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09 agosto 2006

As multinacionais latinas

Um artigo do Valor Econômico de hoje sobre as multinacionais latinas. Aconselho a leitura também do relatório do BCG.:

Opinião - Emergência de multinacionais latinas

Por Javier Santiso
O mapa do capitalismo mundial está mudando a toda velocidade. As multinacionais dos países emergentes se impõem daqui para frente no cenário internacional. Se já há algum tempo os nomes das sul-coreanas Samsung e LG eram conhecidos do grande público, agora outros atores surgem na cena internacional. Assim, em 2005, a gigante chinesa Lenovo conquistou um lugar ao sol entre as empresas multinacionais engolindo os PCs da americana IBM. No início de 2006, foi a vez da gigante Mittal, com sede em Amsterdã mas com capital de origem indiana, adquirir notoriedade internacional usando seu lucro na européia Arcelor.

Esses exemplos, no entanto, não são casos isolados. Eles são, na verdade, as partes imersas de um iceberg de dimensões imponentes. Uma miríade de empresas se acotovela nas cancelas de mercados até a presente data dominados por empresas dos países da OCDE. Além da Lenovo, a China já coloca em competição uma dezena de empresas que de Minmetals à Baosteel, passando por Huawei, multiplicam os acordos em outros países emergentes da África, Ásia ou da América latina. Quanto aos gigantes emergentes indianos, além da Tata ou ainda da Reliance, as empresas tecnológicas como Infosys ou farmacêuticas como Ranbaxy começam a ampliar seus mercados para além da península indiana. A Ásia não é, no entanto, a única região do mundo de onde emergem novos atores de um capitalismo internacional que está modificando seu centro de gravidade.

Em 2005, as empresas mexicanas e brasileiras multiplicaram de maneira espetacular suas incursões internacionais. Que se trate de grupos como o mexicano Telmex (que multiplica suas aquisições em todo o continente latino-americano) ou ainda o brasileiro CVRD, que ambicionou durante um certo tempo o francês Eramet (uma operação avaliada em mais de 2 bilhões de euros), essa efervescência confirma uma tendência de fundo: a emergência no tabuleiro internacional das multinacionais dos países emergentes, em particular das multinacionais latinas, as multilatinas. De fato, essa emergência se confirma pela simples observação da última classificação mundial da revista Forbes: na sua lista das 2 mil principais empresas mundiais agora aparecem mais de vinte empresas mexicanas e outro tanto de brasileiras.

Em menos de 10 anos, as companhias mexicanas terão, assim, multiplicado as fusões e aquisições: o valor total das operações chega a mais de US$ 25 bilhões, bem acima dos US$ 20 bilhões utilizados pelas empresas brasileiras que, por sua vez, também entram com entusiasmo no páreo da internacionalização. Em 2004, as empresas latino-americanas investiram mais de 22 bilhões de dólares fora de suas respectivas bases nacionais, ou seja, uma progressão de 500% com relação ao ano anterior.

Há uma década assistimos a emergência de multinacionais mexicanas, como por exemplo o fabricante de cimento Cemex, que hoje em dia segue de perto, e sem complexos, os passos dos dois líderes mundiais europeus, Lafarge e Holcim. Em 2005, apenas dez anos após seu ímpeto inicial, a Cemex dispõe de filiais não somente na América Latina, mas também nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Espanha e no Egito. Bem antes da gigante Mittal, a Cemex já havia feito aquisições maiores na Europa, em particular na Espanha e na Grã-Bretanha. Com mais de US$ 15 bilhões investidos no estrangeiro, a fabricante de cimento mexicano é, sem dúvida, a ponta-de-lança dessa internacionalização latino-americana.

Mas poderíamos multiplicar os exemplos, a começar pela gigante mexicana das telecomunicações, a Telmex, e o de sua homóloga na telefonia celular, América Móvil, que completaram franquias latino-americanas que se igualam agora às da gigante espanhola Telefónica. Da Embraer, líder mundial no setor de jatos regionais, ao lado da canadense Bombardier e da francesa Dassault, aos produtores de celulose como Aracruz, de aço como a Gerdau, de petróleo como Petrobras ou ainda do conglomerado Votorantim, as multinacionais brasileiras aguçam seus apetites internacionais. Só na Argentina elas obtiveram sucessivamente empresas como Quilmes (adquirida pela Brahma - que se tornou Ambev), Acindar (Belgo Mineira), Loma Negra (Camargo Corrêa) ou ainda Pecom (Petrobras), enquanto o grupo ítalo-argentino Techint se tornou comprador da gigante mexicana Hylsamex por mais de US$ 2 bilhões. Durante os últimos anos, os grupos brasileiros multiplicaram as aquisições não somente na América Latina, mas também algumas vezes em países desenvolvidos como os Estados Unidos, ou em outros mais exóticos como a China.

Como suas primas espanholas, as multinacionais latinas das Américas deverão ampliar sua presença para além das Américas se quiserem continuar sua consolidação. Elas têm que enfrentar inegavelmente grandes desafios. Suas capacidades tecnológicas são mais freqüentemente limitadas do que as de suas concorrentes dos países desenvolvidos, ainda que o exemplo da Cemex mostre que isto é possível mesmo em setores a priori de menor intensidade tecnológica. Poucas dispõem de sólidas marcas globais - as cervejas Corona, do grupo mexicano Modelo, agora vendidas em 150 países, correspondem mais a exceção do que regra. No entanto, sejam sozinhas ou com aliados algumas vezes europeus (como exemplo a colombiana Bavária, que fusionou com a belga Ambev), tornam-se por sua vez jogadores cada vez mais internacionais.

Elas devem enfrentar, no entanto, um custo de capital superior ao de seus homólogos dos países desenvolvidos, ao mesmo tempo que devem encarar a competição crescente das outras multinacionais emergentes, coreanas, chinesas ou ainda indianas. Daí essa busca agora desenfreada para se implantar não somente em outros países emergentes, com o objetivo de ampliar seus mercados, mas também de se apresentarem como compradores de ativos nos países desenvolvidos, com o objetivo de ter acesso a um custo de capital menor. Quando a Cemex se implantou na Península Ibérica e depois na Inglaterra, adquirindo operadoras locais, o objetivo era não exclusivamente o de adquirir partes de mercados suplementares, mas ter acesso a capitais com custos menores a partir dessas bases européias. Hoje em dia, a base financeira e estratégica do grupo está em Madri e Londres tanto quanto em Monterrey.

Essas multinacionais dispõem, no entanto, de trunfos sérios. O exemplo da Cemex mostra que, se necessário, é possível inovar em setores básicos, como o de cimento, e demonstrar audácia e visão. Algumas dessas multinacionais latinas podem se beneficiar no futuro de oportunidades de ouro, em particular as mexicanas, próximas do mercado em grande expansão dos hispânicos nos EUA, ou aquelas que de forma geral estão dos setores agro-industriais, onde aparecem em boa colocação a Argentina Arcor, a brasileira Sadia ou ainda a mexicana Bimbo. O exemplo de emergência de suas primas espanholas só podem incitar as multinacionais latinas a irem em frente.

Javier Santiso é economista-chefe e diretor adjunto do Centro de Desenvolvimento da OCDE. Antes foi economista-chefe para a América Latina e Mercados Emergentes do BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria).

Ser neutro com a natureza


Mais uma reportagem do Valor Econômico de hoje sobre o meio-ambiente e, logo a seguir, a crítica ao conceito de carbono neutro:

Empresas brasileiras aderem ao conceito de "carbono neutro"

Bettina Barros
Todo fim de mês, os 23 funcionários da filial brasileira da Interface - uma das maiores fabricantes de carpetes do mundo - anotam minuciosamente os quilômetros rodados de carro e as viagens de avião que fizeram a negócios nos últimos 30 dias. Com base nesses dados, a empresa calcula o equivalente de dióxido de carbônico (CO2) que joga na atmosfera e o converte em plantio de árvores, compensando a poluição que ela mesma gera. Resultado: a Interface salda a sua dívida com a natureza.

Simples? Mas é esse o raciocínio por trás do movimento que tem atraído centenas de empresas e celebridades internacionais - ainda que sob críticas - e que agora chega ao Brasil. A nova bandeira ambientalista atende pelo nome de "neutralização". E os ganhos se traduzem em marketing e vantagem competitiva, em um mundo em que o consumidor está mais atento aos problemas ambientais.

Ao andar de carro, tomar um avião ou consumir energia, por exemplo, empresas e indivíduos produzem o CO2, um dos seis gases que provocam o efeito estufa. Ser "neutro em carbono", portanto, significa compensar a participação humana no aquecimento do planeta por meio do plantio de árvores (que absorvem o CO2 na fotossíntese) ou, em menor escala, em projetos de energia limpa. A grosso modo, cada tonelada de carbono equivale a cinco árvores.

No Brasil, a Interface foi uma das primeiras a colocar em prática a idéia, seguindo a orientação da matriz americana. Desde 2002, quando iniciou o projeto "Trees for Travel", que obriga os funcionários a medir as viagens que fazem, a empresa já plantou 6,5 mil árvores às margens do rio Tietê, na região de Piracicaba (SP). O programa, desenvolvido com a SOS Mata Atlântica e auditado pela PricewaterhouseCoopers, prevê o plantio de até 25 mil mudas na região.

Além disso, a filial brasileira desenvolveu em 2004 um projeto independente da matriz, o "Carpet Free", que reverte a compra de cada 25 m² de carpetes em uma árvore, plantadas em áreas de manancial.

O gasto anual de R$ 200 mil para aplicar os dois projetos não chega a pesar para um faturamento de R$ 20 milhões previsto para 2006. "Não vemos isso como gastar dinheiro, mas como investimentos no meio ambiente", afirma o gerente de marketing Luciano Bonini, repetindo o mantra já comum nos círculos empresariais. "Esse projeto faz parte da filosofia da empresa".

Na área de eventos, a novidade foi trazida pela banda carioca Rappa, que em junho neutralizou um show para seis mil pessoas em São Paulo. O trabalho foi desenvolvido pela CarbonoNeutro®, divisão da consultoria MaxAmbiental, que fez o cálculo da emissão de CO2 a partir de dados como a viagem aérea para São Paulo dos 17 integrantes do grupo, o transporte utilizado pelo público em um raio de 30 quilômetros e o consumo de energia e de lixo gerados pelo evento. Isso tudo representou 7,63 toneladas de carbono equivalente e correspondeu ao plantio de 38 árvores, na região de Resende (RJ).

"É mais uma atitude que uma solução para o meio ambiente. Só que mostra o quanto as pequenas ações contribuem para o todo", diz Eduardo Petit, da MaxAmbiental.

Mas os projetos avançam a um ritmo rápido, na esteira dos debates sobre aquecimento global que tomam as discussões públicas e acadêmicas. Como é um mercado voluntário - reduz o CO2quem quer, sem qualquer obrigatoriedade governamental -, o número de empresas envolvidas é incerto. Fontes do próprio setor, porém, acreditam que não passam de dez os executores dos projetos hoje no país. Mas o número de interessados cresceu significativamente.

A Natura, de cosméticos, e o escritório Pinheiro Neto Advogados são dois exemplos. Uma grande gráfica paulista, que preferiu ainda não ter seu nome divulgado, também está concluindo o projeto para sua linha total de produção.

A iniciativa tem atraído adeptos devido à praticidade do negócio - zerar a conta de emissões de CO2 dispensa mudanças drásticas na cultura organizacional ou na infra-estrutura. Mais que isso: os executivos começaram a enxergar que a neutralização pode ser uma importante ferramenta de marketing empresarial, o que, por sua vez, agrega valor à marca e ao produto.

"Incluir no balanço da empresa a baixa intensidade de emissões de CO2 atribuirá pontos adicionais, por exemplo na hora de disputar licitação pública", diz Giovanni Barontini, sócio da Fábrica Ethica, que presta consultoria à Natura. "É um investimento institucional que não tem preço", concorda Werner Grau Neto, sócio do Pinheiro Neto.

O tempo de elaboração e os custos variam de projeto para projeto, dependendo de quanto se quer neutralizar e por quanto tempo. O primeiro passo é a elaboração de um inventário, isto é, o mapeamento da rotina da empresa sobretudo em termos de uso de combustível e energia. O cliente decide se quer neutralizar apenas as emissões diretas (feitas pela empresa) ou incluir as indiretas (terceirizados). A partir daí, a consultoria usa metodologias diferenciadas para calcular as emissões e suas compensações: a prática mais difundida aqui é a do plantio de árvores, mas é possível também investir em programas de energia limpa. Os projetos são auditados por uma consultoria independente.

"Na Europa esse mercado já funciona bem. Eles conseguiram montar uma estrutura de alívio de culpa", diz Francisco Maciel, sócio da empresa The Green Initiative e responsável pelo desenvolvimento do projeto de neutralização do Pinheiro Neto. "Aqui, há muitas áreas onde a demanda é reprimida, mas isso deve mudar". O Pinheiro Neto será a primeira empresa de prestação de serviços no Brasil a adotar a prática. O projeto terá duração inicial de cinco anos e deverá envolver cerca de 40 hectares para o plantio de mudas em áreas ciliares.

Em 2005, o escritório investiu cerca de R$ 400 mil em programas socioambientais. Segundo Grau Neto, o investimento neste caso não está definido porque depende da definição de algumas variáveis, como o montante de CO2 a ser convertido e o tipo de muda usada.

Já a Natura finaliza a primeira parte de um ambicioso projeto, que prevê neutralizar não apenas a sua produção, mas a cadeia completa de negócios. "Queremos ser neutro em carbono ainda este ano", afirma Marcos Egídio Martins, diretor de sustentabilidade.


Críticos dizem que medida é "alívio de culpa"

De São Paulo
Como toda discussão que envolve o meio ambiente, a neutralização de carbono tem dividido opiniões. Ambientalistas acusam a iniciativa de desviar a atenção do que realmente importa - atacar as causas da mudança climática - usando medidas "fáceis" para um problema maior. É o que chamam de postura 'não-se-preocupe-apenas-plante-algumas-árvores'.

"Essas empresas estão impedindo a solução para o aquecimento do planeta", disse ao Valor Tamra Gilbertson, do Carbon Trading Watch, grupo de combate ao aquecimento global com sede em Amsterdã. "Precisamos de ações construtivas em vez de esquemas questionáveis para compensar nossa poluição, o que só transfere o problema a gerações futuras", afirmou.

Como exemplo de combate real às mudanças climáticas, Gilbertson cita a redução das emissões de combustíveis fósseis, que são poluentes, por fontes limpas de energia, como a solar. Para isso, porém, a empresa teria de abraçar uma mudança organizacional e de infra-estrutura de fundo, o que representaria mais gastos e esforços.

Para Warwick Manfrinato, pesquisador do Departamento de Engenharia Florestal da Esalq, a neutralização é uma "medida para alívio de culpa". "A empresa se posiciona, mas não por inteiro", diz.

O conceito de "neutro em carbono" não é previsto no Tratado de Kyoto, que prevê a redução das emissões de CO2 pelos países poluidores para 5,2% dos níveis de 1990. A neutralização é uma iniciativa voluntária. (BB)

Lá fora, famosos e grandes grupos já abraçaram a causa

De São Paulo
Os famosos já aderiram. As grandes empresas também. Se a neutralização de carbono só agora desponta no Brasil, na Europa ela arrebatou vários setores da indústria e um rol de celebridades.

O movimento, que teve início há cerca de quatro anos, cresceu rapidamente. Embora não se saiba com precisão quantos projetos foram realizados (já que se trata de iniciativa voluntária e sem fiscalização pública), estimativas do mercado falam em "dezenas de milhares" de adeptos no mundo. Os maiores entusiastas do movimento são os europeus.

Uma das primeiras empresas a lidar com o status de "neutro em carbono" no exterior foi a britânica The CarbonNeutral Company (até pouco tempo chamada Future Forests). Sediada em Londres, a empresa auxilia 200 empresas a reduzir ou compensar emissões de poluentes com o plantio de de mudas em 55 áreas de 14 países, além de projetos em energia limpa.

Sua carteira de clientes inclui pesos-pesados como Honda e Avis Europa, astros holywoodianos como Brad Pitt, Cameron Diaz, Leonardo Di Caprio, Bernardo Beertolucci e até bandas internacionais - Coldplay, Foo Fighters e Massive Attack já neutralizaram seus CDS.

Pitt, por exemplo, pagou US$ 10 mil para a empresa criar uma floresta em seu nome no pequeno reino de Butão, nos Himalaias, numa área em processo de recuperação.

A Avis, que iniciou no Reino Unido a experiência, estendeu o programa para toda a sua rede de lojas na Europa. A empresa planta uma árvore para cada carro que aluga - já foram mais de 200 mil desde que iniciou o programa. "Quando se aluga um carro, o cliente recebe a opção de pagar US$ 2,86 extra para ter seu veículo neutralizado. Isso ajuda a cobrir o custo do plantio", diz a empresa.

Com ajuda do Instituto de Ecologia da Universidade de Edimburgo e do Centro para Gerenciamento de Carbono de Edimburgo (ECCM, em inglês), a CarbonNeutral desenvolveu o modelo de cálculo da relação entre as emissões de CO2 e a absorção das árvores. O ECCM é também responsável pelo monitoramento do seqüestro de carbono por hectare plantado.

Em cada caso, a CarbonNeutral calcula as toneladas de carbono gerados e estabelece o custo para o número de mudas necessárias. Ela fica com um percentual, mas diz que a maior parte vai para a compra de mudas e pagamento de serviços. Os projetos são auditados pela PriceWaterhouseCoopers.

Sua principal concorrente, a Climate Care, viu a quantidade de projetos saltar para o equivalente de 99 mil toneladas de carbono no ano passado, comparado com os menos de 20 mil toneladas registrados em 2002. Há alguns anos, fechou contratos com a British Airways e os jornais "The Guardian" e "The Times". O número de consultas ao seu website para cálculos individuais pulou de 100 mil para 200 mil no ano passado.

"A exposição dos problemas climáticos na mídia e o endurecimento de alguns governos quanto ao nível de emissões contribuíram para o resultado", diz Tom Morton, diretor-gerente da Climate Care.

Segundo o grupo, cerca de 20% das emissões anuais de CO2 advêm do desflorestamento e queimadas. Por isso, o plantio de árvores é uma alternativa considerada importante pela Climate Care. "Além disso, o reflorestamento representa um risco menor", diz a empresa, que também desenvolve projetos de investimento em energia limpa.

A própria PricewaterhouseCoopers lançou no ano passado um programa "verde" de viagens no Reino Unido que prevê uma série de medidas de impacto ambiental. A empresa adotou o mote do "trem primeiro", privilegiando viagens ferroviárias no lugar das aéreas e o aumento do uso de videoconferências como alternativa às viagens. Além disso, a consultoria está neutralizando viagens aéreas e terrestres feitas por seus funcionários com a plantação de árvores.

"Isto está se tornando mais e mais o pensamento predominante nas empresas, especialmente nos grandes grupos", declarou à época Mark Avery, diretor da divisão de serviços da Price. "Essa tendência se espalhará por toda a indústria".

Em maio passado, o Credit Suisse anunciou a neutralização total de suas operações mundiais até 2012 - na Suíça, sede da empresa, o objetivo é ser neutro em carbono até o fim deste ano.

Em 2005, o Credit investiu cerca de US$ 120 mil em projetos de energia renovável na Índia, Nova Zelândia, Alemanha e África do Sul equivalentes aos vôos de seus funcionários na Suíça - uma média anual de 320 milhões de milhas por ano. A compensação pelas viagens aéreas é fixada em 3 francos suíços (US$ 2,35) por hora de vôo.

Paralelamente, a empresa também está colocando ênfase no uso de videoconferências como meio de trabalho. "O uso de videoconferência cresceu 14% no ano passado, enquanto que tivemos crescimento zero de milhagem", disse Patrick Burry, vice-presidente para gerenciamento ambiental.

O HSBC seguiu o mesmo caminho. O segundo maior banco do mundo computa todas as milhas percorridas por seus funcionários - e seus correspondentes em emissões de dióxido de carbono - e divulga a informação em seu relatório anual de responsabilidade social. (BB)

Correção de Balanços

Notícia do jornal Valor Econômico informa que o Supremo irá julgar sobre a correção de balanços de 1990 (isto mesmo, não foi erro de digitação). Deve-se fazer um reparo na notícia, quando afirma que as empresas pagariam mais com a BTN: depende da estrutura da empresa. Eis a notícia completa:

Corte julga correção de balanços de empresas

De São Paulo

O Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a analisar na sessão de quinta-feira a Lei nº 8.200, de 1991, considerada constitucional pela corte em 2002. O caso, perdido para os contribuintes, está agora empatado em três a três em um processo da empresa Cerâmica Marbeth. A lei de 1991 autorizou as empresas a atualizarem os balanços de 1990 a partir do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e não pelo índice oficial adotado na época - o Bônus do Tesouro Nacional (BTN). Porém, o uso do IPC - que foi muito superior ao BTN - foi autorizado de forma parcelada, em até seis vezes, e não integralmente.

A medida provocou a ida das empresas ao Judiciário, pois, segundo elas, o parcelamento seria uma forma de empréstimo compulsório que só pode ser estabelecido por lei complementar e não por lei ordinária. No julgamento de 2002, porém, o Supremo considerou que a norma oferecia um favor fiscal e que, por isso, era constitucional.

O advogado da Cerâmica Marbeth, Rodrigo Leporace Farret, do Andrade Advogados Associado, afirma que neste processo não é abordada diretamente a Lei nº 8.200, mas a Lei nº 8.088, de 1990. A norma de 1990 substituiu o IPC pelo Índice de Reajuste de Valores Fiscais (IRVF) na atualização do BTN, aplicado na correção dos balanços. Segundo o advogado, o BTN no período foi de 965%. Já a taxa de inflação, medida pelo IPC correspondeu a 1.895%.

O efeito prático da lei foi o pagamento a maior de tributos pelas empresas. Isso porque, com a aplicação de um índice de inflação menor, as empresas registraram um lucro irreal, sobre o qual incidiu imposto de renda e contribuição sobre lucro líquido. Na ação, a empresa pede que a lei seja considerada inconstitucional. Com isso, a Lei nº 8.200 perde também seu efeito, uma vez que está ligada à lei de 1990. "Com a passagem do tempo, essa discussão perdeu o impacto econômico que poderia ter. A decisão interessa para as empresas que já têm ações no Judiciário sobre o assunto", afirma Farret.

A discussão foi retomada pelo Supremo em 2004 pelo ministro Marco Aurélio de Mello ao levar um novo processo ao pleno. Na época, o julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Eros Grau. Na quinta-feira, o ministro levou o voto, sendo contrário ao contribuinte. O entendimento contrário foi seguido por Cármen Lúcia e Joaquim Barbosa. Ricardo Lewandowski e Carlos Brito acompanharam Marco Aurélio. O coordenador-geral da representação judicial da Fazenda Nacional, Fabrício Da Soller, defende que a Lei nº 8.200 foi apenas um favor fiscal concedido pelo governo e não um empréstimo compulsório. (ZB)

Lei Benford e Eleição


A Lei de Benford tem sido utilizada para detectar fraudes dos mais diversos tipos, inclusive fraude contábil. Recentemente fiz um pequeno teste com os municípios brasileiros e a lei foi realmente observada.

Terminei de ler um artigo sobre a aplicação da lei em eleições, para tentar identificar fraudes na contagem dos votos. O autor, Walter Mebane Jr, tenta provar que a lei de Benford, mais especificamente, a lei do segundo dígito, pode ser utilizada para esta finalidade. Clique aqui para ter acesso ao artigo

Não fiquei efetivamente convencido disto pois achei que o autor não conseguiu demonstrar isto nas eleições do México deste ano e nas eleições norte-americanas, na Flórida, na eleição de Bush.

Um outra crítica a este artigo foi feita no sítio Statistical Modeling, Causal Inference, and Social Science. Clique aqui para a crítica.

Risco e a CIA

Uma editora brasileira está fazendo propaganda de um relatório da CIA sobre o futuro do mundo nos próximos anos. Mas conforme lembra o sítio Mahalanobis, a CIA falhou ao prever a crise do Líbano, mesmo tendo um orçamento de $26 bilhões de dólares. A CIA também errou o tamanho das economias comunistas e não antecipou diversos eventos mundiais nos últimos anos. Para este sítio, a informação da CIA é "irrelevante e inacurada".

08 agosto 2006

Balanço Social


Artigo na Gazeta Mercantil sobre o balanço social:

Comunicação corporativa e o balanço social

8 de Agosto de 2006 - Desde 1º de janeiro, existem procedimentos para evidenciar as informações de natureza social e ambiental o que, na prática, é a regulamentação do "Balanço Social" que até então era usado mais como ferramenta de comunicação corporativa do que como ferramenta contábil propriamente dita. Estes procedimentos constam da Resolução 1003, de agosto de 2004, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Esta resolução aprovou a NBC T 15 que passou a vigorar em 1º de janeiro deste ano.

De acordo com a norma do CFC, o "Balanço Social" deve ser apresentado na forma da Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental (DINSA). E é nesta demonstração que devem estar evidenciados os dados e as informações de natureza social e ambiental da entidade, extraídos ou não da contabilidade, com o objetivo de demonstrar aos usuários e à sociedade em geral a participação e a responsabilidade social das empresas. Na demonstração deverá constar informações referentes a geração e distribuição de riqueza; recursos humanos; interação da empresa com o ambiente externo; interação com o meio ambiente.

A geração e a distribuição de riqueza deve ser apresentada com base nos critérios determinados na Resolução 1010/05, que aprovou a NBC T 3.7 – Valor Adicionado. Sobre os recursos humanos devem constar dados referentes à remuneração, benefícios concedidos, composição do corpo funcional e as contingências e os passivos trabalhistas da empresa.

Quanto à interação da empresa com o ambiente externo é preciso constar dados sobre o relacionamento com a comunidade na qual a entidade está inserida, com os clientes e com os fornecedores, inclusive incentivos decorrentes dessa interação. Já na interação com o meio ambiente, é de extrema importância deixar claro os investimentos e gastos com manutenção nos processos ope-racionais para a sua melhoria; com a preservação e ou recuperação de ambientes degradados; com a educação ambiental para empregados, terceirizados, autônomos, administradores da entidade e para a comunidade, além de outros projetos ambientais. Deve constar, também, a quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos contra a entidade; o valor das multas e das indenizações relativas à matéria ambiental, determinadas administrativa e/ou judicialmente, e os passivos e contingências ambientais.

A vigência da NBC T 15 não significa que as empresas sejam obrigadas a elaborar e divulgar o "Balanço Social", embora o ideal é que todas divulguem. A obrigação e a responsabilidade do CFC é disciplinar sobre o assunto. Entretanto, cabe ressaltar que quando uma empresa, voluntariamente, elaborar e divulgar a Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental, mais conhecida como "Balanço Social", deverá observar que seu conteúdo necessita, no mínimo, contemplar os requisitos estabelecidos na norma; que as informações contábeis são de responsabilidade técnica de contabilista registrado em Conselho Regional de Contabilidade; que devem ser indicados os dados extraídos de fontes não-contábeis, evidenciando o critério e o controle utilizados para garantir a integridade da informação.

Na divulgação, a responsabilidade por informações não-contábeis podem ser compartilhadas com especialistas e o "Balanço Social" deve ser objeto de revisão por auditor independente e ser publicado com o relatório do mesmo -quando a entidade for submetida a esse procedimento. Deve também ser tratado como informação complementar às demonstrações contábeis, não se confundindo com as notas explicativas. Além disso, todas as informações devem ser apresentadas, para efeito de comparação, com as informações do exercício atual e do anterior.

Assim, é importante que as empresas se estruturem ou aprimorem seus controles internos para que tenham condições de apresentar o "Balanço Social" conforme as normas vigentes. O primeiro passo é rever os controles e políticas internas com o objetivo de identificar, mensurar e divulgar adequada e oportunamente seus ativos, passivos e contingências ambientais.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 18)(Geraldo Carlos Silvestre - Diretor da Boucinhas & Campos + Soteconti Auditores.)

Mais uma explicação para os juros altos


Um relato descrito no jornal valor econômico de hoje mostra uma nova hipótese para justificar os juros elevados praticados no País: os custos operacionais dos bancos, ou seja, a diferença entre o que o banco paga ao captar os recursos e o valor que cobra, quando empresta. É isto mesmo.

Veja a seguir a reportagem completa:

Alto custo operacional dos bancos eleva spread no Brasil

Assis Moreira
Os bancos no Brasil têm os mais elevados custos operacionais entre economias emergentes, depois da Venezuela. Uma das implicações disso é o fato de o país ser campeão mundial de spread bancário, que é a diferença entre o custo do dinheiro quando o banco capta recursos e o valor que cobra quando o empresta.

Quem mostra essa situação é o Banco Internacional de Compensações (BIS), o banco dos bancos centrais, em estudo sobre a evolução do sistema bancário nas economias emergentes publicado ontem na Basiléia (Suíça). Para o BIS, de maneira geral os custos operacionais elevados podem indicar ineficiências significativas no sistema bancário e rígida estrutura de empréstimos, reduzindo o acesso a quem potencialmente precisa de financiamento.

Nas economias emergentes, esse custo ficou na média em 3,5% dos ativos totais dos bancos em 2003-2005, mais alto do que 1% no sistema bancário do Japão e da Alemanha e de 3% nos Estados Unidos. No Brasil, essa despesa é ainda maior: representava 6,1% dos ativos totais das instituições bancárias em 2004, só superado pela Venezuela (6,3%), num grupo de 22 maiores economias emergentes.

Isso ajuda a explicar a persistência de alta margem na intermediação. Economistas do banco se referem ao "caso talvez mais extremo de altos spreads" , para citar percentual de 40% no Brasil, enquanto em várias outros emergentes são mais baixos e comparáveis a taxa de nações desenvolvidas.

O BIS se apóia em estimativas de Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central do Brasil, para destrinchar o spread nacional: 45% do total representava em 2004 a percepção de risco pelos bancos - mas outros 40% se referiam a custos administrativos e taxas. Essas despesas podem representar também maior concentração no sistema bancário brasileiro, segundo outro autor citado pelo banco.

Os custos operacionais no Brasil já foram ainda maiores: chegaram a 7,4% do total dos ativos em 1999, comparado a 10,2% na Venezuela. Embora essas despesas tenham caído nos últimos cinco anos, continuaram mais elevadas na América Latina do que na Ásia. Na China, representam 1,1% dos ativos e na Índia, 2,3%.

O estudo examina a disposição dos bancos para emprestarem com base em dois pontos adicionais. O primeiro é o índice de capitalização média do sistema bancário nos emergentes, que excedeu 14% em 2004 comparado a 13% cinco anos antes. No Brasil, passou de 15,5% para 18,2% no período. A conclusão é que a baixa expansão dos créditos até recentemente não era por causa de baixa base de capital dos bancos.

O outro ponto examinado pelo estudo foi o total do calote sofrido pelos bancos. Os dados recolhidos pelos economistas do BIS mostram que o calote caiu em vários países nos últimos cinco anos. Não cita dados de 1999 do Brasil, que em 2004 representava 2,7% do total financiado, comparado a 12,7 nas Filipinas, 6% na China, 8,5% na Tailândia e 18,9% na Argentina.