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07 abril 2009

Ágio e Intangível

Ágio e intangíveis são principais desafios para fusões e aquisições
Gazeta Mercantil

São Paulo, 7 de Abril de 2009 - A combinação entre o agravamento da crise internacional e o processo de convergência às novas normas internacionais de contabilidade já surte efeitos práticos na formatação de fusões e aquisições no mundo todo. O principal desafio das empresas envolvidas nesse tipo de transação será saber registrar com equilíbrio os valores atribuídos ao ágio das operações. Também será importante contabilizar adequadamente os ativos intangíveis existentes na empresa adquirida.

Em um momento de enorme volatilidade do mercado de capitais, o ágio - que representa em uma fusão a capacidade de ganhos futuros - está mais sujeito à perda de valor. Errar seu cálculo pode gerar insegurança para fundos de private equity e investidores institucionais, que precisam levantar fundos para levar à frente processos de compra.

Essas conclusões são apontadas por um estudo global preparado pela Ernst & Young, cedido com exclusividade à Gazeta Mercantil. O levantamento, que considerou transações realizadas por 709 companhias de 21 países até 2007, identificou que, na média, o ágio representou 47% do valor pago pelas companhias.

Já a contabilização de ativos intangíveis, onde entram, por exemplo, marcas e listas de clientes, somou 23% do total desembolsado pelos negócios. "Os times que organizam fusões e aquisições estão tendo mais trabalho com a chegada do IFRS. As empresas podem ver reduzidas suas perspectivas de lucros e ganhos futuros quando a contabilização dos intangíveis não é a adequada", explica o sócio da Ernst Eduardo Redes. "Ou o que é ainda pior para os investidores: surge a notícia de que aquilo que custou 100 pode valer apenas 80", diz.

Pelas regras do International Financial Reporting Standards (IFRS), a apuração do ágio sobre rentabilidade futura, chamado por especialistas em contabilidade de goodwill, não pode sofrer amortização. No entanto, explica Redes, as companhias têm a possibilidade de, anualmente, fazer um teste de cenário. Chamado de teste de impairment, tem o objetivo de observar se o valores ajustados anteriormente - de goodwill ou intangíveis - sofreram perdas e devem ser remarcados. "Nas operações em que o ágio é o principal componente de valor, muitas empresas estão considerando que o valor da companhia adquirida pode sofrer perdas re-levantes", afirma o especialista.

Mais ágio

Os setores de bens de consumo e tecnologia são, segundo o estudo da Ernst, aqueles cujo ágio nas transações representou a maior fatia dos valores envolvidos em fusões e aquisições: 65% e 60%, respectivamente.

Outros segmentos cujo percentual de ágio ultrapassa a metade dos montantes desembolsados pelas companhias em fusões e aquisições são os de mídia e entretenimento e o de bancos de investimentos.

Os setores de seguros e telecomunicações, cujas combinações de negócios são geralmente motivadas pela aquisição de carteiras de clientes, são os que mais intangíveis desse tipo reconheceram e contabilizaram em fusões e aquisições: 44%.

A marca foi o segundo intangível mais comum, aponta a pesquisa. Surgiu em 31% dos casos, seguido pela incorporação da tecnologia, em 20% dos negócios.

Na contramão

As indústrias de construção civil e de petróleo e gás estão na ponta oposta. São aquelas cuja maior parte do valor pago na fusão equivale a ativos tangíveis, como equipamentos ou bens materialmente palpáveis. Eles representam 62% do valor no caso da primeira e 52%, na segunda.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Luciano Feltrin)

Contabilidade e Crise

A reputação manchada dos EUA
Paul Krugman, The New York Times *
O Estado de São Paulo - 31/3/2009

Há dez anos, a capa da revista Time estampava Robert Rubin, então secretário do Tesouro, Alan Greenspan, então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e Lawrence Summers, então vice-secretário do Tesouro. A revista chamou a trinca de “comitê para salvar o mundo”, creditando-lhe a condução do sistema financeiro global numa crise que parecia aterrorizante na época, embora pareça um pequeno solavanco comparada ao que estamos enfrentando hoje.

Os três homens naquela capa eram americanos, mas ninguém estranhou isso. Afinal, em 1999, os Estados Unidos eram o líder inconteste da resposta global à crise. Esse papel de liderança só em parte se baseava na riqueza americana; num grau importante, ele refletia também a estatura da América como um modelo exemplar. Todos achavam que os EUA eram o país que sabia lidar bem com as finanças.

Como os tempos mudaram.

(...) É penoso ler hoje uma palestra feita por Summers no início de 2000, quando a intensidade da crise econômica dos anos 1990 estava diminuindo. Discutindo as causas daquela crise, Summers apontou coisas que faltavam aos países em crise - e que, por implicação, os EUA possuíam. Essas coisas incluíam “bancos bem capitalizados e supervisionados”, e “contabilidade corporativa transparente e confiável”. Bem, bem. (...)


Grifo meu.

Observe como isto é coerente com a citação seguinte:

Cada uma das três contrações passadas nos Estados Unidos - a recessão de julho de 1990 a março de 1991, a recessão de março a novembro de 2001 e a recessão que começou em dezembro de 2007 - envolveram escândalos de corrupção. (...) Elas são simples pois sempre envolvem a violação de princípios elementares de contabilidade (...)


George Akerlof e Robert Shiller - Animal Spirits - p. 29-30

Crise e Contabilidade

As autoridades regulatórias federais dos Estados Unidos para o setor bancário devem se encontrar nesta semana para discutir como serão analisados os resultados dos testes de resistência que o governo vem realizando sobre as 19 principais instituições bancárias americanas, segundo reportagem do "The Wall Street Journal".

Os testes foram anunciados no fim de fevereiro, para determinar se as maiores instituições bancárias têm capital suficiente para aguentar o impacto de um ambiente econômico como o atual.

Os testes vão avaliar se os bancos conseguiriam se manter mesmo com uma taxa de desemprego no país acima de 10% (atualmente está em 8,5%) e com uma queda de mais 25% nos preços dos imóveis, destaca o "WSJ". Bancos com mais de US$ 100 bilhões em ativos estão passando pelos testes, que estabelecerão a necessidade de novas injeções de capital ou de outras formas de ajuda por parte do governo.

Entre os temas a serem discutidos nesta semana no encontro, as autoridades regulatórias devem também avaliar o impacto que a flexibilização das normas de avaliação de ativos, determinada na quinta-feira pelo Fasb (Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira, na sigla em inglês), poderá ter sobre os bancos. Com a flexibilização, os auditores terão maior margem de manobra para avaliar o real valor de ativos sem liquidez.

A norma modificada, chamada "mark-to-market", obriga as instituições financeiras a avaliar seus ativos no valor de mercado. Nos casos de ativos podres (com alto risco de calote) herdados da bolha imobiliária, dificilmente recuperáveis, o valor atual (ante o real) é considerado como muito baixo, causando grandes perdas para os bancos.

Além de evitar que as instituições financeiras sofram grandes baixas contábeis, a medida também abre espaço para um aumento dos empréstimos na economia.
(...)

EUA vão discutir teste de resistência
Valor Econômico - 7/4/2009

Acordo da Basileia e a Crise

A raiz da crise financeira que aflige o mundo é o Acordo da Basileia, disse o banqueiro Luiz Cezar Fernandes, em entrevista para o podcast da administradora de recursos de terceiros Rio Bravo.

(...) Segundo Fernandes, o Acordo da Basileia, referência à cidade onde fica a sede do Banco para Compensações Internacionais (BIS), desencadeou a crise atual ao "engessar os bancos de uma maneira tal que todos tentaram arrumar uma alternativa para fazer as mesmas coisas de antigamente". O Acordo da Basileia amarrou o capital mínimo dos bancos aos risco dos ativos possuídos.

A rigidez do acordo, explicou Fernandes, fez com que os bancos comerciais começassem a operar como banco de investimentos nas suas holdings. "Então houve uma mistura, quer dizer, banco de investimento virou meio banco comercial e vice-versa, distorcendo todo o sistema."

Para ele, o pior que pode acontecer é aumentar a regulação dos mercados. Mais eficiente é o controle, como existe no Brasil e que falhou nos Estados Unidos ao não cobrir fundos hedge e administradores de recursos. (...)

Para banqueiro, Basileia desencadeou crise - 30 de Março de 2009 - Valor Econômico

Consórcios

A seguir, um trecho de um artigo onde se discute o conceito de entidade:

Em seus artigos iniciais, a nova lei [lei 11795/2008] traz o princípio da prevalência do interesse coletivo sobre o individual e o da segregação do patrimônio de cada grupo administrado em relação aos demais e ao da própria sociedade gestora dos recursos. Assim, privilegia-se a continuidade do grupo e sua autonomia financeira: os recursos dos grupos não se confundem com os da administradora, não integrando seus bens e direitos para fins de liquidação extrajudicial e não podendo ser dados em garantia de seus débitos. A nova lei atribuiu aos administradores a responsabilidade pelo gerenciamento das contribuições ao fundo comum. São eles depositários até a satisfação das obrigações do contrato de adesão ao grupo. Responderão pessoal e solidariamente, tenham ou não culpa, pelos danos ao grupo.

Fabio de Almeida Braga A nova regulamentação dos consórcios
30 de Março de 2009 - Valor Econômico

Auditoria e Continuidade


O jogador Carlos Tevez deixou o Corintians em 2006 para jogar no West Ham, na Inglaterra. Na sequência, ele foi contratado pelo Manchester United, clube mais tradicional.

Esta última transação sempre foi vista como suspeita. Segundo o The Guardian (
West Ham settle for quick sign-off on Tevez, Matt Scott, 31/3/2009) a transferência pode gerar problemas para o West Ham. A ameaça é um multa de 45 milhões por parte do Sheffield United.

O elevado valor levou os auditores do West Ham (Deloitte) a pressionar o clube com garantias financeiras antes que confirmar a continuidade.

Distribuição de Dividendos

30 de Março de 2009 - As incertezas em relação aos rumos da crise internacional e a escassez de crédito no sistema financeiro criaram um dilema entre as empresas brasileiras de capital aberto: distribuir os lucros obtidos no ano passado aos acionistas ou segurar os resultados para enfrentar uma possível piora do cenário? Várias companhias reconhecidas no mercado como boas pagadoras de dividendos optaram por seguir um caminho intermediário. Deixaram no caixa uma parte do lucro, mas sem reduzir substancialmente o pagamento de proventos.

(...) A legislação determina que todas as companhias abertas reservem no mínimo 5% do resultado do exercício. Caso decidam reter uma parcela maior, o valor não pode ser considerado no cálculo do dividendo mínimo obrigatório, equivalentes a 25% do lucro. (...)

A destinação dos resultados e o gerenciamento do caixa por parte das empresas costumam render polêmica. Antes da crise e mesmo após o agravamento das condições de mercado, a manutenção de recursos dentro da companhia era alvo constante de críticas de investidores.

A decisão de manter os recursos dentro da empresa depende ainda de como a administração projeta os impactos da crise sobre o fluxo de caixa. (...)

Empresas usam lucro para reforçar caixa - 30/3/2009 - Gazeta Mercantil


É por este motivo que os autores de finanças consideram a distribuição de dividendos uma das três decisões financeiras de uma empresa. (As outras duas: investimento e financiamento)