24 julho 2008
Efeito da IFRS
Uma notícia de Portugal mostrando os efeitos da adoção da IFRS nos resultados semestrais:
Nova regra origina fortes quedas nos resultados semestrais das empresas
NoticiasFinancieras – 18/julho/2008
As empresas cotadas vão ter que abater aos seus resultados semestrais as menos-valias potenciais associadas aos seus investimentos financeiros, tal como prevêem as normas internacionais de contabilidade (NIC). Isso mesmo recorda a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários numa circular que vai ser enviada hoje a todos os emitentes a propósito da prestação de contas referente a 30 de Junho último.
A aplicação desta regra deverá originar fortes quedas nos resultados semestrais das empresas cotadas portuguesas, que vão ser apresentados a partir da próxima segunda-feira. Não é de excluir que, nalguns casos, possa mesmo haver sociedades a divulgar prejuízos no período relativo ao segundo trimestre do ano. (...)
As NIC, que entraram em vigor no início de 2005, determinam que as participações registadas na carteira de activos disponíveis para venda sejam contabilizadas de acordo com o "fair value" ( 'justo valor'), ou seja, tendo em conta o respectivo valor de mercado à data de encerramento de contas. E no caso de haver menos-valias potenciais, resultantes de uma desvalorização significativa ou prolongada, estas perdas latentes devem ser abatidas aos resultados através da constituição de uma imparidade (provisão).
O entendimento referido pelos especialistas aponta para que seja considerada significativa uma perda de valor da participação de 20% ou mais. Além disso, entende-se por prolongada uma desvalorização que se mantenha por dois trimestres consecutivos. Além de abaterem as perdas latentes aos resultados, os bancos, por exemplo, têm de deduzir as menos-valias aos fundos próprios.
Os Problemas da GM
Uma reportagem do Wall Street Journal faz um levantamento dos problemas da General Motors:
O grafico mostra a história do preço da ação da GM desde 1971 (fonte, aqui). O preço atual é o menor desde 1975.
Os problemas são mais sérios quando se sabe que pela primeira vez, desde 77 anos, a GM deixou de ser a montadora com maiores vendas de automóveis do mundo. A Toyota Motor vendeu cerca de 300 mil unidades a mais na primeira metade de 2008 (Toyota Ahead of G.M. in Auto Sales, Nick Bunkley, New York Times). As vendas estão boas nos mercados emergentes, mas em queda nos Estados Unidos. Não é uma boa para uma empresa que está fazendo 100 anos.
(Mas a própria Toyota anunciou um corte, modesto, na previsão de vendas - Toyota (TM) finally cuts sales forecast, Douglas McIntyre)
Reproduzo, a seguir, um comentário que recebi do Marcos (blog IFRS):
GM anuncia novos cortes e prepara medidas para melhorar liquidez
John D. Stoll and Sharon Terlep, The Wall Street Journal, de Detroit - 16 Julho de 2008
The Wall Street Journal Americas – 1
A General Motors Corp. espera sobreviver à profunda retração do mercado automobilístico americano ficando menor — mas não muito.
A montadora anunciou ontem que pretende cortar US$ 10 bilhões em custos nos próximos 18 meses com corte de pessoal administrativo e uma redução ampla nos gastos de marketing, engenharia e outros. Ela também vai tentar captar US$ 5 bilhões no mercado financeiro ou com a venda de ativos para ajudar a contrabalançar os prejuízos previstas e outras perdas de caixa.
Mas a empresa descartou a venda ou fechamento de mais marcas, passo que muitos analistas acreditam que ela precisa dar. (...)
O corte maciço de custos e os planos para captar recursos adicionais surgem três anos depois de a GM começar uma reestruturação que, se supunha, faria a empresa estar engatando agora em direção à lucratividade. Mas a empresa e outras montadoras estão sendo golpeadas por uma forte queda nas vendas de veículos nos Estados Unidos e uma repentina migração do consumidor para longe das caminhonetes e dos utilitários esportivos e em favor de carros de passeio e outros modelos que consomem menos combustível.(...)
Com a preocupação cada vez maior dos analistas de Wall Street de que o acúmulo de prejuízos este ano está prejudicando a liquidez da empresa, a ação dela caiu para valores que não eram vistos desde os anos 50, e seu valor de mercado baixou para US$ 5,57 bilhões, cerca de um quinto do que era no começo da década.
O grafico mostra a história do preço da ação da GM desde 1971 (fonte, aqui). O preço atual é o menor desde 1975.
Os problemas são mais sérios quando se sabe que pela primeira vez, desde 77 anos, a GM deixou de ser a montadora com maiores vendas de automóveis do mundo. A Toyota Motor vendeu cerca de 300 mil unidades a mais na primeira metade de 2008 (Toyota Ahead of G.M. in Auto Sales, Nick Bunkley, New York Times). As vendas estão boas nos mercados emergentes, mas em queda nos Estados Unidos. Não é uma boa para uma empresa que está fazendo 100 anos.
(Mas a própria Toyota anunciou um corte, modesto, na previsão de vendas - Toyota (TM) finally cuts sales forecast, Douglas McIntyre)
Reproduzo, a seguir, um comentário que recebi do Marcos (blog IFRS):
Problemas da GM: Prestei serviços na GM até Janeiro último (durante 5 anos), o que "talvez" explique esta situação, que já vem de algum tempo, pelo qual passa a empresa é o excesso de formalismo, posso lhe dizer que para se mudar qualquer coisa na organização é necessário efetuar reuniões até com o "papa", a sequência exigida para se mudar algo na GM é espantosa, posso lhe garantir que na Fiat não é assim (trabalhei lá na malfadada parceira Fiat-GM) e acredito que na Toyta também não seja assim, deve ser por isto que estas duas últimas estão comendo a GM pelas pernas,já passaram da canela e agora estão mordendo perto do joelho.
Seguro e Legislação
Uma conseqüência da lei Seca:
A forte redução do número de acidentes de trânsito desde a implantação da lei seca pode fazer com que as seguradoras reduzam os preços do seguro de automóvel. A Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais) avalia que se os índices de acidentes continuarem baixos por três meses, as empresas deverão reavaliar os custos das apólices.
Lei seca pode reduzir valor de seguros, diz Fenseg - 17/julho/2008 - FolhaNews
Impairment
Em Why investors should keep an eye on goodwill charges, David Zion (Financial Times, 17 de julho de 2008, Asia Ed1, p. 16) estima o impairment agregado de goodwill das S&P 1500 empresas em 281 bilhões de dólares. Mas isso é problema?
Apesar de não refletir no fluxo de caixa, o impairment afeta a expectativa futura do fluxo de caixa da empresa. Além disso, o impairment reduz o PL e o ativo, com influencia sobre indicadores como retorno sobre PL ou retorno do ativo.
Em alguns casos, o valor do impairment é elevado. Segundo Zion, a estimativa inclui 50 bilhões para o Bank of América, 43 bilhões para Wachovia e Citigroup e 9 bilhões para AIG.
Apesar de não refletir no fluxo de caixa, o impairment afeta a expectativa futura do fluxo de caixa da empresa. Além disso, o impairment reduz o PL e o ativo, com influencia sobre indicadores como retorno sobre PL ou retorno do ativo.
Em alguns casos, o valor do impairment é elevado. Segundo Zion, a estimativa inclui 50 bilhões para o Bank of América, 43 bilhões para Wachovia e Citigroup e 9 bilhões para AIG.
Dados em Excesso, Teoria e Ciência
A existência de dados em excesso (e a fácil disponibilidade dos mesmos através da internet) aliada à existência de softwares estatísticos tem transformado a ciência moderna. E isso também é perceptível nas pesquisas contábeis, onde os dados sobre comportamento dos preços das ações no mercado acionário, além das informações contábeis dos relatórios trimestrais das empresas abertas, têm sido usados exaustivamente. É muito comum a construção de pesquisas onde os autores apresentam uma técnica de tratamento dos dados, geralmente análise multivariada, testam em dados empíricos e chegam a resultados estatísticos. Mas parece que falta algo importante: a teoria ou o modelo que permitiria a explicação do estudo. É o quantitativo pelo quantitativo.
Tenho tido oportunidade de analisar muitos trabalhos nos últimos anos e esse problema tem sido comum. Mas seria que isso é realmente uma ciência? Seria possível construir modelos teóricos dessa forma? Mais ainda, os modelos teóricos são necessários? Basicamente podemos afirmar que nesse novo mundo a diferença entre correlação estatística e causação é muito tênue.
Leia mais sobre esse assunto neste texto do blog Academic Producitivity.com. Chris Anderson, autor do livro sobre Cauda Longa, em The End of Theory: The Data Deluge Makes the Scientific Method Obsolete, comenta o fim dos modelos. Anderson afirma de forma contundente: a abordagem de ciência com hipotese, modelo e teste está tornando-se obsoleta. No mundo dos dados, “correlação é suficiente”.
We can stop looking for models. We can analyze the data without hypotheses about what it might show. We can throw the numbers into the biggest computing clusters the world has ever seen and let statistical algorithms find patterns where science cannot.
Efeito camaleão
Assim como o réptil, os humanos são capazes de mudar radicalmente. A diferença é que não estamos falando de aparências, e sim do que se passa em nossas caixas cranianas. Conheça a ciência da persuasão e aprenda estratégias para convencer qualquer um a fazer aquilo que você quer
Dan Jones e Alison Motluk – Efeito Camaleão - Galileu, julho de 2008, n. 204, p. 64-71
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