No começo dos anos 1980, existiam sete dessas agências reconhecidas como NRSRO, mas com as fusões o número caiu para três nos anos 1990. O setor passou a contar com um "monopólio regulatório", criado justamente pelo governo. Vários investidores grandes, como os bancos e fundos de pensão, sofrem restrições regulatórias em suas decisões de alocação de capital. A idéia é controlar o risco de suas posições por meio de limites impostos pela SEC. Esses investidores não podem, por exemplo, investir em instrumentos cuja nota de crédito está abaixo de certo nível. Como apenas as NRSRO contam na avaliação do crédito para efeito regulatório, o resultado foi uma enorme barreira à entrada de novos participantes, garantindo o oligopólio das três grandes: Standard & Poor's, Moody's e Fitch. Isso levou a um aumento da negligência dessas agências na avaliação de risco. (...)
Qual é o grande ativo de uma agência de risco? Sem sombra de dúvida, é a sua credibilidade. Somente com a confiança dos investidores uma agência de risco pode sobreviver no livre mercado. Se a agência sacrificar sua credibilidade para obter um ganho imediato concedendo uma nota mais elevada do que deveria para um cliente, ela não irá sobreviver muito tempo, pois ninguém mais levará a sério suas avaliações futuras. No entanto, o governo resolveu blindar as três grandes agências desse risco. Assim, elas podem dar a nota que for, que seu negócio está protegido, pois os instrumentos financeiros continuam precisando de suas notas para acessar os grandes investidores. No mercado financeiro, poucos ainda levam a sério essas agências. Elas são totalmente atrasadas, alterando as notas de risco somente quando as mudanças já foram colocadas nos preços dos ativos pelos investidores. No livre mercado, isso jamais seria possível. Mas como o governo exige o selo dessas agências, elas conseguem não apenas sobreviver, como prosperar. (...)
17 novembro 2008
Agência de Risco e O Mercado
O texto As agências de risco e seus conflitos de interesse, de Rodrigo Constantino (Valor Econômico, 14/11/2008), apresenta uma visão interessante das agências de risco e o processo que as transformou num oligopólio protegido pelo governo dos EUA. Selecionei dois trechos do texto que mostram o que ocorreu com estas agências:
Mudar Basiléia, não o IAsb
Em Could Bank Rules End the Fair Value Debate?, Maria Leone e Tim Reason (CFO, de 12 de novembro de 2008) se discute a questão da alteração da regra de valor justo pelos reguladores bancários para resolver a questão das reservas.
Conforme já comentado neste blog, a crise financeira fez com que a mensuração das operações financeiras pelas instituições financeiras por meio do valor justo tornasse a evidenciação dos resultados dolorosa. Isto inclui o volume do capital necessário, tendo por base os cálculos determinados pelo acordo da Basiléia.
Uma posição interessante é do primeiro ministro holandês, Gerrit Zalm, que acredita que o valor justo contribui para os problemas do mercado, mas promove a transparência e comparabilidade. Neste sentido, o Chairman do Iasb, David Tweedie estaria tentando aproximar o Iasb e o Comitê da Basiléia. Em outras palavras, insistir que as instituições de regulamentação bancária não combatam as normas contábeis e sim as regras bancárias.
Leone e Reason lembram de um precedente interessante. A regra FIN 46, que exige a consolidação das Sociedades de Propósitos Específicos, não foi aplicada aos bancos pelo FED, nos Estados Unidos.
Conforme já comentado neste blog, a crise financeira fez com que a mensuração das operações financeiras pelas instituições financeiras por meio do valor justo tornasse a evidenciação dos resultados dolorosa. Isto inclui o volume do capital necessário, tendo por base os cálculos determinados pelo acordo da Basiléia.
Uma posição interessante é do primeiro ministro holandês, Gerrit Zalm, que acredita que o valor justo contribui para os problemas do mercado, mas promove a transparência e comparabilidade. Neste sentido, o Chairman do Iasb, David Tweedie estaria tentando aproximar o Iasb e o Comitê da Basiléia. Em outras palavras, insistir que as instituições de regulamentação bancária não combatam as normas contábeis e sim as regras bancárias.
Leone e Reason lembram de um precedente interessante. A regra FIN 46, que exige a consolidação das Sociedades de Propósitos Específicos, não foi aplicada aos bancos pelo FED, nos Estados Unidos.
Valor contábil versus valor de mercado
O artigo abaixo faz uma interessante comparação entre o valor de mercado de uma ação e o seu valor patrimonial (custo histórico, basicamente).
P.S. Deixei o texto tal como foi publicado, apesar do corretor do Word alertar para vários erros de português.
Blue chips têm valor em bolsa inferior ao patrimônio
Gazeta Mercantil – 12/11/2008
A contabilidade dos investidores não segue o mesmo raciocínio dos métodos de balanços financeiros. O que uma empresa vale, sem ponderações de crescimento, fatia de mercado ou cenário econômico, conforme indica a cifra do patrimônio líquido nos demonstrativos de resultados, deveria assegurar um valor ao menos equivalente na bolsa de valores - mas este deságio está ficando cada vez mais comum.
Levantamento da Economatica, a pedido da Gazeta Mercantil, mostra que 21 ações da carteira do Ibovespa apresentam cotação por papel inferior ao valor patrimonial por ação (medido pelo índice P/VPA ou preço da ação por valor patrimonial ajustado), considerando o preço de negociação na segunda-feira, dia 10 de novembro. Na mesma data do ano passado, eram apenas dois papéis com P/VPA inferior a um no Ibovespa - ambos da mesma empresa, a PNB e a ON da Eletrobras.
Na nova lista, estão papéis que eram considerados, antes da crise financeira e temor de recessão mundial, verdadeiros portos-seguros da renda variável, como Gerdau, Usiminas, JBS e Vivo.
"Não é normal uma empresa valer menos que seu patrimônio já que os valores dos ativos comprados tendem justamente a gerar maior valor no futuro", pondera Ricardo Almeida, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA). A discrepância de valores reside justamente na palavra "futuro". O temor dos investidores é que o desaquecimento econômico destrua valor nas companhias e comprometa o potencial de geração de resultados - minando o potencial de ganhos do acionista.
Por isso, por si só, o P/VPA não é um indicativo de pechincha. "Normalmente significa que a ação está barata e é uma boa oportunidade de compra. Mas a avaliação deve ser feita caso a caso", alerta Luciana Leocádio, chefe de análise da Ativa Corretora. "Se a companhia estiver em dificuldade financeira, num setor que será comprometido com uma recessão, as perspectivas não são boas."
É o caso das companhias siderúrgicas, reféns do desaquecimento chinês e norte-americano, com a retração das vendas de automóveis que já levaram, inclusive no Brasil, a férias coletivas nas montadoras. "Na construção civil, as empresas começaram a rever número de lançamentos e podem ter dificuldade de financiamento no curto prazo. Nestes casos, a oportunidade pode estar no longo prazo, mas não no curto", define Leocádio.
Até empresas cotadas pelo mesmo montante que o valor patrimonial apresentam significativa queda. A Vale, por exemplo, era avaliadas em bolsa em novembro passado (quando a crise internacional já tinha começado) por 4,46 vezes o valor patrimonial (no caso da PNA), múltiplo que caiu para 1,39 um ano depois.
Para Fernando Campello, gerente de contas da corretora Hera Investment, o indicador pode servir como uma margem de segurança para o investidor. "Para o acionista que comprou um ação que vale 50% de seu patrimônio, será ótimo se a empresa crescer. Mas mesmo que se a companhia quebrar, com um deságio na venda de todos os seus ativos, o investidor terá algum ganho", avalia.
Mas, como lembra o economista-chefe da Corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, ninguém compra uma ação esperando que a empresa precisará vender todo o seu patrimônio. Assim, os analistas recomendam que o investidor utilize mais de um indicador para saber se há oportunidade de compra ou, ainda que o papel esteja descontado, o cenário é muito nebuloso para fazer o investimento. "O valor patrimonial por ação pode ser um critério de decisão, mas não o único. Para ver onde está a oportunidade, o investidor começa pelo endividamento e, se estiver dentro do aceitável da média de mercado, deve conferir porque esta ação está mais barata", aconselha Vieira. "Pode ser que esteja perdendo mercado ou simplesmente que não esteja no foco do mercado, e isso acontece. Muitas vezes as atenções estão voltadas às blue chips e os ganhos estão em ações de segunda ou terceira linha."
Mas se a ação está abaixo do valor do patrimônio e apresenta prejuízo, não é exatamente uma oportunidade de mercado, destaca Campello. "O P/VPA e a rentabilidade por patrimônio líquido dão uma chapa da empresa, mas sem a perspectiva de resultados. Há opções de comprar R$ 1 por R$ 0,80, se o pessimismo for exagerado, a companhia bem gerida e o lucro ainda atrativo", completa. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Maria Luíza Filgueiras)
P.S. Deixei o texto tal como foi publicado, apesar do corretor do Word alertar para vários erros de português.
Faculdade e Boate
Num texto sobre a crise e o ensino (Faculdades reavaliarão planos para o ano que vem, Valor Econômico, 17/11/2008) o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), Hermes Ferreira Figueiredo, fez uma comparação no mínimo interessante:
Para quem critica a proliferação das faculdades particulares Brasil afora, Figueiredo concorda que nem todas correspondem ao padrão ideal de qualidade, mas responde sem rodeios: "Vamos continuar, sim, abrindo escolas. Todas as que forem possíveis. Apesar de alguns tropeços, estamos no caminho certo e o tempo vai provar isso. É melhor para a sociedade uma escola razoável do que uma boate de excelente nível".
Valor de Mercado
Um texto sobre contabilidade e avaliação a preços de mercado, publicado no El País. Grifo meu.
Valorar a precios de mercado
El País - Nacional - 16/11/2008 - 44
J. MORALES & A. VELILLA
Las normas contables emitidas por el International Accounting Standard Board (IASB), llamadas Normas Internacionales de Información Financiera o NIIF, fueron ya adoptadas por la UE desde 2005 para los estados consolidados de las empresas cotizadas europeas, y posteriormente han sido también introducidas en España a través de Circulares del Banco de España y el nuevo Plan General de Contabilidad. Dichas normas requieren la utilización del valor razonable o precio de mercado para la valoración de determinados instrumentos financieros que mantiene la entidad, mientras que otros instrumentos se mantienen a coste o coste amortizado.
La cada vez mayor falta de liquidez en muchos mercados está provocando que estimar el valor razonable para muchos instrumentos financieros requiera un gran esfuerzo y una gran carga de subjetividad, debido a que no hay precios de transacciones actuales disponibles. Ante la actual situación, el IASB ha respondido tratando de homogeneizar criterios entre las empresas a la hora de obtener el valor razonable y tratando de incrementar la transparencia en las cuentas anuales. En los últimos meses ha emitido guías conceptuales acerca de la obtención del valor razonable, ha permitido reclasificar activos financieros fuera de las categorías de valor razonable, ha declarado que las guías de valor razonable bajo USGAAP son consistentes con las NIIF y ha comenzado a incrementar los requisitos de desglose en las cuentas anuales.
Hoy día, poca gente duda de que el valor razonable sea el método de valoración más adecuado para reconocer en balance instrumentos financieros mantenidos para negociar, derivados, o activos con precios muy líquidos. Sin embargo, no todos están de acuerdo en la extensión de este método a más instrumentos.
Para unos, utilizar masivamente el valor razonable conllevaría un gran incremento de costes y que las cuentas no reflejen adecuadamente el modelo de gestión económica de la empresa. En este sentido, organismos como la Federación Europea de Expertos Contables (FEE) han realizado declaraciones a favor de mantener un modelo mixto de valoración.
Para otros, la utilización masiva del valor razonable conlleva una mayor transparencia, dar al inversor toda información disponible en cada momento, anticipar problemas de solvencia y que las normas contables sean más simples. Recientemente, el IASB y el FASB han dejado claro que entre sus objetivos a largo plazo se encuentra requerir que todos los instrumentos financieros se valoren a valor razonable con cambios en la cuenta de resultados.
En definitiva, la actual situación del mercado ha provocado que haya comenzado el debate entre los defensores de un modelo mixto como el actual (en el que no todos los instrumentos financieros se reconocen a valor razonable) y los defensores de ampliar el valor razonable a prácticamente todos los instrumentos financieros.
16 novembro 2008
Nem tudo que reluz se funde
Quem levasse ouro até uma Casa de Fundição tinha que declarar seu nome, o nome do proprietário do metal (se não fosse o próprio) e onde residia. O escrivão anotava estas informações em um livro e acrescentava o número de ordem do registro, a data, o peso do ouro apresentado e sua qualidade (expressa em quilates). No fim do dia, o tesoureiro registrava em um segundo conjunto de livros a movimentação diária do ouro naquela Casa de Fundição e o rendimento do quinto [imposto sobre o outro]. Terminado um livro, era feito o recenseamento do total apresentado.
Os registro da Casa de Fundição do Serro Frio dão conta de que, no dia 15 de julho de 1767, a cigana Joana Soares chegou lá com 4 onças de ouro (113,4 gramas). Por elas, pagou o quinto de 6 oitavas e 28,8 grãos, isto é: 22,9504 gramas. Fazendo as contas, conclui-se que o imposto pago por Joana Ultrapassou os 20% do total registrado. Teria sido erro de cálculo? Não. Na verdade, a cigana possuía 114,752 gramas, e não os 113,4 gramas que aparecem no registro. A diferença eram impurezas, que lhe foram descontadas no momento de se fundir a barra com a qual saiu de lá.
Esta diferença entre o ouro em pó impuro e o ouro em barra puro chamava-se "quebra". A julgar pleos registros dos quintos, a qualidade do ouro em pó em circulação em Minas Gerais melhorou bastante a partir da instalação das casas de fundição. No Serro, por exemplo, de 1753 a 1755, as quebras ficaram em torno de 3,375%. Uma década depois, de 1766 a 1767, haviam diminuído para 0,764% do total de ouro em pó apresentado. (...)
As casas de fundição também deviam ter livros com os nomes das pessoas que fossem comerciar em Minas, para comparar o valor do ouro fundido por eles com os livros dos postos fiscais (registros), que documentavam todos e tudo o que passava nas vias de acesso da capitania. O objetivo era ver se os bens apresentados e declarados pelos comerciantes correspondiam ao valor das fazendas [tecido] e gêneros que importavam. Com esta medida, Minas antecipou em dois séculos e meio a função fiscal da extinta CPMF: quem sonegasse seu ouro caía na malha fina!
Trecho da excelente Revista da Biblioteca Nacional, que em novembro dedica várias reportagens a questão do ouro em Minas Gerais. O trecho acima é muito interessante. Podemos usá-lo em custos (quebra!), contabilidade fiscal (quinto) e legislação (função dos livros de registros).
Fonte: Aqui
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