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16 outubro 2008

Críticos da Convergência


David Albrecht continua a saga para provar os problemas da convergência das normas dos Estados Unidos com o Iasb analisando textos de Charles Niemeier e Ray Ball.

Charles Niemeier é do PCAOB, entidade criada pela Sarbox para regular o mercado de auditoria. As críticas feitas por Niemeier são diversas e listarei aqui somente aquelas que eu julguei interessante.

Niemeier ataca a afirmação de que a IFRS é baseada em princípios e o US GAAP não. A abordagem conceitual do Fasb é tipicamente uma abordagem fundamentada nos princípios. Ele também não acredita que a adoção da IFRS aumente a comparabilidade dos relatórios financeiros em razão das dificuldades de implantação das normas nos diversos países.

Outro ataque de Niemeier (comprovado pela recente posição do Iasb) é que a normatização da IFRS está mais sujeita as pressões políticas que o GAAP. Veja, por exemplo, o link de hoje.

O texto é longo e você pode ter acesso aqui.

A análise mais interessante é da posição de Raymond Ball. Ball é um dos maiores da pesquisa contábil (seu paper de 1968 é um clássico e divisor de águas na pesquisa contábil). (A análise de Ball pode ser obtida aqui)

Ball cita três razões para não esperar uniformidade nas regras contábeis: (a) diferenças de usuários e necessidades de informações, diferenças nas empresas e setores, diferenças entre países e suas culturas mostram que é difícil imaginar um único padrão para todos os casos; (b) os padrões gerais existem em razão da complexidade do mundo e é difícil cobrir todos os aspectos; (c) as políticas de cada país e a forma de imposição das regras tornam difícil supor que seja possível otimizar o interesse público de todos os agentes.

“A despeito da indubitável integração que ocorreu, notavelmente no mercado de capitais e produtos, muitos mercados e forças políticas ainda são locais e irão permanecer assim por um futuro distante. Consequentemente, não está claro quanto da convergência na prática contábil irá (poderá) ocorrer”


Isto significa dizer que os incentivos dos atores envolvidos no processo de convergência ainda será principalmente local.

Vale e Caixa


Depois de captar recursos, que os analistas imaginavam que seria para uma grande aquisição, a Vale do Rio Doce anunciou que irá recomprar suas ações. Com isto, a empresa deverá gastar cerca de 5 bilhões de dólares. Fonte: Aqui http://seekingalpha.com/article/99988-vale-still-no-acquisition-but-flush-with-cash?source=feed. Ao lado, a cotação da ação da Vale.

Crise e contabilidade

Crise é o primeiro teste do padrão IFRS
Valor Econômico - 16/10/2008

A crise global é o primeiro grande teste do IFRS, o padrão contábil que caminha para ser a linguagem global dos balanços. A avaliação é de Henri Fortin, especialista financeiro sênior do Banco Mundial. "O IFRS nunca foi testado dessa forma. Não haverá surpresa se o resultado disso for muita discussão." (...) Aos poucos, começa haver um questionamento se o conceito de valor justo, essência do IFRS, sobreviverá à instabilidade. O conceito substitui a antiga referência de registro de ativos e passivos pelo custo, que está a prestes a se aposentar na nossa contabilidade.

A companhia deve avaliar qual o valor justo do bem e, para atender a isso, pode se basear nos preços de mercado, quando se tratar de ativos com liquidez, ou em metodologias matemáticas de precificação. Leonardo Ferreira, sócio da auditoria Deloitte & Touche, em Londres, e especialista em instrumentos financeiros, acredita que a sobrevivência do valor justo será a principal discussão que a crise deixará para a contabilidade. Nessa semana, o Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb), que desenvolve as normas para o IFRS, flexibilizou o uso desse conceito, cedendo a pressões políticas, depois que a Europa disse que não ficaria em desvantagem - já que nos Estados Unidos há mecanismos para que os bancos não registrem por valor de mercado alguns títulos. Para os técnicos em contabilidade, a decisão, embora compreendida em sua importância política do momento, abala a força do conceito. "Quebraram o termômetro do paciente que está com febre", avalia Alexsandro Broedel, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). Nelson Carvalho, professor da Fipecafi e presidente do conselho consultivo do Iasb, explicou o objetivo da medida foi eliminar a assimetria entre os dois principais mercados de capitais do mundo. "É preciso entender as decisões em seu contexto histórico." Com a medida do Iasb, os bancos dos países que usam o IFRS poderão reclassificar alguns ativos antes marcados a mercado, por estarem disponíveis para a venda, para papéis que serão carregados até o vencimento. Dessa forma, não precisarão mais ser corrigidos pelos preços praticados no mercado. Poderão ser registrados pelo custo mais a remuneração.

A medida foi acompanhada de aumento das exigência de transparência. "O Iasb entendeu que a orientação anterior poderia conter um efeito perverso para o mercado." É importante explicar, porém, que ao optar pela reclassificação as instituições terão, de fato, de carregar os papéis até o vencimento. Caso decidam vender esses títulos depois, há punições contábeis. Para completar o debate sobre o futuro do IFRS, também sua subjetividade está na mira das discussões. O padrão é baseado em princípios gerais e não em normas engessadas. Por isso, é conhecido por representar a "essência sobre a forma". Os balanços traduzem as decisões e ponderações da administração, dos contadores e auditores. O atual cenário deixará ainda mais importantes as decisões desse grupo, que serão os verdadeiros fotógrafos da crise.

Amaro Luiz de Oliveira Gomes, chefe do departamento de normas do Banco Central, enfatiza que o aumento da responsabilidade dos produtores dos balanços - administradores e técnicos em contabilidade - já era o desafio da convergência para o IFRS no Brasil. Para ele, a crise acentua ainda mais esse cenário. "O tratamento adequado dos registros será a maior lição." Broedel, da Fipecafi, afirma que é essencial que auditores e contadores deixem muito bem documentadas o caminho e as análises que basearam as demonstrações contábeis. Ferreira, da Deloitte, contou que a comparação das explicações fornecidas nos balanços a respeito das metodologias de precificação adotadas aumentaram substancialmente entre 2006 e dezembro do ano passado, quando a crise já despontava. Apesar dos questionamentos que o valor justo vem sofrendo e ainda poderá ser alvo, os especialistas defendem que ele foi essencial para revelar a crise antes que fosse incontrolável.

Para eles, não há fundamento nas avaliações de que a marcação a mercado dos títulos e as baixas contábeis geradas por esses ajustes contribuíram para acentuar a instabilidade. Ao contrário, Ferreira pondera que sem isso a alavancagem poderia ter se sustentado - e crescido - por mais alguns anos até que o problema alcançasse proporções imprevisíveis. Mas sabe que a permanência desse conceito dependerá das ponderações pós-crise.

Governança e crise

Aposta em derivativos expõe falha de comunicação
Valor Econômico - 16/10/2008

Então você pensava que depois de tanta conversa sobre governança, controles internos, leis de nomes estranhos e regras internacionais de contabilidade não haveria mais espaço para "criatividade" dos gestores das companhias abertas, responsáveis pela aplicação do dinheiro dos investidores. A crise global provou o contrário, mas, além da quebra de instituições antes sólidas como rochas, a grande surpresa para os assustados atores do mercado de capitais brasileiro foi descobrir que alguns executivos financeiros estavam brincando com fogo na terra árida dos derivativos. Quando grupos notadamente conservadores publicam anúncios em jornais citando termos exóticos como "swap com verificação em dólar", coloque um pé atrás. E se estão tentando lhe tranqüilizar com indicadores do tipo dívida líquida/ebitda e precisam lembrar que o grupo é quase centenário, coloque o outro. O que aconteceu com as diretorias financeiras das empresas?

O que deu a elas essa repentina liberdade para arriscar o caixa em operações pouco ortodoxas? Proteção cambial, no sentido tradicional de tentar minimizar os efeitos da variações da moeda, não é o nome desse jogo, assegura um auditor de uma grande firma do setor. "Foi um efeito manada", arrisca Alfried Plöger, vice-presidente da Abrasca, a associação das companhias abertas. "Enquanto se estava ganhando, ninguém reclamava." Esses "produtos financeiros" foram oferecidos pelos bancos às empresas num momento em que todos aparentemente apostavam na manutenção da estabilidade cambial, apesar dos sinais que vinham dos Estados Unidos. "Risco não se evita", diz Luís Carlos Vaini, contador especializado em governança. "Mas ele precisa ser administrado." Para Wagner Aquino, da superintendência de normas contábeis da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de administrado, tem que ser comunicado.

"As empresas, no lugar de nos perguntar se estão atendendo as regras, como fazem com freqüência, deveriam se perguntar se estão atendendo à necessidade de informação dos investidores." Ele enfatiza que a produção de informação contábil de forma ampla e transparente beneficia todo o mercado, pois aumenta a confiança. Ele ressalta que, além das normas contábeis, as políticas de contabilidade e de risco são escolhas que os conselheiros e a administração fazem e que deveriam estar claras e transparentes para o público. "Esse é o dever de casa que as empresas deveriam fazer. Afinal, política de 'hedge' não é responsabilidade só do diretor financeiro." Informação mais detalhada pode até ajudar a evitar problemas. "Isso não impede que a operação seja feita, mas o simples fato de ter que informar faz o executivo pensar duas vezes antes de tomar o risco", afirma Henri Fortin, especialista em administração financeira do Banco Mundial. Comunicação parece mesmo ser o cerne da questão. Nelson Carvalho, presidente do comitê consultivo do Iasb, órgão responsável normas internacionais de contabilidade, acha que o risco não é o problema. "Afinal, quem toma decisão, toma risco." No entanto, as empresas deveriam ter reportado detalhadamente esses riscos, mesmo os aparentemente mais remotos. "Ao fazer isso, a administração deixa para o leitor dos números julgar se aquilo é adequado ou não. Faça, mas relate." No caso das operações com derivativos que foram feitas nos intervalos de publicação dos balanços, Carvalho afirma que seria saudável se as empresas tivessem divulgado isso aos investidores. "A comunicação não deveria estar condicionada a calendários gregorianos. É a escolha que se deve fazer: ter um mercado sadio ou formalista." Por isso, lembra Ana María Elorrieta, diretora de assuntos técnicos do Ibracon, o instituto dos auditores, as explicações sobre derivativos dos balanços do terceiro trimestre terão que ser especialmente importantes em duas funções: trazer boas estimativas da situação atual dos contratos e informações sobre o que pode acontecer com eles no futuro.


grifo meu

15 outubro 2008

Rir é o melhor remédio

Começou a disputa que deverá definir o campeão do mundo de xadrez: o indiano Anand ou o russo Kramik. A disputa está sendo na Alemanha e pode ser acompanhada ao vivo na internet. Para comemorar esta disputa, o Rir é o Melhor Remédio de hoje é sobre xadrez (clique na imagem para ver melhor). O primeiro tabuleiro, é o tabuleiro republicano: sem o rei e a rainha. O segundo é o tabuleiro ateu: sem os bispos. O terceiro, é o marxista: somente com os peões. O último é o xadrez desagregador.

Links

1. IFRS 07 – Instrumentos financeiros – divulgações de informações (ainda não regulamentado pelo cpc)

2. O sol (fotografias fantásticas desta estrela)

3. Esclarecendo o SFAS 157 para o próximo trimestre (dica do Alexandre Alcântara)

4. Fasb e Fundo de Pensão

5. O ser humano é capaz de construir uma defesa contra o HIV e os cientistas estão descobrindo como isso é feito

6. Iasb e a melhoria na evidenciação dos instrumentos financeiros

Programa de Compras de ações

EUA: Bank of New York Mellon fará contabilidade do pacote
14/10/2008 - Gazeta Mercantil News (Tempo Real)

SÃO PAULO, 14 de outubro de 2008 - O Departamento do Tesouro americano anunciou hoje ter escolhido o Bank of New York Mellon para fazer a contabilidade do plano elaborado pelo governo dos Estados Unidos de adquirir os ativos necessários para a compra dos papéis podres acumulados pelos bancos no país.
"O Bank of New York Mellon será o representante do Tesouro para pôr em prática o programa de compra de ativos com problemas autorizado pela lei de estabilização econômica de emergência" que entrou em vigor no dia 3 de outubro, anunciou o Tesouro em comunicado.
Como parte do plano, o Estado federal injetará US$ 250 bilhões no capital dos bancos que se integrarem ao projeto, convertendo-se em conseqüência em acionista dessas instituições.
"O governo federal vai usar uma parte das centenas de bilhões de dólares do plano de ajuda para injetar capital nos bancos, comprando ações", anunciou hoje o presidente Bush, lembrando que "este novo capital vai ajudar os bancos saudáveis a continuarem emprestando a empresas e consumidores; vai também ajudar os bancos que estão em dificuldades a preencherem a lacuna criada pelas perdas durante a crise financeira."
Em um breve pronunciamento, o presidente dos EUA também afirmou que o governo vai garantir temporariamente as dívidas de bancos para lidar com a atual incapacidade das instituições de emprestarem dinheiro.
Segundo o presidente, quando voltarem às suas condições normais, os bancos serão encorajados a readquirir as ações que foram compradas pelo governo.
(Redação com agências internacionais - InvestNews)