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04 maio 2009

Custo da Conversão

(…) esses executivos estão preocupados com o custo da conversão. A SEC prevê que os primeiros a adotarem a IFRS poderão incorrer num custo de 32 milhões de dólares (...) James Campbell, controller da Intel, estimou que a conversão a IFRS irá custar para sua empresa 50 milhões. (...) A WellPoint, que teve 61,1 bilhões de receitas em 2007, estima que irá custar 80 milhões para o primeiro ano de implementação, um número que irá reduzir para 2 milhões no terceiro ano. O controller da Martin Miller duvida que investidores irão querer que suas empresas faça um “significante” investimento em IFRS. “Dado o estado atual da economia, muitas empresas potencialmente não possuem fundos disponíveis para gastar com o projeto de adoção da IFRS”


CFOs on IFRS: Forget about It
Sarah Johnson - 17 Abril 2009 - CFO.com

Faz sentido esta diferença?

No início do mês o jornal Valor Econômico publicou um texto sobre a avaliação dos ativos do grupo Iguatemi. Através de uma empresa de consultoria, o grupo Iguatemi apurou um valor de mercado para seus onze shoppings centers em R$4,2 bilhões. Retirando a parcela de terceiros da avaliação, isto significa um valor de R$2,2 bilhões. O próprio jornal destaca que o valor de mercado da empresa na bolsa de valores é de R$907 milhões.

Ainda segundo a notícia, utilizou-se a metodologia do fluxo de caixa descontado por um período de dez anos. As taxas de descontos usadas dependiam da maturidade do empreendimento e dos riscos envolvidos. Além disto, não se consideraram na avaliação cinco novos projetos, assim como os terrenos da empresa.

A empresa que fez avaliação, CB Richard Ellis, anuncia-se como líder mundial na área imobiliária. Mas existe alguma coisa errada neste processo.

Observe o trecho em negrito da notícia. O fluxo de caixa foi avaliado por um período de dez anos. Isto significa que a avaliação não considerou o fluxo de caixa da perpetuidade. Este é o fluxo de caixa que irá ocorrer após os dez anos. Em alguns setores o valor deste fluxo de caixa é relevante, como é o caso de setores onde a maturação do empreendimento é longa.

Não considerar o fluxo da perpetuidade só é compreensível quando a taxa de desconto é elevada – que poderia ser o caso brasileiro nos períodos de maior risco. Entretanto, a conseqüência deste fato é que o valor estimado pela empresa de consultoria está subestimado. Ou seja, o valor de R$2,2 bilhões apurados é um valor por baixo.

Agora vamos considerar o valor do mercado para o Iguatemi. Esta empresa está sendo avaliada abaixo de R$1 bilhão. Como foi obtido este valor? Basicamente multiplica-se o valor de negociação recente das ações pelo número de ações existentes. O preço da ação é determinado pelo mercado, mas podemos dizer que um investidor que paga por uma ação da empresa Iguatemi tende a avaliar o potencial futuro de geração de riqueza. Apesar dos inúmeros defeitos no processo de avaliação pelo mercado, não podemos dizer que os investidores sejam bobos. Se o preço atual da ação da Iguatemi estiver abaixo da riqueza potencial da empresa, haveria um movimento de compra da ação, que puxaria o preço para cima.

A avaliação usando o preço da ação pode estar subestimada já que não se considera o valor do controle. Quando compramos uma ação no mercado seremos acionistas minoritários. Em países onde o direito do minoritário nem sempre é respeitado, isto significa que o preço da ação para um minoritário é inferior ao preço com a aquisição do controle. Quanto seria o valor do controle? Este é um valor difícil de calcular e os métodos existentes são frágeis. Entretanto, mesmo no Brasil, seria difícil imaginar que a diferença entre uma ação minoritária e uma ação com controle seja de 100%. Seria necessário muito derespeito ao minoritário para que o controle tivesse este ágio.

Em outras palavras, será possível imaginar uma diferença substancial? Provavelmente não. Quem está errado: o mercado ou a empresa de consultoria? Será que o fato da empresa de consultoria ter sido contratada pela administração do Iguatemi não influenciou no valor obtido?

03 maio 2009

Rir é o melhor remédio


Adaptado: Aqui

LIFO

Existe um boato de que os Estados Unidos estão pensando em proibir o uso do LIFO para avaliar estoques. O LIFO, ou Ultimo a Entrar Primeiro a Sair, é um método que avalia os estoques de uma empresa baseado na premissa que os preços mais recentes serão levados a resultado.

A principal razão para a reação é tributária, conforme alerta Elliot Zwiebach em Industry Concerned About LIFO Accounting Changes (13/4/2009, Supermarket News, 1, Volume 57; Number 15). Já que os produtos vendidos são comprados por preços cada vez maiores, em razão da inflação, o LIFO tende a reduzir o lucro tributável.

Nos Estados Unidos o LIFO é legal desde a década de 30, do século passado, e é usado por cerca de dois terços dos varejistas e distribuidores. Seu uso difundiu-se na década de 70 e 80, quando a inflação aumentou.

A estimativa da reportagem é que a proibição do LIFO pode representar receitas de 60 bilhões de dólares para o governo.

O caso Sadia

Seria interessante que os professores de controladoria pudessem discutir em sala de aula o caso Sadia. Como uma empresa deste porte permitiu um prejuízo de 2,5 bilhões de reais com derivativos.

Após a notícia, a providência da empresa foi demitir do diretor financeiro, providenciado um culpado. Mas esta medida é muito simplista, pois certamente a ausência de controles é de responsabilidade da presidência. É sempre bom lembrar um conceito importante da teoria administrativa:

Você delega funções, mas não responsabilidades


Isto diz muito sobre o fato da diretoria imputar no ex-diretor a culpa pelo prejuízo. Um texto da Gazeta Mercantil (Ex-diretor da Sadia diz que se reportava ao conselho, 8/4/2009, p. 1, Fabiana Batista) mostra que o ex-diretor, Adriano Lima Ferreira, afirmou que reportava diretamente ao Conselho de Administração. Uma consulta a página da empresa na internet mostra que são as pessoas que compõe este Conselho.

Mais ainda, Ferreira afirmou que as operações que trouxeram prejuízo em 2008 foram as mesmas que corresponderam a 60% do lucro da empresa nos últimos seis anos.

Mas observe o que afirmou o ex-diretor para Folha de São Paulo ("A Sadia sabia de tudo", afirma ex-diretor, 9/4/2009, Cristiane Barbieri)

FOLHA - As de derivativos tóxicos também?
FERREIRA - As operações dois para um começaram em meados de 2007. A empresa ficou mais de um ano fazendo essas operações, que tiveram várias auditorias. Quando se fechava uma operação desse tipo, a boleta ia para nossos operadores, para a contabilidade e à controladoria da companhia, que era separada da área financeira. Ia também para a auditoria interna e para o conselho de administração. Pela atipicidade da cultura financeira da empresa, a auditoria independente, a KPMG, tinha uma equipe financeira destacada para auditar a área financeira da Sadia.

FOLHA - Não era uma auditoria de empresa não financeira?
FERREIRA - Havia uma auditoria principal para a área de alimentos, que buscava apoio numa equipe de auditores de bancos, corretoras e instituições financeiras, porque a Sadia tinha uma cultura financeira forte, operava todos os instrumentos disponíveis no mercado. As operações, sejam derivativos ou não, sempre foram contabilizadas, auditadas e aprovadas em várias instâncias. Havia alçadas rigorosamente atendidas e relatórios mensais.

FOLHA - Eles eram detalhados?
FERREIRA - Não havia o nível de detalhamento [de todas as operações] porque não fazia parte da cultura da companhia. Você apresentava resultados que as operações deram, a exposição dessas operações, simultaneamente com apresentações da área de risco. Em 2003, determinou-se que o limite de risco do câmbio era de 20% sobre o patrimônio, equivalente a R$ 600 milhões ou R$ 700 milhões de perda assumida. Só que havia 95% de confiança nessas operações e 5% de risco. Esse "modus operandi" era o dia a dia da companhia. Agora, de um dia para outro, dizer que não sabia dessas operações? Como não sabia? Tinha diversas auditorias e formas de controle que eram apresentados todo mês.

FOLHA - O conselho de administração e a presidência executiva sabiam das operações?
FERREIRA - As operações eram apresentadas a eles. Todas foram registradas, auditadas e aprovadas. Quando aconteceu uma crise desse tamanho, não só a Sadia, mas centenas de empresas no Brasil, no México e na Ásia, principalmente, tiveram os mesmos problemas. Quando se faziam essas operações, usavam-se como base cenários e probabilidades que, quando colocados nos modelos [econométricos], era difícil de a perda não compensar seu uso. Tanto é que centenas de empresas os utilizavam.

FOLHA - Por que a área financeira não se reportava à presidência executiva?
FERREIRA - Nos seis anos em que eu estive lá, 60% dos resultados da companhia eram de operações financeiras. Se olhar para trás, o percentual era maior. A empresa só teve lucro em alguns anos por causa da área financeira. Até o primeiro semestre de 2008, 80% dos lucros vieram dessas operações específicas. A estrutura de governança da companhia espelhava uma cultura financeira, de uma empresa que tinha uma corretora, que tinha uma tesouraria ativa, que tinha um projeto de criar um banco, que aconteceu. A companhia sempre teve um risco financeiro. A estrutura, quando o presidente-executivo assumiu, em 2004, tinha forma do reporte da diretoria financeira para o conselho [por causa dessa cultura]. Mas contabilidade, controladoria e jurídico, que aprovava as operações, estavam sob a área executiva. Se fechasse uma operação [de derivativo] hoje, no mesmo dia o boleto estava na mão dele [do presidente-executivo].
(...)


Aproveitem estudiosos da controladoria. Este é um excelente caso para discutir sobre controles, auditoria, responsabilidade, etc.

Iguatemi

Iguatemi tem R$ 2,2 bi em ativos
8 Abril 2009 - Valor Econômico

O valor de mercado dos 11 shopping centers nos quais o grupo Iguatemi possui participação acionária totaliza R$ 4,2 bilhões. A parte que equivale à companhia nesses empreendimentos é de R$ 2,2 bilhões, cifra bem superior ao valor de mercado da Iguatemi na Bolsa de Valores, que está em torno de R$ 907 milhões.

O cálculo do valor dos ativos foi encomendado à consultoria CB Richard Ellis e, segundo comunicado da Iguatemi, será utilizado pelo grupo na reconciliação das demonstrações financeiras para os padrões contábeis internacionais do IFRS (International Financial Reporting Standard) .

Segundo a Iguatemi, a metodologia utilizada para avaliar os empreendimentos foi o "fluxo de caixa descontado" de cada empreendimento, pelo período de 10 anos. Os fluxos foram descontados por taxas diferentes, de acordo com a maturidade do empreendimento e riscos envolvidos. Os R$ 2,2 bilhões apurados para o valor dos ativos da Iguatemi não consideram os cinco novos projetos já anunciados nem o banco de terrenos da empresa, que é presidida por Carlos Jereissati Filho.

Buffett e a conferência para acionistas da BH


O Wall Street Journal trouxe uma série de reportagens sobre a famosa conferência com os acionistas da B

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