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17 fevereiro 2010

Friboi

BNDES aposta R$ 7,5 bi no Friboi

Concorrentes foram ao banco reclamar de privilégios

Alexandre Rodrigues – Estado de São Paulo

Há duas semanas, o frigorífico brasileiro JBS Friboi, maior empresa de carnes do mundo, colocou à venda um pacote de dois milhões de debêntures no valor de R$ 3,48 bilhões. Sem o aparente interesse do mercado financeiro, a BNDESPar, empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, comprou 99,9% dos papéis. Os outros acionistas, entre eles a família Batista, dona de 59% do grupo JBS, adquiriram 0,05% da emissão e ainda restou uma sobrinha de 523 papéis que ninguém se interessou em comprar.

A operação foi feita para viabilizar o pagamento da última aquisição da companhia nos Estados Unidos: a Pilgrim"s Pride Corporation, destaque no mercado americano de frangos, que enfrentava dificuldades financeiras. A entrada no mercado americano foi o passo mais ousado de uma trajetória internacional iniciada em 2005, com a compra da Swift argentina, e que contou o tempo todo com o apoio do BNDES.

Ávido por viabilizar multinacionais brasileiras, tarefa que ganhou da política industrial traçada no governo Lula, o BNDES já colocou pelo menos R$ 7,5 bilhões no Friboi - de quem também é acionista, com uma participação de 22,36%. O apoio ao frigorífico supera outras operações emblemáticas, como os R$ 2,6 bilhões para o casamento Oi/Brasil Telecom.

Dono de um faturamento na casa dos R$ 30 bilhões, o Friboi tira hoje quase 80% de sua receita de operações nos Estados Unidos, Austrália, Itália e Argentina. Em apenas dois anos, multiplicou a receita líquida por dez. O BNDES vê nesse desempenho um exemplo do arrojo empresarial que gostaria de ver em outros setores diante das oportunidades potencializadas pela crise de compras de empresas no exterior por grupos brasileiros.

A aparente predileção do BNDES pelo Friboi levou o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, a endereçar uma carta ao presidente do banco, Luciano Coutinho. Ele diz reconhecer os méritos do Friboi - que também incorporou o segundo maior frigorífico nacional, o Bertin, em 2009, com a bênção do BNDES -, mas critica a intervenção do banco.

"O grande pecado do BNDES é o excesso. O País tem outras prioridades, por que jogar tanto dinheiro numa só empresa? Não há somente ela no mercado", reclama Salazar. Segundo ele, a concentração está impondo a rendição dos pequenos e médios frigoríficos à incorporação do Friboi e limitando as opções de venda dos criadores. "O BNDES pôs um volume colossal de dinheiro para criar uma multinacional sem diagnosticar bem a cadeia produtiva. E criou uma empresa assim, que pode fazer o preço do boi e da carne. Impossível competir."

Entre especialistas, a trajetória acelerada do Friboi também é vista com reservas. Analistas ouvidos pelo Estado afirmam que o compromisso do BNDES com a subscrição total das debêntures da última operação pode ter viabilizado um prêmio menor do que atrairia o mercado, amenizando o impacto no endividamento da empresa. Os títulos comprados pelo BNDES deverão se converter em 20% a 25% de ações da JBS USA, subsidiária americana do grupo em preparação para a abertura de capital.

Há reservas no mercado sobre o endividamento da empresa e sua alta exposição nos Estados Unidos, ainda às voltas com a crise. Além disso, há dúvidas sobre a capacidade da família Batista de administrar tantos e tão diversificados ativos acumulados em pouco tempo.

"A internacionalização foi muito rápida e a empresa está muito alavancada. A gestão dos novos negócios ainda vai ser testada. É um desafio para o JBS colocar essas atividades internacionais em ordem, melhores do que antes da aquisição", opina Eduardo Roche, da Modal Asset. "A ótica do BNDES é mais a de apoio à multinacional. Sem o BNDES, com certeza não teriam esse fôlego e ainda teriam se complicado muito."

Para outro analista, o fato de o Friboi ter comprado empresas já em dificuldades financeiras em mercados afetados pela crise num setor de margem baixa também afasta os investidores. "Ainda há muita interferência da família", critica.

Os dois preferem os papéis do rival Marfrig, que apontam como mais sólido. O frigorífico, que fez aquisições recentes na Argentina e no Brasil, e outras empresas do setor também receberam apoio do BNDES por meio de capitalização, mas em proporção bem menor.

A área de mercado de capitais do BNDES recusa entrevistas sobre o Friboi, mas o diretor de Planejamento, João Carlos Ferraz, aceitou definir para o Estado o que atrai tanto o banco na empresa. Ao contrário dos estereótipos que a origem do grupo goiano alimenta, para Ferraz os irmãos José Jr., Wesley e Joesley Batista, o presidente do grupo, dirigem hoje uma empresa "extremamente sofisticada", cujo apetite casou com a expectativa do BNDES de formar empresas brasileiras de peso global, seja em que setor for.

"Eles têm um gás, uma disposição de crescimento impressionante. Conhecem o negócio profundamente. Soube que a mesa de operações dele é maior que a de um banco médio. Fecham posição de compra e venda em grandes volumes em alta velocidade e sabem, online, o que está acontecendo em cada unidade", conta. "Têm enorme propensão ao crescimento e se montam para isso. E nas operações de aquisição, parecem ter um respeito muito grande pelas idiossincrasias locais, mantendo os dirigentes das adquiridas para aprender com eles."

Ferraz refuta a crítica de que o banco usa dinheiro público para subsidiar empresas como o Friboi, lembrando que o BNDES usa mecanismos de mercado, como participações acionárias e debêntures, para incentivar aquisições. É também um investimento para o banco, que não entraria num negócio para perder, segundo ele.

A mesma lógica vale para os grandes conglomerados que o banco tenta promover. Por isso, embora reconheça ser mais desejável múltis de produtos de maior valor agregado, o diretor do BNDES diz que o País ganha ao começar esse processo pelos setores onde é mais competitivo, como o de carnes. Para ele, a modernização do Friboi profissionaliza os fornecedores no Brasil, onde permanecem o centro de decisão da empresa e os empregos mais qualificados.

"Claro que produzir carne não é a mesma coisa que avião. Mas, se olharmos a trajetória do JBS, principalmente com a diversificação dessa última aquisição, vemos que estão indo pela cadeia da proteína, agregando por unidade de produto. Há um movimento de sofisticação, dentro da indústria deles", argumenta Ferraz. "Não dá para colocar o Joesley para produzir chips."

Nenhum dirigente do Friboi aceitou conversar sobre o assunto, mas, em nota enviada por sua assessoria, Jerry O" Callaghan, diretor de Relações com Investidores, reconheceu que o BNDES é fundamental para a experiência internacional do grupo. "Sozinho, não teria sido possível (para o JBS). O apoio consistente do BNDES era fundamental para fazer a empresa chegar a ser hoje a maior companhia produtora de proteína do mundo e um orgulho para o País."

À Venda

À venda, o lendário estúdio dos Beatles
O Globo - 16/2/2010
Fernando Duarte

LONDRES. Quando assumiu o controle da gravadora EMI, em 2007, o megainvestidor britânico Guy Hands prometeu uma política de austeridade, que mexeu com o ego de artistas consagrados e provocou uma debandada de talentos, como Paul McCartney. Talvez nem o ex-Beatle imaginasse que Hands chegaria ao ponto de se desfazer de uma relíquia, o Abbey Road. Só que, segundo o “Financial Times”, o lendário estúdio de gravação, no Norte de Londres, em que os Beatles revolucionaram a música pop, será posto à venda nos próximos dias. A negociação é para fazer caixa e permitir que Hands honre com os empréstimos feitos junto ao Citibank para adquirir a EMI.

O fundo de investimentos de Hands, Terra Firma, contraiu dívidas da ordem de US$5 bilhões na compra da EMI e o megainvestidor tem até julho para pagar uma das parcelas, de US$192 milhões. Num momento em que a indústria fonográfica vê as receitas com CDs despencarem e que o surgimento de novas técnicas de gravação baratearam os custos de produção — além de possibilitar uma simplificação do processo — Abbey Road transformou-se num elefante branco para a empresa.

São muitos os estúdios que têm fechado as portas em Londres nos últimos anos. Em 2009, saiu de cena o Olympic, estúdio onde foram gravados álbuns de Led Zeppelin, Rolling Stones e Jimi Hendrix. No resto do mundo também tem ocorrido o mesmo, como o Hit Factory, em Nova York, associado ao álbum de Stevie Wonder “Songs in the key of life”.

O destino do Abbey Road parece seguir a sina de outros estúdios que já fecharam a porta. Embora a Terra Firme pudesse explorar o passado glorioso da música, já que lá foram gravados álbuns memoráveis dos Beatles, como “Sargeant Pepper’s Lonely Hearts Club band”, além do clássico de Pink Floyd, “The Dark Side of the Moon”, há a tentação do valor imobiliário de um casarão num bairro chique de Londres. Segundo especialistas, o estúdio poderá render US$40 milhões.

Segundo a mídia britânica, o uso do Abbey Road como uma espécie de parque temático para os milhares de fãs dos Beatles que, anualmente, perambulam pelos arredores do estúdio, já foi estudado por Hands, mas parece não ter entusiasmado. Até porque uma das grandes atrações está do lado de fora — o cruzamento de pedestres em que o quarteto de Liverpool posou para as fotos da capa de seu último álbum, também batizado de Abbey Road.

Segundo uma reportagem da revista de música “Word’’, publicada este mês, a procura pelos serviços de Abbey Road caíram a um custo de US$400 por tempo de estúdio, um preço equivalente a um oitavo do que era cobrado em meados da década passada.

— Vivemos numa época em que, infelizmente, instrumentos importados da China e computadores poderosos fazem com que praticamente qualquer pessoa possa gravar álbuns inteiros num apartamento. Com a internet rápida, uma banda sequer precisa ter os músicos num mesmo recinto — explica Tom Whitwell, autor do blog Musicthing, sobre música e tecnologia.


Observe como o custo de produção da música fez perder o valor de Abbey Road.

Exemplo Chinês

“Se você construir, eles virão”, escuta, misticamente, o fazendeiro Ray Kinsella no filme “O campo dos sonhos”, de 1989, enquanto caminha por seu milharal. Assim, a um custo aparentemente ruinoso, ele derruba o milharal e constrói um campo de beisebol, e é recompensado por uma fila interminável de compradores de ingressos se estendendo até o horizonte do Iowa rural.

Em 2008, os chineses construíram um campo de beisebol - rapaz, e que campo de beisebol - conhecido mundialmente por sua arquitetura em treliças como o Ninho de Pássaros. Mas, ai deles, após a Olimpíada de 2008 os compradores de ingressos não apareceram. Hoje, o Ninho de Pássaros serve como um parque de diversão de inverno conhecido como Feliz Temporada de Gelo e Neve. Em abril, um produtor poderá apresentar um concerto de rock com celebridades para “estabelecer a China como líder mundial para a paz global e um planeta mais saudável”. Ou não.

Depois disso, o governo diz que poderá construir um shopping center no local.

As imagens atuais dos locais da Olimpíada de 2008 em Pequim ilustram sucintamente a vastidão deserta que um corredor de longa distância um dia percorreu. Numa semana em que os Estados Unidos estiveram analisando quanto tempo de seu futuro será passado em endividamento profundo, elas sugerem também quanto seu maior credor está depositando suas esperanças de construir riqueza a partir de sonhos.

Dois verões atrás, a extravagância olímpica da China foi reconhecida mundialmente como uma mal disfarçada metáfora da ascensão do país a uma importância mundial. Dezoito meses depois, a China é mais importante que seus líderes jamais poderiam ter imaginado.

Mas o famoso Cubo de Água de Pequim trilhou o caminho de estádio olímpico para salão de concerto com show de luzes para uma performance russa de “O Lago dos Cisnes”. Sua mais recente encarnação é como parque aquático coberto.

No ano após a Olimpíada, o icônico Ninho de Pássaros de 91 mil assentos recebeu um concerto de Jackie Chan, uma partida de futebol italiana, uma ópera e uma apresentação de canções típicas chinesas. Mas o time de futebol local não quis fazer um acordo para torná-lo seu próprio campo, e os únicos inquilinos agora são turistas que pagam US$ 7 para visitar a loja de suvenires.

Pela maioria das contas, os vendedores que expõem bugigangas fora do estádio superam em número os estrangeiros que ali vão se embasbacar.

Estrangeiros talvez pensem nisso como um desperdício. Afinal, o estádio olímpico de Atlanta virou um estádio de beisebol e o Saddledome em Calgary, um monumento cívico.

Por outro lado, a Olimpíada parece provocar o esbanjamento mesmo de governos conservadores. Considerem Atenas, onde 21 dos 22 estádios construídos para a Olimpíada de 2004 foram registrados como desocupados no ano passado. O custo de US$ 14,4 bilhões daquela festa está sendo citado por alguns como uma fonte dos problemas fiscais potencialmente desestabilizadores da Grécia.

Se a China é diferente - e a China é -, isso ocorre porque as preocupações fiscais na escala diminuta de Atenas mal aparecem na contabilidade de Pequim. Construir demais não é uma preocupação importante. Aliás, alguns poderiam chamar isso de estratégia econômica.

Essa é uma nação de torres de escritórios, hotéis e conjuntos de apartamentos de luxo novos em folha, muitos deles construídos para fins especulativos, muitos financiados por empréstimos subsidiados pelo governo, ou em propriedades subsidiadas pelo Estado, ou com aço de baixo custo de siderúrgicas subsidiadas pelo Estado. Muitos estão mais vazios que cheios.

Segundo a companhia imobiliária Colliers International, os escritórios do distrito comercial no centro de Pequim permanecerão com uma vacância de aproximadamente 38% neste ano. Isso é 12 pontos acima que a cifra para San Bernardino, Califórnia, que a empresa de consultoria REIS diz que foi o pior mercado de escritórios importante nos Estados Unidos no último trimestre de 2009.

Mas o que parece horrível em San Bernardino é a norma da efervescente Pequim. A especulação imobiliária é gritante, muitos especialistas concordam em que habitação e finanças estão formando bolhas, e todos esperam um grande ajuste em algum momento - um ano? dois? - à frente. Mas houve um ajuste após o pânico asiático em 1999, e outro ajuste em 2004, e nas duas vezes o governo salvou os grandes bancos estatais, e o boom continuou.

Aliás, o governo perdoou US$ 120 bilhões de empréstimos podres do Banco da Agricultura da China ainda em outubro passado sem um pio de protesto público.

Se você construir, esse é o sentimento, eles virão. Numa nação tão grande, alguém acabará enchendo o centro de convenções e o parque aquático. E se não, bem, construa assim mesmo. Construir gera empregos, alimenta prestígio e estufa o PIB. Aqui na China, na nação que é grande demais para fracassar, enquanto os empréstimos ruins não superarem os bons, o desperdício é tolerável. “Essa, para mim, é a essência da estratégia chinesa”, disse Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell e ex-diretor da divisão China do Fundo Monetário Internacional, numa recente entrevista telefônica. “Apenas deixe a máquina funcionar com velocidade suficiente.”

Após a Olimpíada, cascas vazias em Pequim
Michael Wines - 16/2/2010 - O Estado de São Paulo

Grifo do blog

16 fevereiro 2010

Países mais arriscados

Na ordem, o nome do país, o spread, o rating de crédito e o nível de risco geral

  1. Islândia – 638 pontos, BBB+ e 46,0
  2. Grécia – 389 pontos, BBB+ e 42,3
  3. Hungria – 249 pontos, BBB- e 38,1
  4. Portugal – 184 pontos, A+ e 36,7
  5. Espanha – 122 pontos, AA+ e 36,4
  6. Letônia – 475 pontos, BB e 36,0
  7. Irlanda – 129 pontos, AA e 35,4
  8. Ucrânia – 875 pontos, B- e 34,0
  9. România – 249 pontos, BBB- e 33,5
  10. Lituânia – 273 pontos, BBB e 33,3
  11. Turquia – 191 pontos, BB e 32,3
  12. Bulgária – 239 pontos, BBB e 32,1
  13. Egito – 270 pontos, BBB- e 30,7
  14. Índia – Não disponível, BBB- e 30,0
  15. Itália – 104 pontos, A+ e 29,9
  16. Estados Unidos – 30 pontos, AAA e 29,5
  17. Estônia – 140 pontos, A- e 28,4
  18. Polônia – 135 pontos, A e 26,7
  19. Cazaquistão – 210 pontos, BBB e 26,6
  20. Indonésia – 198 pontos, BB+ e 26,5

É uma lista interessante, pois conta com a presença dos Estados Unidos. A fonte é o banco suíço Credit Suisse, tendo por base o rating de crédito, o spread, o potencial de crescimento da economia, a dívida pública, o crédito no setor privado e o equilíbrio do orçamento (via aqui http://www.businessinsider.com/top-20-soverign-default-risks-2010-2#kazakhstan-overall-risk-score-266-2)

Rir é o melhor remédio


A bolha Chinesa

perfil do risco

Bancos começam a traçar perfil de risco do investidor
Roberta Scrivano
611 words
15 February 2010
O Estado de São Paulo
ESTADO
Portuguese
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Instituições aplicam questionário desde o início do ano, mas poucas sabem dizer quantos clientes já responderam

Depois de 40 dias da implementação do questionário de Análise de Perfil do Investidor (API, também conhecido pela definição em inglês suitability) no mercado financeiro brasileiro, os bancos engatinham na organização dos dados. Por isso, ainda é difícil elaborar um balanço da medida. Não se sabe, por exemplo, quantos investidores já responderam às perguntas.

Instituída pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a regra começou a valer no primeiro dia útil de 2010. O objetivo é submeter ao questionário todos os clientes que investirem em fundos de ações, multimercados ou de renda fixa com crédito privado.

Acredita-se que, dessa forma, tanto o cliente quanto os bancos ficam mais protegidos. Os primeiros porque, em tese, não escolherão produtos que tenham um nível de risco acima do que estão dispostos a correr. As instituições evitam ser acionadas por investidores que eventualmente tenham perdas.

Com exceção do Itaú Unibanco, que reforçou a assessoria financeira com contratações e contabiliza 96 mil questionários respondidos, e do Banco do Brasil, que soma quase 26 mil questionários preenchidos, as outras principais instituições de varejo (HSBC, Santander e Bradesco) ainda têm dificuldades para dizer quantos clientes já participaram da API.

Rosaline Nunes, vice-coordenadora da Comissão de Distribuição de Produtos de Varejo da Anbima, considera a falta de organização normal. “Ainda é prematuro avaliar esse andamento”, diz. Segundo ela, a Anbima também aguarda os dados dos bancos para elaborar um levantamento geral sobre a aplicação da API no País.

Sem números concretos, Rosaline frisa que, até o momento, não houve nenhuma recusa, por parte dos clientes, em responder ao suitability. “Os clientes têm recebido bem a novidade”, diz. “O processo é um divisor de águas e veio para aperfeiçoar a atuação dos bancos.”

Apesar de ser uma medida recente no Brasil, a API é uma prática corrente em outros países, sobretudo nos da Europa e nos Estados Unidos. “O fato de chegar ao Brasil demonstra que o mercado financeiro nacional está amadurecendo”, avalia Alexandre Chaia, professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo).

Cada banco foi responsável pela elaboração da sua API a partir de diretrizes da Anbima. Os tópicos predefinidos pela associação são informações sobre a situação financeira do investidor, sua experiência em investimentos e seus objetivos com as aplicações. Após a definição desses pontos, que classificará o perfil do cliente como conservador, moderado ou agressivo, cabe à instituição adequar a intenção do investidor com as efetivas aplicações.

Aquiles Mosca, superintendente de investimentos do Santander, diz que a instituição está realizando a API com seus investidores desde 28 de dezembro. “Observamos uma grande maioria no perfil conservador”, afirma. Para ele, o resultado reflete a falta de experiência do brasileiro em investir.

No HSBC, segundo Gilberto Poso, superintendente-executivo de Gestão de Patrimônio, já há a percepção de um redirecionamento dos investimentos graças ao resultado das APIs. “O questionário faz o cliente refletir sobre o horizonte do investimento. Até então, só se pensava no rendimento em si.”

Osvaldo do Nascimento, diretor executivo do Itaú Unibanco, diz que há clientes que têm se surpreendido com o resultado do questionário. “Muitos acham que são conservadores, mas, na realidade, são moderados ou até mesmo agressivos.” Nesses casos, diz ele, com as novas regras, cabe ao banco orientar o cliente a remontar sua carteira de investimentos.

Os executivos do Bradesco e BB responsáveis pelo desenvolvimento do suitability não estavam disponíveis para atender a reportagem.

Conta de chegada

O jornal Estado de São Paulo traz uma interessante reportagem sobre o etanol brasileiro (A arma secreta do etanol brasileiro, Raquel Landim, 15/2/2010).

O texto mostra como um modelo matemático, Blum (Brazilian Land Use Model), ajudou os usineiros a comprovarem que o etanol não é responsábel pelo desmatamento da Amazônia. Eis um trecho interessante:


(...) Coube à turma de André Nassar, diretor executivo do Icone, criar o modelo matemático Blum, que provou que o efeito indireto da cana na Amazônia é muito menor do que os americanos achavam.

Em maio de 2009, o EPA apresentou o primeiro cálculo: o etanol de cana reduzia em 44% a emissão de CO2. O resultado foi uma decepção. Para ser avançado, o etanol deveria ter alcançado 50%. Para ser comparado ao celulósico, que ainda não foi desenvolvido comercialmente, acima de 60%.

O resultado do EPA estava aberto à consulta pública. Era a hora de apresentar os argumentos técnicos. Em agosto de 2009, o Itamaraty trouxe uma missão do órgão ao Brasil. Joel conta que ouviu, pela primeira vez, informalmente, qual seria o resultado no início de janeiro. “Um amigo me ligou e disse: Está sentado? Soube que o número do EPA deu 61%.”