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30 julho 2007

Entrevista na Folha

Entrevista com Calomiris, professor da Universidade Columbia

FOLHA - Qual o papel das agências de rating na crise?

CALOMIRIS - As agências de rating são duramente criticadas pela forma como induziram preço ao subprime. As pessoas criticam a Moody's por não ter alertado para crise da Coréia do Sul. Mas não é justo pois todos sabiam que os bancos sul-coreanos iam quebrar. Mas agora a Moody's tem um papel muito ativo [no mercado de subprime]. Eles sabem como os papéis se parecem e são a fonte de informação de todo o mercado. São os grandes intermediários. As agências fazem a engenharia desse negócio e depois dizem que não são responsáveis, que a avaliação é apenas uma opinião, e não uma orientação de investimento. É risível.

(...) FOLHA - A crise afetará mercados emergentes como o Brasil?

CALOMIRIS - Todos sabem que os bons tempos não podem durar para sempre. Os juros [dos títulos] de países emergentes e do Tesouro dos EUA devem subir. Vai haver um pouco mais de preço para [papéis de] risco.

FOLHA - Há exageros no boom de abertura de capital no Brasil?

CALOMIRIS - No Brasil, há razões para sucesso dos IPOs [aberturas de capital] e do mercado acionário. O Novo Mercado é um grande sucesso. Mudou os níveis de transparência das empresas, mostrou capacidade de alto volume negociado e de altas emissões de ações. Deu certo aqui mesmo sem ter dado na Alemanha. As razões são não só a estabilidade macroeconômica mas as reformas financeiras. O interessante do Novo Mercado é que empresas e investidores aderem voluntariamente.

FOLHA - A Bolsa melhora a transparência e o capitalismo brasileiro?

CALOMIRIS - Por que empresas familiares concordam em aderir a práticas melhores de contabilidade e de respeito ao acionista? A resposta é porque esse mercado faz as ações subirem.

FOLHA - O Brasil entrou na rota das fusões e aquisições internacionais com a venda do banco ABN Amro. Por que o negócio é tão importante?

CALOMIRIS - É uma oportunidade única. Tivemos uma consolidação e não há mais tantas oportunidades. Não são surpresas essas alianças e a guerra em relação ao ABN. A consolidação dos bancos trouxe ganhos para os países emergentes. Trouxe mais crédito, menos risco e melhor regulamentação. Trouxe concorrência e tornou os bancos locais mais eficientes. O sistema financeiro brasileiro é um dos mais modernos, herança da época da inflação. A história mexicana não foi de sucesso, e os bancos tiveram de ser vendidos.

FOLHA - Como o grau de investimento pode ajudar o Brasil?

CALOMIRIS - Trará benefícios a partir da queda nos juros. Os grandes fundos já são investidores, mas só podem colocar um pequeno percentual em grau especulativo. Com o grau de investimento, poderão aplicar mais e diversificar riscos. O Brasil traz a vantagem de ter câmbio flexível e perfil macroeconômico favorável. A questão não é conseguir o grau de investimento, mas se vai manter um crescimento sustentável em longo prazo.

Turbulência nos mercados envergonha agências de risco, Folha de São Paulo, 29/07/2007

Contabilidade criativa na área pública

Um grupo de governadores, entre os quais a tucana Yeda Crusius (RS), está pressionando para que o governo federal assuma um controle mais rígido sobre as despesas de pessoal da administração pública. Eles querem que o Planalto desengavete no Congresso o projeto que prevê a criação do Conselho de Gestão Fiscal, órgão que, segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), deve cumprir o papel de "xerife" das contas públicas em nível nacional.

A Lei Fiscal foi aprovada há sete anos, mas até hoje o conselho não saiu do papel. A legislação previa que, enquanto esse novo órgão não fosse criado, o Tesouro deveria cumprir a função de fiscalizar e uniformizar a interpretação das regras fiscais, mas na prática isso não está funcionando.

"O maior problema da Lei Fiscal está nos demais Poderes, não tanto no Executivo", avalia o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.

(...)Esses Poderes não prestam contas diretamente à União e, em muitos casos, não se submetem às normas da Secretaria do Tesouro Nacional.

Um exemplo recente foi dado pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TC-DF). Derrotado no Supremo Tribunal Federal (STF) numa ação em que tentava obter aval para gastar sozinho 3% da receita do Distrito Federal (e não 1,5% como prevê a LRF), o TC-DF decidiu descontar o gasto que tinha com aposentados e pensionistas do cálculo de suas despesas com pessoal. Na prática, vários tribunais de contas do País estão fazendo a mesma coisa.

(...) Na prática, as fórmulas de "contabilidade criativa" são usadas pelos demais Poderes para se autoconcederem reajustes salariais, já que têm autonomia administrativa, e o único obstáculo que enfrentam são os limites da Lei Fiscal. Ao flexibilizar os limites, eles aumentam suas despesas e mandam a fatura para os Executivos estaduais.

Entre 2002 e 2006, por exemplo, as despesas de pessoal do Judiciário e Legislativo estaduais cresceu de R$ 17,6 bilhões para R$ 25,2 bilhões.

(...) Alguns tribunais de contas nem sequer cumprem o artigo da Lei Fiscal que os obriga a publicar na internet a prestação de contas de gastos com pessoal. É o caso de Roraima, do Amapá, do Rio de Janeiro, de Mato Grosso do Sul e Sergipe, entre outros.

Estados pedem mais controle Apesar do pedido, há governadores que patrocinam truques contábeis, Estado de S. Paulo, 29/07/2007

Governança Corporativa num Hospital

"Demos um corte da alta direção para cima, o que foi uma mudança de paradigma muito grande. Criamos um Conselho de Administração com duas pessoas de fora e duas pessoas ligadas ao hospital, que recebe os inputs da direção executiva. Houve uma reforma integral na parte executiva. Todas as diretorias antigas foram extintas e foram criados cinco novos cargos nas áreas administrativa, de enfermagem, financeira, técnica médica e comercial. Além disso, foram dissolvidos todos os órgãos que não se encaixavam no novo modelo como o Conselho Médico. Com a governança conseguimos acabar com o conflito de agência, entre o que é a propriedade e o que é a gestão, que era o calcanhar de Aquiles da instituição e verdades estabelecidas no hospital há muito tempo mudaram", relata o administrador Eduardo Blanski, contratado pelas irmãs proprietárias da Associação Congregação de Santa Catarina para instalar o projeto num prazo de nove anos.

Implantados os princípios de gestão e de governança, o segundo passo do HNSG foi reavaliar a linha de assistência que a instituição iria praticar. Aí também as medidas foram radicais: houve o descredenciamento do SUS e 250 leitos que se destinavam aos SUS foram desativados. O setor de ensino também foi reavaliado e teve de se tornar auto-sustentável, reduzindo-se o número de residentes de 44 para perto de 12. (...) O plano de saúde pertencente ao HNSG foi vendido para que não concorresse com seus maiores clientes e uma farmácia de manipulação, a Magistral - teve de adquirir independência financeira e ir ao mercado.

Boas práticas ajudam hospital a sair do vermelho, Gazeta Mercantil, 30/07/2007

Harry Potter e internet

A internet rapidamente divulgou os segredos do último livro de Harry Potter. O livro já está "traduzido" para o espanhol e um grande resumo já pode ser encontrado na Wikipedia.

Convergência no mercado acionário

Valor de ações em bolsas emergentes converge para o patamar de mercados desenvolvidos
Joanna Slater - The Wall Street Journal - 30/07/2007

Como viajantes que usam rotas diferentes para chegar ao mesmo destino, o valor das ações em partes diferentes do mundo estão convergindo para um único patamar.

Isso pode resultar numa viagem turbulenta. As quedas nas bolsas americanas da semana passada foram sentidas pelo globo afora, obrigando investidores a reconsiderar o quanto de risco estão preparados para suportar, e a que preço.

Nos últimos anos, os investidores se deram bem investindo em regiões e setores que estavam comparativamente baratos — como ações de mercados emergentes e de empresas de baixo valor de mercado — e vendo as cotações subir.

Com os valores se aproximando do mesmo patamar, essa fonte de retorno está desaparecendo. "Vai ficar mais difícil haver uma grande diferença em retorno de uma região para outra", diz Steven Bleiberg, diretor de alocação global de recursos da Legg Mason Inc.

Em abril de 2006, as ações de mercados emergentes tinham um desconto significativo em relação a suas equivalentes nos mercados desenvolvidos. Mas no fim do mês passado, período dos dados mais recentes disponíveis, esse desconto praticamente desapareceu: três índices da Morgan Stanley Capital International — que representam mercados emergentes, mercados desenvolvidos afora os Estados Unidos e Canadá, e o próprio mercado americano — estavam sendo negociados entre 16 e 18 vezes o lucro das empresas que os compõem durante os 12 meses anteriores.

A alta global das bolsas nos últimos anos "praticamente nivelou o terreno", escreveu num relatório Ronald Frashure, um dos diretores de investimentos da Acadian Asset Management, que administra US$ 80 bilhões. "Oportunidades de ouro escapam de nossa visão."

(...) A turbulência recente das bolsas expõe um dos recursos mais notáveis de um mercado de alta: os investidores compraram com voracidade ações de empresas de baixo valor de mercado, tradicionalmente consideradas mais arriscadas, elevando seu valor para perto do das blue chips. Investidores também abocanharam ações de mercados emergentes num ritmo tal que suas valorações estão quase em linha com as das ações de mercados desenvolvidos.

Outra maneira comum de medir o valor das ações — a relação com o valor patrimonial, informado no balanço da empresa — também conta essa história. No fim de junho, a relação entre cotação de bolsa e valor patrimonial das ações do índice de mercados emergentes da MSCI era 2,7, acompanhando o índice mundial da MSCI.

Para alguns observadores do mercado, essas valorações tão altas acendem um sinal vermelho, indicando que os mercados emergentes como um todo estão caros demais. As ações de mercados emergentes são geralmente negociadas com desconto porque envolvem mais riscos do que suas equivalentes desenvolvidas: as cotações são mais voláteis, os riscos políticos são maiores e as taxas de juros são geralmente mais altas, o que torna mais caro para as empresas tomar dinheiro emprestado.

Enquanto esses riscos durarem, dizem alguns, não faz sentido que o valor de ações de países em desenvolvimento acompanhe ou supere o das de mercados desenvolvidos.(...)

29 julho 2007

Onu

Notícia do jornal El Mundo informa que a ONU contratou uma construtora que pagou subornos na Argentina:

La ONU contrata a una constructora que pagó sobornos en Argentina
JUAN IGNACIO IRIGARAY
El Mundo - 29/07/2007 - p. 31

La ONU contrata a una constructora que pagó sobornos en Argentina

BUENOS AIRES.- La ONU anunció la firma de un contrato para la remodelación de su emblemática sede en Nueva York con la empresa sueca Skanska, una constructora líder en el mundo y muy cuestionada porque recientemente admitió haber pagado cuatro millones de euros en sobornos a altos funcionarios del Gobierno de Argentina. El convenio fue hecho público -sin mencionar el escándalo de corrupción que Skanska protagoniza en el país latinoamericano- durante una conferencia de prensa que brindó el viernes en Nueva York la directora de Administración y Gestión de la ONU, Ana Barcena, quien aseguró que la compañía sueca resultó seleccionada en un concurso público al que se presentaron otras dos firmas.(...)

Pero lo más llamativo de todo es que la ONU, al anunciar el proyecto, omita los antecedentes de su contratada. La constructora sueca lleva medio año sumergida en un escándalo de corrupción en Argentina, que ya produjo el despido del jefe y cuatro ejecutivos de su filial en el país, todos ellos acusados por la Justicia de «cohecho», o pago de sobornos. También dos altos funcionarios del Gobierno de Néstor Kirchner han sido imputados.En Estocolmo, Skanska hizo una auditoría y terminó admitiendo que su filial argentina pagó «comisiones indebidas» para participar en la construcción de gasoductos, obras que necesitan el visto bueno del Ejecutivo. La Justicia sueca está obligada a investigar, aunque se trate de un caso de corrupción en el extranjero, pues Estocolmo suscribió la Convención contra el Soborno Trasnacional. Así que el fiscal de la Oficina Anticorrupción, Christer van der Kwast, ya pidió los antecedentes y elementos del caso al juez argentino que tramita el expediente, Guillermo Montenegro, de cara a una posible acusación penal contra Skanska en su propio país.

O tamanho da empresa importa na decisão de refazer as demonstrações?

Uma empresa adotou práticas contábeis duvidosas que aumentaram a receita em 158 milhões de dólares e o lucro líquido em 22 milhões de dólares. Ela deveria refazer suas demonstrações?

E se a empresa fosse a General Eletric, onde a diferença representaria 0,2% do lucro líquido? A GE está argumentando com a SEC que não é necessário refazer suas demonstrações pois a diferença é pouco expressiva. O problema ocorreu no setor de locomotivas da empresa, no período entre 2000 a 2003, conforme noticiou o The Wall Street Journal (GE's Accounting Draws Fresh Focus On News of Improper Sales Bookings, por Kathryn Kranhold, 28/07/2007) e o New York Times (General Electric has terminated the employment of..., 28/07/2007)

Mas e se a empresa já tivesse sido investigada por outra questão, no caso contabilidade dos derivativos? A revisão tem mostrado que o lucro da empresa é mais volátil do que anteriormente divulgado.