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19 dezembro 2006

Insegurança jurídica no Brasil


As empresas de telefonia estão reclamando da insegurança jurídica no Brasil (Estado, 19/12/2006):

'Dinheiro não tolera desaforo'

Operadoras de celulares reclamam de insegurança jurídica no Brasil

Gerusa Marques

O presidente da Associação das Operadoras Celulares (Acel), Ércio Zilli, criticou ontem a insegurança jurídica e regulatória para o setor de telefonia no País, que, segundo ele, contribuem para afugentar investidores. A indefinição de regras, segundo ele, também incentiva movimentos de fusão e concentração entre empresas, como a eventual venda da TIM para a Claro, que ocupam a segunda e a terceira posição entre as maiores empresas que operam no Brasil.

'Dinheiro não tolera desaforo', disparou Zilli, em entrevista coletiva. Além disso, diz, o mercado brasileiro não comporta quatro ou cinco operadoras de telefonia celular em cada região, como defende a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). No Brasil, operam três grandes grupos nacionais, Vivo, TIM e Claro, e empresas regionais, como a Oi, a Brasil Telecom, a Telemig Celular e a Amazônia Celular.

As operadoras, segundo a Acel, têm investido de 25% a 30% de sua receita todo ano na ampliação de suas redes e da cobertura dos serviços. Zilli disse que nos últimos cinco anos as companhias acumulam um déficit de R$ 8 bilhões em seu fluxo de caixa, uma vez que investiram R$ 38 bilhões e geraram R$ 30 bilhões em receitas. 'Do ponto de vista do retorno, os movimentos de concentração são bastantes plausíveis e prováveis.' (...)

Petrobrás será indenizada


Depois de meses, o ministro do governo boliviano diz novamente que a Petrobrás será indenizada. Fica a impressão de que o acionista da Petrobrás perdeu e continuará perdendo com tudo isto.

Petrobrás será indenizada, diz ministro de Evo

Carlos Villegas, de Hidrocarbonetos, afirmou que o seu governo contratará uma consultoria para definir o valor

Denise Chrispim Marin

O ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, garantiu ontem que a Petrobrás será indenizada pela nacionalização de suas duas refinarias de petróleo em Santa Cruz de la Sierra. Ao final de um encontro de duas horas com o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, Villegas anunciou a jornalistas que o governo boliviano contratará uma consultoria para definir o valor de mercado das duas unidades.

Essa tarefa deverá ser concluída até a primeira semana de fevereiro. (...)

As contrapartidas acenadas pelo Brasil foram os novos investimentos da Petrobrás na produção de gás na Bolívia e a possível construção de um pólo gasoquímico por empreendedores privados brasileiros do lado boliviano da fronteira.

'Falava-se muito sobre o pólo gasoquímico, deixou-se de falar (com a nacionalização do setor de gás) e voltou-se a falar por iniciativa do próprio Evo Morales. A Petrobrás também contempla novos investimentos', afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. 'Há três meses, seria difícil falar nesse assunto. Mas houve uma evolução importante, que não é definitiva. Há uma disposição nova.'

Embora não afaste o risco de novas ações unilaterais do governo boliviano contra interesses brasileiros, Amorim acredita que há condição para se criar um 'clima positivo'. O próprio chanceler Choquehuanca afirmou que ambos os países começaram uma fase superior, baseada na solução de todas as questões por meio do diálogo. 'O diálogo é o oposto de medida unilateral. Alguns anseios históricos da Bolívia foram tratados de forma abrupta (pelo governo Morales). Com o tempo, as coisas voltam ao leito normal', declarou Amorim à imprensa.

As refinarias foram compradas pela Petrobrás em 1999, para atender a pressões do governo boliviano, por US$ 100 milhões. A companhia brasileira, até então, resistia a ingressar no segmento de refino de petróleo na Bolívia. Em maio deste ano, as refinarias tornaram-se emblemas do processo de nacionalização do gás e do petróleo pelo governo Evo, ao serem ocupadas por militares. Nesse processo, tornou-se claro que a YPFB passaria a controlar 51% das ações das refinarias. Mas a indenização da companhia pela perda de patrimônio ficou em aberto, sem garantias claras do governo boliviano.

15 dezembro 2006

Investidor humano

Investidores, afinal, são seres humanos
Por Luciana Monteiro
14/12/2006

É preferível ganhar R$ 80 mil ou ter 80% de chance de ganhar R$ 100 mil? Certamente, a grande maioria das pessoas escolherá a primeira opção. E entre perder R$ 80 mil e a probabilidade de 80% de perder R$ 100 mil? Sem dúvida, a maioria escolherá a segunda alternativa. As respostas dadas a essas perguntas, feitas em pesquisa conduzida por Amos Tversky, fundador da teoria financeira comportamental, mostram que, em qualquer parte do mundo, a reação do investidor será a mesma: ele não está disposto a correr risco para obter ganhos.

Esse padrão de comportamento ratifica a essência daquela teoria, segundo a qual as decisões econômicas não se pautam apenas por motivos racionais. Em seu livro, o economista Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais da ABN Amro Asset Management, usa essa premissa como moldura de recomendações que faz ao investidor individual.

Mosca fez uma coletânea de artigos que publicou na coluna "Palavra do Gestor", do Valor, para mostrar como o investidor pode orientar suas aplicações por princípios de análise comportamental e como é importante considerar contextos que recomendam essa opção - inclusive, para evitar decisões mal fundamentadas.

Um dos erros mais comuns está associado ao entendimento equivocado do que o economista chama de "representatividade" - a tentativa de prever o futuro com base em resultados passados. Mosca cita como exemplo um mês em que a bolsa de valores tenha apresentado um bom desempenho. "Com certeza, haverá um maior fluxo de recursos para fundos de ações no período seguinte." O problema, no entanto, é que o investidor estará entrando em bolsa num momento de alta, quando é justamente o oposto que deveria fazer.

Outra armadilha se apresenta quando o investidor se amedronta diante de eventos raros, que o autor chama de "saliências". "São eventos com baixa probabilidade de se repetir, mas que, como são muito divulgados, influenciam o comportamento do investidor", diz. Basta lembrar a forte queda dos papéis da área de aviação após o acidente com o avião da Gol no fim de setembro.

As pessoas também têm uma forte tendência de agir conforme a maioria, o que provoca o chamado efeito manada. "É muito confortável agir em conformidade com um grupo", diz. Nos investimentos, é muito mais aceitável a perda quando todo mundo está perdendo, mas ao fazer isso o aplicador não está levando em conta que poderia estar ganhando se tivesse assumido o risco de agir diferente.

Outro erro comum é a dificuldade de aceitar que se está errado. A "teoria do arrependimento", diz o autor, faz o investidor persistir numa estratégia incorreta por não assumir que errou. "As pessoas acreditam que há um momento peculiar para investir, e não admitem que erraram", diz o estrategista da ABN Amro Asset. "Todo fim de mês, os investidores tentam adivinhar o que acontecerá no mês seguinte, o que é um erro." Segundo Mosca, as pessoas têm uma tendência de superestimar o próprio conhecimento.

A cultura do curto prazo, ainda dominante entre os investidores no Brasil, potencializa a possibilidade de erros ao se adotar essa estratégia, lembra o executivo. "É a tentativa de adivinhar o que acontecerá com a economia num prazo de 22 dias úteis", afirma Mosca. Além disso, o aplicador acostumou-se com as altas taxa de juros pagas pelos papéis do governo. "Com juros agora mais baixos, será preciso assumir mais riscos para bater o CDI."

A dificuldade em lidar com o dinheiro, no entanto - que é, no fundo, o que determina o comportamento do investidor - não é característica exclusiva do brasileiro. Pesquisadores da Universidade de Cambridge constataram que 50% dos entrevistados, numa amostra tomada para estudo de comportamento, apresentaram aceleração significativa no ritmo cardíaco quando tiveram de organizar suas finanças. Outros 15% ficaram imóveis e sequer tentaram analisar os dados antes de desistirem por completo. Quando o assunto é dinheiro, mudanças comportamentais ocorrem e podem impedir que a pessoa tome as melhores decisões, usando a mesma desenvoltura com que trata de outros assuntos, escreve o autor.

Para o economista, o primeiro passo para fugir desses comportamentos de risco é tomar consciência do problema, perceber os sintomas e decidir com a maior clareza possível de objetivos.

"Investimento Sob Medida" - De Aquiles Mosca. Lazuli/CEN, 110 págs. R$ 25
Valor Econômico


Enviado por Ricardo Viana (grato)

14 dezembro 2006

Economia é fábula


De Ariel Rubinstein

As in the case of a good fable, a good model can have an enormous influence on the real world, not by providing advice or by predicting the future, but rather by influencing culture. Yes, I do think we are simply the tellers of fables, but is that not wonderful?

Fonte: Marginal Revolution

Citação


Life is a business that does not cover the costs

Schopenhauer, The World as Will and Representation (Via Marginal Revolution)

Teste de honestidade


Cem carteiras com 2,10 US$, mais um certificado com valor de face de US$50 (falso), documentos de identidade e outros itens foram deixados aleatoriamente em Belleville, Illinois, uma cidade de 40 mil habitantes. 74 carteiras foram devolvidas. Mulheres idosas brancas tinham mais chance de retornar a carteira.

Fonte: Liberal Order

Custo de um soldado

Reportagem interessante do Wall Street Journal sobre o custo de um soldado norte-americano:

Caixa, o ponto fraco do Exército americano
December 14, 2006 4:05 a.m.

Por Greg Jaffe
The Wall Street Journal

FORT STEWART, EUA — Apenas seis semanas antes de partir para o Iraque, os 3.500 soldados da 1a Brigada da Terceira Divisão de Infantaria do Exército americano deveriam estar aprendendo sobre Ramadi, bastião dos rebeldes iraquianos onde eles passarão um ano.

Muitos dos soldados nem sabem qual é a mistura de etnias que forma essa cidade de maioria sunita. "Não passamos tanto tempo quanto gostaríamos aprendendo sobre a cultura local, a língua, a política — todas as coisas que demoram para se aprender", diz o tenente coronel Clifford Wheeler, que comanda um dos batalhões de 800 soldados da brigada.

Em vez disso, a tropa está aprendendo a usar equipamentos com os quais deveriam, numa situação ideal, ter começado a treinar no início do ano, dizem seus comandantes. Muitos soldados receberam apenas recentemente os novos fuzis M-4 e as miras telescópicas, que estão em falta porque o Exército dos Estados Unidos passa por um aperto de caixa. Alguns ainda estão sem metralhadoras ou sistemas de vigilância usados para identificar rebeldes colocando bombas nas estradas. Eles foram informados que receberão a maioria desses equipamentos quando chegarem ao Iraque.



As dificuldades aqui em Fort Stewart (Estado da Geórgia) — uma das maiores bases militares dos EUA — aparecem em todo o Exército. Elas confirmam uma situação histórica: a Guerra do Iraque expôs mais de uma década de falhas e cálculos errôneos que agora estão minando a força militar mais poderosa do planeta.

Nos 15 anos seguintes à Guerra Fria, os planejadores militares de alto escalão e os oficiais civis do departamento da Defesa dos EUA não prepararam o Exército para enfrentar conflitos de guerrilha longos e desgastantes, como no Iraque e Afeganistão. Em vez disso, apostaram em guerras rápidas, dominadas por armamento de alta tecnologia.

O resultado é que num período em que a guerra no Iraque está se aprofundando, e o debate sobre a retirada das tropas está se intensificando, o custo crescente de levar a luta adiante está estourando até o enorme orçamento do Exército americano. A falta de recursos está provocando a falta de equipamentos e de pessoal importantes.

De 1990 a 2005, os militares americanos torraram dinheiro em destróieres, aviões de caça e sistemas antimísseis bilionários. Os partidários desses programas dizem que os EUA enfrentam vários tipos de ameaças e devem estar preparados para todas. Armamentos de alta tecnologia contribuíram para a derrubada rápida dos regimes ditatoriais no Iraque e no Afeganistão, mas têm ajudado pouco na tarefa mais difícil de estabilizar os dois países.

Dos US$ 1,9 trilhão gastos pelos EUA com armamentos nesse período, com correção monetária, a Força Aérea recebeu 36% e a Marinha, 33%. O Exército informou que recebeu 16%. Apesar das guerras no Iraque e no Afeganistão, ambas dominadas por tropas no solo, a relação não mudou muito.

Previsões otimistas demais do governo Bush — e do Exército — pioraram o arrocho no orçamento do Exército. Ambos acreditavam que o número de soldados no Iraque iria cair significativamente em 2006 e que o Exército não precisaria de tanto dinheiro como havia pedido inicialmente. Em vez disso, os custos foram às alturas.

O custo do equipamento básico que os soldados levam para a batalha — capacete, fuzil, colete à prova de balas — passou de US$ 7.000 em 1999 para US$ 25.000. O custo de pagar e treinar as tropas aumentou de US$ 75.000 em 2001 para US$ 120.000 por soldado. Nas tropas reservistas, os custos dobraram desde 2001 para US$ 34.000 por soldado.