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28 novembro 2008

Petrobrás e Caixa

A reportagem do WSJournal sobre os problemas de caixa das empresas de petróleo pode ser completada pelo texto abaixo, do Valor Econômico, sobre a Petrobrás:


Petrobras precisa de R$ 3 bilhões para rolar dívidas
Valor Econômico - 28/11/2008

Duas semanas depois de divulgar o maior lucro da sua história, o volume de recursos que a Petrobras tem em caixa continua alvo de especulações. Se antes analistas do mercado estranhavam a redução do caixa e a escalada de custos, agora a empresa é alvo de ataques no Congresso. Em outubro a Petrobras obteve permissão para captar até R$ 8 bilhões no mercado financeiro nacional - que desde a década de 90 era território proibido para estatais como ela - e na quarta-feira esse limite desapareceu. Desde que foi autorizada a se financiar no mercado, a estatal pegou dinheiro no Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (CEF), em que levantou R$ 2 bilhões sob a forma de cédulas de crédito bancário para capital de giro. A operação, datada de 31 de outubro de 2008 foi feita para "reforçar o capital de giro" como a Petrobras informou em seu balanço trimestral. Ela vai pagar 104% do CDI.

A Petrobras tem R$ 10,7 bilhões no caixa e a possibilidade de captar no mercado bancário nacional permitiu, segundo analistas, uma "janela" de oportunidade para a companhia financiar suas operações no dia-a-dia, o que antes era feito apenas no exterior. Desde o início do ano a empresa já concluiu 18 operações de crédito, que totalizam US$ 6,7 bilhões. Somente as operações de câmbio somam US$ 1 bilhão por mês. Em entrevista ao Valor concedida na terça-feira, o diretor financeiro e de relações com investidores, Almir Barbassa, discorreu sobre a situação do caixa, que somava R$ 27 bilhões no ano passado, começou 2008 com R$ 13 bilhões e em estava em R$ 10,7 bilhões em setembro, mostrando que ele se reduziu devido a um programa de pré-pagamento de dívidas e aumento dos investimentos. "Isso é normal, qualquer empresa faz, é administração do passivo." Ele lembra que antes de obter o grau de investimento, o primeiro foi obtido em janeiro de 2007, a companhia tinha dívidas contraídas no período anterior e excesso de caixa que era criticado. "Cobravam o excesso de dinheiro em caixa. As agências de 'rating' diziam que isso não existe, viam a possibilidade de um calote do governo e a companhia queria o 'investment grade' para reduzir o custo das captações." A companhia então decidiu pagar dívidas incluindo as tomadas junto à Seguradora Japonesa de Exportações e Investimento (Nexi, na sigla em inglês), além de bônus, dívidas bancárias e com agências de crédito à exportação, as ECAs. No período em que o caixa foi sendo reduzido a Petrobras dividiu com Braskem e Ultra os ativos da Ipiranga e participou do processo de reestruturação do setor petroquímico nacional, comprando a Suzano Petroquímica em agosto de 2007. O executivo diz que essas aquisições não comprometeram o caixa. Sobre a preocupação dos investidores com relação à capacidade de investimento da companhia, ele disse que "estão muito enganados aqueles que acham que não vamos conseguir financiamento com bancos". Afirmou que a empresa precisa apenas de R$ 3 bilhões para rolar sua dívida, "e isso não é difícil", e pagar R$ 8 bilhões em dividendos. O diretor da Petrobras também disse que a liberação do CMN para a companhia captar até R$ 8 bilhões no mercado financeiro nacional vai permitir que ela tenha o mesmo tratamento que os concorrentes. Ele citou como exemplo garantias bancárias exigidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para participação nos leilões, dizendo que empresas como Shell e Esso podiam obter carta de crédito no Brasil enquanto para a mesma situação a Petrobras tinha que recorrer a bancos no exterior. "Se eu soubesse que ia acontecer o que aconteceu [a crise mundial] a situação [do caixa] seria outra. Poderíamos estar cheios de dinheiro só fazendo operações de câmbio", ironizou. "Mas analisar o passado conhecendo o futuro é muito fácil." E despediu-se recomendando a compra de ações da Petrobras.

Valor:Qual a importância para a Petrobras dessa liberação dos limites para captação no mercado financeiro nacional?
Almir Barbassa: Existe um contingenciamento bancário e os bancos só podem emprestar para Estados, municípios e estatais de todos os níveis até um determinado valor fixo. Mas se chegou a esse limite rapidamente e acabou o crédito e a Petrobras não conseguiu pegar nem um real. Não podíamos pegar uma garantia no Banco do Brasil, simplesmente o sistema bancário não estava disponível para a Petrobras. Se precisássemos de uma garantia bancária de R$ 100 milhões para entregar para a ANP não podíamos pegar em um banco brasileiro. A gente tinha que ir lá fora, pegava uma garantia bancária com um banco lá e ele repassava para um banco aqui. Enquanto isso a Esso, a Shell e outras iam no Bradesco e resolviam. Essa era a nossa situação.

Valor: Onde a Petrobras guarda o dinheiro do caixa?
Barbassa: A maior parte está no Brasil, em fundos de investimentos financeiros (FIFs) exclusivos e que aplicam o nosso dinheiro em títulos do governo federal. Eles não podem aplicar em ações, essa é outra restrição aplicada só para estatais que para nós é uma defesa. Só podemos aplicar em títulos e, com isso, estamos protegidos. Esses fundos são entidades jurídicas que não pertencem ao banco que administra. São oito FIFs e cada um é gerido por um banco. Não pelo banco comercial, mas pelo asset management [gestora de recursos]. A instituição me presta o serviço de fazer o dia-a-dia e tem um contrato de remuneração. O valor que mantenho lá é proporcional à rentabilidade, o FIF que tiver mais rendimento mantém o maior volume de recursos. E no caso dos dois últimos, a cada seis meses tiramos o dinheiro. De quinze em quinze dias informamos a cada um a posição de cada um e os muito abaixo são avisados de que estão na linha de corte.

Valor: Porque o caixa da Petrobras caiu nos últimos dois anos?
Barbassa: A Petrobras fez um programa de recompra de dívidas e investimentos. Eu paguei o Seguradora Japonesa de Exportações e Investimento (Nexi na sigla em inglês) em 2006 e a relação continua excelente. Eu paguei tudo que foi possível porque estava com excesso de caixa. Eram R$ 27 bilhões em caixa e antecipamos todos os pagamentos que foram possíveis. Pagamos 'bonds', dívida bancária e com agências de crédito de exportação (ECAs).

Valor: Deu resultado?
Barbassa: Hoje estou pagando menos do que naquela época. Não dá para analisar hoje a situação do passado. Se eu soubesse que ia acontecer o que aconteceu agora a situação seria outra. Poderíamos estar cheios de dinheiro só fazendo operações de câmbio. Isso é normal, é administração de passivo que qualquer empresa faz. Nós tornamos 'investment grade' desde 2005 e se eu tinha dívida contratada antes disso e excesso de caixa eu tinha que fazer o que fiz, que foi pré-pagar as dívidas e alongar. As pessoas perguntavam o que íamos fazer com esse dinheiro todo em caixa. O dinheiro em caixa era visto pelas agências de 'rating' como algo que não existe, porque era uma empresa do governo, controlada pelo governo, aplicado em títulos do governo, e no caso de um stress do governo eles [achavam] que ele não ia pagar os títulos da Petrobras. E nós estamos em posição desvantajosa, querendo ser 'investment grade' para reduzir o custo de captação da Petrobras. As empresas de rating olhavam dessa forma

Valor: A Petrobras tem fornecedores com problemas?
Barbassa: Cada um vê o quer. As dificuldades são resultantes da situação. Isso acontece tanto com a empresa bem planejada e com o cara pequeno que vê a oportunidade de crescer e transforma o dinheirinho em capital fixo para continuar uma obra e agora não consegue transferir. E isso os governos do mundo inteiro estão tentando socorrer para manter a atividade. Mas vai ser difícil porque os bancos não estão transferindo dinheiro para empresas em dificuldades. Vai ser difícil continuar a fazer essa engrenagem funcionar porque eles desconfiam de quem tem dificuldades. De repente apareceu um risco que pegou as empresas desprevenidas e elas terão dificuldades.

Valor: Em sua opinião, quais são as razões dessa crise?
Barbassa: Hoje algumas avaliações são de que o grande erro dos Estados Unidos foi deixar o Lehman Brothers quebrar, porque a partir daí a crise se acelerou. A situação hoje é como disse o Barack Obama: vai piorar muito antes de melhorar.

Valor: Como o mundo vai sair dessa?
Barbassa: O consumo e o investimento é que vão manter a engrenagem funcionando. Porque se houver desestímulo a engrenagem funciona invertidamente, é o multiplicador de Keynes. Pode ir para cima ou para baixo. Agora a tendência é de ir para baixo porque todo mundo está puxando o freio. Mas a empresa que puxar o freio pode ser prejudicada na volta seguinte, porque a demanda do seu produto vai cair.

Valor: Os problemas no mercado financeiro e a redução do caixa significam que a Petrobras vai reduzir o ritmo de investimentos no pré-sal? A Petrobras tem dinheiro para esses investimentos?
Barbassa: Vamos investir R$ 50 bilhões no ano que vem. Não se esqueça que o que temos programado para o pré-sal não vai mudar. É uma plataforma pequena que já está alugada e vai chegar em março para teste e mais uma segunda plataforma que será instalada até 2010. Para ela produzir vamos precisar de cinco poços. Isso é um investimento mínimo e faltam dois anos. As plataformas vão começar a ser instaladas lá perto de 2013 e 2014 como piloto. As dez que compramos são para ser instaladas em 2015, precisam começar a ser construídas em 2012 e estamos no final de 2008. Então, o pré-sal vai acontecer, essencialmente, após essa crise, eu espero. E eu espero que essa crise não dure mais que dois anos.

Valor: Os analistas não estão satisfeitos com a situação do caixa da Petrobras e também apontam aumento de despesas.
Barbassa: Eu sei que eles estão preocupados com isso, acham que não vamos conseguir financiamento para bancar os investimentos, mas estão enganados. Meu ebitda [resultado das operações] deste ano já está em R$ 35 bilhões e com mais um trimestre vou passar de R$ 50 bilhões então. E como estou investindo R$ 50 bilhões, para investimento eu tenho. Preciso apenas rolar minha dívida que vence esse ano, que é de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, o que é fácil. Tenho que pagar ainda cerca de R$ 8 bilhões em dividendos.

Valor: Porque o resultado do terceiro trimestre frustrou investidores?
Barbassa: O ebitda foi menor que o do trimestre anterior por por duas razões básicas, uma delas foi a importação de derivados a preços maiores que os de venda aqui, o que obrigou a pegar dinheiro do caixa. Outro efeito foi causado pela desvalorização cambial, que gerou um ganho contábil sobre o qual incidiram impostos. Mas isso foi apenas um efeito no terceiro trimestre.

Empresas e Caixa

A indústria petrolífera mundial se prepara para tomar algumas decisões difíceis, já que a queda no preço do petróleo começa a forçá-las a reconsiderar como gastarão seus recursos. E a nova prioridade é conservar o caixa.

Poucos meses atrás, importantes produtoras de petróleo e gás batiam recordes de faturamento com o boom mundial da demanda por energia, e o barril do petróleo chegou a US$ 145 em julho. As petrolíferas não precisavam escolher entre pagar dívidas, aumentar o dividendo, rechear o caixa ou expandir o orçamento para despesas de capital. Elas podiam fazer tudo isso ao mesmo tempo.

Mas agora a crise econômica mundial está sufocando a demanda por petróleo e gás natural, e o preço do barril de referência caiu para a faixa dos US$ 50 na semana passada pela primeira vez desde 2005 — e tem estado nessa faixa desde então. A notícia, ontem, de que as reservas de emergência dos Estados Unidos estão maiores do que o previsto abortou um ensaio de recuperação dos preços.

Se a cotação não melhorar bastante nas próximas semanas, especialistas do setor prevêem que um dos primeiros passos das petrolíferas será passar a faca em generosos programas de recompra de ações, que ajudaram a protegê-las do brutal declínio das bolsas nos últimos meses.

(...) Para administrar o caixa, algumas petrolíferas de médio porte começaram a enxugar os planos para despesas de capital. Até agora, as multinacionais estão mantendo os planos, embora tenham decidido adiar certos projetos, na esperança de que os custos de engenharia e construção — que foram às alturas nos últimos anos — cairão juntamente com o enfraquecimento da expansão do setor.

Para resistir à crise sem cortar o financiamento para projetos que permitam crescimento no futuro, as empresas provavelmente vão gastar suas reservas enormes e aumentar o endividamento, disse Jason Gammel, analista do setor de energia da Mcquarie Securities. Ele ressalta que a Exxon pode financiar suas despesas de capital durante um ano e meio com os US$ 37 bilhões que possuía em caixa no fim de setembro. (...)


Petrolíferas agora têm de preservar caixa
Russell Gold, Colaborou Ben Casselman, The Wall Street Journal
The Wall Street Journal Americas - 27/11/2008 - 1

O fim da governança corporativa?

UMA CONVERSA que ficou bem desmoralizada nesta crise foi a da "governança corporativa". A conversa fiada é velha, assim como a da racionalidade do mercado, na qual até o bom economista-padrão não acredita mais faz duas décadas, embora não fale muito sobre o assunto quando discute política e esparge ideologia mercadista.

(...) A "governança" chegaria depois ao Brasil. Mesmo com seu alto teor de conversa fiada, a difusão da idéia e até de alguma exigência prática de "governança" foi um avanço nesta selva. Desde 2003, a Bovespa fez o bom trabalho de exigir mínimos de publicidade, de controle das diretorias e de respeito a acionistas. A Bolsa até começou a tomar jeito de mercado de capitais. Houve propaganda marqueteira vulgar, sim, na onda de IPOs e de commodities que inflou o Ibovespa. Mas era alguma coisa.

Porém a crise revelou o quanto (muito) havia de impostura na "governança" brazuka também. O prejuízo cambial, o bafafá e a obscuridade dos casos Aracruz, Votorantim e Sadia, para ficar nos mais evidentes, são o escárnio da transparência.

Mostram ainda a inércia da CVM, que ao ritmo de cágado exige normas mais decentes de prestação de contas. Aliás, para a CVM o mercado brasileiro é mais limpinho que o dos EUA, onde financistas muita vez e outra são algemados -por aqui, isso não rola. Enfim, a bola passou sob as pernas do Banco Central, que não viu bancos armando a porcaria dos derivativos. Não tinham como fiscalizar? Sorry, para quem quer tanta autonomia, a desculpa não cola.

Agora há bancos estatais a auxiliar empresas. Pode ser útil. Ou não. Estatais não prestam contas da qualidade e do custo de seus créditos até que virem rombos, ao menos nos diz a história. Há muito subsídio e chororô por aí. Múltis que nadavam em lucros pedem socorro. Há o risco de empresas do cassino do câmbio taparem rombos com verba subsidiada. Há o estranho caso da Petrobras com a Caixa. Foi recriado o caldo de cultura em que a bactéria da desgovernança privada pode proliferar no dinheiro açucarado do governo.

Empresas desgovernadas - Vinicius Torres Freira - 28/11/2008 - Folha de São Paulo

27 novembro 2008

Rir é o melhor remédio


Fonte: Slate

Rir é o melhor remédio


A crise e os atores

Links

1. Símbolos da Matemática

2. Um resumo dos Bailouts (quem paga? está funcionando? Etc)

3. Futuro da Análise de Dados

4. Uma IFRIC sobre distribuição de ativos não monetários para os donos

5. Revisão da IFRS 1

SPED e tributação


SPED: o grande desafio do empresário é o ônus fiscal
Gazeta Mercantil - 27/11/2008 - Eduardo Maciel

As empresas têm hoje que se adequar ao novo modelo contábil e fiscal em vigor no Brasil, denominado Sistema Público de Escrituração Digital (SPED). Esta adequação, estruturada para ser feita em três grandes fases - Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), Escrituração Fiscal Digital (EFD) e Escrituração Contábil Digital (ECD) - segue uma ordem específica de prioridades e tem um calendário apertado para ser implementada. Por isso, as empresas devem estar atentas a estas mudanças. O objetivo do SPED é possibilitar ao governo (nas três esferas) um acompanhamento mais eficaz sobre as transações de compra e venda realizadas pelo mercado, contribuindo assim para um maior controle sobre a evasão fiscal e receita pública oriunda dos tributos inerentes às relações comerciais.

A emissão de NF-e já é obrigatória desde abril de 2008 para fabricantes e distribuidores de cigarros; produtores, formuladores, importadores e distribuidores de combustíveis líquidos; e transportadores e revendedores retalhistas. A partir de dezembro de 2008, novas empresas passarão a ter que emitir também a NF-e. Porém, em abril de 2009, mais empresas terão que se enquadrar na nova determinação. Um dos maiores esforços para a inclusão das empresas no SPED se refere à otimização de dados de impacto fiscal circulantes na Cadeia de Suprimentos. À primeira vista, pode parecer que me refiro apenas a alíquotas e dados de faturamento. No entanto, o grande desafio é determinar o ônus tributário. Para isso, precisa-se entender corretamente o que se está tributando. Assim, se pensarmos, por exemplo, no Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) , percebemos que, antes de identificar a alíquota referente a um determinado material, precisamos conhecê-lo mais a fundo, em todos os seus atributos essenciais e características marcantes. Somente assim poderemos determinar qual a correta alíquota indexada ao valor do item.

No setor automotivo, por exemplo, já temos conhecimento de pelo menos 100 mil itens. No setor siderúrgico, são mais de 70 mil itens. No setor de mineração atingimos mais 350 mil itens. No setor de bebidas, com mais de mil empresas e faturamento total de mais de R$ 20 bilhões de reais, chegam a mais de 30 mil itens.

Considerando overlaps, podemos falar em um número total absoluto de mais de 700.mil itens conhecidos nesses segmentos. Por isso, a necessidade de uma implementação muito bem estruturada para que as alíquotas sejam calculadas e aplicadas corretamente. Apenas em 2008, as atividades de data management da Webb alcançaram o montante de 152 mil itens otimizados no que se refere às suas descrições técnicas, para adequação ao SPED. E ainda é só o início.


Foto: Life