Translate

17 novembro 2006

A História da Avestruz Master


A Avestruz Master levou milhares de investidores a perderem seus recursos com a promessa de uma milagre financeiro: retornos acima do mercado. A situação atual da empresa foi analisada pelo Valor Econômico:

Agonia do avestruz

Por Danilo Fariello
Passado um ano desde o início da crise da Avestruz Master, em que investidores viram voar para longe cerca de R$ 350 milhões aplicados na criação dos animais, os aplicadores têm poucas esperanças de receber ao menos parte desse valor num horizonte de curto prazo. De um ano para cá, a empresa passou por um processo de recuperação judicial que fracassou e não evitou que a Avestruz Master tivesse sua falência decretada. A Justiça também determinou que os mais de 50 mil portadores de Contratos de Investimento Coletivo (CICs) assumissem o controle dos bens e dos animais em posse da empresa, mas a massa falida ainda é controlada por um administrador judicial, aprovado pelo tribunal de Goiânia (GO), onde fica a sede da empresa.

Muitos investidores têm fé na iminência de um contrato de venda maciça e permanente da carne dos animais para clientes estrangeiros, com tradição no consumo da ave. Essa é a única esperança que têm para receber em um futuro ainda distante parte do valor aplicado ou conseguir administrar a empresa, para que ela possa distribuir lucros. Por enquanto, a Avestruz Master opera com dificuldades porque obtém receita apenas da venda do couro do animal e da distribuição reduzida da carne em hipermercados no Centro-oeste.

"Hoje vivemos um momento crucial, em que estamos às portas de fazer com que o negócio funcione de vez, mas também estamos à beira do abismo", diz o administrador da massa falida da Avestruz Master, Sérgio Crispim. "Não há dinheiro para pagar a folha de salários, mas há a expectativa de aprovação de um pedido feito junto ao Ministério da Agricultura para liberar a produção de nosso frigorífico para exportação." Negociadores interessados da Europa, da Ásia e até do Zimbábue já teriam vindo ao país para analisar a produção de aves da empresa para comprá-las.

Espera-se que a venda de carne para países estrangeiros permita escoar grande parte da produção da empresa, garantindo sua sustentabilidade. No entanto, na situação atual, nenhum cliente estrangeiro está disposto a firmar acordos de longo prazo com a empresa, explica Eduardo Scartezini, presidente da associação de investidores da Anavestruz. Antes de um contrato desse tipo, a Justiça parece estar reticente em determinar a criação da sociedade de credores e transferir a direção da empresa aos aplicadores em situação tão incerta, diz Crispim. Assim, a empresa fica em um teorema sem solução à vista, com o contrato internacional dependendo da definição judicial e vice-versa.

Com boa dose de otimismo, mesmo quando esse estágio estiver superado e considerando-se a produção e exportação contínuas da carne dos avestruzes, só será possível à empresa distribuir algum dividendo, com os aplicadores começando a receber retorno, daqui a uns cinco anos, avalia Amarildo Garcia, presidente da Associavestruz, outra associação de credores da Avestruz Master. "Passou um ano, mas acreditamos que ainda vai demorar muito para começarmos a receber algo", diz Garcia. O sucesso do negócio dependerá da velocidade em que a empresa implementará uma produção integrada dos avestruzes e fechará parcerias, diz Scartezini, da Anavestruz.

O sucesso da produção dos avestruzes é a principal saída para os aplicadores. Se os bens e as aves da empresa fossem vendidos e distribuídos da forma prevista na lei de falências cada investidor receberia algo próximo de 3% ou 4%, na previsão de Scartezini. Segundo Crispim, o administrador da massa, se os bens fossem liquidados, poderiam gerar receita de apenas R$ 20 milhões. "Os investidores têm de ter em mente que já perderam dinheiro na Avestruz Master", diz Crispim.

Se a empresa for vendida funcionando e com bons contratos, o retorno poderia ser de 10%, em caso de venda das partes de cada investidor, prevê Scartezini. Mas, caso a empresa funcione um ano e demonstre que tem bom potencial, o valor de mercado dela poderá triplicar, a algo como 30% do valor aplicado, prevê o presidente da Anavestruz. Sem vender as ações da futura sociedade de credores, os aplicadores teriam retorno apenas com a eventual distribuição de dividendos. "Jamais o negócio será viável a ponto de realizar o pagamento integral dos investidores", ratifica o administrador judicial.

Nos próximos dias, estão previstos leilões judiciais de bens da família de Jerson Maciel da Silva, antigo controlador da empresa. Esses bens teriam sido adquiridos com dinheiro desviado da Avestruz Master. A renda obtida com os leilões vai bancar dívidas trabalhistas e fiscais, diz Crispim. "Se conseguirmos salvar o empreendimento, acredito que a Justiça já se daria por satisfeita. Seria a salvação da criação de avestruzes no Brasil."

Fonte: Valor Econômico, 13/11/2006

16 novembro 2006

Estratégia diferente


A Sony está lançando no mercado mundial o Play Station 3. No Brasil a Microsoft está trazendo, em português, o Xbox. E igualmente no mercado mundial a Nintendo lançou o Wii. Começou a guerra para saber quem deve prevalecer no domínio do jogos eletrônicos. O ganhador leva para casa muitos lucros para os próximos cinco ou seis anos.

A estratégia da Microsoft foi sair primeiro, esperando ganhar mercado enquanto torce pelo atraso dos concorrentes.

A Sony investiu pesado no Play Station e deve lançar seu aparelho com um bom prejuízo por unidade. Esta empresa espera retirar a diferença nos lançamentos de jogos para este console e na consolidação da tecnologia do substituto do DVD.

A visão da Nintendo é diferente da Microsoft e da Sony, segundo reportagem da The Economist de 28/10/2006 (p. 73-74, "Playing a different game"). A empresa acredita que a ênfase do mercado para os amantes de jogos eletrônicos tem afastado os não jogadores, o que compromete o futuro crescimento do negócio. Um dos problemas é que os atuais jogos exigem que os jogadores tenham um tempo disponível enorme, incompatível com os dias atuais. Isto faz com que alguns dos possíveis clientes não queiram arriscar a experimentar os jogos épicos, que levam horas para serem completados. Além disto, as novidades exigem maior complexidade (mais comandos e as vezes acessórios), tornando difícil para as pessoas terem interesse.

Em outras palavras, a Nintendo está buscando o jogador eventual.

Brasil Ecodiesel


A Empresa Brasil Ecodiesel pretende ser a maior empresa brasileira de biodiesel. Para obter recursos, esta empresa decidiu pela oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês). Os bancos começaram a convencer seus correntistas a comprar ações desta empresa uma vez que o governo federal está incentivando projetos em biodiesel.

Entretanto um problema alcançou esta oferta pública de ações: dúvidas sobre a identidade dos sócios da empresa! Um sócio desconhecido, Eco Green Solutions, que detém 47,7% do capital, é um dos mistérios. Outro é a saída de um ex-controlador.

Fonte: Estado de S. Paulo, 13/11/2006, p. B7

Milton Friedman


Morreu Milton Friedman, economista norte-americano, defensor do livre mercado.

Vale x governo 3


A versão da Vale sobre o assunto. Será que para uma empresa lucrativa como a Vale é interessante este tipo de confusão?

Mércio desconhece lei, diz Vale

O diretor-executivo para assuntos corporativos da Companhia Vale do Rio Doce, Tito Martins, acusou o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, de criticar a empresa por desconhecer a legislação. 'Ele claramente está enganado e desinformado. Não conhece a legislação', afirmou o executivo ontem. 'Até hoje, respeitamos todos os acordos. Se estamos tão errados, por que não nos acionam judicialmente?'

Martins disse que o decreto presidencial de 1997 que estabelecia obrigações da Vale com comunidades indígenas foi revisto por um novo acordo entre a empresa e o governo federal no ano seguinte. Na revisão, segundo ele, a referência explícita aos índios foi removida do documento.

A ação da Vale contra o governo federal na OEA foi, segundo Martins, a única via encontrada pela empresa para tentar fazer a União assumir suas responsabilidades. 'Não existe no Brasil instrumento formal para isso. Hoje nos é cobrada responsabilidade sobre comunidades cuja tutela é responsabilidade do governo brasileiro', disse. 'Queremos que haja uma política em relação aos índios, para que não sejamos reféns dessas comunidades.'

O executivo também sustentou que a Vale não tinha a obrigação de reajustar em setembro os pagamentos aos índios. 'O acordo previa que a partir de setembro poderíamos nos reunir para discutir potenciais ajustes. Isso não aconteceu porque os índios invadiram nossas instalações, com a conivência da Funai.'

Vale x governo 3

A continuição da entrevista do Presidente da Funai:

'Empresa quebrou contrato com o governo'

Sabe dizer se o dinheiro repassado a esses grupos indígenas está sendo usado para a estruturação de sua economia, para que algum dia possam ser auto-sustentáveis?

Em alguns casos, sim. Os índios gaviões tentaram uma roça mecanizada. Treinaram os jovens, compraram trator e colheitadeira, derrubaram uma capoeira e plantaram arroz. Não deu certo, porque é difícil. Mas dos 400 hectares iniciais eles mantêm 250 cultivados. Outros grupos usam o dinheiro apenas para a compra de coisas extras, como roupas.

Existem pelo País vários outros acordos entre indígenas e empresas mineradoras, de produção de energia hidrelétrica e de outras atividades. Eles funcionam bem?
O projeto com melhor estrutura é o que envolve os uaimiri atroari, na área da hidrelétrica de Balbina, que inundou 30 mil hectares de terra indígena. Ele é coordenado por um indigenista sério, ex-funcionário da Funai, e conta com bons projetos de sustentabilidade. Os índios plantam para seu consumo e também se organizam para vender. Desde 1987 a Eletronorte desembolsa anualmente R$ 3 milhões para esses projetos, que estão cada vez mais consolidados. Creio que daqui a dez anos os índios terão autonomia.

O senhor acredita que é possível bater a Vale na OEA. Mas se o risco é tão grande, porque uma empresa desse porte iria se expor a ele?

Na minha opinião, acham que vão bater no governo. A última invasão feita pelos índios deixou seus executivos chocados e eles resolveram partir para uma ação determinada, exigindo maior cuidado com os índios. Eu apóio, mas, como já disse, não podem esquecer as obrigações do decreto que permitiu a doação da área que garante a riqueza deles.

O Brasil já foi acusado no exterior, em outras ocasiões, de não tratar bem os índios. O senhor acha que essa nova acusação na OEA pode prejudicar mais a imagem do País?

Já fui à OEA em outras ocasiões defender o Brasil. Numa delas o Conselho Indigenista Missionário de Roraima acusou o governo por não ter retirado ainda todos os arrozeiros da área da Raposa Serra do Sol. Eu expliquei todas as providências tomadas para a liberar a área. No caso da Vale vai ser mais fácil, porque ela está inadimplente: quebrou o contrato com o governo brasileiro.

Qual seria, na sua opinião, a saída para esse caso?

O primeiro passo seria a Vale assumir que tem um dever. Depois disso deveria procurar com a Funai e os índios montar um projeto estruturante e racional para as comunidades indígenas. Porque também não queremos que fiquem recebendo dinheiro à toa.

Existem vários projetos empresariais em andamento na região amazônica, em áreas próximas às terras indígenas. Acha que os conflitos tendem a se agravar?

Eles podem ser evitados se as empresas se prepararem, se fizerem acordos corretos com os índios. Isso acontece no mundo inteiro. Os canadenses, que têm projetos de mineração e hidrelétricas em áreas indígenas, sempre negociam e para isso utilizam pessoas que entendem do assunto.

Levantamento do Instituto Socioambiental mostrou que o atendimento aos índios na área da saúde está piorando. É possível reverter isso se a responsabilidade pelo atendimento sair do Ministério da Saúde e voltar para a Funai?

Sei que uma das reclamações da Vale é contra a Fundação Nacional de Saúde, a Funasa, que não estaria atendendo bem aos índios. O que fez a Funasa sair da Funai e ir para o Ministério da Saúde foi um simples decreto presidencial, de 1999. Outro decreto poderia vir para dizer que a Funasa tem de estar junto com a Funai para montar estratégias de saúde.

Vale x governo 2


Anteriormente coloquei uma reportagem informando que a Vale entraria com uma petição contra o governo (clique aqui para ler).

O presidente da Funai, Mércio Gomes, em entrevista no Estado de hoje dá a entender que a Vale tem a obrigação de cuidar dos índios.

A seguir a reportagem:

'A Vale dá a entender que atende índios por benevolência, mas é obrigação'

Antropólogo reage à iniciativa da empresa de recorrer à OEA contra o governo e a acusa de fugir de suas responsabilidades

Roldão Arruda

A decisão da Companhia Vale do Rio Doce, que acaba de formalizar uma petição contra o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA), irritou o presidente da Fundação Nacional do Índio, o antropólogo Mércio Pereira Gomes. Na opinião dele, a acusação de que o governo não cumpre suas obrigações com os índios, tornando-os cada vez mais dependentes de verbas que a mineradora repassa às suas comunidades, é um jogo de cena. A Vale estaria fazendo isso para tentar se eximir das obrigações que assumiu na época da privatização.

Em entrevista ao Estado, o antropólogo diz que, se for convocado para defender o País na OEA, pode provar que a mineradora está socialmente 'inadimplente' e quer se livrar do dever contratual de amparar os índios que vivem na região das jazidas que explora: 'A Vale dá a entender que atende a população indígena por benevolência, mas trata-se de uma obrigação.'

Como o senhor vê a acusação de que o País não cumpre suas obrigações com a população indígena?
Sou a favor de melhorias no trabalho com os indígenas. Mas a Vale também tem obrigações e não pode fugir da raia. Ao receber, por tempo indeterminado, o direito de exploração da maior mina de ferro do mundo, ela se comprometeu a defender o ecossistema, preservar as belezas cênicas, produzir alimentos para a população envolvida no trabalho de mineração e amparar os indígenas localizados nas proximidades. Isso ficou estabelecido por meio de uma resolução do Senado, de 1986, que foi confirmada por um decreto presidencial em 1997 - dois meses antes da privatização. Estamos falando de uma jazida de ferro de 411 mil hectares, que, mesmo com a retirada diária de 250 mil toneladas de minério de ferro, como acontece hoje, a empresa vai levar 470 anos para exaurir. Isso sem contar as jazidas de ouro, bauxita, magnésio e outros minérios que existem por ali, em menores quantidades.

A Vale diz que cumpre suas obrigações, paga regularmente os índios, e tem sido vítima de chantagens.

O problema não é o dinheiro, e sim a incompreensão da questão. A Vale não consegue estabelecer uma relação correta com os índios - e foi isso que deu origem aos conflitos, com as invasões de suas dependências. Eu já disse a diretores da empresa que eles são incompetentes e amadorísticos no tratamento dessa questão.

Como chegou a essa conclusão?

Na área ambiental, logo após o decreto de 1997 a Vale fez um acordo com o Ibama e criou um departamento especial com 60 técnicos, muitos deles com doutorado. Mas, para o trato da questão indígena, até hoje eles não têm nenhum antropólogo, sequer um indigenista para conversar com os índios. Por que essa terrível má vontade? Se fosse capitalista da Vale, eu recomendaria aos executivos que entrassem em entendimento com os índios. Por vários motivos. Um deles é a recente aquisição, de uma empresa canadense, da maior mina de níquel do Brasil. Como um terço dessa mina está em território xicrim, é obvio que em algum momento será preciso negociar com eles.

Até agora a Vale conviveu com os índios aparentemente sem problemas. O que causou a mudança e levou a três invasões neste ano?

Durante certo tempo a Funai mediou as relações entre os índios e a Vale. O dinheiro era entregue à Funai, que executava os programas. Mas alguém sugeriu à empresa que tratasse diretamente com os índios. Ela aceitou a idéia e desembestou numa série de programas, com liberação de dinheiro, em termos de ajuda de custo. Foi a Vale que introduziu essa prática. A Funai nunca repassou dinheiro diretamente. No primeiro semestre deste ano, a Vale impôs um acordo, no qual dizia que haveria reajuste do pagamento após o dia 11 de setembro. Quando chegou a época, os índios pediram uma reunião para tratar do assunto, mas a empresa ignorou, dando origem à explosão.