Qual o interesse da contabilidade pela remuneração dos banqueiros? Podemos citar pelo menos três motivos que tornam interessante ler sobre o assunto.
Em primeiro lugar, a remuneração representou uma importante discussão contábil sobre a forma de contabilização dos valores. Basicamente a discussão estava em como contabilizar alguns benefícios indiretos, como as opções de ações. Existiam duas correntes, uma que defendia que não deveria aparecer no resultado do exercício da empresa e outra que considerava que o reconhecimento seria como despesa, influenciando o lucro do exercício. Esta discussão foi relevante na década de noventa já que alguns pesquisadores defendiam que considerar as opções como despesas teria impacto sobre o desempenho de empresas em fase de crescimento, reduzindo sua atratividade e, por conseguinte, o volume de investimento. Acredito que existe um consenso que as opções são despesas, apesar de alguma resistência por parte dos executivos de empresas com baixo retorno.
Outro aspecto importante da discussão da remuneração dos banqueiros está em torno da evidenciação das informações. Esta é uma questão mais tropical, já que a transparência destas informações já existe em outros países. Naturalmente que evidenciar estes valores ainda será objeto de resistência por parte dos banqueiros brasileiros.
Finalmente, a discussão sobre remuneração apresenta uma questão interessante dentro da teoria da agência. Esta teoria mostra os conflitos entre principal e agente, discutindo a existência de maneiras de reduzir seus efeitos. Na situação da remuneração, o agente (o executivo) possui interesse de que a remuneração seja a maior possível; mas o principal (os acionistas) provavelmente está interessado em desempenho. Veja o caso do Citi. Apesar de este banco ter apresentado nos últimos anos um baixo desempenho, inclusive sendo socorrido pelo governo dos Estados Unidos, o seu executivo principal, Pandit, recebeu 10,8 milhões de dólares em compensação. Nesta situação específica, provavelmente os interesses do agente estão sobrepujando os interesses dos acionistas, já que maior remuneração significa menor lucro.