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16 janeiro 2007

Jobs é intocável

Valor de hoje publica a versão em português da reportagem da Business Week:

Chegou a hora de saber se Jobs é intocável

(...)
Um relatório publicado em 29 de dezembro por um comitê especial de dois membros, formado por nada menos que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore e pelo obstinado e veterano financista Jerome B. York, "não constatou nenhuma conduta inadequada" de Jobs e outros administradores. Mesmo assim, o documento reconhece que Jobs tinha conhecimento sobre parte das 6.426 opções de ações concedidas entre o fim de 1996 e o começo de 2003 - mais ou menos 15% do total da época -, e que foram datadas de maneira imprópria para dar aos funcionários um preço artificialmente baixo. Em algumas ocasiões, Jobs chegou até a recomendar as datas.

As opções permitem a seus proprietários comprar ações em uma data posterior, geralmente ao preço de mercado do dia em que elas foram concedidas. Retroagir as opções para dias com preços mais baixos garante um lucro certo.

A Securities and Exchange Commission (SEC), o órgão regulador das bolsas americanas, está examinando uma auditoria interna da Apple como parte de uma investigação formal sobre a alteração das datas das opções pela companhia. Além disso, vários especialistas em legislação e em remuneração estão ficando surpresos com a maneira como a Apple lida com seu funcionário mais valioso, quando outros presidentes de empresas estão sendo demitidos por envolvimentos parecidos ou menos óbvios em casos de opções de ações exercidas com data retroativa.

"Ele sabia o que estava fazendo. Antedatou as opções de propósito e o comitê disse que dará a ele um passe livre", diz Alan Johnson, diretor administrativo da Johnson Associates, uma consultoria de Nova York especializada em remuneração. Até mesmo algumas companhias do Vale do Silício estão perturbadas com as conclusões do relatório da Apple. "Parece que o conselho da Apple está tentando encobrir a situação porque gosta muito dele", diz Willem P. Roelandts, executivo-chefe da fabricante de chips Xilinx Inc.

Mas será que o mundo está preparado para ver um de seus maiores inovadores ser sacrificado no altar dos deuses da boa governança - especialmente quando não está claro como ele foi beneficiado pelos atos, ou seus acionistas prejudicados?


Ou seja, até onde estamos dispostos a defender a governança? Vide essa notícia no dia 5 de janeiro nesse blog, clicando aqui

14 janeiro 2007

Carta para o Wall Street Journal

Honey, I Audited the Children!
13 January 2007
The Wall Street Journal

If tracking allowances is a problem for parents it says more about their own accounting system, or lack of it, than about their kids ("Allowance 2.0," Pursuits, Jan. 6). My 14-year-old daughter must tabulate what comes in (allowance plus job) and what goes out (expenditures) on a spreadsheet monthly. If she doesn't do it or it doesn't pass my audit, then there is no allowance until she does pass.

Double-entry bookkeeping, which goes back centuries, marked a major financial advance, and parents who don't teach their kids some variation of it are derelict. It's fun, and gratifying, to see my daughter struggle to get her tabulation to be consistent from one month to the next. When she grasps what is involved, it will scale up to her own household, or even a business when she reaches adulthood.

Samuel Burkeen

Reston, Va.

Dívida perdoada

Da Veja dessa semana (via blog do Reinaldo Azevedo):

Num dos períodos mais lucrativos para os usineiros de cana-de-açúcar no país, o Banco do Brasil concedeu ao setor perdão de dívidas superior a R$ 1 bilhão, segundo documentos obtidos pela Folha.O benefício foi garantido em repactuações de débitos fechadas no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo entre 2004 e 2006, referentes a empréstimos e financiamentos contraídos ou renegociados na década de 90.De 2003 para cá, o banco selou acordo com pelo menos 20 produtores, a maior parte do Nordeste. Apenas em quatro casos, a redução no valor alcança cerca de R$ 400 milhões.Dois advogados ouvidos pela Folha com vários clientes nessa situação, que pediram para não ter seus nomes divulgados, disseram que o perdão para os 20 usineiros ultrapassa facilmente R$ 1 bilhão. O grupo pernambucano União, por exemplo, pagou apenas 1,77% (R$ 3,7 milhões) dos R$ 208,63 milhões que devia originalmente.

Eu costumo usar o exemplo dos usineiros em sala da aula para comentar como é difícil fazer análise de balanços. A frase que fazer dívida é ruim (consequentemente endividamento quanto menor, melhor) não é válida. E cito o exemplo dos usineiros, que fazem dívida e não pagam. Fazer dívida pode ser bom.

Pan

Do Estado de hoje:

A seis meses da abertura do Pan-Americano, o Rio entra na reta final de preparação sem dinheiro para o término de todas as obras e outra vez apela para o governo federal, que já investiu cerca de R$ 1,5 bilhão no evento. De todos os equipamentos, a reforma do Complexo do Maracanã (estádio, ginásio e parque aquático) se tornou a principal incógnita para os organizadores, principalmente depois de anunciarem que são necessários mais R$ 84 milhões para a conclusão.

O novo governo estadual admite que não ainda sabe como fazer para saldar as dívidas e culpou a gestão anterior por supostamente ter deixado de pagar várias contas. Na semana passada, a União liberou R$ 30 milhões que não estavam previstos para o Complexo do Maracanã. Desse total, R$ 23 milhões serão destinados só para o Maracanãzinho.

(...) Em 2003, a reforma no Maracanãzinho foi orçada em R$ 17,9 milhões. Hoje, atingiu a cifra de R$ 33 milhões e estima-se que o custo total será de R$ 86 milhões. A origem do valor faltante para o término das obras - R$ 53 milhões - também é uma incógnita. A opção inicial do governo estadual é tentar captá-lo também junto à União.

13 janeiro 2007

Freakonomics processado

Quem leu o best-seller Freakonomics deve ter achado interessante o capítulo sobre aborto e crime. Pesquisas posteriores mostraram que talvez a pesquisa tinha problemas. Na segunda edição (ainda não traduzida para o português) os autores afirmaram que Lott falsificou seus resultados. Lott não gostou do texto e entrou na justiça. (clique aqui)

Pesquisador famoso x novato 2

Ainda sobre a questão do pesquisador famoso x novato 2 (clique aqui para o anterior), se você descobrisse uma anomalia no mercado que poderia render um retorno anormal em relação ao risco, você publicaria?

Se você responde não, poderia ganhar muito dinheiro. Publicando, outras pessoas começam a usar da informação e o retorno anormal desapareceria.

Para ler mais, clique aqui

Governança nas empresas tradicionais

Um artigo de Alexandre Di Miceli da Silveira, Professor da Fipecafi, na Gazeta de 12/01, explica a relação entre empresas tradicionais e níveis de governança (esse é o título). Apesar do número crescente de empresas nos níveis mais avançados de governança, a proporção ainda é pequena em relação ao total (13% das empresas).

i) "por que uma taxa maior de empresas tradicionais (com capital aberto há mais tempo) não vem migrando para os níveis mais avançados de governança?; ii) como incentivar tal migração, tendo em vista os benefícios não apenas para as companhias, mas para todo o mercado?

Em relação à primeira pergunta, uma resposta econômica simples seria a de que os controladores das companhias tradicionais provavelmente ainda não percebem, do seu ponto de vista, que os benefícios superam os custos (explícitos e implícitos) de tal migração. A própria existência do Nível 1 de governança, aliada à baixa capacidade de diferenciação entre os níveis por parte da grande maioria dos investidores, faz com que muitas empresas já pertencentes a este segmento não migrem para o Nível 2 ou Novo Mercado (...)

Em relação à segunda pergunta, a resposta também é simples do ponto de vista econômico: aumentando os benefícios relativos de se estar no Nível 2 ou Novo Mercado. (...)"


São questões interessantes que merem uma análise mais profunda.