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10 novembro 2006

Ágio distorce resultado de Bancos

Apesar do ágio, os bancos ainda são lucrativos. A seguir, reportagem do Valor Econômico de hoje:

Ágio distorce resultado dos bancos

Maria Christina Carvalho
Apoiados em confortáveis colchões de lucro, os três maiores bancos privados de varejo - Bradesco, Itaú e Unibanco - realizaram no terceiro trimestre vultosas amortizações de ágios pagos em aquisições. Apesar disso ter implicado em despesas elevadas, a decisão contábil não chegou a empanar os resultados e, de modo geral, não afetou significativamente a distribuição de dividendos para os acionistas.

A onda de amortização de ágio foi desencadeada pelo Itaú que seguiu sua política habitual e anunciou que iria amortizar de uma só vez os R$ 2,7 bilhões de ágio pagos na compra do BankBoston. A despesa reduziu o lucro líquido contábil dos nove meses em 20,835 para R$ 3,03 bilhões em comparação com igual período de 2005.

O Bradesco resolveu acompanhar o movimento e antecipou a amortização integral de seu estoque de R$ 2,11 bilhões em ágio. Com isso, o lucro líquido de nove meses caiu 17,29% para R$ 3,35 bilhões.

Já o Unibanco preferiu antecipar de dez para cinco anos a amortização de R$ 1,062 bilhão em ágio que tinha em estoque, o que previa fazer até 2016. Isso implicou a amortização extraordinária no terceiro trimestre de R$ 464 milhões. Desse modo, o lucro líquido de nove meses caiu 11,63% para R$ 1,17 bilhão.

Não fossem essas medidas, o Bradesco teria aumentado em 34,76% o lucro de nove meses; o Itaú, em 42,65; e o Unibanco, em 23,27%, calculou a consultoria Austin Ratings.

A legislação contábil brasileira permite a amortização de ágio em dez anos; e a fiscal, em cinco anos, no mínimo.

O presidente da consultoria Austin Ratings, Erivelto Rodrigues, afirmou que a decisão facilita a comparação dos resultados dos bancos brasileiros com seus equivalentes internacionais.

Já o vice-presidente do Unibanco, Geraldo Travaglia, afirmou que amortização do ágio é "uma distorção contábil. O normal seria amortizar o ágio de acordo com o resultado obtido com a aquisição. A idéia é que o ganho é suficiente para cobrir o preço pago". O banco só acompanhou os demais, disse, para não distorcer a comparação dos analistas. Os investidores de varejo, acredita, nem compreendem profundamente a operação.

Travaglia também observou que o Unibanco preferiu utilizar o crédito tributário decorrente da amortização do ágio para reforçar as provisões porque considera incoerente contabilizá-lo no ativo, como fizeram os outros bancos.

A amortização de ágio também tem impacto no patrimônio dos bancos, reduzindo o número. Todos, porém, mantiveram a política de distribuição de dividendos.

Para não afetar os acionistas e os indicadores de alavancagem, os bancos tomaram diferentes medidas. O Itaú aumentou o capital com a incorporação do BankBoston; e o Bradesco, com a emissão de ações. O Unibanco informou que, se tivesse amortizado integralmente o estoque de ágio, seu índice de Basiléia teria caído 0,8 ponto para 14,7%. O índice fechou setembro em 15,5%.

Spread Bancário

A taxa de juros está caindo mas o lucro dos bancos continua aumentando. Uma possível explicação é o spread bancário. Reportagem da Folha do dia 06/11 mostra o spread brasileiro está acima de 10%, muito acima da Argentina (1,4%) e mesmo da Venezuela (10,6%). Com diz a sabedoria, o melhor negócio no Brasil é ser dono de um banco; o segundo melhor negócio no Brasil é ser dono de um banco mal administrado. Clique aqui para ler.

Já reportagem do Estado de S. Paulo informa que nosso spread é 19% para 6%. Os números são diferentes, mas a realidade é a mesma: o spread nosso é elevado. Clique aqui para ler.

Uma reportagem do Valor Econômico, do dia 06 de novembro, destaca que pela primeira vez um banco brasileiro informou o efeito da queda da taxa de juros sobre o seu resultado. Segundo o Itaú, cada redução da taxa de juros reduz R$268 milhões da sua receita (mas não lucro):

Bancos apostam no crédito imobiliário

Maria Christina Carvalho
Toda vez que o juro básico cai os analistas perguntam se os bancos vão manter os lucros cintilantes no futuro, à medida que a queda da taxa avançar. Pela primeira vez um banco divulgou exatamente quanto perde com a queda dos juros. Em teleconferência com analistas, na semana passada, o Banco Itaú informou que sua receita consolidada diminui em R$ 268 milhões a cada queda de um ponto da taxa básica de juros. Desde setembro do ano passado, a taxa básica já caiu seis pontos, o que significa uma perda ao redor de R$ 1,6 bilhão para o Itaú. Mas, os lucros do banco não param de subir. Nos doze meses acumulados desde então, o Itaú teve um lucro líquido de R$ 5,847 bilhões, 40% superior aos R$ 4,171 bilhões ganhos nos doze meses anteriores, terminados em setembro de 2005.

O vice-presidente Alfredo Setubal afirmou que o banco pode compensar a perda de receita com o aumento do volume de crédito, oferta de mais serviços aos clientes e forte atuação nos custos. Nos doze meses terminados em setembro, o Itaú ampliou em 28,5% a carteira de crédito, para R$ 79,2 bilhões, sem contar as operações do BankBoston, incorporadas no terceiro trimestre. Somente o crédito para pessoas físicas saltou 41,6%, puxado pelo financiamento de veículos, que deu uma arrancada de 66,7% para R$ 15,766 bilhões. O crédito pessoal aumentou 27% para R$ 12,974 bilhões; e o cartão de crédito quase isso (26,6%) para 12,974 bilhões.

Acredita-se que o desafio será maior quando a taxa cair para um dígito. O professor da PUC-SP e ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster, acredita que a taxa básica de juros chegará a um dígito já em 2008. "Os piores cenários são bons cenários tanto no exterior quanto no mercado interno", disse. Já o professor André Carvalhal, do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não espera a queda do juro nominal caia para um dígito antes de três a quatro anos: "Depende da política do futuro governo e o mercado internacional ainda é uma incógnita. Fora nosso dever de casa para fazer".

Valor Econômico de 6/11

Líquido caro

Links

Tempo e guerra - "Os economistas Edward Miguel, Shanker Satyanath e Ernest Sergenti escreveram um texto em que eles usam a quantidade de chuva para explora a guerra civil na África. 29 de 43 países na África abaixo do Saara, eles notaram, experimentaram algum tipo de guerra civil durante os anos de 1980 e1990. A cauxa de qualquer guerrar é, óbvio, incrivelmente complexa, ou não? Os economistas descobriram que um dos mais confiáveis preditores da guerra civil é a falta de chuva. Usando dados mensais de chuva de muitos países diferentes da África (muitos deles são, significativamente, agrícolas) eles encontraram que menor chuva é um razão forte para um invitável declínio econômico de curto prazo e este declínio econômico de curto prazo conduz mais facilmente a guerra civil."

Fonte: Freakonomics, apud Greg Mankiw.

Nicholas Stern - Este economista inglês foi entrevistado da Veja desta semana. Clique aqui, aqui e aqui para ler críticas ao trabalho de Stern sobre o aquecimento do planeta.

09 novembro 2006

Pão de Açúcar e Braskem têm prejuízo

O grupo Pão de Açúcar terve um prejuízo no trimeste de 43 milhões de reais. A justificativa foi uma provisão para pagamento de dívida do ICMS, que a reportagem do Estado de S. Paulo chamou de "reserva financeira", a queda no preço dos alimentos e provavelmente a concorrência.

O grupo Braskem, de Petroquímica, teve prejuízo de $65 milhões de reais. Motivo alegado pela empresa foi a variação cambial e as despesas adicionais com operações financeiras.

Para contrabalançar, a UOL teve lucro de 23,4 milhões, mas menor que do período anterior.

CSN e Usiminas

Os resultados da CSN e Usiminas foram afetados pelo câmbio e pela despesa financeira. Talvez a situação melhore nos próximos meses com a mudança cambial. A seguir reportagem do Estado de hoje sobre o tema:


CSN e Usiminas ganham menos

Perdas com o câmbio e com operações financeiras afetam o desempenho das siderúrgicas

Agnaldo Brito

O lucro líquido da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Usiminas caiu no terceiro trimestre deste ano, de acordo com os balanços das duas empresas divulgados ontem. Segundo analistas, o aumento de despesas financeiras foi responsável pela queda do lucro. Apesar da redução além da expectativa do mercado, os analistas continuam confiantes no desempenho das duas empresas e mantém recomendação de compra dos papéis.

A tendência de retomada do crescimento da economia brasileira faz com que as expectativas sobre o desempenho das empresas no mercado interno melhore nos próximos meses. “A situação do setor é boa. Ainda que haja queda de preços no mercado internacional, a tendência de retomada do crescimento da economia brasileira garante um bom desempenho”, afirma Pedro Roberto Galdi, analista de mineração e siderurgia do ABN Amro.

A CSN apurou um lucro líquido 35% mais baixo do que o registrado no penúltimo trimestre do ano passado, o valor nominal baixou de R$ 516,8 milhões para R$ 334,2 milhões. Segundo Galdi, a despesa financeira da CSN cresceu substancialmente no último trimestre.

O saldo negativo do segundo trimestre deste ano para o terceiro subiu de R$ 101 milhões para R$ 437 milhões. “A informação no balanço é de que foi uma operação com derivativos a responsável por esse resultado”, explica. A explicação sobre a operação que impactou o resultado do trimestre deverá ser dada hoje, quando a diretoria financeira da empresa irá fazer a apresentação do balanço.

USIMINAS

O desempenho da Usiminas foi melhor que o da CSN, embora o lucro também tenha sido afetada por um resultado financeiro ruim. A siderúrgica obteve, segundo balanço, lucro líquido de R$ 715 milhões no trimestre, uma redução de 9% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o valor atingiu R$ 728 milhões.

Galdi, do ABN Amro, esperava um lucro líquido ligeiramente melhor, principalmente em razão da expectativa sobre a elevação do faturamento da companhia. A receita líquida da Usiminas chegou a R$ 3,127 bilhões e a expectativa do analista era de R$ 3,3 bilhões.

O presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, disse ontem que os principais fatores para a queda do lucro líquido da Usiminas no terceiro trimestre foram o câmbio e os preços menores dos produtos siderúrgicos. Apesar disso, ele apontou que o resultado foi melhor que o esperado. Ele explicou que, no acumulado de janeiro a setembro de 2005, o dólar médio esteve cotado a R$ 2,50, enquanto que, no mesmo período deste ano, a média foi de R$ 2,18. Soares afirmou ainda que os preços dos produtos siderúrgicos neste ano será menor do que o praticado no ano passado. “A demanda interna era muito grande no ano passado”, disse.

Para Cristiane Viana, analista de siderúrgica e mineração da Ágora Senior, o resultado da Usiminas foi considerado bom, embora tenha registrado ligeira queda do lucro líquido. “A Usiminas superou as expectativas. A pequena queda no lucro não chega a ser preocupante. A recomendação de compra das ações da empresa está mantida”, diz Cristiane.

Sobre a CSN, a analista considerou o resultado do 3º trimestre normal e não acredita que a redução do lucro irá comprometer o balanço final do ano. Ela lembrou que o problema com uma operação de derivativos no item “despesas financeiras” influenciou negativamente o lucro líquido. Segundo ela, foi uma operação de tesouraria a responsável pelo efeito negativo.

COLABOROU RAQUEL MASSOTE
A Vale divulgou seu resultado, com o maior lucro de sua história. O resultado poderia ser melhor ainda se não tivesse o problema cambial (nossa moeda está valorizada e a empresa está recebendo menos reais pelas vendas realizadas). Os próximos meses são promissores pois o resultado deve ser influenciado pela compra da Inco e pela entrada em operação da mina Brucutu. Um dado que reflete a grandiosidade da empresa: responde por 19% do saldo da balança comercial.

A seguir reportagem do Estado de hoje:

Vale do Rio Doce alcança o maior lucro de sua história

Com o resultado trimestral recorde, empresa registra ganhos de R$ 10,1 bilhões em 2006

Irany Tereza com Reuters

A Companhia Vale do Rio Doce bateu recordes históricos de receita, lucro e geração de caixa no terceiro trimestre do ano. De julho a setembro, a Vale alcançou um lucro recorde de R$ 4 bilhões, 48,1% acima do resultado do mesmo período de 2005. A Vale também superou em R$ 68 milhões o recorde anterior, do segundo trimestre de 2006.

O bom desempenho se deve ao aumento na produção e nos preços dos minérios vendidos pela Vale. Em nove meses, a empresa acumulou lucro líquido de R$ 10,1 bilhão, resultado 29% superior ao período de janeiro a setembro do ano passado.

Como a compra da mineradora canadense Inco foi fechado no mês passado, o negócio de maior valor já realizado por uma empresa latino-americana, ainda não se refletiu no balanço. A Vale, que já adquiriu 86,6% das ações da canadense, ainda pretende comprar o resto das ações e estima gastar US$ 17,6 bilhões, sendo US$ 2 bilhões de caixa próprio.

Na contramão da desvalorização cambial, a mineradora brasileira conseguiu elevar em 44,5% as exportações nos nove primeiros meses do ano, em comparação a igual período de 2005. A empresa faturou US$ 7,237 bilhões com as exportações, resultado do aumento da quantidade exportada e também das excelentes cotações que a Vale tem conseguido obter para seus produtos.

O saldo líquido (exportações menos importações) da empresa foi de US$ 6,599 bilhões, o que representou um crescimento de 46% em relação a 2005 e consolidou a Vale na liderança das exportadoras nacionais. Sozinha, a Vale contribuiu com 19,3% para o saldo da balança comercial brasileira, que acumulou, de janeiro a setembro, US$ 33,974 bilhões.

Os países asiáticos, em especial a China, foram, mais uma vez, o destaque entre os destinos das exportações. Trinta e cinco por cento da receita bruta da companhia no trimestre veio da Ásia. Dos países americanos vieram outros 34% e da Europa, o restante. Na divisão por países, o Brasil respondeu pela maior demanda isolada, gerando 21% da receita bruta. A China foi o segundo mais importante, com 18,6%.

A companhia também bateu recorde de receita, que atingiu R$ 11,6 bilhões, superando em 28,8% o resultado do terceiro trimestre de 2005, e em 14,9% o recorde anterior, de R$ 10,1 bilhões registrados no segundo trimestre.

As vendas de minério de ferro no terceiro trimestre superaram 63 milhões de toneladas e também um recorde trimestral, refletindo o aquecimento do mercado mundial na demanda pelo produto.

A expectativa é que, no quarto trimestre, a Vale repita os bons resultados por dois motivos. O primeiro é que a compra da Inco será paga com empréstimo ponte e não impactará de imediato o caixa. O segundo é a entrada em operação da mina de Brucutu, em Minas Gerais, projeto no qual a Vale investiu US$ 1 bilhão e que terá produção superior à do complexo de Carajás, no Pará. A Vale diz que deve concluir em breve as operações de financiamento do empréstimo para a aquisição da Inco para manter seu perfil de endividamento de baixo risco.