uma alternativa seria fazer uma média das médias. Se a empresa cumpriu 100% de um padrão e 33% de outro, em média ela obteve 67% dos padrões estudados ou (100 + 33)/2.

Observe que neste exemplo o resultado obtido pelo pesquisador será bastante diferente. Na abordagem dicotômica a empresa teria uma nota de 47%. Na média das médias o resultado seria 67%.

Quando o pesquisador escolhe a abordagem dicotômica, aparentemente a mais usada, problemas podem ocorrer. O mais adequado seria trabalhar com as duas, pois o resultado seria mais robusto.

* Comparasion of two methods for measuring compliance with IFRS mandatory disclosure requirements – Ioannis Tasalavoutas, Lisa Evans e Mike Smith – Journal of Applied Accounting Research, vol. 11, n. 3, 2010, p. 213-228

A morte do Executivo e o Mercado




O gráfico abaixo apresenta a cotação, dos últimos cinco dias, da Copel PNB na bolsa de valores de São Paulo. O preço fechou em queda no final da segunda-feira, mas recuperou nos dias seguintes, fechando na quinta-feira num valor próximo a 43 por ação.

Se observar direito, o gráfico apresenta uma interrupção na quarta feira, nos primeiros momentos do pregão. Neste momento o pregão da ação desta empresa foi interrompido e, quando reaberto, voltou com cotação de 42,60 por ação (versus 42,2, anterior). Ou seja, uma alta de 1% no preço da ação.

Na manhã de quarta o mercado ficou sabendo que o presidente da empresa morreu num acidente de automóvel (aqui e aqui), que a empresa iria definir um interino (aqui e aqui).

Pesquisas passadas (*), realizadas em outros mercados, mostraram que quando um evento abrupto ocorre numa empresa, como a morte repentina do seu presidente, as ações das empresas aumentam. É isto mesmo. O mercado passa a dar um valor maior para a empresa pela morte do seu executivo. Observe que isto ocorreu com a Copel (**).

(*) Infelizmente não tive condições de ter a referência desta pesquisa, que se não me valha a memória foi publicada no Journal of Finance. Peço desculpas aos leitores.
(**) Obviamente a Copel é um caso, não servindo para concluir que a morte de executivo conduz ao aumento nas ações para as empresas brasileiras.

P.S. Depois da postagem, recebi duas contribuições sobre a pesquisa. Pedro Correia encontrou um paper na SSRN sobre o assunto. Roberto Ushisima deixou o seguinte comentário:

O que achei foram esses artigos. Indo pelos resumos, um mostra efeitos positivos nos preços caso o sucessor seja interno e o outro mostra reações mais fortes quando o conselho é mais independente.

http://jom.sagepub.com/content/13/3/509.abstract

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1540-6288.1969.tb01741.x-i1/abstract


Grato

Conselheiro Profissional

À medida que mais empresas abrem o capital e ficam sujeitas a normas rígidas de governança corporativa, a figura do profissional do Conselho de Administração se torna mais importante. O que antes era uma função baseada na experiência e no relacionamento do profissional com o executivo-chefe de um grande negócio, hoje se tornou alvo de cursos de formação e certificações, entrando também no radar de empresas de recrutamento, que buscam os profissionais certos para aconselhar a direção de companhias de médio e grande porte.

Se, antes, os cargos de conselheiros eram ocupados na base do "quem indica", e as cadeiras completamente reservadas para pessoas acima de 50 anos, hoje pelo menos é possível que o profissional mais jovem comece a se preparar para participar de um Conselho de Administração à medida que avança na carreira. O curso de preparação de conselheiros do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) existe há 12 anos - a formação tem duração de 80 horas, e aborda temas como legislação, relações com investidores e regras de contabilidade.

No ano passado, o instituto criou também uma certificação para a função, que já cadastrou 500 profissionais. O certificado de aptidão ao cargo é obtida por meio de um exame ou por comprovação de experiência anterior em conselhos ou em cargos executivos em grandes empresas. O IBGC montou também um código de conduta, recomendando que um profissional não participe de mais do que cinco conselhos simultaneamente.

Ex-vice-presidente da AES Tietê, Vito Joseph Mandilovich participou no ano passado do curso de preparação de conselheiros. Ele deixou o cargo na empresa de energia em 2008 e vem atuando como consultor desde então. Apesar de já ter atuado em conselhos de subsidiárias da AES, Mandilovich diz que as aulas ajudaram no aprendizado de práticas de mercado mais recentes. Agora, o consultor se prepara para obter a certificação de conselheiro, com a meta de exercer a atividade enquanto administra a própria empresa.

Para o consultor em RH Marcelo Mariaca, ser conselheiro é uma boa atividade "free lancer". Segundo ele, em grandes empresas, o valor pago por reunião varia de R$ 15 mil a R$ 20 mil - as companhias costumam remunerar também o tempo de preparação do profissional. De acordo com Irene Azevedo, consultora sênior da empresa DBM, headhunters já começam a ser acionados para "caçar" conselheiros renomados. "É comum que grandes empresas abram espaço para seus CEOs participarem de conselhos de outras companhias. É uma forma de o principal executivo ter uma visão sobre o funcionamento de uma organização diferente e angariar novas ideias."

Vivência. Apesar das novas opções de preparação para o cargo, credibilidade e bom relacionamento com administradores de grandes negócios ainda são fundamentais na conquista de uma cadeira em um Conselho. Para o presidente do Conselho e ex-presidente da Sul América Seguros, Patrick de Larragoiti Lucas, o fator experiência ainda é o principal na escolha de um conselheiro. A Sul América, que faturou R$ 8,7 bilhões em 2009, tem nove conselheiros - todos com mais de 50 anos de idade. "Acho positiva a atualização por meio de cursos, mas o que conta mesmo é a vivência profissional nas áreas administrativa, jurídica, de recursos humanos e relações com investidores."

Larragoiti afirma, entretanto, que o conselheiro não pode "decidir o futuro de uma empresa somente com base nas atas que recebe na reunião". É preciso que o profissional conheça bem o dia a dia da companhia. O presidente do conselho da Sul América já gastou um dia atendendo às solicitações de clientes de seguro de veículos e também participa de encontros com investidores da companhia, ouvindo dúvidas de minoritários. "É vital que se tenha uma visão ampla, para que não se tomem decisões baseadas em números, fazendo cortes, por exemplo, que poderão deixar os clientes insatisfeitos."


Mercado abre espaço ao ‘conselheiro profissional’ - 25 de novembro de 2010 -
Fernando Scheller, de O Estado de S.Paulo

GRI e IFRS

Muitos profissionais que trabalham com a temática da sustentabilidade costumam questionar por que as empresas não tratam esse assunto com a mesma seriedade com que lidam com as questões contábeis e financeiras. É comum que muitos deles se perguntem: será que um dia a temática da sustentabilidade permeará a contabilidade?

Temos realizado avanços nesse sentido. Em 2006, foi publicada a terceira geração de indicadores da Global Reporting Initiative (ou GRI). Trata-se da GRI G3 – que é, como o próprio nome diz, uma iniciativa global de reportar a gestão sustentável. Ainda em 2006, no Brasil, aproveitando o mote do lançamento da GRI G3, começou-se a debater formas de levar esses indicadores às demonstrações contábeis das empresas. Em 2008, na Conferência Bianual da GRI, muito se falou sobre quem eram os leitores dos relatórios de sustentabilidade e com que objetivo eles os liam. Para os presentes na conferência, esses relatórios teriam mais leitores se suas informações fossem integradas às dos demonstrativos contábeis e financeiros.

No final de maio de 2010, ocorreu novamente a conferência internacional da GRI, cujo debate principal se centrou nessa possibilidade de integração. Contadores, profissionais de empresas ligados à sustentabilidade e investidores institucionais discutiram como avançar nesse rumo. Duas semanas antes, havia sido realizado o primeiro diálogo sobre como adaptar ao novo padrão contábil – o IFRS (International Financial Reporting Standards)– os indicadores da GRI. Promovido pela The Media Group, empresa especializada em comunicação financeira e de sustentabilidade, em conjunto com o Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente da USP, o evento apresentou estudos de casos em que o caminho da integração foi trilhado com sucesso.

O fato é que o movimento pela integração ganhou apoio muito forte. Tanto que em agosto deste ano foi criado o Comitê Internacional para Relatórios Integrados (IIRC, na sigla em inglês), composto por 33 profissionais das mais diversas áreas e países — o Brasil tem dois representantes. O comitê trabalhará para difundir a ideia de que as empresas devem trabalhar com um único relatório integrado. Afinal, as demonstrações contábeis não podem ser construídas levando em consideração os dados socioambientais? E o relato socioambiental não pode ser construído levando-se em consideração o impacto econômico-financeiro?

No final de agosto, ocorreu no Brasil a primeira oficina sobre integração contábil com indicadores GRI. Na ocasião, trabalhou-se sobre relatórios de sustentabilidade, contas contábeis e textos de notas explicativas. Os resultados foram excelentes. A conclusão foi que é possível integrar, sim, mas para isso é preciso trabalhar em equipe – já que a linguagem utilizada nos relatórios de sustentabilidade é muito diferente daquela usada nas demonstrações contábeis.

Para que seja possível um único relatório integrado, é fundamental que exista um grupo de trabalho interdepartamental, composto pelas áreas de comunicação, recursos humanos e meio ambiente, dentre outras, para compreender o papel da contabilidade e vice-versa. Não adianta tentar integrar o relatório se a gestão da empresa como um todo também não se integrar.


A sustentabilidade vai entrar no balanço - Por Roberto Gonzalez - Amanhã

Panamericano e o Contador

Se um médico provocar a morte de um paciente a pedido dele, de quem será a responsabilidade? Do médico? De quem pediu? Ou de ambos? Agora, se os gestores do Banco Panamericano pedirem para o contador fraudar resultados, para registrar ativos e passivos fictícios, de quem será a responsabilidade? De quem pediu? Do Contador? Ou de ambos? O Código Civil estabeleceu em capítulos próprios a responsabilidade dos prepostos e a escrituração contábil. Isso porque a contabilidade exerce uma função social ao “vestir” as pessoas jurídicas para que elas tenham forma e conteúdo, representados nas demonstrações contábeis. Essas informações têm por função fornecer elementos para proteger os agentes econômicos contra o risco do insucesso, favorecendo a geração de emprego e a estabilidade social. É por isso que o profissional contábil, em sua função de transformar os atos da gestão em informações contábeis, assume responsabilidade civil e criminal pelas informações prestadas à sociedade.

As técnicas usadas nos registros contábeis inviabilizam, se usadas corretamente, a manipulação de informações. Deixar de registrar a venda de uma carteira de clientes, pela aplicação da teoria do débito e do crédito, é impossível. Isso porque tudo que se tem (débito) veio de algum lugar (crédito). Não dar baixa de ativos, creditando um passivo fictício ou uma receita inventada é crime, e o profissional que o cometer deve ser punido. O que estranhamos é o fato de o profissional responsável pelas informações contábeis do Banco Panamericano ainda não ter se manifestado, e que as autoridades e o conselho de fiscalização da profissão não tenham ainda interpelado esse profissional.

Da mesma forma, para uma companhia vender as suas próprias ações ela precisa possuí-las primeiro. Caso contrário, quem irá vender são os seus acionistas. Então, quem vendeu as ações do Banco Panamericano para a Caixa Econômica Federal? Que vantagens os vendedores obtiveram com essa venda? Se os lucros não eram verdadeiros, quem foram os beneficiados? Eles irão devolver os lucros fictícios? Esperamos que isso tudo não acabe em “pizza”. A sociedade e os contadores, que usam essas informações contábeis para orientar os investidores, esperam uma ação exemplar. Não é possível que um rombo de R$ 2,5 bilhões, superior ao valor do patrimônio líquido do Banco Panamericano, fique como se nada tivesse acontecido somente porque o sócio controlador injetou o valor para cobrir o rombo. E como fica a Caixa Econômica Federal? Quem irá pagar pela desvalorização do valor das ações?


O Banco Panamericano e a contabilidade - Salézio Dagostim -Jornal do Commercio - 25 11 2010 - grifo do blog