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13 agosto 2007

A estrutura de custo e o atraso nos aviões

O blog Posner e Becker apresenta a cada semana um problema sob o ponto de vista destes dois economistas. Geralmente um deles levanta um assunto e o outro apresenta a sua opinião.

Nesta semana o tema é o atraso nos aviões. Ambos (aqui e aqui) opinam sobre os constantes atrasos nos vôos nos Estados Unidos é decorrente da estrutura de custos das empresas aéreas. Como o custo fixo é elevado, a empresas optam por atrasar as saídas para obter a maior ocupação possível.

Prêmio pelo risco

Em busca do prêmio perdido
Por Catherine Vieira - Valor Econômico - 10/08/2007

Nestes tempos de turbulências, o que mais os investidores gostariam de ter seria uma bola de cristal que dissesse como vão caminhar as bolsas. O economista especializado em finanças John Campbell, da Universidade de Harvard, infelizmente ainda não criou a engenhoca, mas contou pela primeira vez a uma platéia de brasileiros na semana passada alguns de seus pensamentos sobre os rumos do mercado acionário global.

Com o mundo de olho na economia americana e nos problemas de crédito iniciado pelo setor de hipotecas de alto risco dos EUA (os chamados "subprime"), é preciso começar a se preocupar seriamente? Para Campbell, é importante ser cauteloso, pois provavelmente a economia americana não vai crescer no mesmo ritmo nos próximos tempos, mas, na sua avaliação, o resto do mundo poderia compensar isso. "O crescimento da Europa e sobretudo da Ásia podem atenuar os efeitos", disse ele. "É interessante notar que na China, por exemplo, os mercados foram mais resistentes às turbulências, isso foi um aspecto interessante".

Segundo ele, é possível que o mundo esteja observando um novo padrão nos mercados, diferente daqueles do fim do século passado. O que poderia indicar uma espécie de híbrido de touro com urso. Nos Estados Unidos, o "bullish" (que vem de touro) é sinônimo de mercado em tendência de alta enquanto o "bearish", o urso, é o mercado em baixa, numa alusão às figuras que formam as curvas de tendências. "Será que existe um meio termo entre o urso e o touro", perguntou Campbell à platéia da palestra que fez no Rio a convite da Mellon Global Investments e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre o tema "Quão grande é o prêmio das ações hoje?"

O economista apontou que, se os prêmios médios da renda variável vêm caindo no mundo todo, ainda há ágios a serem capturados. Além disso, o investidor pode ser complementado com a seleção de ativos alternativos. O início dessa diversificação já começou nos últimos tempos, beneficiando ativos de mercados emergentes, por exemplo. Ele citou como exemplo o próprio portfólio da Harvard Management Company, que já deu início a essa diversificação, alocando mais em "'private equity' e ativos de mercados emergentes".

Após testar alguns modelos, Campbell mostrou que seria razoável assumir que o prêmio médio global da renda variável hoje está em torno de 3,4%. Esse prêmio seria a média de ganho que poderia ser obtida acima dos ativos livres de risco. Como referência de ativo livre de risco ele usou os títulos americanos de longo prazo atrelados à inflação.

Segundo dados pesquisados por Campbell, num cenário otimista, esse prêmio médio poderia ser de 5,2%, caso a recente lucratividade das companhias continue sustentada com alto índice de reinvestimento nos negócios. "Mas se as médias de lucratividade e investimento caírem aos níveis médios do fim do século XX, então, esse prêmio seria de 2,8%", explicou o economista. No meio do caminho, se encontra o percentual de 3,4%.

O mercado americano, disse ele, é o mais afetado pelas estimativas de lucratividade, por isso poderia ter um prêmio médio um pouco superior à média mundial, de 3,6%. "Mas particularmente no caso dos Estados Unidos não devemos esperar que o futuro seja tão bom quanto o passado", afirmou Campbell.

Outra ressalva importante feita pelo economista é que o cenário de bonança da economia mundial contribuiu decisivamente nos últimos anos. "É importante notar que esses prêmios só estão nesses níveis porque as taxas de juros de longo prazo estão baixas", ressaltou ele. Ou seja, num cenário de política econômica mais restritiva com maior juro e menor crescimento mundial, as contas mudariam.

"Os métodos confiáveis para estimar o 'equity premium' (prêmio das ações) mostram números positivos, embora menores do que os excessos dos retornos históricos na maioria dos países", observou Campbell. "Esses números, porém, são mensurados em relação a uma taxa de juro de longo prazo média pouco acima de 2%, sendo que, nos anos 90, essa mesma taxa era de 3,5%", destacou o professor. "Em resposta a retornos reais menores, muitos investidores diversificaram agressivamente seus portfólios, mas ainda há recompensas para a diversificação inteligente", disse Campbell.

Ele evitou fazer previsões específicas sobre o mercado brasileiro, que disse conhecer pouco. "Espero aprender mais sobre isso com essa visita", afirmou. Questionado se a recente febre de lançamentos de ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não poderia ser sintoma de uma bolha, Campbell disse: "Realmente um 'boom' de IPOs costuma ser um dos sintomas de que pode existir algum tipo de bolha, mas, no caso específico, é preciso analisar com cuidado e não necessariamente se trata disso", afirmou ele. "Há mercados nos quais a base anterior era muito baixa e onde havia uma demanda reprimida grande das companhias por esses recursos do mercado de capitais".

Segundo Delano Franco, diretor da Mellon e que mediou o encontro junto com Marco Bonomo, da FGV, a idéia é trazer mais especialistas estrangeiros para palestras desse tipo. "Há uma receptividade para esse tipo de evento. Os clientes têm uma curiosidade grande sobre visões de especialistas como John Campbell. Isso contribui para diversificar o debate", conclui ele, que já planeja um novo evento para o primeiro semestre do próximo ano.


Enviado por Ricardo Viana

Investimento de longo prazo

Persevere e triunfarás
Por Adriana Cotias - Valor Econômico - 09/08/2007

Um estrangeiro que tivesse trazido para o Brasil US$ 1 milhão em meados de 2002 e aplicado em uma determinada cesta de ações poderia ver seu patrimônio multiplicado por quase 25 vezes de lá para cá. Se esse capital tivesse aportado por aqui em 1992, teria 68 vezes mais o que possuía e, em 20 anos, o seu milhão teria se transformado em mais de US$ 145 milhões. Esses números são um bom indício de que, nestes tempos de fortes sacolejadas no mercado de ações, a melhor resposta para o aplicador pode ser o longo prazo. Se tiver uma carteira composta por papéis de empresas com bons fundamentos, com perspectivas de expansão para o negócio e crescimento de resultados, não há por que a estratégia de investimento não sair a contento, neutralizando as intempéries vividas em intervalos mais curtos.

Foi sob essa perspectiva que a GAS Investimentos fez uma simulação com uma cesta de dez ações em diferentes janelas de tempo: 5,10, 15 e 20 anos, distribuindo uma aplicação hipotética de US$ 100 mil em cada uma das empresas eleitas. A seleção incluiu Petrobras, Banco do Brasil, Itaúsa, Bradesco, Vale do Rio Doce, Cemig, Unibanco, Randon e Gerdau Metalúrgica , papéis de longa data negociados no pregão e com liquidez razoável. Assim, pôde constatar que mesmo que a gestão não seja das mais ativas, se as escolhas estiverem afinadas, a paciência do aplicador costuma ser recompensada.

Nos últimos cinco anos, o aplicador teria obtido uma valorização, em dólares, de 2.342%, acima do Índice Bovespa (Ibovespa), de 913%, ou do Dow Jones Industrial, de 51%. É claro que nesse período, a conta acabou sendo inflada pela fantástica valorização do real em relação à moeda americana. Mas olhando no prazo mais longo, o investidor teria conseguido, em 20 anos, um retorno médio anual consistente, de 28,3%.

Essa é uma lição para os tempos de intensa volatilidade, afirma o sócio da GAS e autor do levantamento, Alexandre Abuleac. "O investidor, quando faz aplicação em bolsa, se ele está calçado em empresas com bons fundamentos, não pode ficar olhando para o que acontece no curto prazo." A gestora tem como política comprar fatias consideráveis de empresas - ocupando até assentos nos conselhos de administração -, que acredita ter potencial de gerar valor para os minoritários, sem mexer muito nas suas carteiras. "É preciso buscar o retorno no longo prazo, evitar ficar comprando e vendendo e isso vale tanto para a gestão profissional quanto para o pequeno investidor", defende.

Com a herança cultural e financeira do pai, Leivi Abuleac, um dos maiores acionistas individuais do sistema Telebrás no período que antecedeu a privatização, ele ensina que o aplicador de bolsa não deve esperar dobrar de patrimônio em um ano. Mas se conseguir, na média, retornos na casa dos 28% (em dólares), como o observado no intervalo de 20 anos do seu estudo, é uma rentabilidade pra lá de excelente.

Quem entende muito bem de longo prazo é Dório Ferman, o comandante à frente do Lógica II, da Opportunity Asset Management, um dos fundos de ações mais antigos do mercado brasileiro. Criado em março de 1986, no limiar do Plano Cruzado, a gestão atravessou toda sorte de crises e planos econômicos. É por isso que se acostumou a olhar o risco de uma forma diferente da convencional, conta Ferman. "A gente não se impressiona com a volatilidade do dia-a-dia e só avalia se há risco de ocorrer uma crise econômica mais à frente", diz.

Para ele, os riscos no mercado hoje são até menores do que há seis meses, quando a bolsa chinesa caiu 8,5% num único dia, chacoalhando os mercados mundiais e a turbulência foi seguida pelos primeiros indícios de que as hipotecas americanas de alto risco ("subprime") trariam problemas. "A diferença é que agora os riscos estão refletidos nos preços e é isso que nos dá oportunidade de usar o caixa livre para fazer compras em condições mais interessantes."

As aquisições para a carteira do Lógica nunca são para giro rápido, embora seja comum a gestão movimentar todo o portfólio em intervalos de um ano. A posição mais antiga, carregada por mais de 15 anos, conta Ferman, foi de ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras. "Compramos os papéis quando valiam metade do preço das preferenciais e vendemos quando passaram a custar 20% mais." Não há preconceitos na escolha do portfólio, composto por "blue chips" e ações de segunda linha. O mix atual é formado por bancos (34%), incluindo os de menor porte recém-chegados à bolsa; energia elétrica (23%); mineração e siderurgia (15%), o setor imobiliário (8%), também cheio de novatas, com Agra, Abyara, Even, MRV , Tecnisa e Rossi, além de ter uma pequena exposição em tecnologia, com Bematech e Positivo.

Sentar e esperar os resultados frutificarem com uma paciência de Jó é a cultura que vem sendo transmitida pela Geração Futuro aos investidores do seu fundo de ações, que acaba de completar dez anos. Na carteira, há papéis com igual longevidade, caso de Plascar ON, do setor de autopeças. Nesse período, a gestão se defrontou com episódios tão diversos como a mudança do controle da empresa ou a recente incursão no Novo Mercado. "O que temos reafirmado para o cotista é para ele não se desfazer do seu projeto de investimento e manter uma programação de aportes mesmo quando a bolsa cai", diz o diretor Wagner Salaverry. "Nos últimos anos, o aplicador se acostumou a um longo período de alta e ele acabou esquecendo que a volatilidade é inerente ao mercado."

Outras veteranas da carteira da Geração são as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Randon, também da cadeia do setor automobilístico, e a fabricante de armas Forjas Taurus. A baixa liquidez desses ativos é balanceada com papéis de primeiríssima linha como Petrobras, Usiminas, Gerdau e VCP. Nos momentos de baixa da bolsa, a gestão aproveita para aumentar a participação em certas empresas. O desinvestimento, em alguns casos, tem sido feito por meio de ofertas públicas secundárias, como foi em Guararapes e Randon.


Enviado por Ricardo Viana

11 agosto 2007

Isto é economia?

O NBER Working Papers Series já divulgou mais de 13 mil trabalhos na área de pesquisa econômica. Afinal NBER significa National Bureau of Economic Research. Alguns destes trabalhos foram posteriormente publicados em periódicos de respeito.

O trabalho de número 13.308 é muito interessante e leva o título de From ´White Christmas` to Sgt. Pepper: The Conceptual Revolution in Popular Music, de David Galenson. Anteriormente este autor já tinha publicado trabalhos na série do NBER sobre pinturas. Agora o assunto é música.

Galenson analisa duas fases distintas da música popular. A primeira, denominada Golden Era, com a participação marcante de compositores como Irving Berlin e Cole Porter, e canções como White Christmas do título da pesquisa. A segunda fase, que inicia-se em meados da década de 60, tem como representantes Bob Dylan e Lennon-McCartney e albuns como Sgt. Pepper, também do título. A segunda fase, segundo Galenson, transforma a música numa experiência pessoal e quase obscura. Esta revolução na música ocorre quando em outras artes passa por um processo de transformação: o cinema de Godard e a pintura de Warhol.

O autor compara um lista de sucessos da Golden Era com os sucessos da fase mais recente de descobre que na primeira fase os compositores eram "senhores de idade" quando produziram seus maiores sucessos. A nova fase representa uma redução na idade média dos artistas, dos vinte aos trinta anos.

No artigo, na página 16, Galenson faz uma comparação interessante entre as músicas dos Beatles no início de sua carreira e a transformação ocorrida no álbum Rubber Soul e Sgt Pepper: enquanto em Sgt Pepper continha somente 13% a mais de palavras do que no álbum A Hard Day´s Night, o Sgt Pepper 75% a mais de palavras diferentes. A palavra "love" ocorria 53 vezes em A Hard Day´s Night, mas somente 13 em Sgt Pepper. Ou seja, ocorreu uma evolução com a dupla Lennon-McCartney.

Depois da leitura, uma pergunta:

Qual a relação de tudo isto com a pesquisa econômica?

10 agosto 2007

Rir é o melhor remédio

Petrobrás e Suzano

Governo e Petrobras terão de se explicar para deputados
Gazeta Mercantil - 10/08/2007

Governo, Petrobras e a Suzano Petroquímica terão que explicar o negócio entre as duas empresas em audiência pública na Câmara dos Deputados no dia 22. A oferta feita pela Petrobras para adquirir a Suzano Petroquímica está causando desconfiança no mercado, no Congresso e no governo.

Além da Câmara dos Deputados, já estão envolvidos em apurações sobre a legalidade da operação a CVM (Comissão de Valores Imobiliários) e o TCU (Tribunal de Contas da União). (...)

A CVM já abriu investigação para apurar a possibilidade de vazamento de informações privilegiadas sobre a venda da Suzano Petroquímica para a Petrobras, o teria aumentado o valor das ações da empresa. O TCU também vai investigar o negócio.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Cláudia Dianni e Rivadavia Severo)


Em outra reportagem, do mesmo jornal, mostra os planos da CVM para os casos de informação privilegiada:

Caso Suzano acelera planos da CVM
Gazeta Mercantil - 10/08/2007

Superintendência especial para julgar uso de informações privilegiadas trará mais agilidade. A ocorrência cada vez maior de casos de insider trading no mercado acionário levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a acelerar a criação de uma superintendência específica para julgar casos de ilícitos no setor. (...) Hoje, processos como o da suspeita de uso de informação privilegiada, no caso da compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras, são iniciados na superintendência de acompanhamento de empresas e depois seguem para a área de fiscalização.

"Com uma superintendência específica, os processos correrão mais rápido", afirma. A mudança depende de aprovação do Ministério da Fazenda, ao qual a CVM é submetida. Maria Helena calcula que atualmente os processos levam em média dois anos para serem julgados, prazo que considera adequado à média internacional, porém quer mais agilidade nos casos de maior visibilidade.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Aluisio Alves)



Ontem (09/08/2007) o jornal Valor Econômico (CVM promete marcar em cima do lance) informava que a CVM iria fiscalizar o que ocorreu com a Suzano. Uma liminar foi obtida na justiça para bloquear os ganhos de dois investidores que aparentemente ganharam com informação privilegiada.

A atual presidente da CVM declarou que uma das prioridades da instituição será a fiscalização e punição, além da agilidade na resolução dos casos.

No mesmo dia, a Gazeta informava que poderiam existir novos envolvidos no caso Suzano (Caso Suzano pode ter novos envolvidos, avisa CVM)

Em parceria com o Ministério Público, a CVM obteve anteontem da Justiça autorização para barrar os negócios feitos por um investidor pessoa física e outro estrangeiro. Juntos, poderiam lucrar mais de R$ 1,5 milhão. Como as operações só são liquidadas em D+3, ou seja, três dias úteis depois de realizada a operação, o bloqueio impediu que os investidores tivessem acesso aos recursos obtidos com a venda das ações.
(...) Na véspera do anúncio, o giro com ações preferenciais da Suzano foi de R$ 16 milhões na Bovespa, 300% maior do que a média diária de negociação dos papéis em julho. (...)
Maria Helena [presidente da CVM] disse que ainda não é possível saber se os investidores que tiveram as operações bloqueadas têm alguma ligação com as empresas envolvidas na operação. Ela adiantou, no entanto, que a lista enviada pela Bovespa com os nomes dos investidores que operaram com ações não aponta a existência de nenhum dos principais executivos da Suzano Petroquímica. (...)
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Aluísio Alves)

Auditorias em Cooperativas

O Banco Central passou a exigir das cooperativas a contratação de auditorias independentes para suas demonstrações financeiras a partir do exercício social de 2007. Para contornar esta regra imposto pelo Bacen, as associações de cooperativas decidiram criar a Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa (CNAC) para fazer auditoria em 860 cooperativas (Entidade tem por fim baratear exigência legal criada pelo BC, Valor Econômico, 10/08/2007). A justificativa é que a CNAC pode aproveitar a experiência das centrais de cooperativas na área de auditoria.

Será que a CNAC terá independência suficiente para fazer esta auditoria? E experiência na área de auditoria? O objetivo do Banco Central foi atendido com este jeitinho?