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20 novembro 2010

Juros do Panamericano

Nas instituições médias, a taxa do crédito pessoal não chega a 3% ao mês; no banco de Silvo Santos juro mensal supera os 4%

A burocracia para conseguir um crédito pessoal no Banco Panamericano é mínima se comparada à exigida em outras instituições. A facilidade ao cliente, no entanto, é compensada com o pagamento de um dos juros mais altos do mercado.

Segundo dados do Banco Central, a taxa média praticada pelo banco de Silvio Santos no crédito pessoal é de 4,15% ao mês. Instituições de porte semelhante não chegam em 3% ao mês. O banco Votorantim, por exemplo, cobra taxa mensal de 2,19%; o Cruzeiro do Sul 1,59%; o BMG 2,20% e o Daycoval 1,97%.

“A instituição, que trabalha com um crédito massificado direcionado para quem tem uma renda mais baixa, assume um risco maior”, explica o professor José Pereira da Silva, do Centro de Contabilidade, Finanças e Controle da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A história da aposentada Maria Carmem Martins, de 56 anos, ilustra bem o nível de risco que o Panamericano assume ao conceder crédito com baixo nível de exigência burocrática. Ela, que já acumula há alguns meses prestações de outros empréstimos atrasadas, saiu animada na tarde de ontem da agência do Panamericano na Avenida Paulista. “Aqui eu consegui empréstimo.”

A ex-funcionária da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) não consegue contar nos dedos de uma mão a quantidade de instituições em que está inadimplente. “Nossa Caixa, agora o Banco do Brasil, no Real, uma outra financeira... E ainda tem outras mais”, diz.

Questionada sobre qual será a taxa de juros cobrada no novo empréstimo, feito no Banco Panamericano, Maria Carmem diz que não sabe. “A atendente esqueceu de me falar essa parte.”

Pereira, da FGV, reforça que “as taxas de juros elevadas cobrem o risco do crédito”. Ele diz que cada vez mais a concorrência nesse mercado tem ficado acirrada o que, de alguma forma, pode beneficiar o consumidor, desde que ele pesquise as melhores taxas.

Manuel Enriquez Garcia, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), confirma que os bancos comerciais, como o Panamericano, têm uma política diferente das instituições maiores. “Os grandes bancos adotam regras mais seguras para o empréstimo.”

Profissionais liberais, como taxistas e motoboys, também são atraídos pelo Panamericano, uma vez que não há necessidade de comprovação de renda fixa. Clerto Barbosa financiou seu novo táxi há oito meses por meio do banco. “Foi o vendedor que me levou ao Panamericano para fazer o empréstimo”, conta. “Ele disse que lá o financiamento era liberado mais rápido.” Dito e feito: duas horas depois, Clerto já estava dando a partida no novo carro.

Regulamentação. No Brasil, o Banco Central funciona como o regulador da liberação do crédito. Os principais bancos adotam o que é denominado de ‘boas práticas’. Dessa forma, eles exigem dos clientes comprovação de renda e endereço e fidelidade ao banco, o que torna o empréstimo mais seguro.

Apesar de recomendar as melhores práticas para o empréstimo, o Banco Central libera às instituições para aplicarem as normas de crédito da forma mais conveniente.

Na avaliação do professor Garcia, da USP, ocorre um “afrouxamento nas regras de empréstimo”. “Às vezes uma pessoa tem o nome sujo na praça e o banco não checa o antecedente dela”, afirma.


Banco Panamericano tem a taxa de juro mais alta - Roberta Scrivano e Luiz Guilherme Gerbelli - 20 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Caixa no Controle

A Caixa Econômica Federal hoje é responsável por lei pelo que vier a acontecer no Banco PanAmericano. Ela não responde pelo passado, mas depois da nomeação da nova diretoria e do acordo de acionistas, a CEF passa formalmente a integrar o bloco de controle e nesta condição responde até juridicamente por problemas na instituição. Em outras palavras: o risco foi estatizado.

No mercado, ainda existem muitas dúvidas sobre a operação, e ela tem provocado efeitos na relação entre os bancos. “Ainda não conhecemos o fim dessa história”, me disse uma fonte do mercado bancário privado.

O Banco Central está investigando o procedimento das empresas de auditoria neste caso, porque houve falhas em rotinas que as empresas têm que cumprir. Um exemplo é a de mandar circular para todas as contrapartes, no caso de venda de carteiras, um pedido de dados, para conferir o que uma instituição diz que vendeu e a que a outra diz que comprou. O cruzamento das informações dessas transações tem que ser feito. O que se investiga é por que isso não foi feito ou, se foi, por que nada detectou.

O Banco Central durante a crise de 2008/2009 deu financiamento para que os grandes bancos comprassem carteiras de bancos médios e pequenos. A compra e venda de carteira de crédito é uma transação que ocorre regularmente entre os bancos, mas durante a crise houve um incentivo para que isso ocorresse mais intensamente, para assim dar liquidez às instituições menores ameaçadas pelo aumento da insegurança do investidor. Mais uma razão para que as auditoras fossem cuidadosas com isso. Uma parte da fraude que produziu o rombo no PanAmericano foi exatamente a venda da carteira, mantendo os créditos vendidos no ativo do banco.

No mercado, uma das dúvidas é por que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) emprestou a juros zero ao grupo Silvio Santos. No FGC, que tem no seu conselho grandes nomes do mercado bancário brasileiro, o que se explica é que o Banco PanAmericano pagava um seguro ao Fundo para cobrir aplicações dos investidores institucionais até o limite de R$20 milhões por investidor. Isso, além da cobertura normal que o FGC faz, que é dos depósitos até o valor de R$60 mil. Tudo somado, o custo do Fundo seria de R$1,8 bilhão caso o banco quebrasse. Sem falar no risco de contaminação.

O que o FGC quer é não esperar os três anos de carência e começar logo a vender os ativos. O grupo tem 44 empresas, entre elas algumas mais valiosas como a seguradora, a fábrica de cosméticos e, principalmente, o próprio banco, já posto à venda. O que o Fundo quer deixar por último é o SBT, porque considera que a presença de Silvio Santos na emissora é um ativo em si e um atrativo para receitas publicitárias e audiência. Sem ele, a emissora perderia seu principal nome.

O problema foi descoberto pelo próprio Banco Central. A instituição intensificou o trabalho de supervisão exatamente por causa da crise que se abateu sobre bancos de vários países do mundo, a partir da quebra do Lehman Brothers. Portanto, a autoridade monetária acredita que fez seu trabalho.

No mercado, existem algumas dúvidas e sequelas. Uma das dúvidas é quando exatamente o fato foi conhecido pelo BC. A autoridade monetária elevou a exigência de provisão do PanAmericano após o balanço do segundo trimestre. Outra, e mais complexa, é o fato de que quando um banco origina um crédito ele o faz de forma a criar um casamento entre ativos e passivos. Ao vender a carteira, ele tem receita imediata, mas o passivo continua. Pode haver descasamentos. Além disso, continua sendo corresponsável pelo crédito concedido, mesmo após a venda da carteira. Nos bons momentos, nada disso é problema, mas em uma conjuntura de crescimento forte de crédito e de um evento como esse do PanAmericano, os cuidados precisam ser redobrados e é o que os bancos mais prudentes estão fazendo. Um evento desse sempre produz um aumento da incerteza e da insegurança. Contra esse sentimento é que a autoridade monetária está trabalhando. Bancos vivem de um ativo intangível: a confiança.

O caso foi resolvido neste primeiro momento, mas a um preço alto. Para o FGC, um empréstimo a IGP mais 0% de juros de um fundo cuja principal função não é a de emprestar recursos para uma holding que tem um banco para que ela capitalize a instituição. A principal função do Fundo é garantir depositantes. Para a Caixa Econômica Federal, o custo é de ter que entrar mais fundo na instituição. A criação da CaixaPar gerou muita controvérsia e agora se vê que os críticos estavam certos.

Ainda que o negócio tenha recebido a aprovação do Banco Central em julho, a aprovação da constituição da nova diretoria e a entrada da presidente da Caixa na presidência do conselho de administração só aconteceram após anunciado o rombo. Isso significa que sobre o passado só quem responde é o grupo controlador, Silvio Santos, mas de agora em diante a Caixa também é responsável porque integra o grupo controlador, e o acordo de acionistas consagra isso. Ninguém mais tem dúvidas de que se houver qualquer problema de liquidez no banco quem vai cobrir será a Caixa, o que significa uma estatização do risco futuro da instituição.

O problema dessa solução é que ela não pode ser repetida. O FGC não pode sair por aí distribuindo recursos a juros zero, nem se poderá estatizar o risco de outras instituições. O único remédio é aumentar a vigilância, apertar os controles e elevar as exigências prudenciais sobre o mercado bancário brasileiro.


A Caixa no controle - 20 Nov 2010 - O Globo

Panamericano não está à venda

Em reunião realizada nesta sexta-feira (19/11) com representantes da Caixa Econômica Federal, o Grupo Silvio Santos decretou que o Banco Panamericano não está à venda.

O encontrou, que também contou com representantes do próprio Panamericano, controlado pelo GSS, tratou da entrada efetiva da Caixa na gestão e desenvolvimento do banco.

Outro ponto discutido foi a criação de um plano para distribuição de produtos e serviços da Caixa por meio do Panamericano e vice-versa, tais como cartões, consignado, leasing e crédito imobiliário.

Segundo comunicado, foram estabelecidas diretrizes e a construção de um plano de metas para os próximos meses. A meta é transformar o Panamericano "no maior agente de financiamento para pessoas físicas no país, nos segmentos em que atua".

Silvio Santos define que Panamericano não está à venda - Brasil Econômico - 19/11/10 20:55

Resgate de investimento no Panamericano

O rombo no balanço do Panamericano elevou o grau de ansiedade dos investidores que compram cotas dos dois fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) que o banco oferece nas agências.

Desde que começou o problema, os resgates no Autopan e no Master Panamericano superam as aplicações.

E com folga. Neste mês, até dia 16, os dois FIDCs - também chamados de fundos de recebíveis - perderam um total de R$ 324 milhões em saques líquidos (descontados os depósitos) nas cotas seniores, segundo dados levantados pelas consultorias Fortuna e Risk Office.

Esses fundos têm como política de investimentos a aquisição de créditos originários dos financiamentos de veículos concedidos pelo Panamericano.

O Autopan promete retorno de 108% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), enquanto o Master Panamericano tem como rentabilidade alvo 112% do CDI. Os dois possuem liquidez diária, sendo que os resgates são pagos no dia seguinte ao pedido.

Foi valendo-se dessa prerrogativa que, estourado o escândalo no dia 10, os investidores imediatamente intensificaram os saques. Só no dia 11, o Autopan perdeu R$ 18 milhões e o Master Panamericano, R$ 65 milhões.

O auge dos saques ocorreu na terça-feira pós-feriado, quando o primeiro fundo viu R$ 31 milhões escorrerem pelo ralo e o segundo, outros R$ 127 milhões.

Os resgates de R$ 324 milhões representam cerca de 12% do patrimônio total que os dois FIDCs tinham no fim de outubro, de R$ 2,7 bilhões, incluindo as cotas seniores e as subordinadas.

Cerca de R$ 486 milhões eram do Autopan e R$ 2,2 bilhões, do Master Panamericano. Considerando apenas o patrimônio das cotas seniores (de pouco mais de R$ 1,6 bilhão), a perda chega a 20%.

As cotas subordinadas servem de garantia para as seniores em caso de inadimplência. Usualmente, são compradas pelo próprio emissor dos direitos creditórios (nesse caso, o Panamericano).

Se algum dos financiamentos de veículo da carteira dos FIDCs não for honrado, o prejuízo recai primeiro sobre as cotas subordinadas. As seniores - em certo grau, protegidas de calote - são as efetivamente distribuídas aos investidores. O patrimônio dos fundos em cotas seniores está hoje em R$ 1,3 bilhão.

Dificuldades

O número de cotistas nos fundos também reduziu sensivelmente. No Master Panamericano, caiu de quase 400 para 317. No Autopan, foi de 182 para 130.

Segundo dados levantados pela consultoria Economatica, fundos de investimentos de gestores como HSBC, Bradesco, BES, Banestes, Capitânia e Gap estão entre os investidores que compram cotas dos dois FIDCs.

"A liquidez diária dos FIDCs já mostra que o banco tinha certa dificuldade de captação. Não é simples vender créditos para honrar resgates", avalia o consultor de investimentos especializado em fundos Marcelo D'Agosto.

"Se confirmados, os resgates das últimas semanas, significa dizer que mais de R$ 300 milhões do aporte de R$ 2,5 bilhões feito pelo controlador com recursos obtidos junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foram usados só para comprar créditos incluídos nos FIDCs."

Isso sem contar os resgates nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do banco, sobre os quais não há informações oficiais disponíveis. Sem que as aplicações no fundo sejam retomadas, a tendência, segundo D'Agosto, é de que novos resgates saiam do aporte do controlador.

Procurado, o Panamericano informou que não falará sobre captações e resgates no momento.


Fundos do Panamericano perdem R$ 324 mi no mês - Mariana Segala - Brasil Economico - 19/11/10

19 novembro 2010

Rir é o melhor remédio


O investidor, diante do problema da dívida, encontra o para-quedas. O resultado, as medidas de austeridade. Fonte: The Economist

Teste #384

No período de 1989 a 2009, a Ernest & Young doou 17 milhões de dólares para as campanhas políticas nos Estados Unidos. Este foi o valor aproximado doado pela Deloitte e um pouco acima da quantia doada pela Price (16 milhões). A KPMG foi mais mesquinha, com doações de 11 milhões de dólares. Ou 39o., 47o., 50o. e 75o. lugares entre as empresas. Uma destas empresas fez doações iguais entre os democratas (Obama, Clinton etc) e os republicanos (Bush e partidários), enquanto as outras três doaram mais de 60% para um dos dois grandes partidos políticos dos Estados Unidos. Quais são as três empresas de auditoria que privilegiaram um dos partidos e qual é este partido?

Resposta do Anterior: Adobe = 358; Firefox = 12; iTunes = 46; Sims = 1760. Fonte Gizzmodo

Panamericano: Deloitte fala

Entrevista com Maurício Pires Resende, sócio e auditor da Deloitte. Muito interessante.

No jogo de empurra criado com a descoberta do rombo de R$ 2,5 bilhões no Panamericano, ninguém apanhou mais do que a Deloitte, o escritório que audita as contas do banco de Silvio Santos há nove anos. Silvio anunciou que vai processar a empresa, além dos ex-diretores do Panamericano. O Banco Central (BC) apontou o dedo para Silvio e para os auditores. E, no mercado, fala-se em responsabilidade do BC e da Deloitte.

Contratada especialmente para conferir as demonstrações financeiras do Panamericano, a empresa só soube do buraco quando o BC convocou seus auditores para uma reunião na segunda-feira da semana passada (8 de novembro), um dia antes de o assunto vir a público. Como isso aconteceu?

“O auditor verifica as informações que lhe são oferecidas. A base é a boa-fé”, diz o sócio Maurício Pires Resende. Nesta entrevista, o Estado apresenta a versão da Deloitte.

O que houve no Panamericano?

Ficamos muito mais surpresos do que vocês possam imaginar. Nosso negócio está fundado em reputação. No momento em que essa credibilidade é colocada em jogo, é muito difícil. Estamos pagando um preço alto: os clientes estão perguntando o que aconteceu, o mercado pergunta, os bancos querem saber... Estamos apanhando, todo mundo quer explicação.

O que vocês têm respondido?

Como já foi dito pelo BC, a Deloitte não cometeu fraude, não maquiamos balanço. O BC encontrou inconsistências contábeis. Onde está a fonte disso? Está no banco, nas pessoas do banco. O que a administração tem a dizer? O que os controladores têm a dizer? Somos auditores, temos um papel e não vamos nos furtar às responsabilidades. Mas entendemos que, numa situação como essa, todos os componentes têm responsabilidade. O administrador em primeiro lugar.

O sr. está dizendo que trabalharam com fatos que não eram verdadeiros. Mas o trabalho de vocês não é justamente avaliar as informações do banco e dizer se são verdadeiras ou não?

Não preparamos as demonstrações financeiras. Somos contratados para emitir opinião sobre até que ponto uma demonstração está de acordo com práticas contábeis estabelecidas em uma jurisdição. Há o papel da administração. Ela tem de ter um sistema de controle interno que permita capturar e registrar as operações, o que, por sua vez, vai gerar as demonstrações financeiras. Quando o auditor faz seu trabalho, aplica testes para se certificar de que a demonstração é correta.

Vocês não tinham de ter detectado os problemas no banco?

Não. Não é papel do auditor detectar uma fraude. Muitas vezes, uma fraude não envolve só a empresa. Estamos falando de uma série de agentes que podem estar dentro da empresa, fora da empresa... Não temos condições de fazer isso. Aí não se trata mais de trabalho de auditor, mas de polícia. O problema é que, no Brasil, especificamente, a figura do auditor é confundida com a figura de polícia.

Não são polícia...

Nós não somos polícia. A cada um compete sua parte de responsabilidade. Se nós não cumprirmos a nossa, estamos sujeitos a processos éticos, administrativos e criminais em questões mais complicadas - que não é o caso.

Desculpe a insistência, mas o auditor dá um atestado para o que está nas demonstrações. Para isso, não precisa checar tudo, para evitar erros?

O auditor verifica as informações e os sistemas que lhe são oferecidos. A base é a boa-fé. A carta de responsabilidade do administrador é para garantir que ele está oferecendo as informações corretas. É fundamental porque ele assume a responsabilidade pelo que está entregando para a auditoria.

Vocês fizeram a circularização (checagem de informações com clientes e outros bancos)?

É importante deixar bem claro: todos os procedimentos de auditoria foram realizados.

Inclusive a circularização?

Sim. Todos os procedimentos foram realizados. Há procedimentos obrigatórios. Há alguns que dependem do planejamento do auditor. Aplicamos os que entendíamos serem necessários para essa situação.

Não dava para um auditor pegar essa fraude contábil?

Não vou dizer que temos fraude porque não sabemos. Sabemos aquilo que o BC reportou de inconsistências contábeis. Dentro desse universo, ainda não chegamos à conclusão se era algo possível de ser descoberto por um auditor.

Como o BC conseguiu descobrir o problema?

O BC fez um trabalho específico, que identificou que havia uma movimentação grande de cessões de crédito e foi investigar. Os procedimentos, quando adotados, revelaram diversas inconsistências. Até chegar à conclusão de que havia o problema.

O auditor não poderia ter feito a mesma coisa que o BC fez?

Não, porque não temos os dados de todo o sistema.

Desde quando vocês auditam os balanços do Panamericano?

Desde 2001.

Vocês continuam trabalhando no banco?

Sim. A menos que o trabalho seja interrompido. Nossa disposição é de cooperar.

Quantos auditores estavam no Panamericano?

É uma equipe.

Como eles estão?

Como estamos todos.

E como estão todos?

Cansados. Em primeiro lugar, estamos profundamente indignados. A adrenalina sobe quando você se sente assim. Então, fica-se mais forte ainda. Sabemos que temos de continuar lutando. Fechamos contratos todos os dias.

Há semelhanças entre esse caso e o da Enron nos EUA?

São muito diferentes. Mas veja que interessante: dois anos depois, a Arthur Andersen foi absolvida no caso. Isso é o que nos preocupa. É uma história que ninguém conta.

Qual a reação da matriz?

A Deloitte não tem matriz. Somos uma rede de empresas, congregada numa entidade chamada Deloitte. Aqui somos uma empresa brasileira que tem sócios, não temos vinculação. Somos 4.000, com 152 sócios. O faturamento no último ano foi de R$ 738 milhões.

Vocês cogitam processar os responsáveis pelas informações falsas?

Estamos impedidos de fazer isso enquanto eles são clientes. Mas, se houver algum dano, é algo que consideramos. Evitamos ao máximo, mas é uma possibilidade jurídica.


‘Não somos polícia. Cada um tem sua responsabilidade’ - 19 Nov 2010 - O Estado de São