Translate

10 novembro 2010

Panamericano 6

Em meio a rumores de que estaria prestes a quebrar, o Banco PanAmericano informou ontem à noite que vai receber um socorro de R$2,5 bilhões. O dinheiro sairá de empréstimo que o Grupo Silvio Santos, seu principal acionista controlador, tomou do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), criado para proteger correntistas e poupadores de bancos em dificuldades, reembolsando até R$60 mil por CPF, e formado com contribuições compulsórias dos próprios bancos. Segundo fontes, o Banco Central (BC) teria considerado intervir no banco, o que foi descartado após pedidos do grupo controlador. Sócia do PanAmericano, com 49% do capital votante, a Caixa Econômica Federal começou ontem mesmo uma espécie de intervenção na instituição, ao indicar nova diretoria executiva para o banco. Também foi convocada reunião para decidir os novos integrantes do Conselho de Administração em 26 de novembro, ainda segundo comunicado divulgado pelo PanAmericano.

O banco atua apenas no segmento de financiamentos, sobretudo de automóveis, e não tem contas correntes, o que afasta a possibilidade de risco sistêmico. O PanAmericano é atualmente o 21º do ranking nacional, com ativos de R$12,5 bilhões ao fim de junho. O BC não quis se manifestar oficialmente sobre o assunto. Nos bastidores, acompanhou o processo, avalia que as normas foram todas cumpridas e que o PanAmericano já foi capitalizado e não vai quebrar. O empréstimo do FGC ao grupo prevê o pagamento em dez anos, com carência de três.

No comunicado, o PanAmericano já indica que foi alvo de fraude. Assinada pelo presidente do Conselho de Administração, Luiz Sebastião Sandoval, a nota informa que o aporte ocorre porque foram constatadas “inconsistências contábeis” que não permitiam aos controladores perceber “a real situação patrimonial” do banco.

Os primeiros indícios de fraude teriam sido encontrados há um mês pelo BC, que, depois da crise de 2008, apertou a fiscalização principalmente junto a bancos de pequeno e médio porte — os mais atingidos na época pela falta de crédito. Segundo fontes do BC, o valor do rombo pode ser um pouco menor que o aporte de R$2,5 bilhões. O objetivo da injeção maior é ter uma margem de segurança para eventuais novos problemas. Há suspeitas de participação de executivos. A dúvida dos técnicos é se a fraude aconteceu antes ou depois da compra pela Caixa, em dezembro de 2009, por R$739,2 milhões. Uma parcela foi paga na ocasião e outra em julho último, quando o BC aprovou a operação.

Depois de descoberto o rombo, foi feita ainda uma tentativa junto a outros bancos (inclusive a própria Caixa) para adquirir o controle da instituição, mas não houve interessados. Sem alternativas, o BC cogitou intervir na instituição, mas o grupo conseguiu costurar o empréstimo junto ao FGC. O montante de R$2,5 bilhões corresponde a 10% do atual patrimônio do fundo, de R$25,9 bilhões.

Ação teve 8ª maior queda da Bolsa

Já o tamanho do rombo supera o atual patrimônio líquido do PanAmericano, de R$1,37 bilhão (segundo o balanço de junho, o último disponível). Fontes disseram que o Grupo Silvio Santos teria dado todos os seus bens — incluindo o canal de TV — como garantia para o empréstimo, que recebeu aval do BC.

Conforme a nota divulgada ontem, o PanAmericano informa que a nova diretoria executiva passa a ser comandada por Celso Antunes da Costa, que foi diretor de Gestão da Integração da Nossa Caixa. Ele substitui Rafael Palladino no cargo de diretor-superintendente da instituição financeira.

Os rumores sobre a quebra do PanAmericano derrubaram ontem as ações do setor bancário na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) do banco despencaram 6,74%, oitava maior queda da Bolsa (os papéis não fazem parte do Ibovespa, o principal índice do mercado brasileiro). Desde 1º de outubro, a queda acumulada é de 20,73%. Ontem, os boatos arrastaram as ações dos bancos Santander (6,65%), Itaú Unibanco (2,69%, as preferenciais) e Bradesco (2,96%). Os papéis ordinários (ONs, com voto) do Banco do Brasil recuaram 2,39%.

Segundo Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o aporte foi uma surpresa e afastou a possibilidade de uma falência do banco. Ele afirma que a informação vazou e que por isso o banco antecipou a divulgação do empréstimo, para evitar uma forte queda da Bolsa hoje.

— A notícia caiu como uma bomba no mercado — afirma Velho.

No ano passado, a instituição informou ter registrado um lucro líquido de R$171,5 milhões em 2009, queda de 27,3% em relação ao ano anterior.

O PanAmericano adotou recentemente uma estratégia agressiva para atrair clientes. Aposentados e pensionistas do INSS que fechassem um contrato de empréstimo de qualquer valor ganhavam um vale-compras de R$50. O banco do Grupo Silvio Santos comercializa ainda os títulos da Tele Sena. Foram 54 milhões deles vendidos apenas no ano passado, quando desativou as vendas do Carnê do Baú e expandiu sua presença em redes de varejo.

Ontem, o Ibovespa encerrou em queda de 1,35%, aos 71.679 pontos, puxado pelo recuo das ações da Petrobras. Os papéis preferenciais da estatal caíram 1,48%, e os ordinários, 1,28%. Para o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, o recuo pode ser explicado por um movimento de venda de ações para embolsar lucros, aproveitando a alta recente. Já o dólar fechou estável, a R$1,699, após dois leilões do BC.


Fraude no PanAmericano - 10 Nov 2010 - O Globo
Bruno Villas Bôas, Aguinaldo Novoe Patrícia Duarte

Panamericano 5

O Grupo Silvio Santos foi obrigado a fazer uma injeção de capital para cobrir um rombo de R$ 2,5 bilhões no banco PanAmericano, instituição que enfrentou problemas de caixa em 2008 e que teve 35,54% de seu capital vendido para a Caixa Econômica Federal por R$ 739,2 milhões no final de 2009.

O aporte será feito com dinheiro emprestado do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), um colchão de recursos administrados pelo conjunto de bancos para cobrir perdas dos correntistas em caso de quebra de instituições. Para obter o dinheiro, o grupo deu bens seus como garantia.

Sem essa capitalização, o PanAmericano ficaria com patrimônio líquido negativo e teria de ser liquidado pelo Banco Central. Para evitar esse desfecho, a solução encontrada foi um duplo socorro: do governo e dos bancos.

Toda a diretoria antiga caiu. Na prática, o banco sofreu uma "intervenção branca" e será agora administrado por executivos indicados pela Caixa e pelo BC.

O grupo Silvio Santos admitiu "inconsistência contábil" nas contas do banco, mas informou que a instituição não terá perda patrimonial. E informou que o dinheiro servirá para restabelecer o "pleno equilíbrio", ampliar a liquidez e preservar o atual nível de capitalização.

Desde meados de outubro, as ações caíram 25% na Bolsa -só ontem, recuaram 6,75%.

SUSPEITA DE FRAUDE

A intervenção deve-se a uma reavaliação de risco da carteira de crédito do banco, que tem forte exposição no financiamento de carro usado.

O PanAmericano teria classificado seu crédito de maior risco de forma otimista, reduzindo a necessidade de fazer provisionamento alto para cobrir eventual calote. No segundo trimestre, o Banco Central havia pedido provisões adicionais de R$ 120 milhões.

Se esse otimismo for considerado intencional, pode configurar fraude contábil.

A fraude teria passado pelo crivo de auditores internos e externos e do próprio BC -que aprovou em julho o negócio com a Caixa.

Segundo a Folha apurou, Silvio Santos tratou das dificuldades enfrentadas pelo PanAmericano durante encontro com Lula em Brasília em setembro. Na ocasião, Lula não mostrou simpatia pela ideia de oferecer ajuda oficial. Em ao menos mais uma oportunidade, Silvio voltou a procurar Lula para abordar o tema, mas não foi atendido.

Procurados Caixa, BC e PanAmericano preferiram não comentar o caso.


Caixa intervém em banco de Silvio Santos - 10 Nov 2010 - Folha de São Paulo
LEONARDO SOUZA - FERNANDO RODRIGUES - EDUARDO CUCOLO - TONI SCIARRETTA

Panamericano 4

Dúvida pelo mercado financeiro depois que o Grupo Silvio Santos anunciou hoje o aporte de R$ 2,5 bilhões no seu Banco Panamericano.

O que aconteceu na due dillegence feita pela Caixa Econômica Federal antes de comprar parte minoritária do banco em 2009?

O exame das contas realizado pela CEF não detectou o buraco gigante?

Com a a palavra, a Caixa.


Estranha, a vida - 9 de novembro de 2010 | 22h05 - Direto da fonte

E a auditoria?

Panamericano 3

SÃO PAULO - O megadepósito de R$ 2,5 bilhões e a troca de toda a diretoria do Banco Panamericano anunciados na noite desta terça-feira, 9, foram a solução encontrada pelo Grupo Silvio Santos, Caixa Econômica Federal e Banco Central para que fossem resolvidos os problemas da financeira sem que o novo sócio, a estatal Caixa, tivesse de fazer aportes.

"O principal acionista resolveu todo o problema que apareceu", diz fonte ligada à instituição. Há pouco mais de um mês, houve um encontro surpresa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário Silvio Santos no Palácio do Planalto e nesta terça circularam especulações de que o assunto poderia ter sido tratado entre eles.

Quando as inconsistências foram encontradas no balanço do Panamericano, foi decidido que o novo acionista, a Caixa, não teria responsabilidade inicial de realizar novos aportes porque os problemas foram criados em um período anterior à compra de 49% do capital da financeira pelo banco estatal. Dessa forma, o acionista majoritário teve de assumir toda a responsabilidade para cobrir o rombo aberto nos números.

Diante da responsabilidade integral do controlador, foi costurada uma solução ao longo das últimas semanas para que houvesse o megaempréstimo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), sem que o Grupo Silvio Santos tivesse de tomar recursos no mercado, o que poderia chamar a atenção para o problema.

O FGC é uma entidade privada constituída por todos os bancos que operam no Brasil que garante depósitos de clientes nas instituições financeiras em caso de problema nos bancos. Por ter essa característica de "condomínio de depósitos", os principais cotistas do FGC tiveram de aprovar o empréstimo anunciado nesta terça à noite. Para os principais cotistas do Fundo, é melhor emprestar o grande volume de dinheiro agora a ver o problema se espalhar, o que poderia colocar todo o setor em risco.

Sem estatal. A hipótese de a Caixa aumentar a participação no Panamericano foi rapidamente descartada, já que o banco federal já tem 49% das ações do banco. Sendo assim, a maior fatia da Caixa poderia transformar a financeira do Grupo Silvio Santos em uma entidade estatal.

Agora, feito o mega-aporte, há expectativa de que não seja alterada a composição acionária da instituição - sendo mantida, portanto, a fatia de 51% do capital de posse do Grupo Silvio Santos e 49% da Caixa Econômica Federal.

Doação ao Teleton. O problema constatado no Panamericano teria sido anunciado diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo empresário Silvio Santos. Em 22 de setembro, o apresentador de TV teve reunião surpresa com Lula em um encontro não previsto na agenda do Palácio do Planalto.

Oficialmente, o objetivo da reunião foi pedir uma doação de Lula ao Teleton, programa de televisão que arrecada dinheiro de empresas e pessoas físicas para a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).

Ao deixar o encontro, Silvio Santos disse que pedira doação de R$ 12 mil e que o presidente da República gravasse vídeo para ser exibido no programa. A edição de 2010 do Teleton foi realizada no último fim de semana.

Vale lembrar que a CaixaPar, braço de investimentos do banco estatal, fez uma longa e detalhada avaliação dos números do Panamericano antes de bater o martelo para a compra de 49% do capital do banco em dezembro de 2009. Na época, não havia sido encontrada nenhuma inconsistência nos balanços e relatórios.


Solução foi negociada com Caixa e BC- Estado de S Paulo

Panamericano 2

SÃO PAULO - O banco Panamericano faz parte de um grupo que faturou R$ 4,7 bilhões no ano passado e que projetava para este ano um crescimento de 26%, que levaria essa receita para R$ 5,8 bilhões. Além do banco, o Grupo Silvio Santos também é dono de empresas como a rede de lojas Baú da Felicidade Crediário, a fabricante de cosméticos Jequiti, a Liderança Capitalização e, a mais visível de todas, a rede de televisão SBT, entre várias outras - no total, são 30 empresas.

Em entrevista recente ao Estado, Luiz Sandoval, presidente do grupo há 26 anos, disse que, para atingir esse crescimento, as apostas seriam nas áreas cosmética e imobiliária, mas que o foco seria mesmo o setor financeiro, com o Panamericano, que responde pela metade das receitas do grupo.

Sandoval mostrava-se entusiasmado com o setor financeiro depois do acordo fechado com a Caixa Econômica Federal, que comprou 35% do Panamericano por R$ 740 milhões no final do ano passado. Para o executivo, esse acordo representava um passo estratégico para o banco, pois permitiu equacionar uma dívida de cerca de R$ 450 milhões.

Além disso, segundo o executivo, o acordo permitiu à instituição acesso a linhas de crédito mais baratas e a entrada em novas modalidades de financiamento, como o crédito a automóveis novos. Antes, o banco financiava apenas carros usados.

O Grupo Silvio Santos fechou o ano passado com um prejuízo líquido de R$ 7,9 milhões, depois de um lucro de R$ 73,6 milhões em 2008. Para este ano, o grupo projetava um lucro de R$ 100 milhões. A perda do ano passado foi atribuída, em grande parte, ao processo de maturação de unidades como a Sisan, de investimento imobiliário, e na própria Jequiti, empresas consideradas, no início do ano, ainda grandes demandadoras de investimentos.

O grupo também fez investimentos no ano passado na expansão da rede de lojas Baú da Felicidade Crediário. Comprou a endividada rede Dudony, do Paraná, com 110 lojas - sendo 99 no Paraná e 11 em São Paulo -, por R$ 33 milhões. Com a aquisição, a rede saltou, de uma só vez, para 130 lojas. Os planos do grupo eram de chegar a 150 lojas até dezembro e a 250 até o final do ano que vem. No ano passado, o grupo havia desativado as operações do Carnê do Baú, um sucesso de vendas criado há 50 anos, mas que vinha perdendo espaço.

No caso da Jequiti, criada em 2006, a aposta do grupo era de quase dobrar as vendas este anos, chegando a R$ 380 milhões, e com um exército de 160 mil vendedoras. Os planos para essa área incluem o investimento em duas fábricas próprias, uma em Osasco (SP) e outra em lugar ainda a ser definido - até agora, a produção é terceirizada - e em dois novos centros de distribuição, um em Porto Alegre e outro no Nordeste.


Setor financeiro era maior aposta do Grupo Silvio Santos

Panamericano

SÃO PAULO - A descoberta de uma fraude contábil bilionária levou o Grupo Silvio Santos a fazer um aporte de R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano, que tem como sócia minoritária a Caixa Econômica Federal. O dinheiro foi obtido por meio de um empréstimo ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), criado em 1995 com objetivo de proteger os depósitos dos clientes do sistema financeiro no País.

Segundo o Estado apurou, o rombo é resultado de ativos e créditos fictícios registrados por diretores do Panamericano supostamente para inflar os resultados da instituição e, suspeita-se, melhorar os bônus dos executivos. Até agora, não foram encontrados indícios de desvio, mas o Banco Central (BC) vai encaminhar representações à Polícia Federal e ao Ministério Público para investigar as suspeitas.

Segundo apurou a reportagem, o rombo foi descoberto há cerca de um mês pelo Banco Central. Tinha passado despercebido pelos controles internos do Panamericano, seus auditores independentes e pelo pente-fino feito pela Caixa quando comprou uma participação de 49% do capital votante do banco, no fim de 2009. O patrimônio do empresário Silvio Santos foi colocado como garantia para o empréstimo concedido pelo FGC.

O Panamericano abre as portas nesta quarta-feira com nova diretoria, nomeada em conjunto pelo Grupo Silvio Santos e pela Caixa. Os antigos executivos foram demitidos ontem. O diretor superintendente passa a ser Celso Antunes da Costa, ex-diretor de Integração do Banco Nossa Caixa.

O Conselho de Administração será escolhido na próxima semana, também por meio de acordo entre os acionistas.

Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o próprio Panamericano afirma que "inconsistências contábeis não permitem que as demonstrações financeiras reflitam a real situação patrimonial da entidade".

Durante esta terça-feira, circularam rumores no mercado, dando conta de que o Banco Central interviria em alguma instituição financeira após o encerramento dos negócios, como antecipou a colunista do Estado Sonia Racy.

Nas mesas de operação, o principal "candidato" era o Panamericano. Por isso, os papéis preferenciais (PN) do banco desabaram. Caíram 6,75% e, no ano, já acumulam perdas de 35%. No chamado pós-mercado, as ações recuaram ainda mais: 8,54%.

Segundo o fato relevante, o dinheiro "destina-se a restabelecer o pleno equilíbrio patrimonial e ampliar a liquidez operacional da instituição, de modo a preservar o atual nível de capitalização".

Inédito. O crédito para o Panamericano equivale a cerca de 10% do patrimônio do FGC, que somava R$ 25,8 bilhões no fim de setembro. É uma saída inédita no País. Um especialista explicou que o banco provavelmente não encontrou no mercado um interessado (nem mesmo a Caixa) justamente por causa do rombo recém-descoberto.

Os R$ 2,5 bilhões que estão sendo aportados superam o atual patrimônio líquido da instituição, de R$ 1,6 bilhão. O Panamericano é o 21.º do ranking nacional, com ativos de R$ 11,9 bilhões ao fim de junho. Em dezembro de 2009, a Caixa comprou 35% do capital total do banco. Pagou R$ 740 milhões.

Um analista explicou que, caso o aporte não fosse feito, o Panamericano ficaria fora das regras do BC e teria de sofrer uma intervenção. Apesar do aporte, o BC, segundo apurou o jornal, não descarta intervir no banco.


Banco Panamericano, do Grupo Silvio Santos, recebe R$ 2,5 bi para cobrir fraude - David Friedlander e Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo

Crédito de carbono

Os negócios de compra e venda de créditos do mercado de carbono estão em compasso de espera no País, e só vão decolar a partir da instauração de regras, nos âmbitos federal e estadual, sobre o funcionamento das transações neste mercado, principalmente nos aspectos jurídico, fiscal e contábil. A análise partiu do advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, da Pinheiro Pedro Advogados, um dos consultores responsáveis pelo estudo "Organização do Mercado de Créditos de Carbono no Brasil", que faz parte do conjunto de cinco estudos sobre o tema feito pela BM&FBovespa, Banco Mundial e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

"Em nosso levantamento, a preocupação com a ausência do marco regulatório é unânime", afirmou Pinheiro Pedro. Hoje, as três organizações responsáveis pelos estudos realizaram seminário para apresentar propostas que possam desenvolver mais este mercado no País. Entre os destaques está a necessidade de uma regulamentação maior dos ativos ambientais no Brasil. "A demanda (por créditos de carbono) já existe. Mas há um desejo, entre os interessados, de uma maior segurança jurídica e regulatória para o mercado", afirmou Pinheiro Pedro.

No mesmo evento, o gerente de produtos ambientais da BM&FBovespa, Guilherme Fagundes, comentou que já foram realizados três leilões de crédito no mercado de carbono no País, mas o desempenho ainda não reflete um mercado maduro. "O mercado está se desenvolvendo. Precisamos trabalhar para desenvolver o mercado local, e os estudos são propostas para que trabalhemos neste sentido", afirmou Fagundes.

Os consultores contratados pelas instituições para a elaboração dos estudos fizeram uma análise do funcionamento dos mercados de carbono em outros países, e chegaram a conclusão que, no Brasil, é preciso regras próprias para as transações, além de desenvolvimento de instrumentos de negociação para os mercados à vista e derivativos. Um dos obstáculos para o pleno desenvolvimento do mercado no País também seria a ausência de um tratamento tributário e contábil voltado especificamente para as negociações de crédito de carbono.

Para o especialista em energia do Departamento de Desenvolvimento Sustentável para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial, Christophe de Gouvello, ainda é muito cedo para estimar, em números, o potencial do mercado de carbono no Brasil. Mas ele ressaltou que o mercado de carbono é apenas um instrumento para se alcançar um objetivo maior, que seria a redução de emissões de gases poluentes na atmosfera. E fez uma ressalva: é preciso destacar as metas deste mercado, que foi criado como uma alternativa aos países com dificuldades na redução de emissão de gás carbônico. "Não é possível existir um mercado de carbono sem um objetivo quantitativo obrigatório", resumiu.

Mercado de crédito de carbono ainda depende de regulação - Ter, 09 Nov 2010, Yahoo