Translate

07 fevereiro 2010

Salário, Notícia e Demanda de Vestibular



Quando se toma a demanda do vestibular para profissões diferentes encontramos cursos, como medicina, são altamente concorridos. Na Universidade de Brasília a relação entre candidato e vaga para o futuro doutor é de 81: para cada vaga, 80 não irão passar. Por outro lado, outros cursos possuem uma demanda reduzida. É o caso de contábeis, onde na UnB a concorrência é de seis candidatos por vaga. Se considerar que a UnB possui um curso com programa de mestrado e doutorado, com tradição no mercado e muitos professores na graduação com mestrado e doutorado, esta concorrência é bastante reduzida.

O que poderia estar gerando esta distorção? O gráfico 1 faz uma comparação entre a demanda do vestibular e o salário do profissional. A informação do salário do profissional foi obtida no IBRE, que faz parte da Fundação Getúlio Vargas. É possível perceber visualmente uma relação entre os dois, onde quanto maior o salário, maior a demanda no vestibular. Ou seja, os futuros profissionais estão atrás do dinheiro. Em termos estatísticos a relação, medida pelo coeficiente de correlação de Pearson, nome em homenagem ao grande estatístico de criou esta medida, é 0,72. Este coeficiente de Pearson varia entre -1 e +1, sendo que valores próximos a zero indicam uma baixa correlação e valores próximos aos extremos possuem elevada correlação.

Uma medida auxiliar do coeficiente de Pearson é o grau de significância. Ele mede a qualidade de Pearson. Neste caso, a significância é de 2,9% e quanto menor maior a qualidade da relação. Outra forma de analisar é afirmar que existem 97,1% (ou 100 menos 2,9) de chance da relação entre salário e demanda do vestibular estar correta.

O segundo gráfico (abaixo) mostra a relação entre a demanda do vestibular e o número de vezes que a profissão apareceu nos jornais nos últimos dois anos. Esta relação é melhor ainda, pois o coeficiente de Pearson é de 0,945, muito perto de 1. Em termos mais claros, a quantidade de notícias sobre uma profissão aparentemente possui uma relação com a demanda do vestibular. O ponto sozinho no gráfico é o curso de medicina. O termo "médico" aparece muito nos jornais e a demanda do vestibular é também elevada. Como a significância do coeficiente de Pearson é muito próxima de zero, podemos afirmar que existe uma relação entre as duas variáveis.

No segundo gráfico está marcado um ponto, que se refere ao curso de Contabilidade. Apesar do termo "contador" aparecer muito nos jornais, a demanda é reduzida. Existem duas explicações para isto, uma decorrente da falha da pesquisa e outra mais técnica.

A falha da pesquisa é a seguinte: o termo contador não está somente associado à profissão. É comum aparecer no jornal termos como "contador de história", "contador de número de vezes que um sítio é acessado" e até "Contador", um famoso ciclista espanhol. Então, parte do número de vezes em que a palavra aparece não deveria se considerado. Mas o termo "contador" também aparece nos jornais nas páginas policiais, quando a polícia prende um grupo de bandidos e um deles é o "contador". Este é um caso onde a profissão não é bem representada.

De qualquer forma, os dois gráficos devem ser considerados com ressalvas em razão da pequena amostra (só dez profissões, com demanda limitada a UnB) e pelo fato de que correlação não é sinal de relação causa-efeito.


05 fevereiro 2010

Artigos para Periódico

A revista Contabilidade, GEstão e Governança está aceitando artigos científicos. Os artigos podem ser encaminhados ao editor (este blogueiro) por e-mail (Infelizmente o sítio da revista, mantido pelo IBICT, está apresentando defeitos constantes).

O leque de artigos é bastante amplo e estamos fazendo um grande esforço no sentido de dar uma resposta aos autores em até três meses.

Encaminhem...

Rir é o melhor remédio

Invenções Malucas






Teste #227

O que este grupo de empresas possui em comum?

Grupo A. American Motors, Studebaker, Eastman Kodak, Maytag e National Sugar Refining.

Grupo B. Boeing, Campbell Soup, Deere, IBM e Whirlpool.

Grupo C. Cisco, eBAy, McDonald's, Microsoft e Yahoo.


Resposta do anterior: Espanha. Fonte: Financial times

Links

O acordo Shell Cosan segundo a The Economist

EMI com continuidade questionada pela KPMG

2 bilhões de dólares: o custo do recall da Toyota

O próximo país na crise

O computador muda o jeito da pessoa jogar xadrez

Imposto no Brasil

Imposto bom é imposto baixo
Alexandre Barros
O Estado de São Paulo - 5/2/2010

A retórica governamental esquerdista insiste em que o governo é magnânimo e cobra impostos dos ricos para redistribuí-los aos pobres. Estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão governamental, mostrou, entretanto, que nem o rei é tão justo quanto quer parecer, nem o leão é tão manso quanto diz sua propaganda.

Os impostos cobrados dos pobres são muito mais altos do que os cobrados dos ricos.

Agora temos números mais exatos: quem ganha até dois salários mínimos carrega uma carga tributária bruta de 53,9% e trabalha 197 dias do ano só para pagar impostos. Quem ganha mais de 30 salários mínimos têm uma carga bruta de 29% e trabalha apenas 106 dias para pagar os gastos do governo. Os que estão entre os extremos se distribuem numa escala em que, sempre, o prejuízo maior é para os mais pobres. [1]

O governo extrai 91 dias mais da vida dos mais pobres, tanto para cobrir seus gastos quanto para sustentar níveis cada vez mais escandalosos de roubo do dinheiro público. Os otimistas acham que a corrupção come 20% do total arrecadado, os pessimistas chegam a 30%.

Para ficar claro: os mais pobres trabalham para o governo de 1º de janeiro até 16 de julho. Os mais ricos trabalham só até 16 de março.

É preciso dizer com todas as letras e números, por uma questão de justiça e ética: os mecanismos fiscais do governo maltratam muito mais os pobres do que os ricos. O governo cobra caro, não provê serviços básicos e tira muito mais renda e vida (tempo é vida!) dos pobres. Quase o dobro do que tira dos ricos.

O governo contra-argumenta que, para compensar o que extrai dos pobres, inventou o Bolsa-Família. Em primeiro lugar, é sempre bom lembrar que o senador Eduardo Suplicy (que chateia com isso mais gente do que dez elefantes) está certo: a linhagem do Bolsa-Família veio da Inglaterra, de Juliet Rhys-Williams, política liberal inglesa, e foi retomada na década de 1960 por Milton Friedman, papa da escola liberal de Chicago.

Em segundo lugar, costuma ser esquecido que o aspecto mais impactante do Bolsa-Família sobre a dinâmica da economia como um todo não tem que ver com seu suposto caráter redistributivo (um dinheirinho extra para as pessoas que ganham pouco), mas sim com seu caráter libertário: receba e gaste como quiser!

Este é o ponto fundamental: gaste como quiser (desde que mantenha os filhos na escola). Vejamos as consequências macroeconômicas disso em dois contextos.

Desde a posse de Lula, o crescimento foi maior no Nordeste do que em qualquer outra região do Brasil. Por quê? Porque o Bolsa-Família monetizou a economia do Nordeste e fez com que passasse a haver negócios onde antes não havia nada [2]. Estimulou o crescimento de um capitalismo básico no qual milhões de recebedores têm total liberdade de escolher, sem que ninguém lhes diga, como vão gastá-lo.

Quando fazem escolhas no livre mercado, pessoas movimentam a base do sistema capitalista: pequenos empresários recebem sinais de que tipos de lojas são mais procurados, descobrem os tipos de produtos que devem fabricar, atendem melhor a clientela (que, aliás, não existia antes), vendem mais, fabricam mais e aumentam o bem-estar de todos.

A liberdade individual de utilizar o dinheiro com total livre-arbítrio afeta positivamente todas as etapas do ciclo econômico capitalista e beneficia tanto os mais pobres quanto os mais ricos. Se olharmos o Bolsa-Família desse ponto de vista, o copo não está meio vazio, está meio cheio.

Na retórica fiscal em vigor, os mais pobres são obrigados a dar seu tempo e sua renda ao governo (é bom não esquecer que os impostos indiretos colaboram muito nessa injustiça) e, depois, ainda têm de ver o cofre do porquinho da corrupção ficando cada dia mais gordo, em todos os níveis e setores de governo.

O governo Barack Obama fez o contrário daqui. Entrou pelo caminho oposto na hora de lidar com a crise que estourou em 2009. Em vez de reaquecer a economia reduzindo impostos e estimulando o livre consumo, o governo pegou o dinheiro de todos e o distribuiu entre um punhado de bancos e empresas que fizeram o melhor lobby.

Extremamente intervencionistas, os burocratas decidiram que bancos e empresas deveriam receber o dinheiro dos pagadores de impostos. Não funcionou. E não vai funcionar porque esse sistema favorece as empresas mais ineficientes na produção, premiando quem tem os melhores lobistas.

No Brasil, o governo fez coisa parecida, mas de maneira um pouco menos injusta: privilegiou alguns setores (principalmente o automobilístico e o da chamada linha branca), mas concedeu aos cidadãos o direito de, ao menos, escolherem a que fabricante e/ou revendedor dariam seu dinheiro, comprando seu veículo ou seu eletrodoméstico com isenção de impostos.

Tanto lá quanto cá, os Zés-da-Silva e os Joes-Six-Pack ficaram fora a da farra.

No Brasil, apesar dessas isenções, a arrecadação desses impostos subiu. Ou seja, baixar o imposto aumenta a arrecadação. Com preços mais baixos, mais pessoas compram mais. É a diferença entre o modelo Daslu e o modelo Lojas Marisa.

Ainda falta bastante para a burocracia e os políticos reduzirem seu apetite pelo nosso dinheiro e sua tentação de se corromperem, até aprenderem que imposto baixo aumenta a satisfação geral e preserva a liberdade individual quanto ao uso do próprio dinheiro. Isso aumenta a arrecadação, dinamiza a economia, torna as pessoas mais felizes e maltrata menos os pobres.

Está na hora acabar com o escárnio de dizer que o leão é manso. Como lembrava o presidente Fernando Henrique Cardoso, imposto chama-se imposto porque é imposto, senão se chamava voluntário.

É hora de matar o leão, não porque ele é uma farsa, mas porque ele é malvado.


[1] Os impostos indiretos.
[2] Este é um aspecto interessante do Bolsa Família.