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23 junho 2010

Auditoria 2

Os auditores precisam expandir sua função para além do foco limitado sobre demonstrações financeiras, de acordo com o chefe da firma de consultoria e auditoria KPMG. John Griffith-Jones, copresidente da KPMG Europa, disse na semana passada que a atual fixação de "obstáculos defensivos" da "linha de Maginot" regulatória, que falhou durante a crise, ameaça produzir um sistema que não serve para a nova realidade dos mercados.

A linha de Maginot foi uma complexa série de fortificações construída pela França ao longo de sua fronteira com Alemanha e Itália, após o fim da Primeira Guerra Mundial. Ela levou dez anos para ser construída e já estava ultrapassada quando ficou pronta.

Ele pediu aos auditores que trabalhem mais próximos das partes relevantes do sistema, o que inclui reguladores de bancos e agências de classificação de risco.

"A profissão argumentou que não estava no âmago da crise, provavelmente com razão, mas estávamos lá com todos os outros", afirmou. "Eu sinto que estamos, em cada fortificação, tornando mais espessos nossos muros, aumentando nosso poder de fogo e de forma geral acreditando que não foi nossa culpa que as coisas deram errado."

A conclamação vem em meio ao crescente debate sobre o papel que a profissão desempenhou na crise financeira e se seria necessário expandir as responsabilidades dos auditores, que têm acesso sem igual ao funcionamento interior das empresas, mas ficam de modo geral restritos a um parecer burocrático nos relatórios anuais.

O Instituto dos Auditores da Inglaterra e País de Gales propôs no início da semana passada um aprofundamento do debate entre os auditores e seus respectivos bancos em mais um esforço para satisfazer as demandas dos investidores por maior transparência. Outras sugestões incluíram levar as conclusões desses profissionais para a frente dos balanços.

As sugestões do Instituto vieram antes de um relatório conjunto do Financial Services Authority (FSA) e do Financial Reporting Council a ser divulgado nesta semana que vai detalhar falhas durante a crise e oferecer recomendações para mudanças.

Acredita-se que a FSA exigirá mais dos auditores de bancos na supervisão das instituições financeiras, numa repetição de uma sistema que funcionou sob a liderança do Banco da Inglaterra, mas que foi abandonado depois da criação do órgão regulador do setor.


Fonte: Setor precisa expandir o foco, diz sócio da KPMG - Jennifer Hughes e Rachel Sanderson, Financial Times, de Londres - 22/06/2010 - Valor Econômico, via Fenacon

Auditoria 1

Ao mesmo tempo em que as empresas brasileiras terão que adotar as normas internacionais de contabilidade, os auditores que atuam no Brasil também serão obrigados a seguir as regras globais da profissão, a partir dos balanços referentes ao exercício completo de 2010. Uma das principais mudanças será o fim da divisão de opinião, quando o auditor de uma holding diz que se baseou no parecer de outro auditor para atestar os números das subsidiárias, que às vezes usam outro prestador de serviço.

Pela norma nova, o auditor da empresa "mãe" será responsável também pelo balanço das controladas, seja fazendo a auditoria diretamente, ou checando o trabalho feito por outra firma.

Isso pode dificultar uma prática que foi comum quando houve o rodízio de firmas entre as companhias abertas, em que se trocava apenas a auditoria da holding aberta, e se mantinha a prestadora de serviço antiga nas subsidiárias.

Ao dividir a opinião com outro profissional, o auditor se livrava também da responsabilidade sobre aquelas informações [1]. "Hoje não há mais essa possibilidade. O auditor tem que assumir a responsabilidade para si", afirma Gilberto Munhoz, sócio da área de auditoria da KPMG no Brasil.

Nesse processo, o auditor da controladora terá que checar os trabalhos feitos pela outra firma, para se certificar de que aqueles números são confiáveis. "O auditor precisa saber o que o outro está fazendo, se há necessidade de extensão dos trabalhos e se os procedimentos usados por ele são os mesmos que ele adotaria", acrescenta o sócio da KPMG.

Em certa medida isso já era feito, mas quando havia algum tipo de problema ou irregularidade, o auditor podia usar esse argumento em sua defesa, o que não será mais permitido.

Uma opção para evitar o retrabalho é concentrar a auditoria de todo o grupo em apenas uma empresa, o que alguns acreditam que pode favorecer as maiores do setor. "Existe essa possibilidade, de se concentrar ainda mais o mercado nas quatro grandes, mas ainda é difícil de avaliar o que vai ocorrer", diz Ernesto Gelbcke, sócio da Directa, referindo-se ao grupo formado por PricewaterhouseCoopers, Deloitte, Ernst & Young e KPMG.

Já para Raul Corrêa da Silva, sócio e presidente da Crowe Horwath RCS, a mudança das normas de auditoria não deve representar perda de serviço para as empresas médias do setor. "Acho que isso não vai representar perdas ou ganhos efetivos", diz ele, que ressalta que já era comum a revisão dos trabalhos de outros auditores.

Algo que deve facilitar essa supervisão é outra exigência das normas internacionais de auditoria, que pede um nível de documentação maior sobre os trabalhos realizados. "O Brasil está começando a regulamentar mais o trabalho do auditor, pedindo para ele documentar de forma mais organizada", afirma Daniel Maranhão, sócio de auditoria da Terco Grant Thornton, que diz que esse nível de formalização não será uma novidade para sua firma [2] e para as outras de maior porte, por conta de regras internas que já exigiam essa documentação.

Segundo Gelbcke, as firmas menores costumavam compensar a falta de formalização de todos os processos com um nível maior de supervisão dos trabalhos por auditores mais experientes. "Nós entendemos que é mais relevante ter a participação de sócios e gerentes fazendo o serviço do que um volume maior de trabalho executado por pessoas menos qualificadas", afirma [2]. Mesmo fazendo essa ponderação, o sócio da Directa diz que já preparou sua empresa para as novas normas, até por conta da parceria com a PKF International [2].

Em evento recente do setor, Wanderley Olivetti, sócio da Deloitte, comentou que a documentação do trabalho pode ser fundamental em um momento de fiscalização do órgão regulador, para que o auditor justifique por que determinada decisão foi tomada, tendo em conta o cenário e as informações conhecidas naquele momento do passado.

Para Maranhão, a adoção das novas normas de auditoria não deve representar em si um aumento de horas trabalhadas [3] e consequentemente de custos para os clientes. O que pode resultar em mais horas de serviço, segundo ele, é que essa transição será feita em conjunto com a adoção das normas normas de contabilidade, que seguem o padrão IFRS. "Como será a primeira adoção, teremos mais trabalho de auditoria por conta da mudança de prática contábil", diz.

Ainda em relação às novas normas de auditoria, a mudança mais visível para os investidores será no parecer do auditor, a começar pela troca do próprio nome, que passará a ser "relatório de auditoria". Na opinião da presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Ana María Elorrieta, um benefício do novo modelo, que será dividido em subtítulos, é que ele deve deixar mais claro qual é a responsabilidade da administração da empresa que elabora o balanço e qual o papel do auditor. "Esse é um passo muito importante", diz ela, que é sócia da PricewaterhouseCoopers.

A maior preocupação dos auditores é tentar afastar a imagem de que sua assinatura no pé dos balanços é uma garantia de sucesso ou de qualidade da companhia. "A auditoria não é um certificado de seguro", diz Cláudio Longo, sócio aposentado da Ernst & Young, que participa do grupo de trabalho que tratou da implementação das novas normas.

Ele explica também que o serviço de auditoria das demonstrações financeiras anuais será considerado uma "asseguração razoável" sobre os números do balanço. "O termo razoável pode ter uma conotação pejorativa no Brasil, mas é para ficar claro que não é absoluta", afirma Longo. Já a revisão feita nos balanços trimestrais será chamada de "asseguração limitada", para que fique claro que o alcance do trabalho é menor.

Outra mudança de nomenclatura é a troca do "parecer sem (ou com) ressalva" por "opinião sem (ou com) modificação".


Auditoria em Revisão - Profissional terá que assumir responsabilidade sobre números de subsidiárias checados por outras firmas. Parecer terá novo modelo e muda de nome - Fernando Torres - Valor Econômico - 22/06/2010

[1] Velha máxima da administração: delega-se a competência, mas não a responsabilidade
[2] Cada um dos entrevistados fazendo propaganda própria
[3] Isto contradiz a reportagem.

22 junho 2010

Educação e Convergência

O mundo financeiro pode ser verdadeiramente globalizado, mas o mesmo não pode ser dito para a contabilidade, as normas variam muito em cada local.

Sim, o setor tem movimentado, embora por vezes a contragosto, para os padrões internacionais. Mas este foi um processo longo e árduo, agravada neste mês por um anúncio do International Accounting Standards Board (IASB) e o Financial Accounting Standards Board (FASB), dos EUA, confirmando que não irão cumprir o prazo de junho de 2011, estabelecido pelo Grupo das 20 nações industrializadas, para a harmonização contábil global.

A notícia foi recebida com consternação por parte da UE, que adotou as normas internacionais de contabilidade financeira (IFRS) em 2005.

A formação do contador também é afetada por esses atrasos, (...) que limitam os estudantes em áreas restritas onde trabalhar, para algo mais padronizado e aceito internacionalmente. (...)

A abordagem virtual de aprendizagem é bastante adequado para a globalização das práticas contábeis e a adoção do IFRS. De fato, os treinadores podem, finalmente, entregar o material que é consistente e aplicável em qualquer lugar - e os alunos podem ter a certeza de habilidades e conhecimentos que irão levar com elas irão atendê-los bem, onde quer que eles acabam trabalhando. (...)


Shift to international standards happening, but slowly - Emmanuelle Smith - Financial Times - 20 jun 2010 -

Rir é o melhor remédio




Dois cartoons da New Yorker. O primeiro sobre a profissão contábil (ok, não é muito favorável); o segundo sobre a questão do petróleo no mar

Teste #300

Teste#300

Ufa! Chegamos ao teste 300. Em homenagem a Copa do Mundo veja esta frase:

"Diria mesmo que é um jogo de tudo ou nada. Os jogadores sabem e tem consciência disso. Há o sentido de responsabilidade de saber que este jogo com a XXX é decisivo para a contabilidade no nosso grupo."

Ela foi proferida por um treinador de futebol de uma das seleções que participa da Copa. Este treinador é

Diego Maradona, da Argentina
Carlos Queiroz, de Portugal
Dunga, do Brasil

Resposta do Anterior: Brasil, Itália e Espanha. Fonte: aqui

Transparência das contas públicas

Dos juros ao algodão-doce, tudo na internet
O Globo - 22 jun 2010
GIL CASTELO BRANCO

Desde a Grécia Antiga, os administradores são obrigados a prestar contas. À época, a comunidade reunia-se na Ágora, a assembleia do povo, para examinar a contabilidade dos arcontes, embaixadores, generais e de todos aqueles que geriam verba proveniente dos impostos arrecadados. No século XXI, a cidadania vem pela via digital. A Ágora atual é a web.

Sob o ponto de vista da moralização administrativa, a Lei Complementar 131 — que obriga a União, estados e municípios a publicarem suas contas na internet — é tão importante quanto a iniciativa popular do Ficha Limpa. Enquanto esta evita que os corruptos sejam eleitos, aquela amplia o controle social. As duas novas regras contribuem, portanto, para afastar maus políticos e gestores da vida pública.

Quanto à transparência, nada mais natural do que a população saber com detalhes como são aplicados os seus recursos. No caso do governo federal, por exemplo, qualquer pessoa com acesso à internet poderia constatar que foram pagos R$48,3 bilhões de juros entre janeiro e abril de 2010, quase dez vezes mais do que receberam os beneficiários do Bolsa Família no mesmo período. Descendo às minúcias, saberia que a Fundação Oswaldo Cruz, para estimular o comparecimento de crianças à vacinação contra a paralisia infantil, comprou aproximadamente R$16 mil em picolé, pipoca, maçã do amor e algodão-doce.

Outro internauta curioso verificaria que a agência de publicidade do Duda Mendonça, aquele que confessou ter recebido pagamentos de campanha eleitoral no exterior, mantém contratos e prestígio na Esplanada dos Ministérios, tendo recebido R$11,5 milhões neste ano. Mais alguns cliques e tomaria conhecimento que o custo do aluguel, garagem e condomínio da embaixada brasileira em Tóquio é de R$110 mil por mês. Na mesma página é possível checar a lista de empresas inidôneas ou o valor do quilo do filé de peito de frango adquirido pelo Comando da 2ª Região Militar, em São Paulo.

Os portais dos estados e municípios também fornecem dados detalhados. No site www.fazenda.rj.gov.br [http://www.fazenda.rj.gov.br] pode-se obter informações diárias sobre a receita e a despesa. Não é difícil saber que o governo do Rio de Janeiro já pagou, neste ano, R$61,7 milhões em publicidade e propaganda, valor superior aos R$42 milhões aplicados em serviços de conservação de rodovias. Com passagens e diárias no Brasil e no exterior, já foram quase R$16 milhões até junho. Os nomes das empresas que prestam serviços ao estado, bem como os valores pagos a cada uma delas, também estão disponíveis no portal da Secretaria de Fazenda.

Mas, como era de se esperar, alguns prefeitos das 273 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes, que já deveriam estar divulgando suas contas na internet, estão resistindo à novidade. Em geral, os políticos gostam de transparência somente nos governos dos adversários. Apesar da contrariedade dos gestores opacos, após quase um mês de vigência efetiva da lei, a impressão é que a moda vai pegar. Como a lei é para todos, até o Supremo Tribunal Federal está esmiuçando seus números de forma on-line, o que constitui bom exemplo.

As informações lançadas nos portais, em até 24 horas após o registro da despesa, tornam o Brasil um dos países mais transparentes do mundo, em termos orçamentários. Vale ressaltar que a transparência é o principal remédio contra a corrupção e a má qualidade do gasto púbico.

Em Pernambuco, após a implantação da lei, foi descoberto pela imprensa que, desde 2007, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico (Fundarpe) pagou R$62,7 milhões a 16 empresas para a realização de eventos. Tudo sem licitação. Para completar, jornalistas visitaram 15 das 16 sedes das entidades contratadas e verificaram que a maioria funcionava em endereços residenciais ou em imóveis incompatíveis com a movimentação financeira nos últimos quatro anos.

A Fundarpe explicou que a verba destinou-se ao pagamento de cachês de artistas e que a denúncia é meramente eleitoral. O fato, certo ou errado, evidencia que a exposição das despesas na internet ainda vai dar muito o que falar. Que assim seja.

No fim, seja na Grécia Antiga ou no Brasil de hoje, o fundamental é que os homens públicos informem como estão gastando o dinheiro dos cidadãos. Na Ágora ou na internet, dos juros amargos ao algodão-doce.

Negócio Futebol

A Copa é jogada no final da temporada europeia. Nos clubes, os atletas atuam no limite da capacidade humana, o máximo de tempo possível e exigido por clubes, patrocinadores e TVs. Ao fim da temporada, estão esgotados ou machucados. O interesse dos clubes limita cada vez mais o treinamento das seleções a raras semanas ou a um dia antes de jogos de torneios preparatórios. As seleções, pois, mal existem como equipes entrosadas.

Os principais jogadores do mundo atuam em times europeus. As transferências de atletas são tão antigas como a primeira Copa. Mas começaram a se tornar rotina nos anos 1980. Passaram ao estágio de livre comércio em 1995. O negócio agora em parte regride a algo parecido ao estabelecimento de feitorias coloniais. Em vez de pagar caro por jogadores prontos e famosos, clubes europeus adquirem atletas juvenis e infantis. Ou criam centros de recrutamento e treino de crianças em países das Américas e da África.

A seleção brasileira de 1982 foi a primeira a contar com jogadores "estrangeiros", que jogavam no exterior: 3 de 22. A de 1990 inaugurou a maioria de "estrangeiros": 12 de 22, como a de 1994. Nas de 2006, 20 de 23 eram estrangeiros. Como o time desta Copa de 2010.

Desde 2002, o Brasil "vende" em média cerca de 800 jogadores por ano. Quase 60% da exportação destina-se à Europa. Na Inglaterra, 59% dos jogadores são estrangeiros. Em Portugal, 54%. Na Alemanha, 52%. Itália, 40%. Espanha, 37% (dados de 2008, do Professional Football Players Observatory).

A internacionalização dos times europeus foi impulsionada por uma decisão da Corte de Justiça Europeia, de 1995, liberando os times de cotas para jogadores estrangeiros e dando cabo de contratos que contrariavam a lei europeia de livre fluxo de trabalhadores. Pelo mundo, seguiram-se medidas que abririam o mercado de atletas e os libertariam da propriedade dos clubes.

A mundialização deveu-se ainda ao crescimento do negócio europeu do futebol, favorecido em especial pela alta da renda publicitária. Oligopólios transnacionais pagam cada vez mais para aparecer em transmissões planetárias.

Cada vez mais cedo, atletas submetem-se a rotinas de treinamento e práticas de otimização de resultados muito similares. Fazem-no em campos europeus, segundo técnicas e tradições esportivas do continente, ou lá adaptadas. Antes da "mundialização", os atletas diferenciavam sua maneira de jogar graças à heterogeneidade cultural no modo de encarar o jogo.


A economia do futebol chato - Folha de São Paulo - 20 jun 2010 - VINICIUS TORRES FREIRE