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20 novembro 2010

Auditoria Tempos Difíceis

Os tempos difíceis voltaram para as firmas de auditoria. É quase um movimento cíclico. Quando uma delas cai, é difícil evitar uma contaminação, e as perguntas de praxe, "para quê serve auditoria?", "onde estava o auditor?" etc. voltam a compor o repertório da imprensa.

A Deloitte, uma das quatro maiores do mundo no setor, está sob fogo intenso, mas não se sabe ainda se pelos motivos certos. A firma foi acusada em letras garrafais de ter maquiado o rombo do Banco PanAmericano. Pela lógica dos negócios, seria uma coisa muito estúpida de se fazer. As auditorias só têm uma coisa a perder: o nome. Não faz sentido encobrir uma fraude num banco pequeno no Brasil e colocar em risco uma marca mundial que vale bilhões de dólares.

"A administração é responsável pela elaboração das demonstrações financeiras, não a auditoria", diz Ana María Elorrieta, presidente do Ibracon, instituto que representa os auditores independentes. "O auditor também tem responsabilidades, mas não é ele que gera a informação financeira."

Todas as auditorias têm histórias para contar. Estão na linha de frente e, geralmente, são o bode expiatório de uma análise simplista. Não, eles não são agentes da polícia vigiando executivos escroques. Mas têm o dever de chamar a polícia se esbarrarem numa fraude. Mais que isso: têm que se preparar para encontrar a fraude.

É o que rezam as normas internacionais de auditoria, um avanço em relação à postura de outros tempos em que o profissional limitava-se a checar se os números estavam de acordos com os padrões de contabilidade.

E esses padrões, por sinal, também estão mudando, mas o Banco Central insiste em deixar para amanhã a padronização que colocaria no balanço bilhões em empréstimos que atualmente só aparecem em notas explicativas. "A reticência em mudar os procedimentos contábeis atrapalha", diz Guy Almeida Andrade, membro do Ifac, a federação internacional dos contadores. "Vários bancos pequenos estão na mesma situação."

As auditorias podem, sim, ter voltado a gostar de risco. Depois de anos de crescimento acima dos dois dígitos, os auditores - que fazem também as vezes de consultores - parece que se esqueceram do pesadelo do começo dos anos 2000, quando a americana Enron quebrou, em meio a uma fraude bilionária, e levou junto uma das então cinco grandes do setor, a Arthur Andersen.

A repercussão foi devastadora. A lei caiu pesada sobre a cabeça de todos, a autorregulação se foi, as remanescentes entre as grandes, com exceção da Deloitte, venderam suas áreas de consultoria de sistemas, suspeitas de causar um conflito de interesses - a Andersen recebia mais da Enron pelas consultorias do que pela auditoria dos balanços.

Dez anos depois, todas voltaram a investir no negócio. Os controles internos, alegam os executivos, são mais rígidos, o que evitariam os conflitos do passado. Difícil saber. Transparência ainda é um tabu para as auditorias.

Agora, o PanAmericano dá outra lição. "Qualquer análise ainda é muito prematura", diz Ana Maria. "Não sabemos as circunstâncias".

Porém, admite, a profissão sai abalada, e terá que trabalhar para recuperar a confiança.

A Deloitte foi procurada, mas não quis se pronunciar.


Tempos difíceis voltam para as firmas de auditoria - Nelson Niero -
Fonte: Valor Econômico, via FENACON, via blog do Alexandre Alcantara

Auditoria nos Estados Unidos

O Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas (PCAOB, na sigla em inglês) divulgou ontem um relatório em que diz ter identificado "deficiências de auditoria" em um dos trabalhos realizados pela PricewaterhouseCoopers (PwC) no Brasil.

Essa é a quarta inspeção do regulador americano de contabilidade em firmas que atuam no país que vem a público este ano. Antes, saíram relatórios sobre Deloitte, BDO e Ernst & Young, todos com algum tipo de "deficiência".

O PCAOB, uma entidade privada, foi criado pela Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, depois dos escândalos empresariais do início daquela década, tirando os poderes de autorregulação que as firmas tinham até então.

No documento divulgado ontem em seu site, o PCAOB diz que não foram feitos "procedimentos [de auditoria] suficientes no que diz respeito à valorização dos ativos adquiridos e passivos assumidos em uma combinação de negócios"

O relatório não revela o nome da empresa que estava sendo auditada pela PwC.

A inspeção da equipe do PCAOB foi feita entre 30 de outubro e 9 de novembro de 2007 e envolveu trabalhos em 13 clientes de auditoria.

O relatório ressalva que, em alguns casos, a observação que a empresa de auditoria falhou ao executar um procedimento "pode ser baseada na ausência de documentação e ausência de outras provas convincentes, mesmo que uma empresa alegue ter realizado o procedimento".

"Às vezes o auditor não recebe um documento que solicitou, mas comprova a operação por outros meios", disse Henrique Luz, sócio da PwC.

Para ele, as considerações do PCAOB com relação aos trabalhos da PwC não têm "nenhuma gravidade".

"Se você pegar cem relatórios que o PCAOB fez nos Estados Unidos, mais de 90% vão ter algum comentário desse tipo", disse. "O PCAOB tem uma postura mais acadêmica, o que é compreensível."

Em resposta da PwC que consta do documento, a sócia Ana María Elorrieta argumenta que todo processo de auditoria envolve julgamentos. Segundo ela, os procedimentos da empresa foram suficientes para dar suporte ao parecer de auditoria. "No entanto, reconhecemos que certos aspectos da documentação do trabalho de auditoria feito na operação referida poderiam ter sido melhorados."

Segundo o PCAOB, 2.457 firmas de auditoria americanas e não americanas estão registradas no órgão, que faz "inspeções regulares, periódicas de centenas dessas firmas, mas não de todas". Até o momento, 34 países foram visitados pelas equipes de fiscalização. Em alguns países da Europa e na China as autoridades proibiram a atuação do órgão.


Fiscais americanos apontam falha em trabalho da PwC - Nelson Niero | De São Paulo - Valor Econômico (via blog do Atelmo) - 19/11/2010

Panamericano e a auditoria

Na semana passada, o empresário Silvio Santos deu uma demonstração cabal de que tomaria a dianteira do caso PanAmericano. Colocou todos os seus bens em garantia para obter um empréstimo de R$ 2,5 bilhões junto ao Fundo Garantidor de Crédito e cobrir o rombo do banco.

Nos últimos dias, ele deu novos sinais de que pretende continuar à frente dos acontecimentos. Primeiro, sustou o pagamento de R$ 1,6 milhão que deveria ser feito à Deloitte, auditora responsável por averiguar se os balanços da instituição refletiam a realidade contábil, com um argumento irrefutável: se o serviço não foi prestado, não deve ser pago.

Segundo, iniciou sondagens para contratar uma investigação paralela sobre o que aconteceu no PanAmericano – a suspeita de Silvio é que as fraudes tenham contado com a conivência dos auditores. Luiz Sandoval, braço-direito do dono do SBT, tem dito que Silvio irá às “últimas consequências”, o que deve abrir um precedente positivo para moralizar as relações entre bancos e auditorias.

A tendência é que ele contrate a Kroll, que atuou no caso Enron. É um mau presságio para as auditorias. O escândalo Enron provocou a quebra da Arthur Andersen, que, à época, era a principal empresa de auditoria do mundo – foi essa falência que permitiu à Deloitte assumir o topo do ranking.

A ofensiva contra os auditores não parte apenas do grupo Silvio Santos. O presidente do Conselho Federal de Contabilidade, Juarez Carneiro, nomeou nesta semana um grupo para investigar uma eventual fraude no processo de análise dos balanços do PanAmericano.

Se for comprovada má-fé, os envolvidos – incluindo os auditores da Deloitte – poderão ter seus registros cassados. “Já pedimos informações à Deloitte. Vamos analisar tudo com cautela, mas está difícil acreditar em tudo o que está acontecendo”, disse Carneiro à DINHEIRO. “Parece um erro infantil não captar uma fraude de R$ 2,5 bilhões”, disse.

No caso do PanAmericano, o esquema era aparentemente banal. Carteiras de crédito vendidas a outras instituições continuavam no balanço. Ou seja: o banco registrava a receita da venda no seu caixa e mantinha a carteira dos empréstimos no seu ativo, duplicando – de forma artificial – o ganho com as operações. No ano passado, o banco apresentou R$ 174 milhões de lucro líquido, resultado endossado pela auditoria.

Mais do que simplesmente ignorar as fraudes cometidas pelos executivos do PanAmericano, a Deloitte foi acusada na semana passada, pelo jornal Folha de S.Paulo, de tomar parte no esquema, atuando na própria maquiagem dos balanços. Segundo a Folha, os auditores da Deloitte teriam deixado de fazer checagens primárias nos balanços do PanAmericano, como verificar em que condições as carteiras de crédito teriam sido vendidas.

Especulou-se até que a matriz da Deloitte, nos Estados Unidos, poderia descredenciar a filial brasileira, que tem quatro mil funcionários no País, receita anual de R$ 738 milhões e auditava os balanços do PanAmericano havia quatro anos. Procurada pela DINHEIRO, a Deloitte afirmou que não mais se pronunciaria sobre o caso.

Mas um dos sócios da auditoria, Maurício Pires Resende, havia afirmado na véspera que a responsabilidade pelo fechamento dos balanços é da instituição financeira, não da Deloitte. “O nosso trabalho é verificar se o dado está correto. Se alguém maquia, não é o auditor”, disse ele.

É uma colocação questionável, pois o dever do auditor é justamente encontrar eventuais problemas nos balanços. Se não pecou por ação direta, a Deloitte errou por omissão no caso PanAmericano, assim como em outros episódios recentes, envolvendo Parmalat, Aracruz e Bausch & Lomb.

O fato é que os auditores foram colocados na defensiva. “Ao suspender o pagamento da Deloitte, Silvio Santos atribui a culpa à empresa. Mas a história está malcontada e vai muito além de distribuir culpa”, diz Carlos Alberto Safatle, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP).

“Eu nunca vi na história um caso como esse, em que uma auditoria diz que não viu um rombo de R$ 2,5 bilhões”, diz ele. Além da Deloitte, as contas do banco foram endossadas pela KPMG e Banco Fator, que avaliaram o PanAmericano antes que a Caixa Econômica Federal pagasse mais de R$ 700 milhões por 49% das ações do banco.

Seja fraude, erro ou omissão, o fato é que o episódio do PanAmericano ainda promete novos e decisivos capítulos nas próximas semanas. Não se sabe se a batalha poderá inviabilizar as operações da Deloitte no País, mas deve servir ao menos para tornar mais transparentes as relações entre as auditorias e as empresas que as contratam.


Atenção, Deloitte: Silvio Santos vem aí - Por Hugo Cilo - Isto é Dinheiro

Juros do Panamericano

Nas instituições médias, a taxa do crédito pessoal não chega a 3% ao mês; no banco de Silvo Santos juro mensal supera os 4%

A burocracia para conseguir um crédito pessoal no Banco Panamericano é mínima se comparada à exigida em outras instituições. A facilidade ao cliente, no entanto, é compensada com o pagamento de um dos juros mais altos do mercado.

Segundo dados do Banco Central, a taxa média praticada pelo banco de Silvio Santos no crédito pessoal é de 4,15% ao mês. Instituições de porte semelhante não chegam em 3% ao mês. O banco Votorantim, por exemplo, cobra taxa mensal de 2,19%; o Cruzeiro do Sul 1,59%; o BMG 2,20% e o Daycoval 1,97%.

“A instituição, que trabalha com um crédito massificado direcionado para quem tem uma renda mais baixa, assume um risco maior”, explica o professor José Pereira da Silva, do Centro de Contabilidade, Finanças e Controle da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A história da aposentada Maria Carmem Martins, de 56 anos, ilustra bem o nível de risco que o Panamericano assume ao conceder crédito com baixo nível de exigência burocrática. Ela, que já acumula há alguns meses prestações de outros empréstimos atrasadas, saiu animada na tarde de ontem da agência do Panamericano na Avenida Paulista. “Aqui eu consegui empréstimo.”

A ex-funcionária da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) não consegue contar nos dedos de uma mão a quantidade de instituições em que está inadimplente. “Nossa Caixa, agora o Banco do Brasil, no Real, uma outra financeira... E ainda tem outras mais”, diz.

Questionada sobre qual será a taxa de juros cobrada no novo empréstimo, feito no Banco Panamericano, Maria Carmem diz que não sabe. “A atendente esqueceu de me falar essa parte.”

Pereira, da FGV, reforça que “as taxas de juros elevadas cobrem o risco do crédito”. Ele diz que cada vez mais a concorrência nesse mercado tem ficado acirrada o que, de alguma forma, pode beneficiar o consumidor, desde que ele pesquise as melhores taxas.

Manuel Enriquez Garcia, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), confirma que os bancos comerciais, como o Panamericano, têm uma política diferente das instituições maiores. “Os grandes bancos adotam regras mais seguras para o empréstimo.”

Profissionais liberais, como taxistas e motoboys, também são atraídos pelo Panamericano, uma vez que não há necessidade de comprovação de renda fixa. Clerto Barbosa financiou seu novo táxi há oito meses por meio do banco. “Foi o vendedor que me levou ao Panamericano para fazer o empréstimo”, conta. “Ele disse que lá o financiamento era liberado mais rápido.” Dito e feito: duas horas depois, Clerto já estava dando a partida no novo carro.

Regulamentação. No Brasil, o Banco Central funciona como o regulador da liberação do crédito. Os principais bancos adotam o que é denominado de ‘boas práticas’. Dessa forma, eles exigem dos clientes comprovação de renda e endereço e fidelidade ao banco, o que torna o empréstimo mais seguro.

Apesar de recomendar as melhores práticas para o empréstimo, o Banco Central libera às instituições para aplicarem as normas de crédito da forma mais conveniente.

Na avaliação do professor Garcia, da USP, ocorre um “afrouxamento nas regras de empréstimo”. “Às vezes uma pessoa tem o nome sujo na praça e o banco não checa o antecedente dela”, afirma.


Banco Panamericano tem a taxa de juro mais alta - Roberta Scrivano e Luiz Guilherme Gerbelli - 20 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Caixa no Controle

A Caixa Econômica Federal hoje é responsável por lei pelo que vier a acontecer no Banco PanAmericano. Ela não responde pelo passado, mas depois da nomeação da nova diretoria e do acordo de acionistas, a CEF passa formalmente a integrar o bloco de controle e nesta condição responde até juridicamente por problemas na instituição. Em outras palavras: o risco foi estatizado.

No mercado, ainda existem muitas dúvidas sobre a operação, e ela tem provocado efeitos na relação entre os bancos. “Ainda não conhecemos o fim dessa história”, me disse uma fonte do mercado bancário privado.

O Banco Central está investigando o procedimento das empresas de auditoria neste caso, porque houve falhas em rotinas que as empresas têm que cumprir. Um exemplo é a de mandar circular para todas as contrapartes, no caso de venda de carteiras, um pedido de dados, para conferir o que uma instituição diz que vendeu e a que a outra diz que comprou. O cruzamento das informações dessas transações tem que ser feito. O que se investiga é por que isso não foi feito ou, se foi, por que nada detectou.

O Banco Central durante a crise de 2008/2009 deu financiamento para que os grandes bancos comprassem carteiras de bancos médios e pequenos. A compra e venda de carteira de crédito é uma transação que ocorre regularmente entre os bancos, mas durante a crise houve um incentivo para que isso ocorresse mais intensamente, para assim dar liquidez às instituições menores ameaçadas pelo aumento da insegurança do investidor. Mais uma razão para que as auditoras fossem cuidadosas com isso. Uma parte da fraude que produziu o rombo no PanAmericano foi exatamente a venda da carteira, mantendo os créditos vendidos no ativo do banco.

No mercado, uma das dúvidas é por que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) emprestou a juros zero ao grupo Silvio Santos. No FGC, que tem no seu conselho grandes nomes do mercado bancário brasileiro, o que se explica é que o Banco PanAmericano pagava um seguro ao Fundo para cobrir aplicações dos investidores institucionais até o limite de R$20 milhões por investidor. Isso, além da cobertura normal que o FGC faz, que é dos depósitos até o valor de R$60 mil. Tudo somado, o custo do Fundo seria de R$1,8 bilhão caso o banco quebrasse. Sem falar no risco de contaminação.

O que o FGC quer é não esperar os três anos de carência e começar logo a vender os ativos. O grupo tem 44 empresas, entre elas algumas mais valiosas como a seguradora, a fábrica de cosméticos e, principalmente, o próprio banco, já posto à venda. O que o Fundo quer deixar por último é o SBT, porque considera que a presença de Silvio Santos na emissora é um ativo em si e um atrativo para receitas publicitárias e audiência. Sem ele, a emissora perderia seu principal nome.

O problema foi descoberto pelo próprio Banco Central. A instituição intensificou o trabalho de supervisão exatamente por causa da crise que se abateu sobre bancos de vários países do mundo, a partir da quebra do Lehman Brothers. Portanto, a autoridade monetária acredita que fez seu trabalho.

No mercado, existem algumas dúvidas e sequelas. Uma das dúvidas é quando exatamente o fato foi conhecido pelo BC. A autoridade monetária elevou a exigência de provisão do PanAmericano após o balanço do segundo trimestre. Outra, e mais complexa, é o fato de que quando um banco origina um crédito ele o faz de forma a criar um casamento entre ativos e passivos. Ao vender a carteira, ele tem receita imediata, mas o passivo continua. Pode haver descasamentos. Além disso, continua sendo corresponsável pelo crédito concedido, mesmo após a venda da carteira. Nos bons momentos, nada disso é problema, mas em uma conjuntura de crescimento forte de crédito e de um evento como esse do PanAmericano, os cuidados precisam ser redobrados e é o que os bancos mais prudentes estão fazendo. Um evento desse sempre produz um aumento da incerteza e da insegurança. Contra esse sentimento é que a autoridade monetária está trabalhando. Bancos vivem de um ativo intangível: a confiança.

O caso foi resolvido neste primeiro momento, mas a um preço alto. Para o FGC, um empréstimo a IGP mais 0% de juros de um fundo cuja principal função não é a de emprestar recursos para uma holding que tem um banco para que ela capitalize a instituição. A principal função do Fundo é garantir depositantes. Para a Caixa Econômica Federal, o custo é de ter que entrar mais fundo na instituição. A criação da CaixaPar gerou muita controvérsia e agora se vê que os críticos estavam certos.

Ainda que o negócio tenha recebido a aprovação do Banco Central em julho, a aprovação da constituição da nova diretoria e a entrada da presidente da Caixa na presidência do conselho de administração só aconteceram após anunciado o rombo. Isso significa que sobre o passado só quem responde é o grupo controlador, Silvio Santos, mas de agora em diante a Caixa também é responsável porque integra o grupo controlador, e o acordo de acionistas consagra isso. Ninguém mais tem dúvidas de que se houver qualquer problema de liquidez no banco quem vai cobrir será a Caixa, o que significa uma estatização do risco futuro da instituição.

O problema dessa solução é que ela não pode ser repetida. O FGC não pode sair por aí distribuindo recursos a juros zero, nem se poderá estatizar o risco de outras instituições. O único remédio é aumentar a vigilância, apertar os controles e elevar as exigências prudenciais sobre o mercado bancário brasileiro.


A Caixa no controle - 20 Nov 2010 - O Globo

Panamericano não está à venda

Em reunião realizada nesta sexta-feira (19/11) com representantes da Caixa Econômica Federal, o Grupo Silvio Santos decretou que o Banco Panamericano não está à venda.

O encontrou, que também contou com representantes do próprio Panamericano, controlado pelo GSS, tratou da entrada efetiva da Caixa na gestão e desenvolvimento do banco.

Outro ponto discutido foi a criação de um plano para distribuição de produtos e serviços da Caixa por meio do Panamericano e vice-versa, tais como cartões, consignado, leasing e crédito imobiliário.

Segundo comunicado, foram estabelecidas diretrizes e a construção de um plano de metas para os próximos meses. A meta é transformar o Panamericano "no maior agente de financiamento para pessoas físicas no país, nos segmentos em que atua".

Silvio Santos define que Panamericano não está à venda - Brasil Econômico - 19/11/10 20:55

Resgate de investimento no Panamericano

O rombo no balanço do Panamericano elevou o grau de ansiedade dos investidores que compram cotas dos dois fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) que o banco oferece nas agências.

Desde que começou o problema, os resgates no Autopan e no Master Panamericano superam as aplicações.

E com folga. Neste mês, até dia 16, os dois FIDCs - também chamados de fundos de recebíveis - perderam um total de R$ 324 milhões em saques líquidos (descontados os depósitos) nas cotas seniores, segundo dados levantados pelas consultorias Fortuna e Risk Office.

Esses fundos têm como política de investimentos a aquisição de créditos originários dos financiamentos de veículos concedidos pelo Panamericano.

O Autopan promete retorno de 108% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), enquanto o Master Panamericano tem como rentabilidade alvo 112% do CDI. Os dois possuem liquidez diária, sendo que os resgates são pagos no dia seguinte ao pedido.

Foi valendo-se dessa prerrogativa que, estourado o escândalo no dia 10, os investidores imediatamente intensificaram os saques. Só no dia 11, o Autopan perdeu R$ 18 milhões e o Master Panamericano, R$ 65 milhões.

O auge dos saques ocorreu na terça-feira pós-feriado, quando o primeiro fundo viu R$ 31 milhões escorrerem pelo ralo e o segundo, outros R$ 127 milhões.

Os resgates de R$ 324 milhões representam cerca de 12% do patrimônio total que os dois FIDCs tinham no fim de outubro, de R$ 2,7 bilhões, incluindo as cotas seniores e as subordinadas.

Cerca de R$ 486 milhões eram do Autopan e R$ 2,2 bilhões, do Master Panamericano. Considerando apenas o patrimônio das cotas seniores (de pouco mais de R$ 1,6 bilhão), a perda chega a 20%.

As cotas subordinadas servem de garantia para as seniores em caso de inadimplência. Usualmente, são compradas pelo próprio emissor dos direitos creditórios (nesse caso, o Panamericano).

Se algum dos financiamentos de veículo da carteira dos FIDCs não for honrado, o prejuízo recai primeiro sobre as cotas subordinadas. As seniores - em certo grau, protegidas de calote - são as efetivamente distribuídas aos investidores. O patrimônio dos fundos em cotas seniores está hoje em R$ 1,3 bilhão.

Dificuldades

O número de cotistas nos fundos também reduziu sensivelmente. No Master Panamericano, caiu de quase 400 para 317. No Autopan, foi de 182 para 130.

Segundo dados levantados pela consultoria Economatica, fundos de investimentos de gestores como HSBC, Bradesco, BES, Banestes, Capitânia e Gap estão entre os investidores que compram cotas dos dois FIDCs.

"A liquidez diária dos FIDCs já mostra que o banco tinha certa dificuldade de captação. Não é simples vender créditos para honrar resgates", avalia o consultor de investimentos especializado em fundos Marcelo D'Agosto.

"Se confirmados, os resgates das últimas semanas, significa dizer que mais de R$ 300 milhões do aporte de R$ 2,5 bilhões feito pelo controlador com recursos obtidos junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foram usados só para comprar créditos incluídos nos FIDCs."

Isso sem contar os resgates nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do banco, sobre os quais não há informações oficiais disponíveis. Sem que as aplicações no fundo sejam retomadas, a tendência, segundo D'Agosto, é de que novos resgates saiam do aporte do controlador.

Procurado, o Panamericano informou que não falará sobre captações e resgates no momento.


Fundos do Panamericano perdem R$ 324 mi no mês - Mariana Segala - Brasil Economico - 19/11/10