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16 novembro 2006

Milton Friedman


Morreu Milton Friedman, economista norte-americano, defensor do livre mercado.

Vale x governo 3


A versão da Vale sobre o assunto. Será que para uma empresa lucrativa como a Vale é interessante este tipo de confusão?

Mércio desconhece lei, diz Vale

O diretor-executivo para assuntos corporativos da Companhia Vale do Rio Doce, Tito Martins, acusou o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, de criticar a empresa por desconhecer a legislação. 'Ele claramente está enganado e desinformado. Não conhece a legislação', afirmou o executivo ontem. 'Até hoje, respeitamos todos os acordos. Se estamos tão errados, por que não nos acionam judicialmente?'

Martins disse que o decreto presidencial de 1997 que estabelecia obrigações da Vale com comunidades indígenas foi revisto por um novo acordo entre a empresa e o governo federal no ano seguinte. Na revisão, segundo ele, a referência explícita aos índios foi removida do documento.

A ação da Vale contra o governo federal na OEA foi, segundo Martins, a única via encontrada pela empresa para tentar fazer a União assumir suas responsabilidades. 'Não existe no Brasil instrumento formal para isso. Hoje nos é cobrada responsabilidade sobre comunidades cuja tutela é responsabilidade do governo brasileiro', disse. 'Queremos que haja uma política em relação aos índios, para que não sejamos reféns dessas comunidades.'

O executivo também sustentou que a Vale não tinha a obrigação de reajustar em setembro os pagamentos aos índios. 'O acordo previa que a partir de setembro poderíamos nos reunir para discutir potenciais ajustes. Isso não aconteceu porque os índios invadiram nossas instalações, com a conivência da Funai.'

Vale x governo 3

A continuição da entrevista do Presidente da Funai:

'Empresa quebrou contrato com o governo'

Sabe dizer se o dinheiro repassado a esses grupos indígenas está sendo usado para a estruturação de sua economia, para que algum dia possam ser auto-sustentáveis?

Em alguns casos, sim. Os índios gaviões tentaram uma roça mecanizada. Treinaram os jovens, compraram trator e colheitadeira, derrubaram uma capoeira e plantaram arroz. Não deu certo, porque é difícil. Mas dos 400 hectares iniciais eles mantêm 250 cultivados. Outros grupos usam o dinheiro apenas para a compra de coisas extras, como roupas.

Existem pelo País vários outros acordos entre indígenas e empresas mineradoras, de produção de energia hidrelétrica e de outras atividades. Eles funcionam bem?
O projeto com melhor estrutura é o que envolve os uaimiri atroari, na área da hidrelétrica de Balbina, que inundou 30 mil hectares de terra indígena. Ele é coordenado por um indigenista sério, ex-funcionário da Funai, e conta com bons projetos de sustentabilidade. Os índios plantam para seu consumo e também se organizam para vender. Desde 1987 a Eletronorte desembolsa anualmente R$ 3 milhões para esses projetos, que estão cada vez mais consolidados. Creio que daqui a dez anos os índios terão autonomia.

O senhor acredita que é possível bater a Vale na OEA. Mas se o risco é tão grande, porque uma empresa desse porte iria se expor a ele?

Na minha opinião, acham que vão bater no governo. A última invasão feita pelos índios deixou seus executivos chocados e eles resolveram partir para uma ação determinada, exigindo maior cuidado com os índios. Eu apóio, mas, como já disse, não podem esquecer as obrigações do decreto que permitiu a doação da área que garante a riqueza deles.

O Brasil já foi acusado no exterior, em outras ocasiões, de não tratar bem os índios. O senhor acha que essa nova acusação na OEA pode prejudicar mais a imagem do País?

Já fui à OEA em outras ocasiões defender o Brasil. Numa delas o Conselho Indigenista Missionário de Roraima acusou o governo por não ter retirado ainda todos os arrozeiros da área da Raposa Serra do Sol. Eu expliquei todas as providências tomadas para a liberar a área. No caso da Vale vai ser mais fácil, porque ela está inadimplente: quebrou o contrato com o governo brasileiro.

Qual seria, na sua opinião, a saída para esse caso?

O primeiro passo seria a Vale assumir que tem um dever. Depois disso deveria procurar com a Funai e os índios montar um projeto estruturante e racional para as comunidades indígenas. Porque também não queremos que fiquem recebendo dinheiro à toa.

Existem vários projetos empresariais em andamento na região amazônica, em áreas próximas às terras indígenas. Acha que os conflitos tendem a se agravar?

Eles podem ser evitados se as empresas se prepararem, se fizerem acordos corretos com os índios. Isso acontece no mundo inteiro. Os canadenses, que têm projetos de mineração e hidrelétricas em áreas indígenas, sempre negociam e para isso utilizam pessoas que entendem do assunto.

Levantamento do Instituto Socioambiental mostrou que o atendimento aos índios na área da saúde está piorando. É possível reverter isso se a responsabilidade pelo atendimento sair do Ministério da Saúde e voltar para a Funai?

Sei que uma das reclamações da Vale é contra a Fundação Nacional de Saúde, a Funasa, que não estaria atendendo bem aos índios. O que fez a Funasa sair da Funai e ir para o Ministério da Saúde foi um simples decreto presidencial, de 1999. Outro decreto poderia vir para dizer que a Funasa tem de estar junto com a Funai para montar estratégias de saúde.

Vale x governo 2


Anteriormente coloquei uma reportagem informando que a Vale entraria com uma petição contra o governo (clique aqui para ler).

O presidente da Funai, Mércio Gomes, em entrevista no Estado de hoje dá a entender que a Vale tem a obrigação de cuidar dos índios.

A seguir a reportagem:

'A Vale dá a entender que atende índios por benevolência, mas é obrigação'

Antropólogo reage à iniciativa da empresa de recorrer à OEA contra o governo e a acusa de fugir de suas responsabilidades

Roldão Arruda

A decisão da Companhia Vale do Rio Doce, que acaba de formalizar uma petição contra o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA), irritou o presidente da Fundação Nacional do Índio, o antropólogo Mércio Pereira Gomes. Na opinião dele, a acusação de que o governo não cumpre suas obrigações com os índios, tornando-os cada vez mais dependentes de verbas que a mineradora repassa às suas comunidades, é um jogo de cena. A Vale estaria fazendo isso para tentar se eximir das obrigações que assumiu na época da privatização.

Em entrevista ao Estado, o antropólogo diz que, se for convocado para defender o País na OEA, pode provar que a mineradora está socialmente 'inadimplente' e quer se livrar do dever contratual de amparar os índios que vivem na região das jazidas que explora: 'A Vale dá a entender que atende a população indígena por benevolência, mas trata-se de uma obrigação.'

Como o senhor vê a acusação de que o País não cumpre suas obrigações com a população indígena?
Sou a favor de melhorias no trabalho com os indígenas. Mas a Vale também tem obrigações e não pode fugir da raia. Ao receber, por tempo indeterminado, o direito de exploração da maior mina de ferro do mundo, ela se comprometeu a defender o ecossistema, preservar as belezas cênicas, produzir alimentos para a população envolvida no trabalho de mineração e amparar os indígenas localizados nas proximidades. Isso ficou estabelecido por meio de uma resolução do Senado, de 1986, que foi confirmada por um decreto presidencial em 1997 - dois meses antes da privatização. Estamos falando de uma jazida de ferro de 411 mil hectares, que, mesmo com a retirada diária de 250 mil toneladas de minério de ferro, como acontece hoje, a empresa vai levar 470 anos para exaurir. Isso sem contar as jazidas de ouro, bauxita, magnésio e outros minérios que existem por ali, em menores quantidades.

A Vale diz que cumpre suas obrigações, paga regularmente os índios, e tem sido vítima de chantagens.

O problema não é o dinheiro, e sim a incompreensão da questão. A Vale não consegue estabelecer uma relação correta com os índios - e foi isso que deu origem aos conflitos, com as invasões de suas dependências. Eu já disse a diretores da empresa que eles são incompetentes e amadorísticos no tratamento dessa questão.

Como chegou a essa conclusão?

Na área ambiental, logo após o decreto de 1997 a Vale fez um acordo com o Ibama e criou um departamento especial com 60 técnicos, muitos deles com doutorado. Mas, para o trato da questão indígena, até hoje eles não têm nenhum antropólogo, sequer um indigenista para conversar com os índios. Por que essa terrível má vontade? Se fosse capitalista da Vale, eu recomendaria aos executivos que entrassem em entendimento com os índios. Por vários motivos. Um deles é a recente aquisição, de uma empresa canadense, da maior mina de níquel do Brasil. Como um terço dessa mina está em território xicrim, é obvio que em algum momento será preciso negociar com eles.

Até agora a Vale conviveu com os índios aparentemente sem problemas. O que causou a mudança e levou a três invasões neste ano?

Durante certo tempo a Funai mediou as relações entre os índios e a Vale. O dinheiro era entregue à Funai, que executava os programas. Mas alguém sugeriu à empresa que tratasse diretamente com os índios. Ela aceitou a idéia e desembestou numa série de programas, com liberação de dinheiro, em termos de ajuda de custo. Foi a Vale que introduziu essa prática. A Funai nunca repassou dinheiro diretamente. No primeiro semestre deste ano, a Vale impôs um acordo, no qual dizia que haveria reajuste do pagamento após o dia 11 de setembro. Quando chegou a época, os índios pediram uma reunião para tratar do assunto, mas a empresa ignorou, dando origem à explosão.

Cuba quer aprender contabilidade


A mudança provável no comando de Cuba, de Fidel para Raúl Castro, deve trazer também alterações sob a forma como os negócios são feitos na ilha. Reportagem de hoje do Wall Street Journal informa que Raúl tenderia a adotar o modelo chinês, sendo que os militares teriam um papel importante no controle da economia. O texto afirma que nos anos 90 Raúl enviou militares para diversos países para aprender contabilidade. As fábricas controladas pelos militares estão utilizando a contabilidade e os incentivos à gerência.

Abaixo, a reportagem completa:

Sob comando de Raúl Castro, militares cubanos erguem império empresarial
November 16, 2006 4:05 a.m.

Por José de Córdoba
The Wall Street Journal

No auge da Guerra Fria, os soldados de Cuba viraram uma lenda na ilha quando avançaram sobre linhas inimigas, derrotando o exército sul-africano em Angola. Agora, os generais cubanos estão aplicando táticas capitalistas para tentar melhorar o lucro em negócios que vão de plantar feijão a administrar hotéis e companhias aéreas.

As Forças Armadas Revolucionárias de Cuba alugam quartos para turistas por meio da Gaviota SA, o conglomerado hoteleiro de crescimento mais rápido na ilha. Eles vendem charutos Havana, mascateiam produtos diversos por meio de uma rede varejista em toda a ilha e servem jantares com lagosta no restaurante Divina Pastora, no Castelo do Morro, um dos principais pontos turísticos de Havana. Os militares também têm uma mão forte na alocação de minas de níquel e no arrendamento de lotes marítimos para exploração petrolíferas. O Instituto de Estudos Cubanos e Cubano-Americanos da Universidade de Miami estima que os militares controlem mais de 60% da economia da ilha.

O papel econômico dos militares deve provavelmente ficar ainda mais crítico depois da morte do adoecido líder de Cuba, Fidel Castro, que tem 80 anos e muitos acreditam estar morrendo de câncer. Embora Castro tenha se oposto decididamente a reformas econômicas durante os 47 anos de seu regime comunista, seu irmão mais novo e sucessor designado, Raúl, mostrou um profundo interesse em experiências de livre mercado no passado. Como ministro da Defesa desde a revolução de 1959, ele freqüentemente viu os militares como seu laboratório.

Com Raúl e os militares no comando da economia, o país pode estar prestes a seguir o que os cubanos chamam de "modelo chinês" de liberalização. Isso significa fazer experiências com incentivos de mercado numa das poucas economias comunistas que ainda restam no mundo, e ao mesmo tempo tentar manter um rígido controle político. Está longe de ser uma certeza que um possível governo Raúl Castro possa realizar uma transformação ao estilo chinês. A China, por exemplo, não está localizada a somente 150 quilômetros dos Estados Unidos e de uma abastada comunidade de exilados que querem remoldar sua terra natal seguindo uma linha americana. E é possível que os militares possam agir para aumentar o monopólio — e as oportunidades de corrupção — depois da morte de Fidel, sufocando toda concorrência.

Mas as sementes da reforma econômica em Cuba podem ser mais fortes do que muitos suspeitam. Uma prova: Raúl viajou para a China várias vezes para estudar as políticas econômicas de Pequim e em 2003 convidou o principal assessor econômico do então primeiro-ministro chinês Zhu Rongji, que teve um papel importante na abertura da China ao comércio e investimentos externos, para dar uma série de palestras em Cuba. Fidel Castro, que se opõe radicalmente a reformas, foi uma ausência notável, diz Domingo Amuchástegui, um ex-oficial de inteligência cubano que atualmente mora nos EUA e acompanha de perto os acontecimentos políticos na ilha.

Nos anos 90, Raúl enviou oficiais, que tinham sido treinados em prestigiosas escolas militares soviéticas, para aprender administração hoteleira na Espanha e contabilidade na Europa, América Latina, Ásia e Canadá. Durante um tempo, livros de administração de empresas como Vencendo a crise: como o bom senso empresarial pode superá-la, de Tom Peters e Robert H. Waterman, viraram leitura obrigatória para oficiais que quisessem avançar na hierarquia, diz Eugenio Yañez, um economista que deu aulas de administração a oficiais do exército no Instituto Superior de Direção da Economia, de Havana.
[cuba]

Raúl, atualmente com 75 anos, também adotou uma contabilidade e incentivos à gerência de estilo capitalista para gerir fábricas controladas pelos militares que fazem desde uniformes até munição. Em alguns casos, os trabalhadores receberam um incentivo financeiro. Essas reformas, chamadas em espanhol de "perfeccionamiento empresarial", embora modestas pelos padrões de países desenvolvidos, foram reformas de ponta para Cuba.

Na maior parte de sua carreira, Raúl Castro foi considerado um comunista durão, até brutal, cuja mão, como ele mesmo diz, "não tremeu" em 1989 quando ordenou a execução de um ex-colega próximo que passou a ser tido como perigoso para o regime. Alguns analistas não acham que ele tenha mudado muito desde então. "Ele é um stalinista", diz Jaime Suchlicki, um analista de Cuba da Universidade de Miami, que prevê que Raúl vá recorrer a mais repressão depois que Fidel morrer.

Nas últimas semanas, cresceu a especulação sobre os problemas de saúde de Fidel.

Com o irmão incapacitado, Raúl adotou uma retumbante linha comunista. "Quando os EUA dizem que deve haver transição em Cuba, eles querem dizer uma volta vergonhosa ao lixo neocolonial do capitalismo que eles impuseram a este país durante 60 anos", disse ele a uma platéia de líderes sindicais estatais em setembro.

Mas muitos observadores de Cuba acreditam que declarações assim tenham por objetivo dar cobertura política a Raúl, que ficou mais pragmático com a idade e tem buscado maneiras de melhorar o fraco desempenho econômico de Cuba, especialmente depois que a União Soviética acabou com os subsídios à ilha em 1990. Entre 1989 e 1993, o produto interno bruto de Cuba caiu 35%, enquanto o comércio externo do país despencou 75%, diz Carmelo Mesa-Lago, um economista da Universidade de Pittsburgh.

Com o padrão de vida afundando, moradores de Havana começaram a comer os gatos da cidade. Uma epidemia de neuropatia óptica, causada por deficiências na nutrição e que provoca cegueira temporária, derrubou cerca de 35.000 cubanos. Para Raúl, a segurança econômica tornou-se uma parte crítica da segurança nacional. "O feijão é mais importante que o canhão", disse a soldados em 1994.

Desesperado para cortar custos, Raúl reduziu o número de militares de cerca de 300.000 em 1990 para cerca de 45.000 atualmente, de acordo com Frank O. Mora, um especialista em forças armadas cubanas da Universidade da Defesa Nacional, de Washington. Para revitalizar a economia, ele promoveu inovações, como feiras livres e a condição de autônomo para bombeiros, cabeleireiros e outros pequenos empreendedores.

À época, Fidel Castro autorizou relutantemente as mudanças, porque Cuba tinha pouca alternativa. Os irmãos Castro nomearam oficiais militares e de inteligência, que eram seus defensores de mais confiança e mais leais, para atrair capital estrangeiro.

Um estudo do Fundo Monetário Internacional em 2000 disse que as limitadas reformas promovidas por Raúl foram "instrumentais" em ajudar a recuperar a economia em meados dos anos 90. Mas então Fidel Castro reprimiu as reformas, argumentando que elas estavam enfraquecendo a revolução. A economia começou a estagnar novamente. Agora, Cuba depende de cerca de US$ 2 bilhões anuais em subsídios para combustível fornecidos pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e centenas de milhões de dólares de investimentos chineses em minas de níquel.

Fusões de Bancos e Impactos Sociais

Usando dados de fusões de bancos, Garmaise e Moskowitz, dois pesquisadores norte-americanos, encontraram uma ligação entre o impacto destas sobre o crime. Isto mesmo, o crime. A questão da pesquisa foi que a redução na competição bancária aumenta a propensão ao crime. Acompanhe: fusão => reduz competição e crédito => redução de crédito reduz a atividade econômica => redução da atividade econômica aumenta o crime.

O texto foi publicado no prestigioso periódico Journal of Finance, de abril deste ano.

15 novembro 2006

GM e Ford precisam dar garantias para conseguir empréstimos

A decadência de duas montadoras: precisar dar garantias para conseguir empréstimos.

GM e Ford agora têm de empenhar ativos para conseguir empréstimos
November 15, 2006 4:05 a.m.

Por Jeffrey C. McCracken e John D. Stoll
The Wall Street Journal

DETROIT — Uma mudança de regras contábeis e problemas nas operações na América do Norte deixaram a General Motors Corp. e a Ford Motor Co. numa posição à qual não estão acostumadas: as duas maiores montadoras dos Estados Unidos estão agora conseguindo empréstimos tendo de dar como garantia fábricas, equipamentos ou outros ativos.

A Ford "logo, logo" fechará um empréstimo que provavelmente será garantido "por uma porção significativa dos ativos da empresa", disse ontem seu diretor financeiro, Don LeClair, numa teleconferência para reapresentar os balanços da empresa de 2001 a 2005. A Ford reapresentou os balanços para corrigir a contabilização de swaps de juros em sua divisão de crédito e algumas outras transações com derivativos. O recálculo reduziu o prejuízo no terceiro trimestre para US$ 5,2 bilhões, ante US$ 5,8 bilhões que haviam sido divulgados anteriormente.
[gmford]

LeClair não quis especificar quanto a Ford está querendo tomar emprestado e nem que ativos ela pode dar em garantia para conseguir novas linhas de crédito, ou se isso pode incluir patrimônio da família Ford. A família é dona de cerca de 3% do capital da empresa, mas tem 40% dos direitos de voto.

Os planos da Ford vieram à tona um dia depois que a GM usou equipamentos de suas fábricas na América do Norte como garantia de um empréstimo de US$ 1,5 bilhão. A GM disse que a decisão tem por objetivo "melhorar" sua liquidez e "aproveitar condições robustas do mercado".

LeClair admitiu que a decisão da Ford de tomar empréstimos garantidos por bens reflete a situação financeira difícil da empresa. Esta é a primeira vez nos 103 anos da história da montadora que ela recorreu a esse tipo de financiamento.

"É um reconhecimento de que temos alguns problemas", disse LeClair.

A mudança na captação de recursos ocorre em meio a sinais crescentes de problemas para a GM, a Ford e o Chrysler Group, do grupo alemão DaimlerChrysler AG. Ontem, os diretores-presidentes das três reuniram-se na Casa Branca com o presidente dos EUA, George W. Bush, e apresentaram as dificuldades que elas enfrentam por causa da alta de custos de seguro-saúde, planos de pensão e do aço, e das taxas cambiais desfavoráveis, que segundo eles dão uma vantagem a rivais japonesas.

A Ford disse que espera voltar ao azul na América do Norte, com um pequeno lucro, em 2009. Esse é um mercado onde a Toyota Motor Corp. lucra cerca de US$ 2 bilhões por trimestre.

Anos atrás, a GM e a Ford eram tomadores tão preferenciais que os bancos faziam fila para atendê-las. Mas o prolongado declínio delas deixou seus balanços sob pressão. A GM teve prejuízo de US$ 10,6 bilhões no ano passado, e a expectativa é de que a Ford divulgue um prejuízo ainda maior este ano.

A corrida para assegurar empréstimos garantidos por ativos foi causada por uma mudança em como grandes empresas americanas precisam contabilizar os planos de aposentadoria custeados por elas. A partir de 1o de janeiro, elas precisam contabilizar todas as obrigações relativas a benefícios futuros em seus balanços.

O acréscimo das obrigações deixará a GM com patrimônio líquido negativo, ou passivo a descoberto. Isso dificultará para ela tomar dinheiro emprestado, porque cláusulas contratuais de títulos emitidos por ela podem proibi-la de dar certos ativos em garantia de empréstimos. Na segunda-feira, a GM disse que está tirando proveito de oportunidades que podem não estar disponíveis para ela em 2007. A empresa planeja tomar até o fim do ano um empréstimo sênior garantido de US$ 1,5 bilhão com prazo de sete anos.

A Ford também espera um grande efeito da mudança contábil. Falando ao Wall Street Journal por telefone, LeClair disse que ela vai "com toda probabilidade" também deixar a Ford com patrimônio líquido negativo. Num informe a autoridades, a montadora disse que a mudança vai reduzir seu patrimônio líquido em US$ 15 bilhões.

A Ford tem aproximadamente US$ 23 bilhões em caixa e espera encerrar o ano com cerca de US$ 20 bilhões — um número suplementado por US$ 3,4 bilhões tirados de um fundo que as empresas criam para pagar custos com planos de saúde de aposentados. Durante todo o ano de 2006, a Ford deve queimar US$ 8,4 bilhões em caixa.

— Neal E. Boudette colaborou neste artigo.