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24 fevereiro 2009

Novo escândalo e novamente auditoria

O escândalo da instituição Stanford revela, novamente, a fragilidade da auditoria como uma aliada dos fraudadores. Segundo o The Times (Hunt for Stanford and his billions as regulators unravel 'worldwide fraud', Suzy Jagger, Christine Seib, David Brown, Laura Dixon, 19/2/2009, 1, 6,7)

“uma pequena empresa contábil na Antigua [CAS Hewlett & Co] é responsável pela auditoria do multibilionária carteira de investimento. A comissão [SEC] tentou contato por telefone, mas ninguém respondeu.”

Fraude e Tempos Difíceis

A fraude de empregados – através de esquemas que incluem o roubo do caixa pequeno – tende a aumentar durante os períodos econômicos difíceis, quando os empregados sentem pressão financeira na sua vida pessoal, especialistas dizem. E pequenas empresas são especialmente vulneráveis por causa dos problemas com controle interno para prevenir fraude. Algumas vezes, administradores das empresas afetadas atribuem às perdas as vendas menores – não suspeitando do golpe.

(…) “Pessoas desperadas fazem coisas desesperadas”, ele [Jeffrey Sklar, da firma de contabilidade Sklar, Heyman & Company LLP] diz.


Building Your Business: Today's Topic: Dealing With Dishonesty --- Confronting the issue of stealing as economy sinks - Simona Covel – 19/2/2009 - The Wall Street Journal - B5

Imparidade e Balanço da Vale

Um primeiro exemplo da aplicação da imparidade no balanço da Vale:

Vale faz baixa de R$ 2,4 bilhões na Inco
20/2/2009 - Valor Econômico

A Vale reduziu em R$ 2,4 bilhões o valor de sua subsidiária canadense Inco, adquirida em 2006, por US$ 18 bilhões. O ajuste foi feito por conta da nova lei contábil, em vigor desde 2008, que obriga a avaliação regular dos ativos das companhias.

Esse impacto é reflexo da adoção de uma das regras da nova lei contábil brasileira, o chamado teste de "impairment", ou "valor recuperável" dos ativos. Na prática, isso nada mais é do que a companhia provar que ela consegue transformar o valor de seus ativos em lucro, seja com pela operação ou pela venda do negócio. A partir do balanço anual de 2008, as empresas são obrigadas a fazer testes e estudos para verificar a eficiência de seus registros.

A mineradora informou um lucro líquido de R$ 10,4 bilhões no último trimestre de 2008, que não inclui a baixa contábil da Inco. A Vale só fez o desconto no resultado anual, que são os dados oficiais enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

(...) A Inco causou pouco estrago perto do que a Xstrata poderia ter feito ao balanço da Vale. Em março, a empresa desistiu do negócio, que poderia chegar a US$ 90 bilhões.

O valor de mercado da Xstrata atualmente é da ordem de 10% do negociado pela Vale. A companhia brasileira, na atual situação de mercado, perderia o valor do ativo com baixa contábil similar a da Inco, mas ficaria com a dívida.

Defesa do Valor Justo

O artigo a seguir mostra uma rara defesa do valor justo no setor financeiro. O artigo, que foca na gestão de risco, enfatiza a importância da contabilidade a valor justo como instrumento gerencial:

O setor financeiro precisa aprimorar a gestão de risco
20/2/2009
Lloyd Blankfein é executivo-chefe do Goldman Sachs
Valor Econômico

(...) À medida que formuladores de política e reguladores começarem a considerar as ações a serem tomadas para lidar com as deficiências, parece-me que será útil refletir sobre algumas lições aprendidas com essa crise.

A primeira é que a gestão de risco não deve se basear inteiramente em dados históricos. (...)

Em segundo lugar, um número grande demais de instituições financeiras e investidores terceirizou a sua gestão de risco. (...)

A terceira é que tamanho é documento. Por exemplo, se uma pessoa detém US$ 50 bilhões de dívida super sênior de (supostamente) baixo risco num CDO, a probabilidade de perdas era, proporcionalmente, a mesma. Mas as consequências de um erro de cálculo eram obviamente muito maiores se a pessoa tivesse uma exposição de US$ 50 bilhões.

A quarta é que muitos modelos de risco presumiram que as posições podiam ser plenamente protegidas. (...)

A quinta é que os modelos de risco não conseguiram capturar o risco inerente em atividades não contabilizadas nos balanços patrimoniais, como os veículos de instrumentos estruturados. (...)

Sexta, a complexidade levou o que tínhamos de melhor. O setor deixou o crescimento nos novos instrumentos superar a capacidade operacional de gerenciá-los. Consequentemente, o risco operacional aumentou dramaticamente e isso teve um efeito direto sobre a estabilidade geral do sistema financeiro.

Por último, e talvez mais importante, as instituições financeiras não prestaram contas sobre os valores dos ativos de forma suficientemente precisa. Ouvi algumas pessoas argumentarem que a contabilidade pelo valor justo - que atribui valores atuais a ativos e passivos financeiros - é um dos principais fatores que agravam a crise de crédito. Eu vejo isso de forma diferente. Se mais instituições tivessem avaliado adequadamente as suas posições e obrigações desde o começo, elas estariam muito melhor posicionadas para reduzir as suas exposições.

Para o Goldman Sachs, a marcação diária de posições a preços de mercado correntes foi um elemento-chave que contribuiu para a nossa decisão de reduzir riscos num estágio relativamente inicial nos mercados e em instrumentos que estavam se deteriorando. Esse processo pode ser difícil e algumas vezes penoso, mas acredito que esta é uma disciplina que deve definir as instituições financeiras.

Aprendendo com a História

No inicio dos anos 70, Detroit concordou que seus trabalhadores aposentassem com pensão e benefícios completos depois de 30 anos de trabalho, independente da idade. Na prática isto significava que um trabalhador poderia começar com a idade de 18 e aposentar com 48, e gastar muito mais anos com a pensão e o plano de saúde que ele ou ela realmente gastaram. (...) O programa de 30 anos persiste – uma parte que inflou a estrutura de custos que tornou não lucrativo para Detroit fazer pequenos carros nos EUA. Outro exemplo: cada fábrica de Detroit possui ainda dezenas de comitês de sindicatos (...) que realmente são pagos pelas empresas de automóveis.
Paul Ingrassia no Wall Street Journal via MJ Perry (Start at 18, Retire at 48, Spend More Yrs. Getting Pension, Free Health Care Than Yrs. Working)


Isto lembra alguma coisa? Será que não estamos cometendo o mesmo erro com nossa previdência pública?

23 fevereiro 2009

Evidenciação

Cobrada para abrir de uma vez por todas a caixa-preta dos gastos dos deputados que a Câmara devolve até o limite de R$ 15 mil mensais - a chamada verba indenizatória, já de si uma extravagância -, a direção da Casa resolveu aplicar a lei. A lei de Delúbio, bem entendido. Em abril de 2004, quando um desavisado companheiro propôs, em nome da transparência, que o PT publicasse periodicamente na internet a contabilidade de suas campanhas, com as doações recebidas e as despesas efetuadas, o então tesoureiro da legenda, Delúbio Soares, fulminou a ideia com um argumento irrespondível: "Transparência assim já é burrice." Entre outros motivos, alegou, porque a prestação de contas "poderia causar mal-estar aos doadores".

Sob a lei do Delúbio - Estado de S. Paulo - 19/2/2009

22 fevereiro 2009

Rir é o melhor remédio


A charge da revista The Economist da semana trata do apoio que Chavez obteve na Venezuela. E brinca que este apoio depende do preço do barril