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13 novembro 2010

Corinthians e Panamericano



Pelo menos até o final de fevereiro, o rombo de R$ 2,5 bilhões no banco PanAmericano não vai afetar o Corinthians, que é patrocinado pelo banco.

"Não muda nada", afirmou Caio Campos, gerente de marketing do clube. "O contrato está sendo cumprido", afirmou Luiz Felipe Santoro, advogado do Corinthians, quando questionado se o banco estava pagando o clube em dia.

O contrato assinado em fevereiro de 2010 tem duração de um ano e rende ao clube R$ 7 milhões no período. Em troca, o banco estampa sua marca nas costas da camisa do Corinthians, abaixo do número.

Dirigentes do clube, que se envolveram na negociação, avaliam que será difícil renovar o contrato de patrocínio, que vence em fevereiro de 2011. Por enquanto, preferem esperar.

Além dos R$ 7 milhões do banco PanAmericano, o Corinthians fatura por ano R$ 38 milhões da Hypermarcas -deste valor, R$ 10 milhões vão para Ronaldo-, empresa que tem contrato com o clube até o final de 2011.


Crise em banco não afeta clube, dizem cartolas - Folha de São Paulo - 13 nov 2010

Foto: aqui

Zona Cinzenta no Panamericano

Auditores do Banco Central que analisaram a documentação do Banco PanAmericano dizem ter encontrado os primeiros indícios de desvio de dinheiro por parte de executivos na operadora de cartão de crédito.

O PanAmericano, do Grupo Silvio Santos, tem um rombo de R$ 2,5 bilhões, dos quais R$ 400 milhões são da empresa de cartão de crédito, segundo o Banco Central.

As primeiras análises dos técnicos apontam que metade dos R$ 400 milhões teria sido desviada por executivos que faziam parte da cúpula do PanAmericano, segundo a Folha apurou.

O número é apenas uma estimativa preliminar, já que esse tipo de apuração costuma levar meses.

CRÉDITO INVENTADO

Os técnicos do Banco Central descobriram dois tipos de artifício nos quais os executivos usavam os cartões de crédito de clientes para desviar dinheiro do banco: 1) a manipulação dos saldos; 2) criação de cartões fantasma, sem que exista cliente.

O primeiro tipo era a manipulação mais comum. Imagine um cliente do cartão PanAmericano que gastou R$ 1.000 num mês, paga R$ 200 e decide financiar o saldo em prestações, o chamado "crédito rotativo".

Em vez de registrar um saldo de R$ 800, os executivos dobravam esse valor, num exemplo fictício. Numa operação com o banco PanAmericano, retiravam R$ 1.600, em vez dos R$ 800. Pagavam os R$ 1.000 aos lojistas com os quais o cliente do cartão fizera compras e desviavam os R$ 600 que sobravam.

O PanAmericano nega que tenha havido desvios. Diz que "as inconsistências contábeis estão sendo alvo de apuração por parte das autoridades competentes e os valores necessários a sua regularização foram aportados pelo controlador".

São fraudes grosseiras, segundo um técnico que acompanhou as negociações que resultaram no empréstimo de R$ 2,5 bilhões para salvar o PanAmericano.

Na visão dele, o caso parece o do Banco Nacional, que quebrou em 1995 -os desvios eram feitos a partir de créditos inventados.

SEM CONTROLE

O desvio a partir dos cartões de crédito tem uma razão clara, segundo o advogado Jairo Saddi, professor do Insper e um dos maiores especialistas em legislação bancária do país: o BC controla a contabilidade dos bancos, mas não faz esse tipo de fiscalização nas empresas de cartão de crédito. Segundo a lei brasileira, cartão de crédito é uma operação mercantil, não financeira.

"As fraudes sempre ocorrem nas áreas em que há falta de controle", afirma.

No Brasil, as empresas de cartão de crédito são consideradas instituições financeiras para questões de sigilo bancário, mas não o são para o setor de fiscalização do BC.

Nos Estados Unidos e na União Europeia, a legislação é diferente -bancos e empresas de cartão são fiscalizados pelos bancos centrais, segundo Saddi.

A falta de fiscalização nas empresas de cartão de crédito funciona como um estímulo à fraude, para o advogado.

"Empresa de cartão de crédito precisa ser equiparada às instituições financeiras e fiscalizada pelo Banco Central", defende Saddi.



Zona cinzenta pode ter estimulado fraude - 13 Nov 2010 - Folha de São Paulo - MARIO CESAR CARVALHO

Perguntas ao Panamericano

1) O BC anunciou que ao examinar, há alguns meses, as contas do PanAmericano, descobriu indícios de fraude contábil.

O ativo do banco, que inclui bens e créditos que podem ser convertidos em dinheiro, estaria inflado em R$ 2,5 bilhões.

O valor ultrapassa em muito o patrimônio (diferença entre o ativo e dívidas) dos acionistas do PanAmericano, que é de R$ 1,6 bilhão.

A diferença entre os dois valores, de R$ 900 milhões, é o tamanho do rombo gerado.

O BC informou, de forma picada, que os problemas de maquiagem dos balanços ocorreram tanto em operações de empréstimos como de cartão de crédito.

Aparentemente o banco registrava em seus balanços que tinha direito a receber pagamentos de empréstimos que já havia vendido para outras instituições financeiras (entre outras manobras).

A prática -de vender para outro banco o direito de receber as prestações de empréstimos concedidos a clientes- é comum no mercado.

Pontos não esclarecidos: que manobras ocorreram de fato? A maquiagem de R$ 2,5 bilhões feita no balanço do banco teve a intenção de esconder desvio de dinheiro feito por algum funcionário, prejuízo gigante do próprio PanAmericano ou de outra empresa do grupo?

Ou (hipótese que soa menos provável a esta altura) teria sido resultado de erro?

2) Como um rombo tão grande teria passado despercebido pelas inúmeras auditorias às quais o PanAmericano foi submetido nos últimos anos?

Isso inclui o próprio BC. Mas também bancos e empresas de auditoria externas que por motivos variados analisaram a saúde financeira e a solidez contábil do PanAmericano.

3) Silvio Santos poderia, em tese, ter optado por deixar o PanAmericano falir.

O BC começaria um processo de intervenção no banco, que envolveria ir vendendo os ativos e quitando as obrigações do mesmo.

Dificilmente isso afetaria o patrimônio de Silvio Santos (cujas demais empresas poderiam, por exemplo, ser transferidas para outros familiares, entre outras saídas possíveis).

O empresário, no entanto, tomou um empréstimo subsidiado, dando como garantia seu patrimônio, para cobrir o rombo em seu banco.

A solução teria sido imposta pelo governo? Ou o empresário fez isso para resguardar sua honra?



Poucas informações geram especulação e dúvidas - Folha de São Paulo - 13 de nov 2010 - ÉRICA FRAGA

Fantasmas Panamericanos

Ao menos dois ex-diretores do banco PanAmericano recorreram a um esquema que, nos últimos dois anos, criou cerca de 50 empresas fantasmas no Brasil.

Funciona assim: uma empresa é criada somente no papel com capital mínimo de R$ 100. Pouco tempo depois -geralmente, dois meses-, ela é transferida para outras pessoas. Em alguns casos, o nome da empresa também é alterado. Fica mantido apenas o CNPJ.

Dois exemplos desse esquema são: a Razak Empreendimentos (que recentemente mudou de nome para Bob Rik Serviços Administrativos) e a Antillas Empreendimentos e Participações (transformada há cerca de um mês em Lagonegro Empreendimentos).

Ambas as empresas foram criadas por Ivan dos Santos Freire e Valdison Amorim dos Santos.

O primeiro, um ex-estudante de direito, que passou anos trabalhando como estagiário de um escritório de advocacia que defende o diretório estadual do PT em São Paulo e políticos da cúpula do partido em SP.

ENTRA E SAI

Cerca de dois meses depois da constituição das duas companhias, Freire e Santos se retiraram da sociedade.

Em seus lugares, entraram na Razak e na Antillas, respectivamente, Elinton Bobrik (ex-diretor de novos negócios do PanAmericano) e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno (ex-diretor diretor jurídico do banco).

O endereço em que as duas empresas foram registradas na Junta Comercial de São Paulo é o mesmo: uma sala em um prédio precário no bairro da Bela Vista, centro da capital paulista.

Ontem, a sala estava fechada e, de acordo com uma pessoa que estava no local, uma funcionária que recolhia a correspondência não é vista há algum tempo.

EMPRESAS

Desde 2006, quando começaram os problemas contábeis do PanAmericano, os oito diretores afastados do banco abriram ou adquiriram participação em ao menos 11 empresas.

As companhias pertencem a setores variados: de promoção de vendas ao segmento imobiliário, passando pelo processamento de pagamentos on-line feitos com cartão de crédito.

BRASPAG

Luiz Augusto de Carvalho Bruno também se tornou sócio, em 2007, da Braspag, empresa que processa 40% dos pagamentos em cartão de crédito feitos pela internet para as dez maiores varejistas do Brasil.

Dessa sociedade, fazem parte ainda outros dois ex-diretores do PanAmericano: Wilson Roberto de Aro (dos departamentos financeiro e de relações com investidores do banco) e Rafael Palladino (superintendente e de captação de recursos).

Palladino é primo de Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, e participa de 20 companhias ao todo, considerando as fatias adquiridas também antes de 2006.

Um executivo do segmento de e-commerce (comércio online) disse à Folha que, depois do episódio envolvendo o PanAmericano, varejistas estão preocupados com a saúde financeira da Braspag.

Isso porque, se a empresa tiver problemas, a substituição por uma concorrente não será um processo simples, devido ao grande volume de transações que a companhia processa.

OUTROS SEGMENTOS

Palladino, Aro e Bruno também são sócios de uma empresa do setor imobiliário registrada como Galeno de Almeida (aberta em 2007).

A companhia tem ainda participação da Sisan, que construiu o prédio do Pan Americano e o Sofitel Jequitimar (Guarujá), entre outros.

Já Carlos Roberto Vilani, ex-diretor comercial do banco, aparece como sócio de empresas do setor de promoções de vendas, como a VCA (de 2008) e Atitude (de 2009).

(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, ANDREZA MATAIS, CAROLINA MATOS E CLAUDIA ROLLI)


Folha de São Paulo - 13 de novembro de 2010 - Ex-diretores abrem empresas fantasmas


A Folha não localizou ontem os ex-diretores do banco PanAmericano Elinton Bobrik (ex-diretor de novos negócios da instituição financeira) e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno (ex-diretor diretor jurídico do banco) para falar sobre a abertura de empresas.

Ivan dos Santos Freire, ex-estudante de direito envolvido no suposto esquema de abertura de empresas-fantasmas, disse à Folha que trabalha com assessoria empresarial e algumas das firmas são criadas a pedido de clientes.

Em alguns casos, segundo o sócio dele, as empresas continuam no papel em nome dos dois.

TRANSFERÊNCIAS

"Nós constituímos as empresas e elas estão à disposição. Eventualmente, se o cliente tiver alguma operação na qual ele venha a utilizá-las, as sociedades são transferidas. Quando é a pedido de determinado empresa, eles dão as informações necessárias", afirma.

Freire também afirmou que eles vendem "empresas inativas, que não operam" e que "só vai ter alguma coisa mediante o interesse de quem eventualmente for adquiri-las".

(JEC, AM, CM e CR)


Ex-diretores do PanAmericano não são localizados - Folha de São Paulo - 13 Nov 2010

12 novembro 2010

Rir é o melhor remédio


Fonte: aqui

Panamericano: Tentativa de Resumo do caso

As notícias sobre os problemas do banco Panamericano podem ser divididas em três frentes: o Banco Central (e eventualmente outros órgãos de regulação), a entidade Panamericano (e seu principal acionista, Sílvio Santos) e a questão contábil.

Reguladores

Com respeito aos reguladores, existe a suspeita que os problemas do banco começaram há mais de três anos é preocupante. Isto significa que as empresas de auditoria, a bolsa de valores, a CVM e, principalmente, o Banco Central foram convenientes.

Quando do lançamento das ações do banco na bolsa de valores, o Panamericano contratou a Deloitte para fazer sua auditoria. A IPO foi feita pelo UBS Pactual, BBI (Bradesco) e Itaú BBA. O Banco Central pretende repassar a culpa para o auditor.

O Banco Central esclareceu também que parte dos problemas ocorreu na área de cartões de crédito, onde o rombo pode chegar a 400 milhões. O Panamericano foi notificado dia 8 de setembro, antes das eleições. No dia 22 de setembro, o Panamericano admitiu os problemas e o controlador teve um encontro com o presidente da república.

A entidade

Naturalmente que o preço das ações do banco caíram na bolsa de valores. É interessante notar que na terça feira, antes da notícia aparecer no Estado de São Paulo, o volume de negociação era muito superior a média.

Para resolver o problema da entidade, comenta-se diversas soluções para o controlador, inclusive a venda. Isto foi sinalizado pelo presidente do Banco Central.

Questão Contábil

A empresa de auditoria do Panamericano, Deloitte afirmou estar colaborando com as autoridades.

Os problemas podem aumentar as chances de fiscalização das empresas de auditoria. Aqui o nome envolvido é o da Delloite. A nota divulgada pela Delloite é muito abrangente e pouca clara, como seria de esperar. Divulgou-se hoje o valor do pagamento pelo trabalho feito pela Delloitte: 12 milhões de reais (bem acima dos 95 mil reais que a KPMG irá receber do Banco do Brasil)

Durante o processo de aquisição, o Panamericano passou por uma due diligence da KPMG. Mas será difícil provar que esta empresa teve responsabilidade sobre os problemas

Entretanto, o problema do banco deverá afetar todo o setor de auditoria.

A divulgação do balanço trimestral, prevista inicialmente para hoje, foi suspensa. Uma nova data ainda não foi marcada.

Crime

Brasília - O Banco Central (BC) comunicou ontem (10) ao Ministério Público os indícios de crimes no caso na contabilidade do Banco PanAmericano, informou hoje (11) o diretor de Fiscalização da autoridade monetária, Alvir Alberto Hoffmann. Ele acompanhou o presidente do BC, Henrique Meirelles, na audiência pública convocada pela Câmara dos Deputados.

O Banco PanAmericano precisou recorrer ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para receber um empréstimo de R$ 2,5 bilhões e restabelecer o equilíbrio patrimonial. De acordo com Meirelles, do rombo de R$ 2,5 bilhões apurado na contabilidade da instituição financeira, cerca de R$ 2,1 bilhões são referentes a desequilíbrios do próprio banco e R$ 400 milhões relacionados a administração de cartões de crédito. Meirelles não deu detalhes sobre as inconsistências contábeis do PanAmericano e disse que não é competência do BC fiscalizar o setor de cartões de crédito.

Meirelles afirmou ainda que foi feita uma avaliação no sistema bancário como um todo e não foi encontrada nenhuma instituição com problemas semelhantes aos do PanAmericano, mas ressalvou que banco central nenhum no mundo pode garantir que não surjam problemas nas instituições, no futuro. Para ele, se o BC assumisse esse tipo de garantia, haveria um "risco moral". Segundo Meirelles, o BC continua a investigar a situação do PanAmericano.


BC já informou ao Ministério Público indícios de crimes no PanAmericano
Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil