O Banco Central (BC) refutou ontem as críticas de que teria demorado para encontrar o rombo de R$ 2,5 bilhões na contabilidade do Banco Panamericano e jogou a responsabilidade nas empresas de auditoria. O BC argumenta que sua função legal é analisar balanços, não conferir se foram adulterados. A auditoria interna do Panamericano era a Delloite.
Na terça-feira à noite, o Grupo Silvio Santos, controlador do Panamericano, anunciou um aporte de R$ 2,5 bilhões na instituição para cobrir um buraco equivalente. A diferença de valores, conforme antecipou o portal estadão.com.br, foi provocada por fraudes contábeis. O dinheiro para o aporte foi obtido em um empréstimo concedido pelo Fundo Garantidor de Crédito.
Criado em 1995, o FGC é uma entidade privada mantida pelos bancos que funciona como espécie de seguro para os depositantes em caso de quebra de uma instituição. A operação com o Panamericano é a primeira desse gênero feita pelo Fundo.
O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, é um dos especialistas que criticam o BC. “O BC recebe mensalmente balancetes de bancos. Portanto, acompanha mais de perto a situação das instituições do que as auditorias, que acompanham os dados apenas trimestralmente”, disse.
O BC também explicou os problemas que encontrou no banco e representantes do FGC justificaram a operação - também criticada por alguns analistas, que não entenderam por que o BC simplesmente não interveio no Panamericano, como já fez em outros bancos no passado.
Segundo o BC, o Panamericano vendia carteiras de crédito para outros bancos (sobretudo os grandes de varejo, como Itaú, Bradesco, Santander e HSBC), mas não dava baixa no balanço. Com isso, continuava contabilizando como seus os pagamentos feitos pelos devedores, segundo explicou o diretor de Fiscalização do BC, Alvir Hoffmann.
Uma das hipóteses levantadas no BC é que a diretoria do Panamericano fazia a operação irregular para aumentar o lucro do banco, o que elevava os bônus dos executivos. O problema foi detectado há cerca de seis semanas por técnicos do BC.
Perdas. O presidente do Conselho do FGC, Gabriel Jorge Ferreira, explicou as condições do crédito ao Grupo Silvio Santos. Segundo ele, o empresário Silvio Santos deu como garantia do empréstimo as 44 empresas que fazem parte de sua holding, em valor estimado de R$ 2,7 bilhões.
O pagamento será feito em 10 anos, com carência de três (nesse período, o grupo não terá de pagar nem juros nem amortização). O próprio Ferreira, porém, indicou que a ideia é que o grupo venda alguns de seus ativos para honrar o empréstimo.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os investidores reagiram em pânico ao anúncio do Panamericano. As ações preferenciais da instituição caíram quase 30%. O novo diretor-superintendente do Panamericano, Celso Antunes da Costa, procurou demonstrar tranquilidade ao comentar o primeiro dia de trabalho. “Esse banco tem uma força de vendas enorme”, disse.
BC atribui responsabilidade por rombo no Panamericano a falhas de auditorias
Fernando Nakagawa, Leandro Modé - 11 Nov 2010 - O Estado de São Paulo