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09 março 2009

Derivativos

Em primeiro lugar o adjetivo "tóxico" nem sempre é apropriado para o uso indiscriminado que vivenciamos. O uso do derivativo, se bem empregado, auxilia a distribuição do risco entre os diversos players de mercado ao possibilitar que as empresas comprem proteção contra, o que é chamada de forma simplista, uma indesejada e imprevisível variação de um determinado ativo e/ou índice. Assim, ao adentrarmos sob o aspecto contratualista dessas operações de swap, hedge, opções etc., nos deparamos, a priori, com um contrato tipicamente de risco, ou seja, a companhia, face à variação do dólar, por exemplo, poderá ou não lucrar.

Derivativos 'tóxicos' e responsabilidade de administradores
Marcelo Freitas Pereira e Walter Roberto Plaza Junior - 3/3/2009 - Valor Econômico

Mercado acionário e economia

Antiga bola de cristal, bolsa vira termômetro do medo
Justin Lahart, The Wall Street Journal
3/3/2009 - The Wall Street Journal Americas - 1

Durante os anos 90, o mercado de capitais dos Estados Unidos ganhou a reputação de bola de cristal. Como representação da sabedoria de milhões de investidores, sua capacidade de prever o rumo da economia parecia superar todas as demais previsões.

Depois da bolha da Internet, época em que a ação da agência de viagens online Priceline.com subiu tanto que passou a valer mais que a soma de todas as grandes empresas aéreas americanas, o mercado deixou de ser visto como um oráculo. E, nos últimos tempos, as altas e baixas desenfreadas revelam confusão, e não mensagem. Nos anos 90, a Média Industrial Dow Jones subiu ou caiu 2% em 91 dias. Só no ano passado, houve mais de 80 oscilações como essas.

Mas, em meio ao pior declínio econômico em pelo menos uma geração, uma recuperação das bolsas — por mais que essa possibilidade pareça afastada depois da forte queda de ontem — pode ser um sinal especialmente bom.

As bolsas são mais do que simplesmente uma medida da expectativa do investidor; elas são uma medida de confiança. Numa época em que a maior parte dos males da economia reside na crise de confiança, em que tanto os consumidores quanto os empresários estão tão inseguros quanto ao futuro que cortam despesas até o osso, a alta das ações seria um importante sinal de que a maré virou. Mais que isso, bolsas em alta podem ser, por si só, um importante estimulante da confiança.

O pensamento reinante de que as ações são o principal indicador do rumo da economia americana baseia-se na idéia de que os investidores monitoram incansavelmente a lucratividade das empresas. "Da mesma forma que a lucratividade de uma empresa revela alguma coisa sobre a economia, o mercado de ações pode ser um sinal", disse o economista Frederic Mishkin, da Columbia Business School.

Em quase todos os 11 declínios econômicos dos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial, a Média Industrial Dow Jones atingiu seu ponto mais baixo da recessão e começou a subida seis meses antes do início da recuperação da economia.(A grande exceção foi a recessão de 2001, quando o mercado de ações só atingiu o fundo do poço quase um ano depois do começo da recuperação). Geralmente, os investidores ficam ansiosos para comprar papéis antes da recuperação econômica porque, quando eles sobem depois de uma recessão, os ganhos são consideráveis.

Agora, claro, muitos investidores estão simplesmente ansiosos. O valor atual das ações já não reflete a lucratividade de longo prazo, disse o presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, Ben Bernanke, em depoimento na Comissão de Finanças da Câmara, mas apenas "as atitudes do investidor sobre risco e incerteza, que estão agora em níveis muito altos".

Grande parte da insegurança do investidor se deve ao desconhecimento quanto ao destino dos bancos. Os investidores ainda não sabem exatamente que bancos vão quebrar, ser incorporados pelo governo ou transferidos para os credores, e qualquer dessas opções vai prejudicar os acionistas. Como resultado, as ações dos bancos já não refletem tanto as expectativas de lucros futuros, mas sim as apostas de que este ou aquele irá sobreviver. Isso fez com que as ações flutuassem amplamente. E, como as empresas financeiras estão na base da crise de crédito, quando elas entram em turbulência o resto do mercado reage.

Mesmo para famílias americanas que não têm nenhuma exposição às bolsas — cerca de metade delas —, o mercado de ações é importante. Um estudo feito em 1999 pela economista do Fed Maria Ward Otoo mostra que mudanças nos preços da ações afetaram a confiança das famílias consultadas na pesquisa do índice de confiança do consumidor feita da Universidade de Michigan, independentemente do fato de terem investimentos ou não. Ela concluiu que os consumidores usam o mercado de ações como um indicador de tendência de seus salários.

O mercado de ações também influencia o comportamento das empresas. Em discurso no mês passado, o ex-presidente do Fed, Alan Greenspan, explicou como chegou à conclusão, no final da década de 50, de que mudanças na cotação das ações levaram a mudanças nas compras de equipamentos pelas empresas. Ele atualizou a análise há pouco tempo e concluiu que a correlação entre ações e gastos das empresas com equipamentos continua a existir.

"Uma recuperação do mercado de ações liderada pelo fim do medo pode muito bem ser o momento de virada da atual crise", disse ele. "A questão, claro, é saber quando."

Em agosto de 1982, durante o que até agora parece ter sido o declínio mais profundo desde a Grande Depressão, o "quando" a que Greenspan se referiu aconteceu no momento em que o Fed cortou a taxa básica de juros, sinalizando que sua luta contra a inflação estava encerrada. As ações dispararam e continuaram em alta, apesar do acúmulo de más notícias sobre a economia e das reclamações dos analistas de mercado de que os avanços não tinham sentido. Em novembro daquele ano, a recessão acabou.

Provisão para tempos ruins


Reguladores estão esperando o desenvolvimento de alguma forma da “provisão dinâmica” para forçar bancos a manter fundos nos tempos bons para ajudá-los nos ruins. Mas contadores estão preocupados em como isto pode afetar seriamente a transparência das contas dos bancos.

IASB warns on capital reserve plans - Jennifer Hughes 24/2/2009 - Financial Times - Asia Ed1 - 14

Buffett e a Marcação a Mercado

Todd Sullivan, em Buffett Endorses 'Mark-to-Market' as a Producer of Ways to Profit, discute a posição do famoso investidor em relação a marcação a mercado. Na apresentação das demonstrações da sua empresa Buffett afirma que “nos endossamos a contabilidade marcada a mercado”. O mesmo Buffett afirma que melhorar a transparência, um remédio favorito dos políticos, comentaristas e reguladores financeiros - não resolve os problemas com derivativos. Para Buffett não existe mecanismo para descrever e mensurar os riscos dos complexos derivativos. Por isto, segundo Buffett, auditores não pode auditar estes contratos e reguladores não podem regulá-los.

Buffett, segundo conclui Sullivan, acredita que marcação a mercado produz ineficiências no mercado, dando exemplo de um mesmo título que produz diferentes resultados.

Frase

Cerca de 70% das recolocações de profissionais que ocupam cargos de alto nível hierárquico ocorre por meio de networking, isto é, graças à rede de contatos pessoal de cada um. A afirmação é da gerente de consultoria da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Renata Perrone.

Sete em cada dez contratações começam na rede de contatos
2/3/2009 - Gazeta Mercantil
Caderno D - Pág. 7 - João Paulo Freitas

IFRS no Brasil 5

Mudança atinge setor de construção em cheio
Valor Econômico - 9/3/2009

A expectativa é grande. Dos analistas, dos investidores, dos concorrentes. A safra de balanços do setor de construção civil - o mais afetado pelas novas regras contábeis - nunca foi tão esperada como agora. Pelo que já mostrou o único balanço divulgado até o momento, da Camargo Correa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), e pela previsão dos analistas e das próprias incorporadoras, deve haver uma mudança significativa nos demonstrativos financeiros do quarto trimestre e, consequentemente, do ano de 2008. A projeção é de redução de receita, de margem, do resultado operacional e da última linha do balanço.

As mudanças mobilizaram o setor, que vem se reunindo há pelo menos três meses. A preocupação é grande, sobretudo em um momento de queda das vendas. O maior temor é que as alterações contábeis sejam interpretadas como consequência da crise. Para divulgar balanços "homogêneos" que permitam que os analistas usem os parâmetros antigos para avaliar os balanços - as grandes construtoras de capital aberto fizeram um acordo. Irão publicar os resultados pelas normas antigas e pelas novas, ambos comparáveis com os períodos anteriores.

Analistas consultados pelo Valor disseram que irão avaliar os números pelas regras antiga, até porque as projeções que fizeram contemplam ao modelo anterior de balanço. Só depois que forem divulgados todos os relatórios é que os analistas devem começar a fazer as suas avaliações pelas novas regras. Isso porque ainda há muitas dúvidas, inclusive das próprias incorporadoras.

A principal e mais discutida questão - e justamente a que vai mais impactar os resultados - é o ajuste a valor presente das contas a pagar e a receber. O efeito desse tipo de cálculo no setor de construção é expressivo porque o ciclo é longo e as vendas são feitas a prazo. Sem saber exatamente que taxa usar ou que fórmula usar, as incorporadoras começaram a se reunir no final do ano passado.

Depois de mais de dez encontros, inúmeros telefonemas e e-mails trocados entre as áreas de controladoria das empresas, há cerca de quinze dias, as empresas definiram uma fórmula comum. Em linhas gerais, ficou definido que a metodologia usada será a taxa média de captação do financiamento à produção - que pode variar de TR mais 11% a TR mais 13%, descontado a inflação, medida pelo IPCA. As empresas escolheram o IPCA no lugar do INCC (Índice Nacional da Construção Civil) porque não há previsão futura do índice. Os apartamentos já entregues não serão ajustados a valor presente. "Ficou acertado assim, porque os juros já estão definidos", explica Eduardo Cytrynowicz, diretor de finanças corporativas da Even. Depois da entrega das chaves, os juros contratuais são de IGPM mais 12% ao ano.

No caso da CCDI , por exemplo, as novas regras contábeis tiraram R$ 44,9 milhões do lucro anual da empresa, de R$ 96,7 milhões para R$ 51,7 milhões. No quarto trimestre, a empresa teve prejuízo líquido de R$ 8 milhões e, pelas regras anteriores, teria apresentado lucro de R$ 1,6 milhão. No trimestre, o impacto é maior porque os ajustes do ano todo recaem sobre os três últimos meses. "É preciso analisar os números com cuidado", afirma Zeca Grabowsky, presidente da PDG Realty. "Os resultados do quarto trimestre serão afetados, mas não podem ser projetados para os próximos trimestres", acrescenta. Os executivos também frisam que as mudanças são contábeis e o desempenho operacional não muda.

Ainda que as empresas estejam procurando uma forma de se alinhar, a avaliação do setor e de analistas sobre as alterações é muito positiva. "Muitos investidores estrangeiros não gostam do setor imobiliário no Brasil porque os balanços são muito diferentes. No México é muito mais uniforme", diz um analista que acompanha o segmento. Para o diretor da Even, o mais positivo é que os balanços passam a ser comparáveis. "Havia alguma variações e interpretações importantes", acrescenta. "O balanço deixa de ser estático", avalia Leonardo Correa, diretor de relações com investidores da MRV.

Além do impacto do ajuste a valor presente, as incorporadoras têm ainda uma mudança contábil específica: as empresas passam a ter que descontar, de uma só vez, despesas comerciais e de vendas - como gastos com estande, propaganda e apartamentos decorados - que antes eram contabilizadas conforme o andamento da obra.

No Brasil, os balanços do setor acompanham o desenvolvimento das obras, modelos mais conhecido pela sigla em inglês POC, que significa percentual de conclusão. "O POC é bom no sentido de dar uma indicação de resultado. Não é preciso esperar o final do ciclo para saber se a empresa ganhou ou perdeu dinheiro", diz Correa, da MRV. A empresa definiu que, além de divulgar o balanço pelas novas regras, também continuará usando a metodologia antiga, pelo chamado POC.

Na avaliação de Henrique Campos, auditor diretor da BDO Trevisan, as mudanças para o setor devem ser ainda maiores a partir de 2010, quando o Brasil alcançar a convergência plena com o padrão internacional IFRS. Ele explica que, no padrão internacional, o negócio da incorporadora é entendido como uma atividade mercantil comum. Logo, as companhias irão contabilizar as receitas conforme a transferência do imóvel para o novo proprietário, o que caracterizará a venda efetiva do bem. Esse regime é conhecido pela expressão "chave na mão". Os especialistas têm até mesmo dificuldade de estimar os impactos sobre os resultados, uma vez que será uma grande mudança de conceito. (Colaborou Graziella Valenti)


Em outros países que adotaram a IFRS, o setor de construção civil foi um dos que apresentaram maiores diferenças. Atenção para este setor.

IFRS no Brasil 4

Para mercado, balanço de 2008 será marco zero
Valor Econômico - 9/3/2009

O desafio da nova linguagem contábil está apenas começando para os analistas de investimento. Além de emitir opiniões sobre a qualidade dos dados do tumultuado quarto trimestre, os profissionais terão que projetar os próximos resultados já de acordo com as novas normas.

Os reguladores permitiram que as empresas fizessem apenas o balanço de 2008 de acordo com a lei nova, sem necessidade de trazer a base de comparação pelo mesmo critério. Daqui para frente, os trimestrais serão também de acordo com as 16 normas emitidas pelo Comitê de Padrões Contábeis ao longo de 2008.

"Para nós será o balanço anual de 2008 será base zero. Perdeu-se o histórico", contou Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora. Ela explicou ainda que os analistas da corretora fizeram treinamento sobre as mudanças. No entanto, a aplicação prática é muito diferente e não havia como estimar quais seriam os efeitos.

De acordo com Lika, o desafio do analista é ainda maior quando se trata de companhia com efeitos sazonais. Isso porque não dá para saber como será agora de acordo com os novos padrões.

Na maioria dos casos, as companhias fizeram os comentários de desempenho sobre os balanços excluindo os ajustes da trazidos pela nova lei, prejudicando o papel educacional da adoção inicial das regras.

Segundo Sérgio Citeroni, sócio da auditoria da Ernst & Young, essa foi a preferência porque os balanços deste ano não têm a comparação. Logo, ficaria ainda mais difícil fazer a análise sem essa opção.

Além da projeção, a dificuldade de comparação deve persistir nas demonstrações financeiras trimestrais de 2009, já que as de 2008 foram feitos de acordo com o padrão antigo.

Para os analistas, o refresco virá só no próximo ano. Em 2009, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) planeja a emissão de mais 28 pronunciamentos contábeis, até setembro. Porém, eles serão aplicados apenas a partir dos trimestrais de 2010 e com apresentação dos dados comparativos.

As demonstrações anuais de 2009 seguirão rigorosamente as mesmas normas usadas para o do ano passado. "Portanto, serão comparáveis", enfatizou Eliseu Martins, diretor da autarquia, durante o anúncio, em dezembro, do cronograma de trabalhos deste ano.