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09 agosto 2006

Ética nas empresas


A moda da ética nas empresas:

Ética está em jogo nas empresas

Companhias adotam normas de boa conduta, mas nem sempre cumprem o que prometem

Andrea Vialli

As fraudes contábeis envolvendo empresas americanas como a Enron e a WorldCom trouxeram à tona discussões sobre ética e os prejuízos que as empresas têm com a corrupção. A cobrança de investidores, consumidores e ONGs também está levando as empresas a adotarem normas de boa conduta. Porém elas ainda encontram dificuldades para colocar o discurso em prática.

A falta de ética no ambiente corporativo traz prejuízos ainda difíceis de serem medidos. Um estudo de 2004 da consultoria KPMG realizado junto a mil empresas brasileiras dá algumas pistas: mostrou que 69% delas já haviam tido problemas com fraudes e corrupção. Na maior parte dos casos (83%), o prejuízo foi inferior a R$ 1 milhão - mas em 49% dos episódios a empresa não conseguiu reverter as perdas.

Para Roberto Heloani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Unicamp e especialista em ética no trabalho, ainda há uma distância entre o discurso das empresas e a prática. "Para muitas empresas, a ética ainda é muito usada como um instrumento de marketing interno e para o mercado. Mas já há progressos", diz.

Um dos avanços é o esforço das empresas em difundir seu código de conduta entre os funcionários, fornecedores e consumidores. "As pessoas precisam saber como a empresa vê a ética, e não pode ser um discurso vazio", diz o professor. O estudo da KPMG aponta que 60% das fraudes envolvendo as companhias são causadas por funcionários.

RECONHECIMENTO
Nos países desenvolvidos já existe a tendência de "premiar" empresas com atitudes éticas, que aos poucos começa a chegar no Brasil. Um exemplo pode ser visto no mercado financeiro, com a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo, carteira de ações de 28 empresas apresentam boas práticas no campo da responsabilidade social. "A tendência para o futuro é que os investidores privilegiem as empresas com uma postura ética clara, pois oferecem menores riscos", diz o professor.

A pesquisadora da FGV Carmen Weingrill, uma das responsáveis pela elaboração do questionário enviado às empresas interessadas em compor o ISE, afirma que a questão da ética está amadurecendo nas empresas brasileiras. "O mercado tende a valorizar não as empresas que tenham uma conduta impecável, mas aquela que souber reconhecer suas falhas e prestar contas com clareza", diz Carmen. O questionário enviado às empresas, com mais de 100 perguntas, trazia questões referentes ao combate à corrupção, suborno e propina.

O discurso de ética nas empresas já criou até um nicho de mercado. A consultoria Prosets Brasil, por exemplo, especializou-se em elaborar estratégias para as empresas aplicarem a ética no dia a dia dos negócios. A consultoria incentiva as empresas a criarem códigos de ética de acordo com seu ramo de atuação e fornece ainda serviços para identificar eventuais funcionários corruptos.

Uma das ferramentas da consultoria é aplicada no processo de seleção de empregados e permite à empresa identificar se o candidato à vaga de emprego tem inclinações a transgredir regras. A tecnologia foi desenvolvida em Israel com base no polígrafo, o popular detector de mentiras, e já é usada em 15 países.

"Nosso trabalho é traduzir o código de ética da empresa para cada empregado, de acordo com sua função dentro da companhia", explica Adriana Tschernev, gerente de marketing da Prosets Brasil. A empresa tem 20 clientes, de diferentes portes e setores, como o banco Santander, a rede varejista Casas Bahia e a fabricante de bebidas Schincariol. A consultoria também mapeia os departamentos da empresa que necessitam de segurança mais reforçada.

Juros: outra possível explicação


Para quem não gostou da explicação de que o custo operacional dos bancos era a justificativa dos elevados juros, uma reportagem interessante do Estadão de hoje informa que um dos possíveis culpado é o elevado compulsório. A seguir:

Brasil é o campeão mundial em depósitos compulsórios no BC

A alíquota no País chega a 53% sobre o volume depositado

nos bancos; em outras nações, taxa é inferior a 10%

Renée Pereira

O país das maiores taxas de juros do mundo também tem a maior alíquota de recolhimento compulsório sobre depósitos à vista (ver quadro). Segundo levantamento feito pela agência de classificação de risco de crédito Austin Rating, enquanto a maioria dos países tem taxa abaixo de 10%, o Brasil aparece no topo da lista, com uma alíquota exorbitante de 53% sobre o volume depositado nos bancos. Desse total, 45% ficam no Banco Central, sem rentabilidade, e 8% são remunerados pela taxa básica da economia (Selic).

O mecanismo diminui a oferta de crédito no mercado e, conseqüentemente, encarece os empréstimos aos consumidores. Isso porque retira dinheiro de circulação e o poder de crédito dos bancos diminui. "O compulsório é um instrumento de política monetária que pode estimular o crescimento econômico ou contê-lo para preservar a taxa de inflação em um nível moderado", explica o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

A redução dos compulsórios foi uma proposta dos bancos para diminuir o spread bancário (diferença entre o custo de captação e o de empréstimo), em resposta ao pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o corte dos juros ao consumidor. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já afirmou que há outras formas para reduzir o spread brasileiro - também o maior do mundo - sem mexer no compulsório.

Economistas também concordam que outras medidas precisam ser tomadas. Mas argumentam que, diante dos números da economia brasileira, não há motivo para manter a taxa tão elevada. "É possível reduzir o compulsório sem ônus para a economia", diz Agostini.

Além da liderança brasileira, o estudo da Austin Rating mostra que, quanto menor é o depósito obrigatório, maior é a relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, essa relação é de 32,4%. Já no Chile, onde o compulsório é de 9%, o volume de empréstimos representa 60% do PIB. Na zona do euro, a taxa é de 2%, e a relação crédito/PIB é de 105%.

Nos EUA, os financiamentos atingem 80% das riquezas do país e o compulsório varia de 0 a 10%, conforme o volume de cada banco.

Na avaliação do economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, o compulsório não tem razão de ser. Apenas encarece o crédito para quem precisa de dinheiro. Ele afirma que o compulsório recolhido é maior que o crédito para indústria, consumidores rurais e habitação, juntos. "Funciona como imposto disfarçado. Além disso, abafa o efeito da queda da Selic e enfraquece seu impacto nos preços."

O depósito obrigatório , segundo ele, é um contra-senso e não se aplica ao Brasil de hoje. "Como instrumento de política monetária, o compulsório perdeu significativa relevância nas economias que mantêm sistema de metas de inflação, como é o caso do País", completa Agostini.

O economista do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea) Armando Castelar concorda que a redução do nível de compulsório no Brasil é uma necessidade. Mas ele pondera que esse corte precisa ser gradual e acompanhado de medidas adicionais, como a redução de crédito direcionado (programas de empréstimos obrigatórios) e mudança da política fiscal expansionista. "É preciso parar de gastar. Essa é a solução para muitos males do Brasil."

As multinacionais latinas

Um artigo do Valor Econômico de hoje sobre as multinacionais latinas. Aconselho a leitura também do relatório do BCG.:

Opinião - Emergência de multinacionais latinas

Por Javier Santiso
O mapa do capitalismo mundial está mudando a toda velocidade. As multinacionais dos países emergentes se impõem daqui para frente no cenário internacional. Se já há algum tempo os nomes das sul-coreanas Samsung e LG eram conhecidos do grande público, agora outros atores surgem na cena internacional. Assim, em 2005, a gigante chinesa Lenovo conquistou um lugar ao sol entre as empresas multinacionais engolindo os PCs da americana IBM. No início de 2006, foi a vez da gigante Mittal, com sede em Amsterdã mas com capital de origem indiana, adquirir notoriedade internacional usando seu lucro na européia Arcelor.

Esses exemplos, no entanto, não são casos isolados. Eles são, na verdade, as partes imersas de um iceberg de dimensões imponentes. Uma miríade de empresas se acotovela nas cancelas de mercados até a presente data dominados por empresas dos países da OCDE. Além da Lenovo, a China já coloca em competição uma dezena de empresas que de Minmetals à Baosteel, passando por Huawei, multiplicam os acordos em outros países emergentes da África, Ásia ou da América latina. Quanto aos gigantes emergentes indianos, além da Tata ou ainda da Reliance, as empresas tecnológicas como Infosys ou farmacêuticas como Ranbaxy começam a ampliar seus mercados para além da península indiana. A Ásia não é, no entanto, a única região do mundo de onde emergem novos atores de um capitalismo internacional que está modificando seu centro de gravidade.

Em 2005, as empresas mexicanas e brasileiras multiplicaram de maneira espetacular suas incursões internacionais. Que se trate de grupos como o mexicano Telmex (que multiplica suas aquisições em todo o continente latino-americano) ou ainda o brasileiro CVRD, que ambicionou durante um certo tempo o francês Eramet (uma operação avaliada em mais de 2 bilhões de euros), essa efervescência confirma uma tendência de fundo: a emergência no tabuleiro internacional das multinacionais dos países emergentes, em particular das multinacionais latinas, as multilatinas. De fato, essa emergência se confirma pela simples observação da última classificação mundial da revista Forbes: na sua lista das 2 mil principais empresas mundiais agora aparecem mais de vinte empresas mexicanas e outro tanto de brasileiras.

Em menos de 10 anos, as companhias mexicanas terão, assim, multiplicado as fusões e aquisições: o valor total das operações chega a mais de US$ 25 bilhões, bem acima dos US$ 20 bilhões utilizados pelas empresas brasileiras que, por sua vez, também entram com entusiasmo no páreo da internacionalização. Em 2004, as empresas latino-americanas investiram mais de 22 bilhões de dólares fora de suas respectivas bases nacionais, ou seja, uma progressão de 500% com relação ao ano anterior.

Há uma década assistimos a emergência de multinacionais mexicanas, como por exemplo o fabricante de cimento Cemex, que hoje em dia segue de perto, e sem complexos, os passos dos dois líderes mundiais europeus, Lafarge e Holcim. Em 2005, apenas dez anos após seu ímpeto inicial, a Cemex dispõe de filiais não somente na América Latina, mas também nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Espanha e no Egito. Bem antes da gigante Mittal, a Cemex já havia feito aquisições maiores na Europa, em particular na Espanha e na Grã-Bretanha. Com mais de US$ 15 bilhões investidos no estrangeiro, a fabricante de cimento mexicano é, sem dúvida, a ponta-de-lança dessa internacionalização latino-americana.

Mas poderíamos multiplicar os exemplos, a começar pela gigante mexicana das telecomunicações, a Telmex, e o de sua homóloga na telefonia celular, América Móvil, que completaram franquias latino-americanas que se igualam agora às da gigante espanhola Telefónica. Da Embraer, líder mundial no setor de jatos regionais, ao lado da canadense Bombardier e da francesa Dassault, aos produtores de celulose como Aracruz, de aço como a Gerdau, de petróleo como Petrobras ou ainda do conglomerado Votorantim, as multinacionais brasileiras aguçam seus apetites internacionais. Só na Argentina elas obtiveram sucessivamente empresas como Quilmes (adquirida pela Brahma - que se tornou Ambev), Acindar (Belgo Mineira), Loma Negra (Camargo Corrêa) ou ainda Pecom (Petrobras), enquanto o grupo ítalo-argentino Techint se tornou comprador da gigante mexicana Hylsamex por mais de US$ 2 bilhões. Durante os últimos anos, os grupos brasileiros multiplicaram as aquisições não somente na América Latina, mas também algumas vezes em países desenvolvidos como os Estados Unidos, ou em outros mais exóticos como a China.

Como suas primas espanholas, as multinacionais latinas das Américas deverão ampliar sua presença para além das Américas se quiserem continuar sua consolidação. Elas têm que enfrentar inegavelmente grandes desafios. Suas capacidades tecnológicas são mais freqüentemente limitadas do que as de suas concorrentes dos países desenvolvidos, ainda que o exemplo da Cemex mostre que isto é possível mesmo em setores a priori de menor intensidade tecnológica. Poucas dispõem de sólidas marcas globais - as cervejas Corona, do grupo mexicano Modelo, agora vendidas em 150 países, correspondem mais a exceção do que regra. No entanto, sejam sozinhas ou com aliados algumas vezes europeus (como exemplo a colombiana Bavária, que fusionou com a belga Ambev), tornam-se por sua vez jogadores cada vez mais internacionais.

Elas devem enfrentar, no entanto, um custo de capital superior ao de seus homólogos dos países desenvolvidos, ao mesmo tempo que devem encarar a competição crescente das outras multinacionais emergentes, coreanas, chinesas ou ainda indianas. Daí essa busca agora desenfreada para se implantar não somente em outros países emergentes, com o objetivo de ampliar seus mercados, mas também de se apresentarem como compradores de ativos nos países desenvolvidos, com o objetivo de ter acesso a um custo de capital menor. Quando a Cemex se implantou na Península Ibérica e depois na Inglaterra, adquirindo operadoras locais, o objetivo era não exclusivamente o de adquirir partes de mercados suplementares, mas ter acesso a capitais com custos menores a partir dessas bases européias. Hoje em dia, a base financeira e estratégica do grupo está em Madri e Londres tanto quanto em Monterrey.

Essas multinacionais dispõem, no entanto, de trunfos sérios. O exemplo da Cemex mostra que, se necessário, é possível inovar em setores básicos, como o de cimento, e demonstrar audácia e visão. Algumas dessas multinacionais latinas podem se beneficiar no futuro de oportunidades de ouro, em particular as mexicanas, próximas do mercado em grande expansão dos hispânicos nos EUA, ou aquelas que de forma geral estão dos setores agro-industriais, onde aparecem em boa colocação a Argentina Arcor, a brasileira Sadia ou ainda a mexicana Bimbo. O exemplo de emergência de suas primas espanholas só podem incitar as multinacionais latinas a irem em frente.

Javier Santiso é economista-chefe e diretor adjunto do Centro de Desenvolvimento da OCDE. Antes foi economista-chefe para a América Latina e Mercados Emergentes do BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria).

Ser neutro com a natureza


Mais uma reportagem do Valor Econômico de hoje sobre o meio-ambiente e, logo a seguir, a crítica ao conceito de carbono neutro:

Empresas brasileiras aderem ao conceito de "carbono neutro"

Bettina Barros
Todo fim de mês, os 23 funcionários da filial brasileira da Interface - uma das maiores fabricantes de carpetes do mundo - anotam minuciosamente os quilômetros rodados de carro e as viagens de avião que fizeram a negócios nos últimos 30 dias. Com base nesses dados, a empresa calcula o equivalente de dióxido de carbônico (CO2) que joga na atmosfera e o converte em plantio de árvores, compensando a poluição que ela mesma gera. Resultado: a Interface salda a sua dívida com a natureza.

Simples? Mas é esse o raciocínio por trás do movimento que tem atraído centenas de empresas e celebridades internacionais - ainda que sob críticas - e que agora chega ao Brasil. A nova bandeira ambientalista atende pelo nome de "neutralização". E os ganhos se traduzem em marketing e vantagem competitiva, em um mundo em que o consumidor está mais atento aos problemas ambientais.

Ao andar de carro, tomar um avião ou consumir energia, por exemplo, empresas e indivíduos produzem o CO2, um dos seis gases que provocam o efeito estufa. Ser "neutro em carbono", portanto, significa compensar a participação humana no aquecimento do planeta por meio do plantio de árvores (que absorvem o CO2 na fotossíntese) ou, em menor escala, em projetos de energia limpa. A grosso modo, cada tonelada de carbono equivale a cinco árvores.

No Brasil, a Interface foi uma das primeiras a colocar em prática a idéia, seguindo a orientação da matriz americana. Desde 2002, quando iniciou o projeto "Trees for Travel", que obriga os funcionários a medir as viagens que fazem, a empresa já plantou 6,5 mil árvores às margens do rio Tietê, na região de Piracicaba (SP). O programa, desenvolvido com a SOS Mata Atlântica e auditado pela PricewaterhouseCoopers, prevê o plantio de até 25 mil mudas na região.

Além disso, a filial brasileira desenvolveu em 2004 um projeto independente da matriz, o "Carpet Free", que reverte a compra de cada 25 m² de carpetes em uma árvore, plantadas em áreas de manancial.

O gasto anual de R$ 200 mil para aplicar os dois projetos não chega a pesar para um faturamento de R$ 20 milhões previsto para 2006. "Não vemos isso como gastar dinheiro, mas como investimentos no meio ambiente", afirma o gerente de marketing Luciano Bonini, repetindo o mantra já comum nos círculos empresariais. "Esse projeto faz parte da filosofia da empresa".

Na área de eventos, a novidade foi trazida pela banda carioca Rappa, que em junho neutralizou um show para seis mil pessoas em São Paulo. O trabalho foi desenvolvido pela CarbonoNeutro®, divisão da consultoria MaxAmbiental, que fez o cálculo da emissão de CO2 a partir de dados como a viagem aérea para São Paulo dos 17 integrantes do grupo, o transporte utilizado pelo público em um raio de 30 quilômetros e o consumo de energia e de lixo gerados pelo evento. Isso tudo representou 7,63 toneladas de carbono equivalente e correspondeu ao plantio de 38 árvores, na região de Resende (RJ).

"É mais uma atitude que uma solução para o meio ambiente. Só que mostra o quanto as pequenas ações contribuem para o todo", diz Eduardo Petit, da MaxAmbiental.

Mas os projetos avançam a um ritmo rápido, na esteira dos debates sobre aquecimento global que tomam as discussões públicas e acadêmicas. Como é um mercado voluntário - reduz o CO2quem quer, sem qualquer obrigatoriedade governamental -, o número de empresas envolvidas é incerto. Fontes do próprio setor, porém, acreditam que não passam de dez os executores dos projetos hoje no país. Mas o número de interessados cresceu significativamente.

A Natura, de cosméticos, e o escritório Pinheiro Neto Advogados são dois exemplos. Uma grande gráfica paulista, que preferiu ainda não ter seu nome divulgado, também está concluindo o projeto para sua linha total de produção.

A iniciativa tem atraído adeptos devido à praticidade do negócio - zerar a conta de emissões de CO2 dispensa mudanças drásticas na cultura organizacional ou na infra-estrutura. Mais que isso: os executivos começaram a enxergar que a neutralização pode ser uma importante ferramenta de marketing empresarial, o que, por sua vez, agrega valor à marca e ao produto.

"Incluir no balanço da empresa a baixa intensidade de emissões de CO2 atribuirá pontos adicionais, por exemplo na hora de disputar licitação pública", diz Giovanni Barontini, sócio da Fábrica Ethica, que presta consultoria à Natura. "É um investimento institucional que não tem preço", concorda Werner Grau Neto, sócio do Pinheiro Neto.

O tempo de elaboração e os custos variam de projeto para projeto, dependendo de quanto se quer neutralizar e por quanto tempo. O primeiro passo é a elaboração de um inventário, isto é, o mapeamento da rotina da empresa sobretudo em termos de uso de combustível e energia. O cliente decide se quer neutralizar apenas as emissões diretas (feitas pela empresa) ou incluir as indiretas (terceirizados). A partir daí, a consultoria usa metodologias diferenciadas para calcular as emissões e suas compensações: a prática mais difundida aqui é a do plantio de árvores, mas é possível também investir em programas de energia limpa. Os projetos são auditados por uma consultoria independente.

"Na Europa esse mercado já funciona bem. Eles conseguiram montar uma estrutura de alívio de culpa", diz Francisco Maciel, sócio da empresa The Green Initiative e responsável pelo desenvolvimento do projeto de neutralização do Pinheiro Neto. "Aqui, há muitas áreas onde a demanda é reprimida, mas isso deve mudar". O Pinheiro Neto será a primeira empresa de prestação de serviços no Brasil a adotar a prática. O projeto terá duração inicial de cinco anos e deverá envolver cerca de 40 hectares para o plantio de mudas em áreas ciliares.

Em 2005, o escritório investiu cerca de R$ 400 mil em programas socioambientais. Segundo Grau Neto, o investimento neste caso não está definido porque depende da definição de algumas variáveis, como o montante de CO2 a ser convertido e o tipo de muda usada.

Já a Natura finaliza a primeira parte de um ambicioso projeto, que prevê neutralizar não apenas a sua produção, mas a cadeia completa de negócios. "Queremos ser neutro em carbono ainda este ano", afirma Marcos Egídio Martins, diretor de sustentabilidade.


Críticos dizem que medida é "alívio de culpa"

De São Paulo
Como toda discussão que envolve o meio ambiente, a neutralização de carbono tem dividido opiniões. Ambientalistas acusam a iniciativa de desviar a atenção do que realmente importa - atacar as causas da mudança climática - usando medidas "fáceis" para um problema maior. É o que chamam de postura 'não-se-preocupe-apenas-plante-algumas-árvores'.

"Essas empresas estão impedindo a solução para o aquecimento do planeta", disse ao Valor Tamra Gilbertson, do Carbon Trading Watch, grupo de combate ao aquecimento global com sede em Amsterdã. "Precisamos de ações construtivas em vez de esquemas questionáveis para compensar nossa poluição, o que só transfere o problema a gerações futuras", afirmou.

Como exemplo de combate real às mudanças climáticas, Gilbertson cita a redução das emissões de combustíveis fósseis, que são poluentes, por fontes limpas de energia, como a solar. Para isso, porém, a empresa teria de abraçar uma mudança organizacional e de infra-estrutura de fundo, o que representaria mais gastos e esforços.

Para Warwick Manfrinato, pesquisador do Departamento de Engenharia Florestal da Esalq, a neutralização é uma "medida para alívio de culpa". "A empresa se posiciona, mas não por inteiro", diz.

O conceito de "neutro em carbono" não é previsto no Tratado de Kyoto, que prevê a redução das emissões de CO2 pelos países poluidores para 5,2% dos níveis de 1990. A neutralização é uma iniciativa voluntária. (BB)

Lá fora, famosos e grandes grupos já abraçaram a causa

De São Paulo
Os famosos já aderiram. As grandes empresas também. Se a neutralização de carbono só agora desponta no Brasil, na Europa ela arrebatou vários setores da indústria e um rol de celebridades.

O movimento, que teve início há cerca de quatro anos, cresceu rapidamente. Embora não se saiba com precisão quantos projetos foram realizados (já que se trata de iniciativa voluntária e sem fiscalização pública), estimativas do mercado falam em "dezenas de milhares" de adeptos no mundo. Os maiores entusiastas do movimento são os europeus.

Uma das primeiras empresas a lidar com o status de "neutro em carbono" no exterior foi a britânica The CarbonNeutral Company (até pouco tempo chamada Future Forests). Sediada em Londres, a empresa auxilia 200 empresas a reduzir ou compensar emissões de poluentes com o plantio de de mudas em 55 áreas de 14 países, além de projetos em energia limpa.

Sua carteira de clientes inclui pesos-pesados como Honda e Avis Europa, astros holywoodianos como Brad Pitt, Cameron Diaz, Leonardo Di Caprio, Bernardo Beertolucci e até bandas internacionais - Coldplay, Foo Fighters e Massive Attack já neutralizaram seus CDS.

Pitt, por exemplo, pagou US$ 10 mil para a empresa criar uma floresta em seu nome no pequeno reino de Butão, nos Himalaias, numa área em processo de recuperação.

A Avis, que iniciou no Reino Unido a experiência, estendeu o programa para toda a sua rede de lojas na Europa. A empresa planta uma árvore para cada carro que aluga - já foram mais de 200 mil desde que iniciou o programa. "Quando se aluga um carro, o cliente recebe a opção de pagar US$ 2,86 extra para ter seu veículo neutralizado. Isso ajuda a cobrir o custo do plantio", diz a empresa.

Com ajuda do Instituto de Ecologia da Universidade de Edimburgo e do Centro para Gerenciamento de Carbono de Edimburgo (ECCM, em inglês), a CarbonNeutral desenvolveu o modelo de cálculo da relação entre as emissões de CO2 e a absorção das árvores. O ECCM é também responsável pelo monitoramento do seqüestro de carbono por hectare plantado.

Em cada caso, a CarbonNeutral calcula as toneladas de carbono gerados e estabelece o custo para o número de mudas necessárias. Ela fica com um percentual, mas diz que a maior parte vai para a compra de mudas e pagamento de serviços. Os projetos são auditados pela PriceWaterhouseCoopers.

Sua principal concorrente, a Climate Care, viu a quantidade de projetos saltar para o equivalente de 99 mil toneladas de carbono no ano passado, comparado com os menos de 20 mil toneladas registrados em 2002. Há alguns anos, fechou contratos com a British Airways e os jornais "The Guardian" e "The Times". O número de consultas ao seu website para cálculos individuais pulou de 100 mil para 200 mil no ano passado.

"A exposição dos problemas climáticos na mídia e o endurecimento de alguns governos quanto ao nível de emissões contribuíram para o resultado", diz Tom Morton, diretor-gerente da Climate Care.

Segundo o grupo, cerca de 20% das emissões anuais de CO2 advêm do desflorestamento e queimadas. Por isso, o plantio de árvores é uma alternativa considerada importante pela Climate Care. "Além disso, o reflorestamento representa um risco menor", diz a empresa, que também desenvolve projetos de investimento em energia limpa.

A própria PricewaterhouseCoopers lançou no ano passado um programa "verde" de viagens no Reino Unido que prevê uma série de medidas de impacto ambiental. A empresa adotou o mote do "trem primeiro", privilegiando viagens ferroviárias no lugar das aéreas e o aumento do uso de videoconferências como alternativa às viagens. Além disso, a consultoria está neutralizando viagens aéreas e terrestres feitas por seus funcionários com a plantação de árvores.

"Isto está se tornando mais e mais o pensamento predominante nas empresas, especialmente nos grandes grupos", declarou à época Mark Avery, diretor da divisão de serviços da Price. "Essa tendência se espalhará por toda a indústria".

Em maio passado, o Credit Suisse anunciou a neutralização total de suas operações mundiais até 2012 - na Suíça, sede da empresa, o objetivo é ser neutro em carbono até o fim deste ano.

Em 2005, o Credit investiu cerca de US$ 120 mil em projetos de energia renovável na Índia, Nova Zelândia, Alemanha e África do Sul equivalentes aos vôos de seus funcionários na Suíça - uma média anual de 320 milhões de milhas por ano. A compensação pelas viagens aéreas é fixada em 3 francos suíços (US$ 2,35) por hora de vôo.

Paralelamente, a empresa também está colocando ênfase no uso de videoconferências como meio de trabalho. "O uso de videoconferência cresceu 14% no ano passado, enquanto que tivemos crescimento zero de milhagem", disse Patrick Burry, vice-presidente para gerenciamento ambiental.

O HSBC seguiu o mesmo caminho. O segundo maior banco do mundo computa todas as milhas percorridas por seus funcionários - e seus correspondentes em emissões de dióxido de carbono - e divulga a informação em seu relatório anual de responsabilidade social. (BB)

Correção de Balanços

Notícia do jornal Valor Econômico informa que o Supremo irá julgar sobre a correção de balanços de 1990 (isto mesmo, não foi erro de digitação). Deve-se fazer um reparo na notícia, quando afirma que as empresas pagariam mais com a BTN: depende da estrutura da empresa. Eis a notícia completa:

Corte julga correção de balanços de empresas

De São Paulo

O Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a analisar na sessão de quinta-feira a Lei nº 8.200, de 1991, considerada constitucional pela corte em 2002. O caso, perdido para os contribuintes, está agora empatado em três a três em um processo da empresa Cerâmica Marbeth. A lei de 1991 autorizou as empresas a atualizarem os balanços de 1990 a partir do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e não pelo índice oficial adotado na época - o Bônus do Tesouro Nacional (BTN). Porém, o uso do IPC - que foi muito superior ao BTN - foi autorizado de forma parcelada, em até seis vezes, e não integralmente.

A medida provocou a ida das empresas ao Judiciário, pois, segundo elas, o parcelamento seria uma forma de empréstimo compulsório que só pode ser estabelecido por lei complementar e não por lei ordinária. No julgamento de 2002, porém, o Supremo considerou que a norma oferecia um favor fiscal e que, por isso, era constitucional.

O advogado da Cerâmica Marbeth, Rodrigo Leporace Farret, do Andrade Advogados Associado, afirma que neste processo não é abordada diretamente a Lei nº 8.200, mas a Lei nº 8.088, de 1990. A norma de 1990 substituiu o IPC pelo Índice de Reajuste de Valores Fiscais (IRVF) na atualização do BTN, aplicado na correção dos balanços. Segundo o advogado, o BTN no período foi de 965%. Já a taxa de inflação, medida pelo IPC correspondeu a 1.895%.

O efeito prático da lei foi o pagamento a maior de tributos pelas empresas. Isso porque, com a aplicação de um índice de inflação menor, as empresas registraram um lucro irreal, sobre o qual incidiu imposto de renda e contribuição sobre lucro líquido. Na ação, a empresa pede que a lei seja considerada inconstitucional. Com isso, a Lei nº 8.200 perde também seu efeito, uma vez que está ligada à lei de 1990. "Com a passagem do tempo, essa discussão perdeu o impacto econômico que poderia ter. A decisão interessa para as empresas que já têm ações no Judiciário sobre o assunto", afirma Farret.

A discussão foi retomada pelo Supremo em 2004 pelo ministro Marco Aurélio de Mello ao levar um novo processo ao pleno. Na época, o julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Eros Grau. Na quinta-feira, o ministro levou o voto, sendo contrário ao contribuinte. O entendimento contrário foi seguido por Cármen Lúcia e Joaquim Barbosa. Ricardo Lewandowski e Carlos Brito acompanharam Marco Aurélio. O coordenador-geral da representação judicial da Fazenda Nacional, Fabrício Da Soller, defende que a Lei nº 8.200 foi apenas um favor fiscal concedido pelo governo e não um empréstimo compulsório. (ZB)

Lei Benford e Eleição


A Lei de Benford tem sido utilizada para detectar fraudes dos mais diversos tipos, inclusive fraude contábil. Recentemente fiz um pequeno teste com os municípios brasileiros e a lei foi realmente observada.

Terminei de ler um artigo sobre a aplicação da lei em eleições, para tentar identificar fraudes na contagem dos votos. O autor, Walter Mebane Jr, tenta provar que a lei de Benford, mais especificamente, a lei do segundo dígito, pode ser utilizada para esta finalidade. Clique aqui para ter acesso ao artigo

Não fiquei efetivamente convencido disto pois achei que o autor não conseguiu demonstrar isto nas eleições do México deste ano e nas eleições norte-americanas, na Flórida, na eleição de Bush.

Um outra crítica a este artigo foi feita no sítio Statistical Modeling, Causal Inference, and Social Science. Clique aqui para a crítica.

Risco e a CIA

Uma editora brasileira está fazendo propaganda de um relatório da CIA sobre o futuro do mundo nos próximos anos. Mas conforme lembra o sítio Mahalanobis, a CIA falhou ao prever a crise do Líbano, mesmo tendo um orçamento de $26 bilhões de dólares. A CIA também errou o tamanho das economias comunistas e não antecipou diversos eventos mundiais nos últimos anos. Para este sítio, a informação da CIA é "irrelevante e inacurada".