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23 fevereiro 2010

Incentivos e Aversão à perda

A The Economist de 14 de janeiro traz um texto interessante sobre incentivos em empresas e o conceito de aversão à perda (Carrots dressed as sticks, 14 jan 2010). O texto relata uma experiência de Tanjim Hossain (Universidade de Toronto) e John List (da Universidade de Chicago) numa fábrica chinesa. A experiência foi realizada em dois grupos. Num primeiro, anunciou-se que os trabalhadores receberiam um bônus de doze dólares no final de uma semana se atingissem uma meta de produção. Para outro grupo foi anunciado tanto o bônus, no mesmo valor, ou a possibilidade de perda, se a produtividade caísse.

Em termos objetivos, os dois grupos são basicamente os mesmos. Mas para finanças comportamentais, existe o conceito de aversão à perda. As conclusões de Hossain e List mostraram que o conceito funciona também neste caso. É a teoria do chicote e da cenoura em prática.

Um aspecto interessante, ao ler a reportagem, é o nome do pesquisador List. Quem leu o recentemente lançado Superfreakonomics (p. 110 e seguintes) deve lembrar as várias páginas que o livro de Levitt e Dubner dedicaram a este pesquisador. No livro, existe um comentário negativo sobre a metodologia de pesquisa denominada de experimental. E questionavam algumas das conclusões encontradas por este tipo de pesquisa. Mas observe que as conclusões do estudo de Hossain e List são as mesmas que as finanças comportamentais encontraram em estudos experimentais.

Conselheiros

O jornal Valor Econômico de 22 de fevereiro explora a questão dos Conselhos nas empresas abertas, em particular no caso Sadia. Esta empresa até 2007 apresenta uma elevada lucratividade na área financeira, obtida através de investimentos de elevado risco, apresentou um elevado prejuízo em razão da mesma área financeira em 2008.

As perdas, decorrentes da própria turbulência do mercado, não atingiram somente a Sadia. Empresas como Votorantim Industrial (prejuízo de 2,2 bilhões de reais) e Santa Elisa (380 milhões) são exemplos citados no texto Empresa foi primeira a revelar o uso de derivativos "tóxicos", de Graziella Valenti. Este texto estima que os valores totais de perdas foi de 30 bilhões de reais. O número é uma estimativa grosseira, já que algumas empresas eram de capital fechado e não divulgaram os problemas nas demonstrações contábeis.

O principal problema decorreu da questão cambial. O texto explica isto:

O objetivo inicial das empresas que contratavam era ganhar ou se proteger da contínua queda do dólar. Daí a maior adoção por grandes exportadoras como Sadia e Aracruz, que tinham 50% e 95% das receitas atreladas ao dólar, respectivamente. A operação funcionava como uma banda cambial, mas com ganhos limitados e perdas imprevisíveis e ilimitadas.

Na prática, a companhia adquiria o direito de vender dólar ao banco por um preço acima do mercado. Assim, maximizava a receita de exportação, que vinha perdendo com a valorização do real.

Mas havia um teto estabelecido para isso e, caso o dólar subisse e ficasse acima dessa faixa, a empresa era obrigada a vender duas vezes mais dólar ao banco por um preço preestabelecido. Nesse cenário, a companhia acabava tendo que comprar a moeda no mercado por um preço superior ao que venderia ao banco, o que resultava em perda de caixa - não só de marcação a mercado.

A conseqüência contábil da crise foi um maior rigor, por parte da CVM e do Banco Central, no que diz respeito à evidenciação das operações.

Num outro texto, Conselho da Sadia na fogueira, também de Graziella Valenti, o foco é a perda de R$2,6 bilhões na Sadia. O texto informa que a CVM abriu um processo contra catorze pessoas pelo episódio. Basicamente o texto questiona onde estava o Conselho que não fez nada para impedir os eventos na empresa. Como ocorre na maioria dos Conselhos das empresas abertas no Brasil, parte dos membros são pessoas cujo principal atributo é ser parente próximo do acionista controlador ou pessoas que possuem prestígio no governo ou no mercado. No primeiro caso faziam parte do Conselho da Sadia alguém com sobrenome Furlan; no segundo caso, o consagrado consultor de empresas Vicente Falconi (aqui, uma lista de livros do consultor). Naturalmente que os conselheiros que responderam à reportagem recusaram a responsabilidade. (É o padrão do conselheiro brasileiro: só querem o bônus, mas não o ônus)

Um último texto, Casa do Sadia expõe riscos da profissão de conselheiro, também de Valenti, parte para opinião de quatro especialistas da área. No final, um texto interessante:

No caso da Sadia, havia um comitê financeiro e um de auditoria, para assessorar o colegiado. Cassio Casseb, Everaldo Nigro dos Santos, Walter Fontana Filho e Roberto Faldini compunham o órgão dedicado às finanças. Francisco Céspede, Roberto Faldini e José Marcos Konder Comparato formam o núcleo dedicado à auditoria.

O conjunto de reportagem pecou por não observar mais de perto a questão dos controles internos e da auditoria. Quem sabe numa próxima reportagem.

Sobre o assunto Sadia, um texto da Revista Piauí descrevendo o que ocorreu na empresa. A recomendação ainda vale.

Exemplo de seleção adversa

Um anúncio numa igreja informava que doentes terminais poderiam receber dois mil dólares em dinheiro, imediatamente. Na realidade tratava-se de um plano para compra de imóvel e posterior recebimento do seguro imobiliário. Um exemplo de seleção adversa. Fonte: Marginal Revolution

Corretores

O livro O Naturalista da Economia, de Robert Frank (editora Best Business) apresenta um estilo de perguntas instigantes com respostas numa linguagem fácil e lógica. Num capítulo com perguntas relacionadas com finanças comportamentais surge a seguinte questão (p. 197 e 198):

Por que os corretores imobiliários geralmente mostram aos clientes duas casas quase idênticas, embora uma seja mais barata e esteja em condições melhores que a outra?

A resposta diz respeito ao Decoy Effect, que no livro foi traduzido através da seguinte situação:

(...) do homem que pergunta à garçonete de uma lanchonete que tipo de sanduíche é servido ali.

- Temos de salada de frango e de rosbife – responde a garçonete.

O cliente pede um sanduíche de rosbife. A garçonete então acrescenta:

- Ah, eu esqueci, também temos de atum.

- Nesse caso, vou querer o de salada de frango – responde o cliente.

O decoy effect trata da mudança de preferência quando se acrescenta um parâmetro de comparação diferente no processo decisório. No caso da lanchonete, a mudança de dois para três sanduíches faz com que a opção escolhida pelo homem seja alterada.

A relevância do decoy effect para situações de decisão foi mostrada por Simonson e Tversky. Mesmo quando se apresenta uma alternativa irrelevante para a situação, os efeitos são consideráveis. No caso do imóvel, ao mostrar outro imóvel, mesmo em condições piores, faz com que o cliente decida mais rapidamente pelo outro imóvel.

Valorização

O Guia Invest traz a relação das maiores valorizações na bolsa de valores nos últimos 365 dias. Quem investiu na Contax há um ano teve um retorno de quase 12 mil pontos percentuais. Para se ter uma idéia, o índice P/L da empresa é de 720,4. Isto significa que com o atual lucro da empresa o investidor teria que aguardar mais de 700 anos para ter o retorno do seu investimento. A empresa está voltada para implantação de contact centers e possui receita líquida de quase 2 bilhões de reais.

A segunda (e terceira) colocada no ranking da valorização é a empresa JB Duarte, com valorização de 2.774% e 1.328% (ON e PN, nesta ordem). A complicada Agrenco teve sua ação valorizada em 1104%, enquanto a favorita dos boateiros, a Telebrás, teve uma valorização de 1091%.

Entre as perdedoras, a Brasil Telecom, com desvalorização de 67%.

22 fevereiro 2010

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Mercado pode ser racional, mas é ignorante!!

O mercado de petróleo apresentou uma alta no barril na semana passada. Uma explicação foi dada pela agência Reuters: um golpe militar em Níger, país da África Central. Níger é um dos países mais pobres do mundo – o pior IDH do mundo, com produção centrada na agricultura de subsistência e pecuária. O país foi produtor de urânio na década de setenta e até onde se sabe não produz petróleo.

Como isto foi acontecer? Alguns traders confudiram com a Nigéria, também um da África. Neste país o petróleo é responsável por 20% do PIB e 95% das exportações.



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Níger