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30 setembro 2010

Agrenco II

Eram 6h do dia 20 de junho de 2008, quando Antonio Iafelice, dono da Agrenco, uma das principais empresas do agronegócio no Brasil, desceu da classe executiva do voo AF 454, da Air France, proveniente de Paris, com destino a São Paulo. Acompanhado da esposa e da filha, o empresário, que residia na França desde 1992, chegava para o casamento de um sobrinho.

No controle de passaportes do Aeroporto Internacional de Guarulhos, veio o susto. Ele era aguardado por três policiais armados com metralhadoras. Ali, foi dada a voz de prisão. Segundos depois, dezenas de policiais receberam a ordem para dar continuidade à Operação Influenza, que prendeu outros 30 executivos da Agrenco em São Paulo e em Santa Catarina. Iafelice passou um dia em Guarulhos prestando depoimento.

Em seguida, foi transferido para o Aeroporto de Congonhas, de onde foi embarcado – já algemado – para Florianópolis. Na capital catarinense, ele se juntou a outros executivos da Agrenco na superintendência da Polícia Federal. Ficou numa cela de dez metros quadrados, com outras três pessoas. “Ali, eu tentava entender o que estava acontecendo”, disse ele à DINHEIRO.

“Ninguém sabia de nada e nunca suspeitamos que pudéssemos estar sendo investigados.” Iafelice conta que jamais tinha mantido contato com qualquer advogado da área criminal. “Tentei apenas tranquilizar meus funcionários”, diz ele. “Levaram até uma secretária da Agrenco, que estava grávida e ficou desesperada.”

Antonio Iafelice passou 15 dias no cárcere, em regime de prisão temporária. Como tinha implantado um stent no coração e tomava medicações pesadas contra outras doenças, ele obteve autorização da Justiça para cumprir mais duas semanas em prisão domiciliar, no seu apartamento em São Paulo. “Meu fígado foi para o espaço”, afirma.

“Depois disso, fiquei traumatizado, com medo da própria sombra, sem sair de casa”, diz ele. O empresário José Monforte, ex-diretor do Citibank e sócio de Iafelice na Agrenco, chegou a adiar a volta de uma viagem internacional à Ásia, também com receio de ser preso. De lá para cá, Iafelice viveu 27 meses praticamente na clandestinidade.

Ele obteve um salvo-conduto da Justiça para deixar o País e voltou a morar na França, tendo pouquíssimos contatos com o Brasil. E foi nas proximidades de Annecy, onde ele reside atualmente, que recebeu a melhor notícia dos últimos três anos: em decisão unânime, a 7a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região trancou a ação penal contra ele e os outros 30 executivos da Agrenco, alegando a nulidade dos grampos telefônicos que foram usados como prova pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

A operação policial, deflagrada com estardalhaço e encerrada melancolicamente como muitas outras que ocorreram recentemente no Brasil, não teve repercussão apenas na vida privada do empresário. A companhia criada por Iafelice, executivo que começou como office-boy e chegou ao comando de empresas como Dreyfus, Continental Grain e Ceval (hoje da Bunge), foi duramente afetada.

Em outubro de 2007, ela teve ações lançadas na bolsa, com sucesso, numa operação coordenada pelo Credit Suisse. Captou mais de R$ 550 milhões para investir em três fábricas de proteína vegetal: uma no Paraná, uma em Mato Grosso e outra em Mato Grosso do Sul. Em junho de 2008, a ação da companhia estava cotada a cerca de R$ 4.

Depois que a Operação Influenza foi deflagrada, o papel virou pó e chegou a ser negociado por mísero R$ 0,11. Depois, só subiu em função de um plano de recuperação judicial e da ação de especuladores. Além disso, os quase três mil empregos da companhia também foram perdidos.

Procurada pela DINHEIRO, a assessoria da Polícia Federal informa apenas que não tem mais responsabilidade sobre operações encerradas e já enviadas à Justiça. O fim da ação penal não serviu apenas para tirar um peso das costas de Iafelice. Deu a ele também ânimo para tentar retomar as rédeas da companhia.

Em 2008, a gestão da Agrenco foi assumida pela consultoria Íntegra, do empresário Nelson Bastos, especializado em recuperação de empresas em dificuldades – foi ele, por exemplo, quem tocou a Parmalat no Brasil depois do estouro de um dos maiores escândalos contábeis de todos os tempos.

Na Agrenco, Bastos chegou a um acordo para reestruturar uma dívida de R$ 1,2 bilhão, que tem como principais credores o Credit Suisse, o Deutsche Bank, o Bank of New York e o Bradesco – o CS é o maior deles, com um crédito de cerca de R$ 80 milhões, decorrente de empréstimos para financiar o próprio IPO da companhia.

De acordo com pessoas próximas a Bastos, a Íntegra teria encontrado a companhia numa situação pré-falimentar. Na semana passada, no entanto, Bastos e outros três conselheiros renunciaram a seus mandatos no conselho de administração da Agrenco. Isso porque Iafelice utilizou uma brecha do estatuto da companhia para nomear novos conselheiros e reassumir o comando da empresa.

“Havia um claro conflito de interesses”, diz a advogada Lúcia Figueiredo, que atua em favor de Iafelice. Segundo ela, a Íntegra tinha uma remuneração mensal de R$ 120 mil e uma comissão variável, entre 1,5% e 2,5%, que seria obtida com a venda de ativos. “Em vez de recuperar a empresa, o interesse passou a ser o de vender os ativos o mais rápido possível”, afirma. Ela cita como exemplo a venda da fábrica de biodiesel da cidade de Marialva, no Paraná, que foi alienada por R$ 35 milhões para a empresa gaúcha BS Bios.

“Dois meses depois, a Petrobras comprou metade da mesma fábrica por R$ 55 milhões”, diz ela. “Ou seja: valia, no mínimo, R$ 110 milhões.” Essa venda, no entanto, foi acompanhada e aprovada pelos credores. Cerca de 50 empresas foram consultadas e apenas a BS Bios apresentou proposta de pagamento à vista.

Antonio Iafelice, que tem 17% das ações da Agrenco, argumenta que o mais importante é fazer com que a companhia volte a operar, com a sua fábrica em Alto Araguaia, em Mato Grosso, e com a unidade de Caarapó, em Mato Grosso do Sul. “Isso atende aos interesses dos credores e de todas as partes interessadas, incluindo os funcionários, acionistas e o próprio governo, que arrecadaria mais impostos”, diz ele.

Ele acredita que, em 2011, a Agrenco poderá faturar cerca de US$ 800 milhões. “Mas se não tivesse acontecido a operação policial, estaríamos vendendo US$ 6 bilhões e lucrando US$ 350 milhões por ano.” Iafelice não sabe dizer quais teriam sido as motivações da Polícia Federal.

Ele desconfia da mão invisível de concorrentes e também de eventuais interesses políticos – num dos grampos, Marcelo Sato, marido de Lurian e genro do presidente Lula, foi citado como uma pessoa que atuaria em favor da Agrenco. Com o novo conselho de administração, pela primeira vez no mercado de capitais brasileiro o presidente será um representante dos acionistas minoritários. Trata-se de Edgard Salomão, que conseguiu reunir um grupo que representa 12% do capital da companhia.

Ao todo, a Agrenco tem cerca de seis mil acionistas minoritários, que vivem uma situação comparável à do Plano Collor. Desde fevereiro deste ano, a negociação das ações está suspensa por determinação da Comissão de Valores Mobiliários porque a empresa deixou de apresentar seus balanços.

Com o dinheiro bloqueado, existem investidores de vários perfis – desde um garoto de 15 anos de Palmas, no Tocantins, que aplicou R$ 750, até um empresário de São Paulo, que investiu R$ 6 milhões. Salomão tem pendurados cerca de R$ 200 mil. “O que importa é botar as fábricas em funcionamento, gerar caixa, pagar os credores, voltar a publicar balanços e criar valor para os acionistas”, diz ele.

Um passo seguinte, estudado pelos acionistas, seria propor ações indenizatórias contra a União, em função dos reflexos da Operação Influenza numa empresa com ações em bolsa. “Muita gente foi lesada”, diz o presidente do conselho. Iafelice pensa da mesma maneira. Se a ação policial não tivesse ocorrido, ele diz que a Agrenco hoje valeria cerca de US$ 2 bilhões em bolsa.

Quanto a suas ações, valeriam no mínimo US$ 300 milhões. “Em vez de US$ 300 milhões, tenho só US$ 300”, diz ele. “Nem isso”, grita sua esposa. Iafelice, então, se corrige e diz que vive de empréstimos de amigos e de algumas consultorias que faz, ligadas ao agronegócio – ele estuda projetos em países como Rússia e Gana. Quando liga da França para o Brasil, utiliza o serviço gratuito Skype.

“Se não fizer isso, e tiver que pagar conta telefônia, perco meu último dedo do pé”, diz ele. De todo modo, Iafelice vive perto de Annecy, uma das cidades mais badaladas da França e muito próxima a Genebra, na Suíça. Para voltar a reinar no agronegócio, ele terá antes de convencer os credores, que podem, a qualquer momento, pedir a falência da companhia. “Ele tem que tomar cuidato para não dar um tiro no próprio pé”, disse à DINHEIRO um grande banqueiro.


A vida depois da prisão - Por Leonardo Attuch - Isto é Dinheiro - 24 set 2010

Agrenco

A Agrenco Limited nomeou hoje Mehraz Rafat para ocupar o cargo de presidente da companhia. A empresa também escolheu Edgard Mansur Salomão, atual presidente do Conselho de Administração, para acumular a função de diretor de relações com investidores.

Além disso, a companhia publicou seu balanço relativo ao primeiro trimestre de 2009. A trading agrícola apresentou prejuízo líquido de R$ 639,373 milhões no período, contra um lucro de R$ 26,426 milhões apurado no mesmo trimestre de 2008. A Agrenco não gerou receitas no período. Com isso, encerrou com um passivo a descoberto de R$ 587,720 milhões em 31 de março de 2009.

Os números mostram o impacto financeiro da "Operação Influenza" sobre as operações da Agrenco. Realizada pela Polícia Federal em junho de 2008, a operação culminou na prisão dos principais executivos - entre eles, o fundador da empresa, Antônio Iafelice, acusado de crimes como sonegação fiscal e fraude de balanço - e na paralisação das atividades da trading.

Na semana passada, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmou uma decisão de junho de 2009 da Justiça Federal em Florianópolis que rejeitou a denúncia contra todos os 31 acusados, sob a alegação de que as provas obtidas por interceptação telefônica eram nulas.

No final de agosto, a Agrenco NV - empresa que controla indiretamente as operações da Agrenco no Brasil - entrou com um pedido na Justiça da Holanda para suspender as ações de cobrança de dívidas contra a companhia. O pedido foi aceito pela Justiça, permitindo a reabertura das negociações com credores.

A suspensão de pagamentos não afeta o plano de recuperação das empresas brasileiras do grupo. A Agrenco NV tem dívidas vencidas e não renegociadas com onze bancos internacionais, no valor original de US$ 268 milhões. Destes, sete bancos, que representam 93% da dívida, estão incluídos no plano de recuperação judicial no Brasil.

A expectativa do mercado agora gira em torno da reabertura das transações com os BDRs da Agrenco, listados na Bovespa, que estão com negociação suspensa desde fevereiro.

A suspensão ocorreu por causa do atraso na divulgação das demonstrações financeiras da companhia. Ainda resta publicar os números dos demais trimestres de 2009. Somente depois disso, a Comissão de Valores Mobiliários e a Bovespa deverão analisar o caso e avaliar se liberam ou não a negociação dos papéis.


(Téo Takar | Valor)Agrenco escolhe presidente e publica balanço do 1º trimestre de 2009 - Valor Econômico - 29/9/2010

29 setembro 2010

Rir é o melhor remédio



Fonte: New Yorker

Teste #357


"Mr. Bean declara que a recessão na Europa acabou". Com esta manchete, um blog usou a grande semelhança entre Mr. Bean e um político europeu (foto). Este político é:

o presidente Cavaco Silva, de Portugal
o primeiro-ministro da Espanha, Zapatero
o primeiro-ministro da Inglaterra, Cameron

Resposta do Anterior: 1 = d; 2 = c; 3 = b; 4 = a; 5 = e

Mágica

O governo recorreu a uma engenharia financeira para transformar sua participação na capitalização da Petrobras em melhora para as contas públicas. Os quase R$75 bilhões do aporte do setor público na estatal — considerando União, BNDESPar e Fundo Soberano do Brasil — vão, na prática, “desaparecer” da contabilidade. E, ao contrário do que estimavam especialistas, a emissão deste valor em títulos públicos sequer terá impacto na dívida bruta, a mais completa radiografia fiscal do país.

Com base nesses artifícios, ao fim da maior operação de aumento de capital do mundo — na qual o governo elevou sua fatia na estatal — o Tesouro Nacional acabou recebendo “um troco” de R$30 bilhões. Esta receita ajudará no cumprimento da meta de superávit primário (economia para pagamento de juros) e levará a uma redução da dívida líquida como proporção do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).

— O nome disso é mágica — resumiu ao GLOBO um técnico da equipe econômica.

Com a contribuição dos R$30 bilhões ao superávit primário, a projeção é que a relação entre dívida e PIB — principal indicador de solvência do país — apresente uma redução de 0,95 ponto percentual. Em julho, último dado do Banco Central (BC), estava em 41,70% (R$1,407 trilhão). Passaria, portanto, a 40,75%, aproximando-se dos patamares pré-crise.

Emissão de títulos do Tesouro será anulada

Não haverá também peso na dívida bruta, que em julho representava 60,1% do PIB. As emissões de títulos feitas pelo Tesouro serão literalmente anuladas pela triangulação que a União fez com os demais agentes oficiais que participaram da capitalização da Petrobras.

A engenharia contábil começa com a colocação feita ontem pelo Tesouro de R$24,7 bilhões em títulos e que serão entregues ao BNDES, para que o seu braço de participações (BNDESPar) banque sua parte no aumento de capital da Petrobras. O banco de fomento, por sua vez, assume como um empréstimo concedido pelo Tesouro o recebimento desses papéis.

Numa segunda etapa, o BNDES entrega esses títulos à Petrobras para pagar as novas ações que comprou na capitalização. Já a União vai entrar no aumento de capital da Petrobras com R$42,7 bilhões. Emitirá títulos para honrar o aporte e os entregará à estatal.

Operação garantirá R$25 bi ao superávit primário

A Petrobras, por sua vez, tem que pagar os cinco bilhões de barris de petróleo que lhes foram cedidos pela União. Usará, para quitar a fatura de R$74,8 bilhões, os mesmos papéis recebidos de BNDES e União na liquidação da capitalização. Assim, os títulos emitidos acabam desaparecendo, porque cada etapa anulou a outra, restando para o Tesouro, na contabilidade, apenas receber o empréstimo feito ao BNDES. Ou seja, uma receita primária de quase R$25 bilhões.

Esse volume engordará o superávit primário. No fim, deve chegar a cerca de R$32 bilhões. O restante virá da operação do Fundo Soberano na capitalização da Petrobras. Ontem, o Fundo revendeu ao Tesouro R$4,8 bilhões de títulos públicos que tinha em sua carteira para liquidar sua participação no aumento de capital da estatal.

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, defendeu ontem o novo repasse de recursos ao BNDES, lembrando que é diferente dos R$180 bilhões anteriores:

— É diferente o impacto do ponto de vista econômico. Uma coisa são os recursos injetados na economia e outra os recursos que são imediatamente usados para investir. Nessa (nova) operação, os títulos serão esterilizados imediatamente.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, diz que a manobra deve fazer as avaliações se voltarem para os resultados nominais (que consideram o pagamento de juros como despesa):

— São os (números) que de fato indicam como andam as contas públicas da nação.

Em julho, o país tinha déficit nominal de R$113,490 bilhões num fluxo de 12 meses, ou 3,36% do PIB.


Aporte na Petrobras não aparecerá na dívida - 29 Set 2010 - O Globo - Patrícia Duarte e Martha Beck

Fraude no Mundo Digital

Comerciantes que vendem produtos digitais perderam 1,9% de toda a receita para fraudes em 2009, em comparação com uma taxa de fraudes de 1,1% para empresas que vendem produtos físicos on-line, de acordo com a CyberSource Corp., que processa cartões de crédito para comerciantes da internet.

Tais percentuais parecem pequenos, mas podem se traduzir em somas significativas de dinheiro, à medida que redes de relacionamento social, como o Facebook Inc., ampliem o mercado para produtos virtuais, que há tempos estão associados a jogos como Second Life e World of Warcraft, onde os jogadores compram itens como roupas e ouro virtuais para seus avatares.

As vendas mundiais de itens digitais em jogos e redes sociais atingiu US$ 2,2 bilhões em 2009 e devem alcançar US$ 6 bilhões em 2013, de acordo com a corretora Piper Jaffray & Co. Os dados da CyberSource também refletem baixa de outros arquivos digitais — como música e filmes da loja iTunes, da Apple Inc. — que adicionam bilhões de dólares à categoria.

O PayPal, o sistema de pagamento on-line que pertece à eBay Inc., processou negócios de mais de US$ 2 bilhões em 2009 referentes a uma variedade de produtos digitais, e a categoria está “crescendo muito rapidamente”, diz o porta-voz Anuj Nayar. “Existe um alto nível de atividade criminosa” nessa categoria, diz ele, acrescentando que o PayPal está trabalhando em medidas para prevenir fraudes e planeja anunciá-las ainda este ano.

À primeira vista, é difícil imaginar o interesse de fraudadores em itens como espadas computadorizadas para um jogo de fantasia. Mas esses produtos podem ser obtidos mais facilmente que itens físicos, e os criminosos aprenderam que existem maneiras de convertê-los em dinheiro.

“A tentativa de fraude é inevitável quando você aceita pagamentos on-line”, diz Joe Sullivan, diretor de segurança do Facebook. Ele fala que proteger um site de fraude é como jogar “um jogo de xadrex” com criminosos que estão constantemente mudando suas táticas.

O Facebook, por exemplo, lançou em 2009 uma moeda virtual, que os usuários compram do site e gastam em jogos e outros serviços. Para garantir que a moeda, que hoje está sendo testada por um número crescente de comerciantes, não atraia criminosos, a empresa contratou vários investigadores de fraudes nos últimos meses.

Uma maneira comum de os criminosos ganharem dinheiro com fraude de bens digitais é comprar o artigo com um cartão de crédito roubado e depois vendê-lo em um outro site, normalmente com desconto. É o equivalente a vender Rolex roubado na esquina.

Sullivan diz que monitora a internet para garantir que um segundo mercado para os créditos do Facebook não se materialize. O Facebook também checa para ter certeza de que o endereço de internet que a pessoa está usando para fazer a compra está na região em que o dono da conta mora. Se o dado submetido parecer suspeito, o Facebook usa uma técnica nova de identificação: apresenta fotos dos amigos do usuário e pede para que ele identifique quem está na foto.

As compras on-line de produtos físicos e digitais estão cobertas pelas mesmas regras impostas pelas empresas de cartões de crédito, que determinam que o comerciante que aceita o cartão — e não o dono do cartão — seja responsável pela cobrança fraudulenta, mesmo que a compra tenha sido aprovada pelo emissor do cartão de crédito.

Mas os produtos digitais impõem desafios únicos. Um comerciante on-line que venda um livro, digamos, ou um computador, tem o endereço de entrega para comparar com o endereço da cobrança. Ele também tem horas ou dias, em alguns casos, para rever o pedido manualmente, caso suspeite de fraude — em torno de 25% das encomendas on-line são submetidas a tais revisões, de acordo com a CyberSource.

Os vendedores de produtos digitais geralmente não têm tanta informação ou tempo para tomar decisões. Os clientes esperam que o download comece imediatamente e as taxas de abandono da compra pelo cliente são mais altas quando isso não acontece. Além disso, com o produto digital não existe um endereço de entrega.

Outra complicação: as vendas de bens digitais envolvem normalmente pequenos valores, geralmente só um ou dois dólares, diz Justin Smith, fundador da empresa de pesquisa de mercado Inside Network Inc. Embora várias empresas vendam serviços de detecção de fraude, elas normalmente cobram por transação. Os comerciantes muitas vezes deixam de fazer o exame em compras de baixo valor. Outros esperam 24 a 48 horas, para conseguir processar várias transações de uma só vez.

No caso do Facebook, a moeda virtual não tem nenhum valor no mundo real, então a empresa não será golpeada por grandes cobranças caso deixe passar uma compra fraudulenta. Mas o site não quer que seus usuários o associem com fraude de nenhuma forma. “Uma má experiência não vai apenas fazer com que os usuários percam interesse pelos créditos, vai fazer com que eles percam interesse pelo Facebook”, diz Sullivan.



Cresce fraude em venda de produtos digitais
Ben Worthen, The Wall Street Journal - 27 Jul 2010 - The Wall Street Journal Americas

Transparência pública


O Banco Mundial divulgou neste mês o resultado da avaliação sobre o desempenho da Gestão de Finanças Públicas no Brasil, baseada nas pontuações do programa PEFA (Public Expenditure and Financial Accountability). O Brasil recebeu 17 notas “A”, o que fez o país ultrapassar nações consideradas referência na gestão de finanças públicas, como a Noruega. As principais conquistas, segundo artigo publicado no Blog do FMI, se referem à forte gestão da dívida, publicação de relatórios fiscais periódicos, uma conta única e abrangente do Tesouro Nacional e um portal da transparência na internet com informações detalhadas sobre as despesas públicas.

O programa PEFA apresenta metodologia padronizada aplicada a diversos países com o objetivo de avaliar os processos de planejamento orçamentário, controle de gastos, relatórios e contabilidade. O foco do programa é disseminar uma cultura de controle e transparência no setor público. O relatório cita a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) como um marco para as boas práticas na gestão financeira, ao estabelecer regras para gastos públicos, gestão de dívida, elaboração do orçamento, entre outros.

O Portal da Transparência do governo federal também foi mencionado como fundamental para a avaliação positiva do Brasil. O relatório ainda destacou como abrangente e confiável o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), base de informações sobre os gastos e despesas do governo federal.

O documento, que coletou informações de 2009, ainda aponta alguns pontos fracos no Brasil, como o planejamento fiscal com horizonte superior a um ano, os riscos fiscais associados a empresas estatais e uma maior divulgação dos relatórios de auditorias externas. Em todos esses indicadores, o país obteve “C” ou “D”. Quanto ao investimento público, a equipe do Banco Mundial reconhece as importantes medidas adotadas no Brasil nos últimos anos a fim de melhorar o desempenho da carteira de investimentos. O documento sugere como desafio, porém, que o Brasil ponha em prática medidas para aprimorar a seleção, aprovação e execução de projetos de investimento público.

Especialistas comentam resultados

Para o economista Hélio Tollini, consultor de orçamento da Câmara dos Deputados e ex-servidor do FMI, é raro um país em desenvolvimento superar nações desenvolvidas em aspectos da gestão financeira pública. “Apesar de ter obtido avanços importantes nessa área há muitos anos, nunca houve o reconhecimento internacional ao Brasil quanto a isso”, afirma. Ele acredita que o relatório foi justo, tanto no que diz respeito aos pontos fortes quanto aos pontos ainda carentes.

“Sabemos que a prestação de contas feita anualmente pelo presidente é corretamente auditada pelo Tribunal de Contas da União, normalmente dentro dos prazos legais permitidos. Mas o Congresso Nacional não demonstra real interesse em apreciá-lo com tempestividade”, lamenta Tollini. Ele ressalta que os relatórios do tribunal parecem ficar propositalmente "guardados por vários anos, para serem utilizados como instrumentos políticos em casos oportunos”.

De acordo com Mario Pessoa, autor do artigo “With 17 gold medals Brazil beats Norway on the PEFA assessment!”, publicado no Blog do FMI, outra área de vulnerabilidade está nas empresas estatais. “Com mais de 100 estatais, com receitas totais próximas a 10% do PIB, as empresas controladas pelo governo federal correspondem juntas ao tamanho de todo o setor municipal no Brasil. Em algumas áreas, a influência do governo é particularmente pronunciada, como nos de petróleo, geração de energia e financeiro”, afirma.

Para Pessoa, a complexidade e tamanho das empresas estatais representam um desafio em termos de supervisão, controle e transparência, “mesmo considerando uma estrutura legal que impõe regras sofisticadas de governança”. “O Brasil deve ser elogiado por essa avaliação e pelos excelentes resultados obtidos até agora. O mais importante, no entanto, é que essa avaliação mostra que mesmo os países mais avançados podem se beneficiar imensamente de um exame independente, transparente e sincero de seus sistemas de gestão de finanças públicas”, conclui.


Brasil recebe “17 medalhas de ouro” na Gestão das Finanças Públicas
Milton Júnior - Do Contas Abertas - (Enviado por Caio Tibúrcio, Grato)