Translate

16 fevereiro 2010

Grécia 2

Wall Street ajudou Grécia a ocultar explosão da dívida
Folha de São Paulo - 15/2/2010
DO "NEW YORK TIMES"

Táticas semelhantes às que Wall Street usou e que deflagraram a crise do crédito imobiliário de risco agravaram a crise que abala a Europa e solapa o euro, ao permitir que governos europeus ocultem dívidas cada vez maiores.

Esse tipo de transação permitiu que a Grécia continuasse a gastar em deficit, como um consumidor que faz uma segunda hipoteca sobre sua casa. À medida que preocupações quanto à Grécia abalam os mercados, registros e entrevistas demonstram que, com a ajuda de Wall Street, o país se envolveu em um esforço com duração de dez anos para contornar os limites de endividamento impostos pela União Europeia.

Enquanto a crise se aproximava do ponto de ebulição, os bancos continuavam a procurar maneiras de ajudar a Grécia a postergar o dia do acerto de contas. No começo de novembro, três meses antes que Atenas se tornasse o epicentro da ansiedade financeira mundial, uma equipe do Goldman Sachs chegou à histórica cidade com uma proposta muito moderna a um governo que enfrentava dificuldades para pagar suas contas, relataram duas pessoas informadas sobre o encontro.

Os executivos do banco, liderados por Gary Cohn, presidente do Goldman Sachs, propuseram um instrumento financeiro que teria postergado a dívida do sistema de saúde grego para o futuro distante. O método funcionou no passado. Em 2001, pouco depois da admissão da Grécia à união monetária europeia, o Goldman Sachs ajudou o governo a tomar bilhões em empréstimos discretamente, segundo pessoas familiarizadas com a transação.

A operação foi escondida do público porque foi definida como transação cambial, e não como empréstimo, o que ajudou Atenas a cumprir as metas da União Europeia enquanto gastava mais do que podia.

Atenas optou por rejeitar a mais recente proposta do Goldman, mas, já que o país está sobrecarregado de dívidas e seus vizinhos mais ricos parecem inclinados a sair em sua ajuda, as transações dos últimos dez anos estão despertando questões sobre o papel de Wall Street no mais recente drama financeiro mundial.

Bancos e dívidas

Como na crise do "subprime" nos EUA e na implosão da seguradora AIG, derivativos financeiros desempenharam um papel importante na formação da dívida grega. Instrumentos desenvolvidos por Goldman Sachs, JP Morgan Chase e diversos outros bancos norte-americanos permitiram que os políticos mascarassem a captação adicional na Grécia, na Itália e, possivelmente, em outros mercados.

Em dezenas de transações em todo o continente, os bancos ofereceram dinheiro adiantado em troca de pagamentos pelos governos no futuro, de maneiras que permitiam excluir das contas públicas esses passivos. A Grécia, por exemplo, cedeu os direitos sobre receitas aeroportuárias e de loterias estatais por muitos anos.

A crise da Grécia representa o maior desafio já enfrentado pela moeda comum europeia, o euro, e para a meta de unificação econômica do continente. O país, no jargão dos banqueiros, é grande demais para quebrar. A Grécia deve US$ 300 bilhões ao mundo, e grandes bancos respondem por boa parte dessas dívidas. Uma moratória reverberaria em todo o planeta.

Uma porta-voz do Ministério das Finanças grego afirmou que o governo se reuniu com diversos bancos nos últimos meses, mas não aceitou nenhuma das propostas.

Wall Street não criou o problema da dívida europeia. Mas os bancos norte-americanos permitiram que a Grécia e outros países tomassem mais empréstimos do que podiam, em transações perfeitamente legais. Poucas regras governam a maneira pela qual países podem captar o dinheiro de que necessitam para cobrir despesas como as Forças Armadas e serviços de saúde.

"Se um governo quiser trapacear, há como trapacear", disse Garry Schinasi, veterano da divisão de vigilância de mercados de capitais no Fundo Monetário Internacional (FMI), que monitora a vulnerabilidade dos mercados mundiais de capitais.

Os bancos exploraram avidamente aquilo que era, para eles, uma simbiose altamente lucrativa com os governos perdulários. Embora a Grécia tenha rejeitado a proposta do Goldman Sachs em novembro de 2009, pagou ao banco cerca de US$ 300 milhões em honorários por organizar a transação de 2001, de acordo com executivos que conhecem a operação.

Derivativos como os usados na transação, que não são revelados ou documentados abertamente, reforçam a incerteza quanto à profundidade real dos problemas da Grécia e quanto à possibilidade de outros governos usarem truques de contabilidade extrabalanços. A maré do medo agora está subindo em outros países que enfrentam problemas econômicos, na periferia da Europa, e isso torna a captação mais cara para os governos de Espanha, Itália e Portugal.

Pecado orginal

Apesar de todos os benefícios que criou ao unir a Europa em torno de uma moeda única, o surgimento do euro veio acompanhado de um pecado original: países como Itália e Grécia entraram na união monetária com deficit maiores do que os permitidos sob o tratado que criou a moeda. Em lugar de elevar impostos ou reduzir gastos, no entanto, esses governos reduziram seus deficit artificialmente, por meio de derivativos.

"Os derivativos são um instrumento muito útil", disse Gustavo Piga, professor de economia e autor de um relatório sobre a transação italiana para o Conselho de Relações Exteriores. "Só são perigosos se usados para maquiar contas."

Na Grécia, a prestidigitação financeira foi ainda mais longe. Em uma espécie de venda de garagem conduzida em escala nacional, as autoridades gregas na prática hipotecaram os aeroportos e as rodovias do país, a fim de levantar dinheiro.

Embora truques contábeis como esses possam ser vantajosos em curto prazo, ao longo do tempo os resultados podem se revelar desastrosos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Grécia

A crise grega trouxe o debate sobre a contabilidade criativa na área pública. O texto a seguir trata deste aspecto.

Comissão Europeia vai investigar Grécia por camuflagem de dívida
Jamil Chade - O Estado de São Paulo 16/2/2010

Governo grego hipotecou dívida com apoio do Goldman Sachs e baixou endividamento para aderir ao euro

A Comissão Europeia abre uma investigação e quer explicações para a denúncia de que a Grécia e outros governos europeus teriam mascarado suas dívidas para poder aderir ao euro com a ajuda de grandes bancos internacionais. A denúncia já está sendo chamada de o “subprime europeu”.

Já a Alemanha pretende propor novas regras, exigindo total transparência de bancos e governos em relação a acordos fechados que possam interferir na contabilidade dos Estados.

Segundo uma reportagem publicada no fim de semana pelo jornal The New York Times, o governo grego fechou acordos de derivativos com o Goldman Sachs, permitindo que dados sobre a dívida pública fossem camuflados. O banco receberia o dinheiro de volta por meio do controle da renda da loteria no país e de taxas aeroportuárias.

A notícia provocou uma nova crise na União Europeia (UE) levantando dúvidas sobre a atuação dos bancos e deixando a moeda única europeia em sua pior crise.

No Reino Unido, deputados querem agora saber se o governo britânico também esteve envolvido em acordos como o da Grécia com o Goldman Sachs. Na próxima segunda-feira, o diretor do banco, Gerald Corrigan, será ouvido no Comitê de Finanças do Parlamento. Ontem, parlamentares oficialmente questionaram o governo para saber se esses acordos existiam. A resposta foi negativa por parte do gabinete de Gordon Brown.

Para entrar na zona do euro, governos precisavam ter em 2001 um déficit público de no máximo 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Para chegar a esse nível, os gregos teriam hipotecado sua dívida com bancos de investimentos. Em 1999, os gregos fracassaram no teste. Mas, segundo a reportagem, encontraram um meio de driblar as regras e os auditores.

A UE confirmou que a Grécia não passou essa informação à Eurostat, órgão de estatísticas da Europa. Segundo o porta-voz da comissão, Amadeu Altafaj, Bruxelas pediria novos dados aos gregos sobre como teriam sido fechados esse acordos. “A Eurostat pediu explicações às autoridades gregas”, afirmou o porta-voz. Segundo ele, será com base na resposta dos gregos que medidas serão tomadas.

A UE já abriu outro processo contra o ex-governo conservador da Grécia acusando Atenas de ter mentido em 2009 sobre sua dívida no relatório apresentado anualmente a Bruxelas.

Ontem, o governo grego revelou que a investigação partiu do próprio Ministério de Finanças. O resultado da pesquisa, entregue ao governo no dia 1º de fevereiro, não indicou quais teriam sido os bancos envolvidos. “Alguns dos acordos foram feitos para permitir que as taxas de juros (sobre a dívida) fossem jogadas para o futuro”, afirma o documento de 106 páginas, que agora segue para o parlamento grego. O relatório também fala em “interferência política” na elaboração das estatísticas oficiais no país.

Ontem, o ministro grego de Finanças, George Papaconstantinou, confirmou que o uso de acordos de swaps eram “legais naquela época”. Mas garantiu que Atenas não recorre mais a esses instrumentos. Em novembro, o Goldman Sachs teria enviado uma missão de alto nível à Grécia exatamente para negociar mais um acordo desses, jogando parte da dívida do setor de saúde para o futuro e, mais uma vez, camuflando números.

Na semana passada, o ex-presidente da Agência Nacional de Administração da Dívida da Grécia, Christoforos Sardelis, confirmou que o Goldman Sachs havia fechado um acordo de US$ 10 bilhões em transferência de bônus emitidos pelos gregos em dólares e ienes. Ao converter esses bônus para euros e baseado em patamares históricos da moeda, o banco teria conseguido injetar US$ 1 bilhão a mais nos cofres gregos, com a promessa de que seriam pagos no futuro.

O governo alemão também mostrou insatisfação com o escândalo. “O Goldman Sachs quebrou o espírito do Tratado de Maastricht (que estipulou as condições de adesão ao euro), ainda que não esteja claro se violou as leis”, afirmou Michael Meister, porta-voz para temas financeiros do partido da chanceler Angela Merkel.

Berlim quer propor novas leis para exigir que governos e bancos publiquem os acordos fechados, exatamente para evitar novos casos. Segundo o The New York Times, a Itália teria fechado um acordo parecido com o banco JP Morgan.

A medida adotada pelos gregos pode não ser ilegal. Mas, além da UE, as agências de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) e Fitch também pediram informações aos gregos. A S&P, Moody’s e Fitch rebaixaram o rating da Grécia em dezembro. Já o Goldman Sachs, que optou por não dar declarações ontem, obteve em 2009 lucros líquidos de mais de US$ 13 bilhões.

Na Espanha, a crise também leva as autoridades a abrir investigações. O Centro Nacional de Inteligência está apurando se houve pressões de investidores e, diante de ataques duros, qual foi o papel da imprensa anglo-saxã em tentar relacionar a crise grega com a situação na Espanha.

A investigação foi aberta a pedido do governo espanhol, irritado com as repetidas citações do país ligado à situação grega em termos de risco de default. O que Madri quer saber é se as informações e análises de bancos esconderia algum interesse camuflado ou se seria apenas uma dinâmica dos mercados.

O governo espanhol alertou que não entendia os ataques duros, como o do economista Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, apontando que a Espanha seria “uma ameaça ao euro”. Para o ministro do Desenvolvimento, José Blanco, “nada do que está ocorrendo no mundo, incluindo os editoriais de jornais estrangeiros, é casual ou inocente”.

15 fevereiro 2010

Rir é o melhor remédio

Numa paródia do Prêmio Nobel de Economia, a mais elevada distinção da área, este blog criou o prêmio Dinamite em Economia. (O cientista Alfred Nobel ficou rico ao inventar a dinamite)

O objetivo é premiar os economistas que mais contribuíram para crise econômica mundial. Lista dos candidatos inclui os seguintes nomes:

Fischer Black and Myron Scholes
Eugene Fama
Milton Friedman
Alan Greenspan
Assar Lindbeck
Robert Lucas
Richard Portes
Edward Prescott and Finn E. Kydland
Paul Samuelson
Larry Summers

Para votar, clique aqui. Só é possível votar uma vez.

O melhor congresso de Contabilidade do Brasil

Para aqueles que desejem saber sobre o melhor congresso de contabilidade do Brasil, aqui o link para os seguidores.

Remuneração dos banqueiros 2

Qual o interesse da contabilidade pela remuneração dos banqueiros? Podemos citar pelo menos três motivos que tornam interessante ler sobre o assunto.

Em primeiro lugar, a remuneração representou uma importante discussão contábil sobre a forma de contabilização dos valores. Basicamente a discussão estava em como contabilizar alguns benefícios indiretos, como as opções de ações. Existiam duas correntes, uma que defendia que não deveria aparecer no resultado do exercício da empresa e outra que considerava que o reconhecimento seria como despesa, influenciando o lucro do exercício. Esta discussão foi relevante na década de noventa já que alguns pesquisadores defendiam que considerar as opções como despesas teria impacto sobre o desempenho de empresas em fase de crescimento, reduzindo sua atratividade e, por conseguinte, o volume de investimento. Acredito que existe um consenso que as opções são despesas, apesar de alguma resistência por parte dos executivos de empresas com baixo retorno.

Outro aspecto importante da discussão da remuneração dos banqueiros está em torno da evidenciação das informações. Esta é uma questão mais tropical, já que a transparência destas informações já existe em outros países. Naturalmente que evidenciar estes valores ainda será objeto de resistência por parte dos banqueiros brasileiros.

Finalmente, a discussão sobre remuneração apresenta uma questão interessante dentro da teoria da agência. Esta teoria mostra os conflitos entre principal e agente, discutindo a existência de maneiras de reduzir seus efeitos. Na situação da remuneração, o agente (o executivo) possui interesse de que a remuneração seja a maior possível; mas o principal (os acionistas) provavelmente está interessado em desempenho. Veja o caso do Citi. Apesar de este banco ter apresentado nos últimos anos um baixo desempenho, inclusive sendo socorrido pelo governo dos Estados Unidos, o seu executivo principal, Pandit, recebeu 10,8 milhões de dólares em compensação. Nesta situação específica, provavelmente os interesses do agente estão sobrepujando os interesses dos acionistas, já que maior remuneração significa menor lucro.

Remuneração dos banqueiros

A questão da remuneração dos banqueiros tem despertado muito interesse na imprensa econômica. Uma das questões apresentadas é até que ponto os órgãos reguladores devem interferir no processo que representa uma decisão interna.

Dois gráficos apresentados aqui são interessantes e contribuem para a discussão. Ambos são favoráveis a intervenção neste processo.

O primeiro gráfico foi retirado do blog espanhol El Blog Salmon e mostra a remuneração recebida pelo ex-secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson. Durante seu mandato ocorreu a crise financeira. Os valores apresentados mostram a razão pela qual Paulson não fez muito por medidas contra os excessivos recebimentos dos executivos: quando fazia parte da Goldman Sachs, Paulson um valor expressivo de remuneração.


O segundo gráfico é do blog de Ritholtz e compara a remuneração dos executivos (do lado esquerdo) com a capitalização do mercado, do lado direito. Os bancos chineses pagam valores proporcionalmente reduzidos para seus executivos. Mas os banqueiros estadunidenses recebem valores proporcionalmente elevados.


Nota de zero rúpia

Na Índia uma organização sem fins lucrativos desenvolveu um projeto para lugar contra a corrupção. Apesar da corrupção ser um crime punido, é raro existir resistência por parte das pessoas comuns quando funcionários públicos exigem o "do café". A ONG lançou uma nota de zero rúpia, moeda local, que representa uma declaração contra a corrupção.

Conforme o sítio Nudge, o programa é um sucesso já que existem pessoas dispostas a utilizar as notas. Elas tem pouco a perder e as notas é um sinal de que existe uma organização que está lutando contra a corrupção.