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17 agosto 2010

Contabilidade da política

Éprovável que os brasileiros tenham interesse em saber, com clareza, quem financia as campanhas eleitorais. Afinal, a política envolve interesses — às vezes escusos — e dinheiro, muito dinheiro. Tanto que, à época das campanhas, parte da dinheirama é frequentemente encontrada em calças, meias e cuecas.

Segundo o professor da Universidade Estadual de Campinas Bruno Speck, o último ciclo eleitoral, abrangendo candidatos a presidente da República, governadores, prefeitos e parlamentares, custou oficialmente R$8,4 bilhões. Nesse valor estão incluídos as doações, os repasses ao fundo partidário e o horário eleitoral gratuito. Tal montante correspondeu a 0,32% do PIB e a apenas R$11 por ano para cada brasileiro. Se este é o preço da democracia, vale a pena ser pago.

O problema é que a diferença entre o valor oficialmente declarado e o gasto real com as eleições é enorme. Há quem estime que a despesa efetiva seja de dez a quinze vezes superior à registrada no Tribunal Superior Eleitoral. Nessa hipótese, somados os caixas 1 e 2, o custo de uma rodada eleitoral no Brasil beira a casa dos R$100 bilhões!

Como no caixa 2, por óbvio, não há recibos e notas fiscais, a maior parcela das doações não passa pelas transferências bancárias, circulando por debaixo dos panos, quase que de mão em mão. Não é por acaso que representantes de 12 partidos, entre parlamentares, ex-parlamentares e assessores, respondem a processos, inclusive no Supremo Tribunal Federal, em decorrência dos mensalões do PT, do PSDB e do DEM. Ainda que usual , o caixa 2 é crime.

Por outro lado, o caixa 1, legalmente registrado nos tribunais eleitorais, também é opaco. Atualmente, a preferência nacional entre os que bancam os pleitos é pela “doação oculta” — destinada ao partido, e não ao comitê eleitoral do candidato—-, o que torna difícil a vinculação do financiador ao financiado. Tal fórmula, franciscana às avessas, agrada a quem dá e a quem recebe, prejudicando apenas o eleitor consciente que gostaria de conhecer as relações entre os políticos e os generosos patrocinadores.

Na verdade, não é suficiente saber os totais que cada candidato arrecadou e gastou, como hoje é divulgado nas prestações de contas parciais. Mais importante seria conhecer quais foram os doadores e que valores ofereceram a cada apadrinhado, na base do diga-me quem te apoia e te direi quem és. Até porque, na prática, um segmento do empresariado não doa, e sim investe, visando, claramente, ao retorno do capital aplicado. Ou será que alguém acredita que é somente por espírito democrático que certas empresas doam, de forma simultânea, a adversários que disputam o mesmo cargo? Ou que, por mera coincidência, doações vultosas irriguem as campanhas de Dilma, Alckmin e Cabral — líderes das pesquisas e governistas —, enquanto as campanhas de Serra, Mercadante e Gabeira recebem somas significativamente menores?

É claro que essa situação não pode continuar. O financiamento eleitoral, tal como há muito acontece, é, sem dúvida, uma das causas da corrupção no Brasil. A estrutura dos principais escândalos é semelhante, envolvendo, quase sempre, políticos e os grandes doadores, concentrados nos ramos da indústria pesada, construção civil e sistema financeiro. O remédio para se coibir essas relações promíscuas é a transparência total, iniciativa que deveria partir dos próprios candidatos. Como acreditar que esses futuros políticos serão transparentes na gestão pública se já começam omitindo quem financiou suas campanhas? Essa informação, que deveria estar na web, pode ser decisiva na escolha de cada um.

Você, por exemplo, votaria em alguém financiado pela indústria do fumo? É provável que muitos o façam sem qualquer constrangimento, o que talvez não aconteça com os que lutam contra a proliferação do câncer. Simples assim, democrático. Basta a informação ser acessível a qualquer cidadão.

O Tribunal Superior Eleitoral, para tornar os pleitos verdadeiramente justos e equilibrados, terá que contrariar interesses dos doadores, candidatos e partidos. A contabilidade eleitoral precisa ser publicada detalhadamente na internet já nos três meses que antecedem as eleições. Os doadores e os respectivos valores repassados a cada beneficiado não podem ser sigilosos. Afinal, secreto mesmo é só o voto.


Você sabe quem financia o seu candidato? - O Globo - 17 ago 2010 - GIL CASTELLO BRANCO (Contas Abertas)

16 agosto 2010

Rir é o melhor remédio


Adaptado daqui

Links

Tradução da música She, de Charles Aznavour

IFRS para segmentos

ICMS sobre desconto

Entrevista com K Arrow e T Schelling

Dívida da Petrobrás

O texto a seguir pode ser um excelente estudo de caso numa aula de análise de balanços.

O endividamento da Petrobras cresceu no segundo trimestre deste ano e se aproximou do limite previsto pela companhia, segundo balanço divulgado ontem.

O lucro líquido cresceu 7% no segundo trimestre ante o anterior. No primeiro semestre, na comparação com igual período do ano passado, o crescimento foi de 11%.

A proporção das dívidas da companhia atingiu 34% do valor de mercado. O indicador abaixo de 35% é um dos fatores que garantem à empresa a chancela de boa pagadora -o grau de investimento, dado pelas agências de avaliação de risco.

O endividamento da companhia foi a R$ 94 bilhões.

O dado reforça as preocupações dos analistas sobre a capitalização da empresa, prevista para setembro.

A injeção de recursos na capitalização da Petrobras é fundamental para que ela consiga fazer frente ao plano de investimento.

Os investimentos totalizaram R$ 38,1 bilhões no primeiro semestre, menos da metade da meta da empresa para o ano, que é de R$ 88,7 bilhões. O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse que os desembolsos estão dentro do previsto.

Barbassa afirmou que não há nenhuma preocupação em relação ao endividamento. "Estamos dentro do limite e, com a capitalização, vamos nos adequar e ganhar fôlego para continuarmos."

Ele disse não temer a avaliação das agências de risco. "Elas estão bem confortáveis em relação à empresa, [posso dizer] pelos contatos que tivemos nos últimos tempos."

Para Victor de Figueiredo, analista da Planner Corretora, as dúvidas do mercado em relação à capacidade da estatal de cumprir seu programa de investimento só serão dissipadas após as definições sobre o processo de capitalização da empresa.

"O que o mercado vai olhar agora é a precificação do barril do petróleo e a efetiva capitalização, se o prazo vai ser cumprido."

RESULTADO

APetrobras atribui o crescimento do lucro e da receita da estatal ao preço do barril do petróleo e ao aumento das vendas. A venda de derivados de petróleo e a alta da demanda por gasolina foram destaques no período.

O lucro foi de R$ 8,3 bilhões de abril a junho deste ano. A receita líquida foi de R$ 53,6 bilhões no segundo trimestre -avanço de 6% ante os três meses anteriores.


Endividamento da Petrobras se aproxima do limite - 14 Ago 2010 - Folha de São Paulo
VERENA FORNETTI - CIRILO JUNIOR

Mansur

Ex-dono de Mappin e Mesbla agora abandona a usina Galo Bravo sem pagar os empregados. Mas gastou milhões da empresa com helicópteros, carro, casa, almofadas ...

Mais de R$ 100 mil gastos com o aluguel de helicópteros e pagamento de pilotos, outros R$ 285 mil na compra de um carro importado e cerca R$ 800 mil com a casa de Ribeirão Preto (SP), incluindo o decorador. O empresário Ricardo Mansur torrou isso, e muito mais, usando o caixa da Usina Galo Bravo, durante os onze meses em que esteve à frente da empresa, abandonada por ele em julho. A lista, ainda preliminar, aponta gastos pessoais de R$ 4,8 milhões, parte realizada numa fase em que 1.400 funcionários, entre diretos e cortadores de cana contratados durante a safra, já estavam sem receber.

Os dados saíram de computadores deixados por Mansur na Galo Bravo e escarafunchados pelos antigos donos da usina. Fora seus luxos pessoais, o empresário ainda tirou do caixa da usina R$ 95 mil em seu nome e transferiu pelo menos R$ 2,75 milhões para a Investcorp Financial Administração de Bens e Participações Ltda, uma empresa de fachada usada por ele na sua tentativa de voltar ao mundo dos negócios no ano passado.

Mansur teve o comando da Galo Bravo por meio de uma espécie de arrendamento. Fez um acordo pelo qual deveria investir, administrar e recuperar a empresa, dividindo o produto do trabalho com os antigos donos. Em vez disso, de acordo com a contabilidade encontrada nos computadores, dilapidou o caixa da usina de açúcar e álcool. “Ele prometeu sanear a empresa, mas sangrou e saqueou a usina para manter sua vida em Ribeirão Preto”, disse Alexandre Balbo, representante da família dona dos ativos da companhia.

Segundo Balbo, boa parte do dinheiro enviado à Investcorp - a empresa de fachada de Mansur - foi operada pelo contador Rubens Marques. O empresário deu a Marques uma procuração com “os mais amplos, gerais e ilimitados poderes” para movimentar uma conta da Investcorp aberta numa agência da Caixa Econômica Federal em Ribeirão. Balbo afirma que o valor apurado com os gastos de Mansur na Galo Bravo, incluindo a Investcorp e suas regalias, já ultrapassam R$ 7 milhões.

Avião. Balbo diz também ter encontrado registros de um pagamento de R$ 750 mil que teria sido destinado ao aluguel de um avião utilizado por Mansur para passar férias em Miami, no fim do ano passado. “Os números finais do levantamento serão auditados e usados em uma ação de gestão fraudulenta que faremos contra ele (Mansur)”, afirmou Balbo.

Fora de cena desde a falência do Mappin, da Mesbla e do Banco Crefisul, dez anos atrás, Mansur usou a Investcorp para administrar três empresas das quais assumiu a gestão com a promessa de saneá-las financeiramente - além da Galo Bravo, a Faculdade Batista de Vitória (Fabavi), no Espírito Santo, e a Destilaria Pignata, em Sertãozinho (SP). Todas foram devolvidas ou abandonadas depois que a Justiça apertou o cerco contra o empresário, a partir de reportagens publicadas pelo Grupo Estado.

‘Conhecimentos’. Numa petição encaminhada à 12ª Vara Cível de São Paulo, uma das várias cortes em que tramitam os processos de falência das empresas de Mansur, os advogados do escritório Mundie afirmam que seu cliente tinha sido convidado para administrar empresas “com alto grau de endividamento, empregando os conhecimentos adquiridos por anos de atividade”.

Na Galo Bravo, corre uma versão diferente. Em meados do ano passado, com a usina afundada em dívidas de R$ 450 milhões - R$ 200 milhões com bancos -, mais que o dobro dos ativos estimados em R$ 220 milhões, Balbo foi procurado por Nino Peticarrari, corretor da região chamado por Mansur para iniciar os negócios em Ribeirão Preto. “Em uma reunião na casa do Mansur, em São Paulo, ele nos prometeu assumir a gestão da usina, investir um capital expressivo e ainda assumir o passivo”, disse Balbo. “Como não tínhamos outra opção, aceitamos.”

O representante da Galo Bravo afirma ainda que a família e os então arrendatários da usina - a Central Energética Ribeirão Preto (CERP) - receberiam dinheiro pelo negócio, cujo valor ele não quer revelar. “Recebemos só 30% do combinado”, disse. Tratado como ídolo pelos empregados da usina no começo, após colocar em dia os salários atrasados, Mansur deixou a empresa do mesmo jeito que a assumiu: com protestos por falta de pagamento ou em razão de pagamentos feitos com cheques sem fundo.

“Ele conseguiu lesar mais de 1.400 funcionários que estamos pagando agora, pois está devendo salários desde março”, diz Balbo. Segundo o empresário, Mansur, de posse das procurações para administrar a usina, agora procura comprador para a Galo Bravo. Ao menos até o início deste mês, segundo dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo, uma filial da Investcorp ainda funcionava na usina. Mas um pedido de encerramento das atividades dela aguardava uma decisão.

Laranjas. Acusado por credores de Mappin, Mesbla, Crefisul e várias outras empresas de usar laranjas para dificultar o rastreamento de seus passos, Mansur lançou mão do mesmo recurso na Investcorp. O primeiro administrador da empresa foi André Frata, copeiro do empresário há muitos anos. O segundo foi Salvador Pozzo, durante anos o jardineiro da casa de campo do empresário em Indaiatuba (SP).

No ano passado, quando ensaiava sua volta aos negócios, Mansur colocou o próprio nome nos documentos da Investcorp. Os registros dessa empresa na Junta Comercial do Estado de São Paulo mostram uma operação estranha. Em agosto, ele ampliou em 50 mil vezes o capital da Investcorp, que aumentou de R$ 10 mil para R$ 500 milhões. Apesar do registro, ele integralizou R$ 10 mil, deixando a maior parte para depois. Consultado pelo Estado, um advogado de credores de Mansur acredita que o aumento de capital, realizado apenas
no papel, pode ter sido feito para impressionar futuros parceiros de negócios.

Ricardo Mansur paga até decorador com dinheiro de empresa
Gustavo Porto, David Friedlander - O Estado de São Paulo - 16 ago 2010

15 agosto 2010



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Fonte: aqui

TAM adquirida

A união da TAM com a LAN foi anunciada na tarde de sexta-feira, como um fusão. A companhia resultante da operação terá um faturamento de US$ 8,4 bilhões, vai operar em 23 países, com 40 mil funcionários. Segundo o presidente da TAM, Líbano Barroso, a Latam será a terceira maior companhia aérea do mundo em valor de mercado.

Embora a lei brasileira permita que estrangeiros tenham apenas 20% das ações com direito a voto de uma empresa aérea, muitos analistas dizem que a TAM foi comprada. Eles dizem que a LAN incluiu em contrato direito a veto nas decisões importantes e transferiu o centro do poder para a holding, no Chile, que terá mais capital chileno.

As ações da TAM deixarão de ser negociadas nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York. Os controladores farão uma oferta para os minoritários para trocar ações da TAM pelos papeis da LAN. Segundo o ‘Estado’ apurou, 70,67% das ações ficarão com a LAN e 29,33%, com a TAM. Para especialistas ouvidos pela agência de notícias Bloomberg, quando o acordo for concluído, a LAN terá comprado a TAM por US$ 3,7 bilhões.


Para analistas, TAM foi comprada por US$ 3,7 bilhões - O Estado de São Paulo - 15 ago 2010