O presidente do Citigroup, Charles Prince, renunciou ontem à tarde, dias depois de o banco anunciar prejuízos de bilhões de dólares com investimentos lastreados em hipotecas. O anúncio foi feito após uma reunião de emergência convocada pelo Conselho de Administração do Citigroup. O conselho também discutiu um novo anúncio de perdas bilionárias por causa da crise das hipotecas de alto risco (subprime).
Prince acumulava as funções de CEO (presidente) e presidente do Conselho de Administração do Citi. Como presidente do Conselho de Administração, será substituído por Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro americano e atual presidente do comitê executivo do banco. Win Bischoff, presidente do Citi na Europa e membro dos comitês de gerência e operações do grupo, ocupará o cargo de CEO interinamente.
É a segunda baixa importante em grandes instituições financeiras em apenas uma semana, por causa da crise do subprime. Na segunda-feira, o presidente da Merrill Lynch, Stanley O'Neil, anunciou que deixaria a instituição. O Merrill Lynch perdeu US$ 8,4 bilhões em créditos de risco e hipotecas. Em sua edição eletrônica, o jornal The Wall Street Journal, disse que o Citi deve anunciar hoje a revisão de preço de seus ativos, que pode levar a perdas de US$ 8 bilhões a US$ 11 bilhões em sua carteira de crédito. A instituição deve "marcar a mercado" parte dos títulos que mantém, ou seja, vai reduzir o valor dos papéis seguindo a queda na cotação dos títulos no mercado.
A avalição dos ativos do banco irá provocar uma redução no seu patrimônio líquido através do prejuízo com os títulos. Este valor provavelmente está estimado para baixo, o que significa dizer que o prejuízo pode ser maior. A reportagem continua:
Na semana passada, o Citigroup já havia anunciado uma perda de US$ 6,5 bilhões por causa de investimentos em títulos lastreados em hipotecas e outros instrumentos financeiros de alto risco. Com isso, o lucro do Citigroup no terceiro trimestre caiu 57%. As ações do Citigroup caíram 31% neste ano e 9% só na semana passada. Além disso, a instituição está sendo investigada pela Securities and Exchange Commission (SEC), a comissão de valores mobiliários dos EUA, por causa de fundos de investimentos mantidos fora dos balanços do banco, os SIVs, que têm ativos de US$ 80 bilhões. O Citi seria o maior beneficiário de um plano de resgate anunciado recentemente pelos bancos, com apoio do Tesouro. Prince, de 57 anos, dirigia o Citigroup desde outubro de 2003 e havia sido criticado por muitos acionistas porque as ações da empresa estavam perdendo valor em relação à concorrência. As ações do grupo fecharam a sexta-feira em US$ 37,73, acumulando perda de 20% no mandato de Prince. Rubin, de 69 anos, está no Citigroup desde 1999 e é bastante próximo de Prince. Entre 1995 e 1999 foi secretário do Tesouro e já trabalhou na Goldman Sachs.
Patricia Campos Mello e Agências - Robert Rubin assumirá comando do Citigroup
5/11/2007 - November 2007- O Estado de São Paulo - p. b3
Observe que o Citi buscou serviços em uma pessoa bem relacionada (ex-secretário do tesouro), assim como ocorre no setor financeiro no Brasil, onde os grandes bancos possuem um relacionamento muito próximo com o poder.
Existem uma série de reportagens interessantes sobre o problema do Citi na internet e gostaria de destacar algumas.
1) Uma conferência com os analistas pode ser encontrada aqui
2) Uma comparação rápida com escandâlos contábeis anteriores e a possibilidade da crise ser pior, aqui
3) Críticas a Robin e o papel que poderá desempenhar na crise => aqui
4) Uma análise da razão histórica dos problemas do Citi e o conceito de "financial supermarket", aqui
5) Um texto mostrando que o problema do Citi era antigo e já estava relatado nas demonstrações contábeis, aqui
6) A dificuldade de estimar o tamanho do problema - aqui
7) Os ativos "nível 3" do Citi, que representavam 135 bilhões, aqui. Os ativos nível 3 são ativos avaliados por parâmetros com dificuldade de serem observados.
8) Mais sobre ativos "nível 3" aqui
O que diz o mercado? O gráfico abaixo é a cotação do Citigroup nos últimos cinco dias.
O seguinte é a cotação nos últimos cinco anos.
Fonte: CNN Money.