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17 março 2009

Remuneração

Aumentou a pressão sobre a American International Group Inc. e seus responsáveis no governo americano, depois de vir à tona o plano da seguradora de pagar US$ 450 milhões em bônus para empregados da mesma divisão que gerou prejuízo de US$ 40,8 bilhões em 2008.

A ira em Washington e no resto do país era dirigida, em parte, à AIG, que começou a ser socorrida do colapso em setembro e já recebeu um total de US$ 173,3 bilhões. O presidente da AIG, Edward Liddy, disse ao secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, que a empresa está com as "mãos atadas" em relação ao pagamento de US$ 165 milhões em bônus para os empregados da divisão, chamada de AIG Financial Products e que realizou uma série de apostas malsucedidas nos mercados financeiros.

"'Há alguma coisa totalmente errada com isso, e esse comportamento irresponsável da AIG deve parar imediatamente", disse o deputado Elijah Cummings, que também exigiu que Liddy pedisse demissão. Uma porta-voz da AIG respondeu a pedidos de comentários com uma carta de Liddy em que ele disse ter considerado o pagamento dos bônus "de mau gosto".

Mas a frustração também foi dirigida para o governo americano, que conta com ampla influência sobre a AIG, já que controla quase 80% da combalida seguradora. "Depende agora do governo tomar uma atitude mais agressiva" para evitar o pagamento dos bônus de fim de ano, disse Tom Ikeler, investidor de Berwyn, no Estado da Pensilvânia. "Acho que temos o poder para fazê-lo."

As reações à questão mostram o campo minado que o governo Obama deve atravessar enquanto tenta manter o apoio político para sua abordagem à crise financeira, que envolve intervenções profundas no setor privado.

Em nenhum lugar a tensão é maior do que na AIG, onde o papel dos EUA evoluiu de um credor nervoso para um aliado paciente. Isso ocorre em boa parte porque um plano anterior para vender os ativos da AIG e pagar os empréstimos do governo foi por água abaixo. Em resposta a isso, o governo deve assumir participações diretas nos negócios internacionais da AIG, complicando ainda mais o papel do Estado, ao mesmo tempo credor e dono do negócio.

Os pagamentos para a divisão de produtos financeiros da AIG se somam a US$ 121,6 milhões em bônus de incentivo em 2008 que a AIG deve começar a pagar este mês para cerca de 6.400 de seus 116.000 funcionários. A AIG também pagará separadamente US$ 619 milhões a 4.200 funcionários a título de bônus de retenção na empresa.

Juntos, os três pagamentos podem chegar a US$ 1,2 bilhão em incentivos de retenção e bônus para alguns empregados da seguradora. Pelo menos alguns empregados devem receber milhões de dólares — na divisão de produtos financeiros, por exemplo, sete empregados receberão mais de US$ 3 milhões em 2008, segundo um documento da AIG.

A divisão em questão, com uns 370 empregados, foi a principal causadora do quase colapso da empresa no fim do ano passado. As apólices vendidas por ela para proteger outras empresas de perdas em títulos ligados a empréstimos imobiliários de alto risco forçaram a seguradora a reservar bilhões de dólares em garantias, em boa medida com dinheiro recebido dos contribuintes. Os problemas foram os principais responsáveis por quase levar a empresa à falência antes de o governo intervir na situação.

Desde que recebeu o socorro governamental, a AIG contratou um diretor-presidente para a divisão de produtos financeiros, que agora está tentando liquidá-la. Mas no início de 2008 — antes de Liddy entrar para a seguradora — foi criado um programa de retenção para os funcionários da divisão, segundo a carta de Liddy.

Na carta, Liddy escreveu que "consultores externos" tinham aconselhado que os pagamentos a empregados da divisão de produtos financeiros, acertados desde antes, "são obrigações judiciais para a AIG". Ele escreveu que há "graves consequências judiciais, assim como empresariais, para o não pagamento".

"Eu não gosto desse acordo e o considero de mau gosto, e tenho dificuldade em recomendar a vocês que sigamos adiante com ele", escreveu Liddy, ressaltando que "honrar compromissos contratuais está no coração do que fazemos no setor de seguros".

Lawrence Summers, o principal assessor econômico da Casa Branca, pareceu corroborar ontem o argumento de Libby. Embora existam muitos aspectos problemáticos na crise financeira, "o que aconteceu na AIG é o mais revoltante", disse ele. Mas Summers disse também que "somos um país onde há lei", acrescentando que o governo não pode simplesmente abolir os contratos com gerentes e executivos da AIG.

Se a seguradora quisesse evitar esses pagamentos, poderia informar aos empregados que se optarem por não recebê-los, podem continuar com seus empregos, sugeriu Mark Reilly, sócio da 3C Compensation Consulting Consortium, uma consultoria de Chicago.

"Há uma porção de gente procurando emprego em Wall Street", disse Reilly.

Funcionários do governo estão cientes dos pagamentos pendentes desde o fim do ano, quando a AIG revelou em seus informes financeiros que tinha esses programas de retenção de empregados e quanto devia.

Autoridades vêm trabalhando com a empresa e seus advogados desde então para encontrar um meio de remanejá-los de acordo com leis americanas e europeias. Alguns pagamentos de retenção foram cancelados em novembro.

Pagamento milionário de bônus na AIG causa revolta em Washington
Liam Pleven, The Wall Street Journal
The Wall Street Journal Americas - 16/3/2009 - 1
(Colaboraram John D. McKinnon e Sara Schaefer Muñoz)

Remuneração

Quanto custam os planos de opções
Valor Econômico - 17/3/2009

A estreia da nova contabilidade nos balanços anuais de 2008 trouxe uma mensagem talvez inesperada para o mercado brasileiro. Conhecer os planos de opção de ações dos executivos não é apenas importante do ponto de vista da remuneração dos administradores: é também um fator importante de custo para a empresa.

Antes da mudança na contabilidade brasileira, com a Lei 11.638, esses planos dos executivos não entravam no balanço. Agora, com as alterações e o processo de convergência às normas internacionais contábeis do IFRS, devem ser considerados como despesa. São, portanto, redutores de lucro.

Os planos de opções oferecem o direito dos executivos comprarem ações da companhia no futuro, por um preço previamente estabelecido. Se a gestão do administrador levar à alta das ações da companhia na bolsa, ele ganhará com a venda de seus papéis no mercado.

A análise de 11 balanços de companhias que adotam esses planos mostra que boa parte do impacto negativo da adoção da nova lei - na comparação com a contabilidade antiga - veio dessa novidade nas contas. Caso não houvesse o efeito da desvalorização cambial sobre instrumentos financeiros, essa despesa ficaria ainda mais em evidência na comparação entre as duas práticas contábeis, a nova e a antiga.

No caso da GVT, o plano com opções representou custo de R$ 21,9 milhões, no ano passado, e o efeito total da aplicação das novas regras contábeis foi negativo em R$ 27,2 milhões. Na construtora Tenda, o benefício representou despesa de R$ 19,7 milhões, para um impacto de R$ 45,3 milhões no prejuízo da empresa.

A tendência é que quanto maior a quantidade de opções de ações outorgadas - e ainda não exercidas - maior o custo para a companhia e para o acionista.

Eliseu Martins, diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), explica que esses pacotes somente não devem ser lançados no resultado quando os executivos, ou parte deles, tiverem perdido tal benefício por alguma razão, como desligamento da empresa.

O argumento para os planos irem para o balanço é por representarem um custo à empresa, ainda que não sejam um desembolso de caixa, como os salários e os bônus em dinheiro. O lançamento contra resultados está de acordo com os princípios das normas contábeis internacionais do IFRS, padrão para o qual o Brasil irá convergir até 2010.

Martins afirma que os planos devem ser considerados um custo, pois são, na maioria das vezes, uma emissão de ações que não traz dinheiro novo à empresa e que traz diluição para os investidores, ainda que pequena.

"Faz parte do que o executivo ganha para trabalhar na empresa. Logo, é uma despesa de remuneração", completa Paul Suttcliffe, sócio da Ernst & Young.

Edison Garcia, superintendente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), destaca que a regra contábil joga luz nos planos, que precisam ser de conhecimento dos acionistas. Além de um mecanismo relevante de incentivo do administrador que precisa ser divulgado, há chance de representar sim uma saída de caixa da empresa.

Ele lembrou que as companhias podem utilizar ações recompradas em mercado e que estejam em tesouraria para serem entregues aos executivos, no âmbito dos planos. Nessa hipótese, o benefício não traz diluição com a emissão de ações, mas representa saída de dinheiro com a aquisição das ações no mercado. Portanto, quanto maior a transparência para o assunto, melhor.

Também na contabilidade internacional, o lançamento de despesas com opções é uma prática recente, posterior aos escândalos de exercício com data retroativa, para ampliar irregularmente o lucro de alguns executivos.

A regra contábil, porém, não equivale simplesmente ao que a companhia deixaria de arrecadar na data do balanço caso emitisse a quantidade de ações correspondente ao plano pelo valor de mercado. Essa era a intenção, segundo Martins, quando se pensou na criação da norma. No entanto, o valor registrado em balanço reflete a aplicação de uma fórmula matemática sobre as opções abertas e não exercidas.

As companhias não queriam lançar no balanço pelo preço de mercado dos papéis, pois sabiam que isso ampliaria as despesas sensivelmente, na comparação com os modelos matemáticos.

No caso da AmBev, o plano de opções trouxe uma despesa de R$ 47,5 milhões ao balanço de 2008. No total, a nova lei contábil produziu um efeito negativo de R$ 400 milhões no resultado da AmBev do ano passado. O lucro líquido foi de R$ 3,4 bilhões na contabilidade antiga e de R$ 3,0 bilhões na nova.

"Todo mundo sabe que a remuneração variável da AmBev, para os líderes, está ligada a planos de opções", afirmou Michael Findlay , gerente de relações com investidores da AmBev. Os primeiros planos foram usados ainda pela Brahma, antes da fusão, em 1991. Conforme explicou o gerente, o executivo ganha o direito de, dentro de cinco anos, comprar ações da empresa. Por conta da duração, o plano é lançado anualmente em fatias de 20% do total.

Os balanços de 2008 mostram ainda que o custo do plano de opções pode aparecer em contas diferentes do balanço. As companhias trataram o plano ora como despesa de pessoal, dentro das gerais e administrativas, ora como participação nos resultados. No primeiro caso, o gasto afeta o lucro operacional. No segundo, é uma das últimas linhas do balanço, afetando apenas o lucro líquido.

"Se a outorga das opções estiver única e exclusivamente vinculadas à geração de lucros, seu custo deve ser lançado como participações de empregados e administradores. Se, por outro lado, estiver vinculada a outras métricas de desempenho, não somente geração de resultados, deve ser lançada como despesa de pessoal e administrativa", explicou Francisco Papellas, sócio da Deloitte. Portanto, a própria forma de contabilizar o benefício já é um indicativo da política de concessão das opções.

A partir deste ano, com a nova lei contábil, o estoque das opções do plano todo será acumulada numa conta do balanço patrimonial passivo, até o seu exercício. Depois de exercida, sai do passivo e vai para a conta de patrimônio, já que funciona - de forma simplificada - como a transformação de um compromisso em capital, embora não tenha existido a entrada de dinheiro novo.

Qual o valor?

Os contadores escutam muitas críticas sobre os problemas de mensuração nas demonstrações contábeis. Mas isto não é muito diferente do que ocorre em outras situações. Andrew Gelman, em What is Russia's GDP per capita?, mostra o caso do PIB per capita da Rússia. A listagem é curiosa e engraçada (Valores em doláres):

$7,600 (Banco Mundial, 2007)

$9,100 (Banco Mundial, 2007)

$14,700 (Ajustado pelo Poder de compra, Banco Mundial, 2007)

$4,500 (Banco Mundial, 2006)

$7600 ou $14,400 ("Atlas method" ou "Paridade do Poder de Compra" Banco Mundial 2007)

$12,600 (FMI, 2008), $9,100 (Banco Mundial, 2007) ou $12,500 (CIA 2008)

$2,637 em doláres de 2000 dos EUA (Banco Mundial, 2007)

$2,621 (Banco Mundial, 2006) ou $8,600 (FMI)

Veja as fontes na postagem de Gelman

Carros estranhos


Veja mais aqui

(Dica de Ludmila, grato)

A imagem da crise


Uma imagem vale mais do que mil palavras. Fonte: Aqui

Marcação a mercado

Discute-se a possibilidade de suspensão da regra contábil da marcação a mercado. Isto tem contribuído para a atual euforia das ações financeira. (...) Qualquer mudança na marcação a mercado será somente outra forma do governo ajudar a estabilizar o paciente, no caso o nosso sistema financeiro. Isto não irá sanar o problema

Doug Roberts, aqui


Aqui, aqui, aqui, aqui e aqui sobre a proposta de alteração