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14 outubro 2008

Iasb também flexibiliza

Contabilização de ativos a valor de mercado será mais flexível
Reuters Focus - 13/10/2008

BRUXELAS, 13 de outubro (Reuters) - A entidade responsável por definir padrões globais de contabilidade votou por flexibilizar as regras sobre contabilização de ativos a valor de mercado, disse um porta-voz nesta segunda-feira. As regras foram apontadas por críticos como um elemento que acabou exarcebando a crise financeira.

O International Accounting Standards Board (Iasb), que emite regras contábeis para mais de 100 países, incluindo as 27 nações da União Européia, teve uma reunião de Conselho nesta segunda-feira.

Os membros do Conselho discutiram se deveriam alinhar as regras do Iasb sobre contabilização a valor de mercado às medidas tomadas nos Estados Unidos, onde as autoridades já haviam decidido flexibilizar a regulamentação sobre o tema.

A Securities and Exchange Commission (SEC, órgão regulador dos mercados dos EUA) emitiu uma instrução, livrando os bancos nos Estados Unidos da obrigação de ter que aplicar um elevado desconto aos ativos que tenham grande dificuldade de ser avaliados.

"O Iasb votou pelo alinhamento", disse o porta-voz.

Contabilizar a valor de mercado diz respeito à obrigação que os bancos têm de atualizar os preços de seus ativos que são negociados com freqüência às cotações do mercado.

Os preços de diversos ativos despencaram recentemente, pressionando os bancos a reforçar o capital num momento em que o mercado de crédito está praticamente congelado.

O comitê executivo da União Européia deve revelar na quarta-feira uma medida que vai permitir que instituições financeiras listadas nos mercados europeus tenham regras mais flexíveis para contabilização de ativos a valor de mercado, nos casos em que as regras do Iasb forem insuficientes para tal.


Sobre o assunto, mais aqui. Aqui, o pronunciamento oficial.

Custo da Poluição

Poluição cria custo extra para a Saúde
Valor Econômico - 14/10/2008

A cidade de São Paulo gasta, por ano, US$ 208 milhões com os efeitos da poluição atmosférica. A estimativa considera apenas os custos diretos que a cidade tem com as doenças e mortes causadas pelo coquetel de gases que os paulistanos inalam toda vez que enchem os pulmões. Em dias em que há paralisação do metrô e consequente aumento na concentração de poluentes, ocorrem nove mortes a mais do que nos dias pós-greve. Quem vive em cidades poluídas como esta tem a vida abreviada em 2,5 anos. Uma série de exemplos assim, bem pouco animadores, foram citados ontem durante o seminário "Poluição atmosférica e seus efeitos sobre a saúde humana - o estado atual do conhecimento científico" organizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). "O pior argumento que se pode ouvir é que a poluição do ar não tem efeito na saúde", diz o professor Paulo Saldiva, do departamento de patologia da FMUSP.

"Equivale a dizer que a Terra é plana", prosseguiu Saldiva, um especialista no assunto. "Poluição faz mal e todo mundo sofre. Sofre mais quem já é doente ou mais carente e o custo de não se fazer nada a respeito é bastante grande." Dez pesquisadores apresentaram seus estudos sobre os efeitos do ozônio, dióxido de enxofre, monóxido de carbono ou material particulado na saúde das pessoas. Foi um festival de horrores. Estudos recentes apontam que 5% das internações por doenças respiratórias de crianças e 8% nas de adultos ocorrem em função da poluição do ar. O aumento nas concentrações de CO (monóxido de carbono), SO2 (dióxido de enxofre) e PM10 (material particulado) representou um crescimento na mortalidade por doenças respiratórias de 15%, 13% e 7% respectivamente, citou o professor Luiz Alberto Amador Pereira, da Universidade Católica de Santos. Bebês e crianças até 2 anos são mais suscetíveis aos dias mais poluídos assim como alguns adolescentes - "o que se explique, talvez, pelas alterações hormonais", sugeriu o professor. Só em 2008, pesquisadores do mundo todo já publicaram mais de 100 estudos sobre os efeitos dos poluentes em crianças. Está comprovado que ocorrem mais casos de crises de asma, declínio na função pulmonar, baixo peso ao nascer e abortos. Experimentos com ratos mostraram que os animais que respiram o mesmo ar dos paulistanos registram mais casos de infertilidade que ratos colocados em câmaras com ar filtrado. "Estamos falando da poluição da esquina", salientou Saldiva, lembrando que as câmaras foram colocadas no jardim da Faculdade de Medicina, entre a avenida Doutor Arnaldo e a rua Teodoro Sampaio. O seminário ocorreu a dois meses do prazo para que entre em vigor a resolução 315/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que determina a distribuição de diesel com menos enxofre a partir de 1º de janeiro de 2009. Atualmente o diesel vendido na cidade tem 500 partes por milhão de enxofre e a partir de janeiro tem que ter 50 ppm. O prazo para que se cumpra a resolução transformou-se em polêmica opondo, de um lado, a Petrobras, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e as montadoras, alegando que não conseguirão se adequar a tempo, e do outro, ONGs, técnicos, médicos e o governo municipal. A campanha pelo diesel mais limpo ganhou a opinião pública. "A questão hoje está na Justiça", lembrou o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente Eduardo Jorge. "Agora estamos vendo um jogo de empurra entre os atores", prosseguiu. "Não há justificativa para o silêncio do sistema de saúde municipal, estadual e federal sobre o impacto da poluição na mortalidade e morbidade da população", disse Jorge. "A resolução está valendo em São Paulo e quem não a cumprir vai se entender com a Justiça. Nós vamos atuar de acordo com a lei de crimes ambientais." Representantes da Petrobras e da Anfavea, a associação que reúne os fabricantes de veículos, eram aguardados no seminário, mas ninguém apareceu.

Problema Cambial

A assimetria do contrato é tão leonina que, provavelmente, não sobreviverá nos tribunais. Mas isso terá um custo "moral" (e financeiro!) para as empresas que procurarem a proteção do seu patrimônio em ações judiciais, cujas soluções levarão anos. Enquanto estas não forem resolvidas, terão de registrar o passivo contingente em seus balanços, com graves prejuízos para o seu crédito e o desenvolvimento de seus negócios. (...) O que se deve perguntar é como uma coisa tão absurda pôde acontecer? A resposta é que se trata de uma combinação trágica: 1) da fértil criação de inovações pelos bancos de investimento, o que, se por um lado, é fator de estímulo ao financiamento das atividades econômicas e à cobertura de riscos, o que acelera o desenvolvimento, por outro (quando libertos da regulação institucional e de obrigações morais) acaba criando crises sistêmicas que atingem o setor real ao qual deveriam estar a serviço; 2) da crença ingênua dos departamentos financeiros das empresas nas "previsões" do mercado. Isso é surpreendente, uma vez que eles mesmos (com meros palpites!) ajudam a formá-la e, depois, acreditam nelas quando as lêem no Boletim Focus do Banco Central. Como deveria ser evidente, são "previsões" incestuosas. Não prevêem: apenas vão se ajustando ao desenrolar dos fatos; e 3) ao imenso descuido da famosa "governança corporativa". Quando tudo parece estar "bombando", ela não vê a necessidade de ter responsável, competente e "on time" auditoria externa para fiscalizar a qualidade das operações de sua tesouraria.


Antonio Delfim Netto - Hedge tóxico - 14/10/2008 - Valor Econômico

Mais ainda:

Poucos dias após o Grupo Votorantim revelar perdas de R$ 2,2 bilhões no mercado financeiro, a subsidiária Votorantim Celulose e Papel (VCP), que tem o capital aberto e ações negociadas em bolsa, afirmou em nota que sua exposição a derivativos está "adequada à política interna e segue os procedimentos de controle de risco adotados pela companhia". De acordo com a empresa, suas operações em derivativos de câmbio, também chamados de "Target Forward", somavam US$ 174 milhões no último dia 30. O valor justo desses instrumentos, ainda segundo a VCP, resultou em uma perda financeira de US$ 145 milhões no terceiro trimestre, valor que considera a curva de juros e a taxa de câmbio no final do período. A companhia informou que não é obrigada a desembolsar a quantia, visto que o efeito caixa só se dará na data de vencimento das operações.


(Valor Econômico - 14/10/2008 - Perda cambial)

E ainda

Dois executivos de bancos brasileiros disseram ontem que pode chegar perto de US$ 30 bilhões o valor total da exposição das empresas que fizeram operações cambiais descuidadas nos últimos meses e agora correm o risco de sofrer perdas por causa da repentina desvalorização do real em relação ao dólar. "Não parece ser um grande problema do ponto de vista macroeconômico ou sistêmico", afirmou o diretor de pesquisa do BBM, Beny Parnes, durante uma conferência organizada em Washington pela Brazilian-American Chamber of Commerce, uma associação formada nos Estados Unidos por investidores com negócios nos dois países. (...)

Nas últimas duas semanas, três grandes empresas brasileiras anunciaram perdas com operações cambiais que pareciam lucrativas antes do aprofundamento da crise financeira internacional e da virada do câmbio. A Sadia perdeu R$ 760 milhões, a Aracruz reconheceu prejuízos de R$ 1,95 bilhão e a Votorantim, mais R$ 2,2 bilhões. Na última sexta-feira, o presidente de um dos maiores bancos brasileiros disse ao Valor que provavelmente surgirão problemas em outras empresas nos próximos dias, mas ele acredita que serão companhias menores que as três que já reconheceram seus prejuízos. "Haverá outros casos, mas nada tão espetacular", afirmou o banqueiro. Segundo ele, bancos estrangeiros foram os primeiros a oferecer esse tipo de operação às empresas brasileiras, mas em pouco tempo bancos nacionais também passaram a negociar os mesmos contratos. Na sua avaliação, os problemas identificados até agora revelam um descuido elementar na administração de risco das empresas que participaram dessas operações. "Ninguém é criança, são empresas grandes", disse o executivo. O banqueiro disse que não há risco de perdas com os efeitos da desvalorização cambial sobre esses contratos para os bancos, porque todos se protegeram contra esse perigo com outras operações no mercado de derivativos, ao contrário das empresas. O único risco que os bancos correm nesses contratos é o de crédito, porque as empresas que estão na outra ponta podem decidir não pagar sua parte agora que perderam a aposta. O problema foi mencionado com preocupação por um observador da conferência realizada em Washington ontem. "A crise atual chamou atenção para as dívidas do setor privado e o que aconteceu com essas empresas pode ser um sinal de que há mais setores vulneráveis", afirmou o economista Arturo Porzecanski, ex-diretor de pesquisas do ABN-Amro para mercados emergentes e hoje professor da Universidade Americana. A ameaça foi minimizada pelos analistas dos bancos brasileiros e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que repetiu ontem o que vem dizendo há dias sobre o assunto. "Algumas apostas deram errado, mas não chega a ser um problema sistêmico", disse Mantega durante a conferência.


Perda de empresas pode ir a US$ 30 bi - Valor Econômico - 14/10/2008

Frase

O mercado de derivativos hoje é de US$ 531 trilhões, comparado com seu valor em 2002, de US$ 106 trilhões. Com a finalidade, teórica, de limitar o risco e proteger de problemas financeiros, esses contratos, pelo contrário, atiçaram a incerteza e, de fato, propagaram o risco em meio à dúvida sobre como as empresas os avaliam. Para muitos economistas, se Greenspan tivesse agido de modo diferente como presidente do Fed, de 1987 a 2006, a atual crise poderia ter sido evitada ou contida.

Refazendo uma análise do legado de Greenspan - Peter S. Goodman - 12/10/2008 - O Estado de São Paulo - (Originalmente publicado no New York Times)