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06 novembro 2007

Cisco

O caso da Cisco apresenta uma boa oportunidade para discutir a questão dos controles internos numa grande empresa. No dia 1 de novembro um dirigente da empresa falou sobre a questão e tentou mostrar que a matriz norte-americana não sabia de nada. Ou seja, a estratégia é tirar a responsabilidade da empresa e passá-la para outras empresas que atuavam em seu nome.


A seguir a reportagem do Estado sobre o assunto (grifo meu):


Cisco diz que não sabia o que funcionários e distribuidor faziam
Renato Cruz - 01/11/2007 - O Estado de São Paulo

Ninguém da empresa tinha falado antes sobre o assunto no Brasil

A Cisco Systems diz que não sabia de nada. Em 16 de outubro, quatro funcionários da empresa foram presos na Operação Persona, incluindo seu presidente no País, Pedro Ripper, e o homem que trouxe a empresa para o Brasil, Carlos Carnevali. Três foram soltos e um, Carnevali, continua preso. Quarenta pessoas foram detidas para desmontar um esquema de fraudes no comércio exterior que teria causado prejuízo de R$ 1,5 bilhão em impostos sonegados durante cinco anos.

"O sentimento foi de choque de que o governo brasileiro possa alegar que um grande montante de impostos não foi pago e algum esquema foi criado para sonegar impostos ao governo brasileiro", afirmou ontem Howard Charney, vice-presidente mundial da Cisco, sobre como a notícia foi recebida na subsidiária brasileira.

É a segunda vez que ele visita o País em duas semanas. Na semana passada, se reuniu com os funcionários e clientes para afirmar que a empresa age eticamente e continua operando.

A Mude, maior distribuidora da Cisco no Brasil, foi fechada. Segundo a Polícia Federal, ela funcionava como o departamento de importação da Cisco. "A Cisco não tem participação na Mude", garantiu Charney. "Não sabíamos como eles construíram a empresa, qual era a estrutura corporativa. Nossa meta era que eles importassem o produto certo e pagassem por ele. Os distribuidores fornecem estoque e crédito para nossos revendedores. Eles estavam fazendo um bom trabalho ao oferecer estoque e crédito para os revendedores e os produtos estavam sendo entregues no prazo correto. Se os procuradores não tivessem intervindo e dito que havia alguma coisa errada, nós não saberíamos."

Ontem, foi a primeira vez que algum representante da Cisco falou sobre o assunto. Antes disso, a empresa só havia divulgado comunicados. Desde o início do problema, a estratégia de comunicação da empresa tem sido conduzida a partir da sede, em San José, nos Estados Unidos. Uma assessoria de imprensa foi contratada especialmente para gerenciar a crise. Nenhum dos executivos brasileiros foi autorizado a falar com a imprensa.

Charney concedeu ontem nove entrevistas de meia hora para publicações diferentes, no Hotel Caesar Park Faria Lima, em São Paulo. A mensagem foi parecida com o primeiro comunicado, que dizia que a questão "envolvia um grupo de empresas brasileiras e pelo menos uma é revendedora Cisco". O esforço é para mostrar que a Cisco ou sua subsidiária brasileira não teriam nada a ver com o que está acontecendo. Charney defendeu Ripper e os outros dois funcionários liberados pela polícia. Mas não foi tão enfático na defesa de Carnevali, ressaltando que a Cisco nunca soube que ele tivesse feito alguma coisa errada.

Ontem, o desembargador Nelton dos Santos, da segunda instância da Justiça Federal de São Paulo, negou dois pedidos de habeas corpus pedidos na segunda-feira pelos advogados dos envolvidos no caso Cisco. Um dos pedidos referia-se a Cid Guardia Filho e Ernani Bertino Maciel, ambos da K/E, e outro a Moacyr Álvaro Sampaio, Marcelo Naoki Ikeda, Fernando Machado Grecco e José Roberto Pernomian Rodrigues, da Mude. O terceiro pedido de habeas corpus, referente ao acusado José Roberto Carnevali, ex-presidente da Cisco Brasil, ainda estava em análise. A decisão do desembargador é monocrática, ou seja, ainda passará por julgamento. COLABOROU ANDREA VIALLI


A seguir, a entrevista:

O que vocês já descobriram na investigação interna que estão fazendo?
O Estado de São Paulo

O que vocês já descobriram na investigação interna que estão fazendo?

Ainda não existem resultados. Em 16 de outubro foi a primeira vez em que tivemos notícia de que havia algo realmente errado. Os procuradores e a Polícia Federal estavam fazendo seu trabalho e fecharam a Mude e os escritórios da Cisco em São Paulo e no Rio. Por alguns dias, agora já estamos trabalhando de novo. Ficamos sabendo que havia alguma coisa realmente errada naquela data. Foi muito perturbador e iniciamos uma investigação interna, mas ainda não conseguimos completá-la. É preciso ainda entender que não temos acesso à documentação da Mude. Eles são uma outra empresa e seus documentos foram levados pelos procuradores federais. Tentamos entender o que houve, quem vendeu o que para quem, mas ainda não temos respostas para todas as perguntas.

O sr. sabia que a Mude teria usado empresas em paraísos fiscais para trazer seus produtos aqui para o Brasil?

Nós vendíamos produtos nos Estados Unidos para uma empresa chamada Mude USA. A Mude USA era um depósito e uma entidade legal que enviava esses produtos, até onde sabíamos, para uma empresa no Brasil, que era a Mude Brasil. Quem controlava essas duas empresas não era necessariamente de nosso conhecimento ou relevante para nós. O que era mais relevante para nós eram os pedidos que eles faziam e se eles pagavam suas contas. Se, quando eles entregavam os produtos para o cliente, o cliente ficava feliz. Se a instalação era feita de maneira correta. Agora, sabemos que a Mude tinha várias empresas, mas antes não sabíamos. A resposta é não, nós não sabíamos.

A polícia disse que a Mude funcionava como um departamento da Cisco no Brasil. O que vocês dizem sobre isso?

Nós, da Cisco, temos uma relação próxima com a IBM, com a Ingram - e tivemos uma relação próxima com a Mude, que nos falava sobre oportunidades nos setores bancário, hospitalar, universitário e governamental. Essas conversas fazem parte do processo de negócios. Temos um relacionamento próximo com todos os parceiros de negócios. Dizer que a Mude funcionava como um departamento da Cisco não é verdade. A Mude é uma companhia de terceiros, nós não dizemos a eles o que comprar nem que produtos devem manter no estoque e nós não dizemos para eles para quem dar crédito ou quem treinar. Falamos sobre negócios no Brasil, mas falamos sobre isso com todos os parceiros. A IBM é uma organização de vendas para a Cisco? Bem... Eles vendem nossos produtos, mas claramente não são a Cisco, são a IBM.

Por que Pedro Ripper e outros funcionários da Cisco foram presos?

Quatro funcionários foram detidos. Três foram soltos e um continua detido. Acredito que os procuradores federais e a Polícia Federal, de boa fé e fazendo seu trabalho, acreditam que um grande montante de dinheiro é devido ao governo federal do Brasil em impostos e taxas que não foram pagos. Eles têm transcrições de conversas entre pessoas. Eu não sei qual é o contexto das conversas. Mas eles acreditam que esses três indivíduos precisavam ser presos. Nós não entendemos precisamente porque as pessoas foram presas. Pedro era, é, o presidente da Cisco no Brasil. Talvez eles tenham acreditado que, por estar à frente da empresa no Brasil, precisava ser detido. Mas nosso entendimento é que realmente não há nenhum caso contra esses três indivíduos. Eles voltaram ao trabalho agora e estamos muito felizes que tenham voltado. Um funcionário ainda está preso, mas os procuradores federais não compartilham conosco porque fizeram o que fizeram.

Vocês não tiveram acesso ao processo?

Não. Nós sabemos muito pouco. Eles compartilharam conosco alguma informação. Mas, por exemplo, sabemos o que está no nosso registro, mas não no registro da Mude. Temos alguma informação, mas não muita.

Por que Carlos Carnevali ainda está preso?

Você percebe que essa pergunta não deve ser feita para mim, mas aos procuradores federais? Nós acreditamos que as informações que a Procuradoria tem sobre Carlos Carnevali são mais significativas. Muito mais sérias. É a única coisa em que podemos acreditar. Mas não temos controle sobre quanto tempo o sr. Carnevali ficará na detenção ou será solto.

Qual é a sua opinião sobre o sr. Carnevali?

Deixe-me ser claro: se pensássemos que o sr. Carnevali tivesse cometido atos imorais ou ilegais, teríamos tomado uma atitude muito mais cedo. Não tínhamos informação de que o sr. Carnevali tenha cometido qualquer ação imprópria. Teríamos feito alguma coisa a respeito. Se você me perguntar qual foi a reação, foi de incômodo. As acusações são bastante sérias. Não sabemos se as acusações são verdadeiras e teremos que esperar, como você, um, dois, três ou mais anos até haver uma decisão judicial. Mas estamos preocupados porque, se as acusações forem verdadeiras, ele fez coisas que não deveria ter feito, mas não sabemos. Não estamos felizes, mas a vida continua.

A história do sr. Carnevali está muito ligada à da Cisco no Brasil. Ele trouxe a empresa para o País. E a Cisco garante que tem um código de ética forte. Se as acusações forem verdadeiras, como isso pode ter acontecido, já que ele está há tanto tempo com vocês?

Nós temos um código de ética forte na companhia. Cada funcionário da empresa assina um código de conduta. Não podemos participar do controle de outras empresas, não podemos pagar para ninguém para ganharmos contrato e temos que agir de determinada maneira. O sr. Carnevali esteve na companhia - ele ainda está na companhia, tecnicamente - por muito tempo e tenho que dizer que, durante esse período, ele foi muito bem. Quando você pergunta que, se ele está há tanto tempo numa empresa com uma ética forte, como isso poderia acontecer, nós não sabemos. Não tínhamos nenhum motivo para acreditar que estaria acontecendo qualquer coisa que fosse ilegal ou antitética. O que nós sabíamos é que, na verdade, os negócios eram conduzidos de uma forma muito honesta. Nós simplesmente não sabíamos. R.C.


É interessante também notar a reação do mercado norte-americano (últimos seis meses):

Citibank

A notícia da semana (desta e da passada) refere-se a crise do Citigroup. O jornal Estado de S. Paulo de 5/11/2007 faz um balanço desta crise, com algumas observações contábeis interessantes:

O presidente do Citigroup, Charles Prince, renunciou ontem à tarde, dias depois de o banco anunciar prejuízos de bilhões de dólares com investimentos lastreados em hipotecas. O anúncio foi feito após uma reunião de emergência convocada pelo Conselho de Administração do Citigroup. O conselho também discutiu um novo anúncio de perdas bilionárias por causa da crise das hipotecas de alto risco (subprime).

Prince acumulava as funções de CEO (presidente) e presidente do Conselho de Administração do Citi. Como presidente do Conselho de Administração, será substituído por Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro americano e atual presidente do comitê executivo do banco. Win Bischoff, presidente do Citi na Europa e membro dos comitês de gerência e operações do grupo, ocupará o cargo de CEO interinamente.

É a segunda baixa importante em grandes instituições financeiras em apenas uma semana, por causa da crise do subprime. Na segunda-feira, o presidente da Merrill Lynch, Stanley O'Neil, anunciou que deixaria a instituição. O Merrill Lynch perdeu US$ 8,4 bilhões em créditos de risco e hipotecas. Em sua edição eletrônica, o jornal The Wall Street Journal, disse que o Citi deve anunciar hoje a revisão de preço de seus ativos, que pode levar a perdas de US$ 8 bilhões a US$ 11 bilhões em sua carteira de crédito. A instituição deve "marcar a mercado" parte dos títulos que mantém, ou seja, vai reduzir o valor dos papéis seguindo a queda na cotação dos títulos no mercado.


A avalição dos ativos do banco irá provocar uma redução no seu patrimônio líquido através do prejuízo com os títulos. Este valor provavelmente está estimado para baixo, o que significa dizer que o prejuízo pode ser maior. A reportagem continua:

Na semana passada, o Citigroup já havia anunciado uma perda de US$ 6,5 bilhões por causa de investimentos em títulos lastreados em hipotecas e outros instrumentos financeiros de alto risco. Com isso, o lucro do Citigroup no terceiro trimestre caiu 57%. As ações do Citigroup caíram 31% neste ano e 9% só na semana passada. Além disso, a instituição está sendo investigada pela Securities and Exchange Commission (SEC), a comissão de valores mobiliários dos EUA, por causa de fundos de investimentos mantidos fora dos balanços do banco, os SIVs, que têm ativos de US$ 80 bilhões. O Citi seria o maior beneficiário de um plano de resgate anunciado recentemente pelos bancos, com apoio do Tesouro. Prince, de 57 anos, dirigia o Citigroup desde outubro de 2003 e havia sido criticado por muitos acionistas porque as ações da empresa estavam perdendo valor em relação à concorrência. As ações do grupo fecharam a sexta-feira em US$ 37,73, acumulando perda de 20% no mandato de Prince. Rubin, de 69 anos, está no Citigroup desde 1999 e é bastante próximo de Prince. Entre 1995 e 1999 foi secretário do Tesouro e já trabalhou na Goldman Sachs.
Patricia Campos Mello e Agências - Robert Rubin assumirá comando do Citigroup
5/11/2007 - November 2007- O Estado de São Paulo - p. b3


Observe que o Citi buscou serviços em uma pessoa bem relacionada (ex-secretário do tesouro), assim como ocorre no setor financeiro no Brasil, onde os grandes bancos possuem um relacionamento muito próximo com o poder.

Existem uma série de reportagens interessantes sobre o problema do Citi na internet e gostaria de destacar algumas.

1) Uma conferência com os analistas pode ser encontrada aqui

2) Uma comparação rápida com escandâlos contábeis anteriores e a possibilidade da crise ser pior, aqui

3) Críticas a Robin e o papel que poderá desempenhar na crise => aqui

4) Uma análise da razão histórica dos problemas do Citi e o conceito de "financial supermarket", aqui

5) Um texto mostrando que o problema do Citi era antigo e já estava relatado nas demonstrações contábeis, aqui

6) A dificuldade de estimar o tamanho do problema - aqui

7) Os ativos "nível 3" do Citi, que representavam 135 bilhões, aqui. Os ativos nível 3 são ativos avaliados por parâmetros com dificuldade de serem observados.

8) Mais sobre ativos "nível 3" aqui

O que diz o mercado? O gráfico abaixo é a cotação do Citigroup nos últimos cinco dias.



O seguinte é a cotação nos últimos cinco anos.



Fonte: CNN Money.

Bundchen só recebe em euros

A modelo brasileira Gisele Bundchen foi destaque por insistir, em seus contratos, receber em euros. Aqui, em português, aqui, aqui e aqui

02 novembro 2007

Rir é o melhor remédio

Esta é uma história antiga, da época da União Soviética:

Uma comissão visita uma escola para verificar o patriotismo das crianças:

- Ei, pergunta um membro da comissão, quem é seu pai?
- Meu pai é a União Soviética, responde uma criança
- Bom garoto. E quem é sua mãe?
- O partido comunista, replica a criança
- E o que você quer ser quando crescer?
- Orfão

Um problema ético

Uma reportagem do Wall Street Journal informa que a Merrill Lynch fez um acordo com muitos fundos de hedge para atrasar a divulgação das perdas das suas carteiras.

Clique aqui para ler