06 junho 2006
Conselhos para um orientando
Além disso, estamos, nós brasileiros, literalmente mudando nosso estilo científico na pesquisa contábil. Já deixamos de lado a pesquisa bibliográfica e produzimos cada vez mais textos empíricos.
Michael Kremer apresenta algumas sugestões interessantes sobre um trabalho empírico e um trabalho de modelagem. Eis alguns conselhos (adaptado):
Trabalho Empírico
1. Descreva os dados. Quantas observações? De onde vieram?
2. Inclua tabela que mostre a média das variáveis e seus desvios.
3. Como regra, é usualmente melhor mostrar os erros padrões do que a estatística "t".
4. Olhe para um artigo publicado para ver como apresentar uma tabela. Evite linhas horizontais.
5. Inclua informações básicas como o tamanho da amostra e o R.
6. Na medida do possível faça a tabela autoexplicativa, inclusive no título e nas notas.
7. Você deve explicar seu trabalho empírico com detalhes suficientes para que alguém o replique.
8. Se você usa um instrumento, explique as razões pelo qual você pensa que é válido.
Exposição
1. A introdução e a revisão não deve tomar mais do que 5 páginas. Depois disso, vá para o modelo.
2. Sempre inclua um resumo.
3. No resumo e na introdução, não somente diga o que você irá examinar, mas também descreva os resultados. (Aqui, uma nota minha: no Brasil não fazemos isso)
4. Não devem ter mais do que 45 páginas. 20 a 30 é o mais apropriado.
Prejuízos da aposentadoria
Agora, três pesquisadores, Dhaval Dave, Inas Rashad e Jasmina Spasojevic descobriram que a aposentadoria provoca efeitos na saúde física e mental das pessoas. Examinando os efeitos da aposentadoria sobre as doenças e depressão, e utilizando dados em painel, os autores verificaram que a aposentadoria aumenta de 23 a 29% as dificuldades associadas com a mobilidade e atividades diárias. Além disso, reduz em 11% a saúde mental.
Reduzindo Custos nas Cias Aéres 2
Companhias aéreas recuperam-se nos EUA
June 6, 2006 4:05 a.m.
Por Evan Perez e Melanie Trottman
The Wall Street Journal
Apesar dos altos preços do combustível, as grandes companhias aéreas americanas estão dando sinais de recuperação depois de cinco anos de perdas brutais, algo que muitos analistas e empresas não achavam possível há seis meses.
Os melhores resultados financeiros que sete das dez maiores companhias aéreas dos Estados Unidos apresentaram nos últimos meses refletem uma mudança fundamental de estratégia, que vai além do esforço das empresas mais antigas de arrancar bilhões de dólares em concessões dos trabalhadores. As grandes empresas aéreas, que por décadas insistiram em obter maior fatia de mercado a qualquer custo, agora se concentram com a mesma persistência na lucratividade de cada rota e vôo.
Companhias tradicionais — como a American Airlines e a Delta Air Lines, que arcam com grandes aposentadorias e outras obrigações trabalhistas anteriores à desregulamentação do setor em 1978 — abandonaram muitas das táticas que levaram à sua fraqueza cíclica. Cada vez mais elas se recusam a voar com aviões meio vazios para manter-se competitivas em determinadas rotas só para alimentar suas redes nacionais. Embora a recuperação ainda esteja nos primeiros estágios e possa descarrilar por causa de um aumento maior do petróleo ou de outros fatores, a nova ênfase que elas dão à lucratividade parece estar dando certo.
As seis maiores companhias aéreas tradicionais dos EUA — a American, da AMR Corp., a Continental Airlines, a Delta, a Northwest Airlines, a United Airlines, da UAL Corp, e a US Airways Group — estão pondo no ar bem menos aviões atualmente, esquematizando suas frotas e aumentando o preço das passagens onde podem. Novas estatísticas de 2005 mostram que essas companhias tinham juntas uma frota de 2.747 aviões, 21% a menos que no fim de 2000, segundo a Associação de Transporte Aéreo dos EUA (ATA).
A American, que é a maior empresa áerea do mundo em tráfego de passageiros, decidiu recentemente estacionar 27 MD-80s que ela havia usado durante muitos anos para ajudar a atender à maior demanda do verão americano. Ela concluiu que o custo de operar no resto do ano um avião mais velho e bebedor de combustível tinha um peso maior que o benefício de ter capacidade extra no verão.
Graças à forte economia dos EUA, a demanda pelo número menor de assentos disponíveis se manteve alta. No ano passado, as companhias americanas tiveram ocupação média de 77,6% dos assentos nos vôos domésticos e internacionais, ante 75,5% em 2004 — os índices mais altos desde 1946, segundo a ATA.
Reduzindo Custos nas Cias Aéreas
Eis a reportagem completa:
O que a aviação faz para economizar combustível
June 6, 2006 4:05 a.m.
Por Scott McCartney
The Wall Street Journal
O combustível tornou-se um fator maior nos custos de uma companhia aérea que a mão-de-obra, e a maneira com que as empresas se ajustam à alta do petróleo pode determinar vitoriosos e perdedores no setor.
Não por acaso, a aviação civil tem feito esforços dramáticos para conservação de combustível. Nos Estados Unidos, os passageiros podem ver as mudanças em tudo, desde o número de revistas nos aviões até a velocidade deles ou na aparência das asas. Grande parte da economia feita recentemente também vem da maior eficiência nas operações, como taxiar com apenas uma turbina ligada ou alisar pequenos amassados que podem prejudicar a aerodinâmica de um avião.
A pressão do custo do combustível pode acabar forçando mais consolidação entre as companhias aéreas. Mas apesar de muita gente ter previsto, alguns anos atrás, que o setor não poderia funcionar se o preço do petróleo chegasse a US$ 60 por barril, a intensa conservação, a suspensão de vôos deficitários e o aumento generalizado das tarifas podem ajudar algumas até a ter lucro este ano. E isso com o petróleo por volta de US$ 70. (Ver texto ao lado.)
As companhias aéreas americanas aumentaram sua eficiência no uso do combustível em 83% desde o começo dos anos 80, quando medido em receitas por passageiro-milha, segundo a Associação de Transporte Aéreo dos EUA.
A United Airlines, da UAL Corp., diminuiu a velocidade de cruzeiro de alguns de seus aviões para economizar combustível. Várias companhias colocaram coletes salva-vidas em mais aviões para que eles possam fazer mais vôos diretos sobre a água. E algumas compraram grandes tratores para rebocar aviões até os hangares de manutenção, em vez de fazê-los taxiar até lá com os motores ligados.
A Continental Airlines comparou a queima de combustível de cada um de seus aviões e pôs sob severo exame aqueles que eram um pouco menos eficientes. Os mecânicos verificaram a atuação das turbinas, consertaram amassados e certificaram-se de que os flapes ficassem bem alinhados — para que se retraiam completamente quando têm de ser recolhidos, por exemplo.
A Administração Federal de Aviação dos EUA ajudou nessa economia ao reduzir a separação vertical — a distância mínima que os aviões devem manter quando voam acima ou abaixo uns dos outros — de 609 metros para 304 metros em altitudes de cruzeiro. Isso dobra a capacidade, permite mais rotas diretas e permite que mais aviões voem nos melhores níveis de vento.
A maioria das empresas também pôs seus aviões em dieta, para deixá-los mais leves e assim queimar menos combustível. A Alaska Airlines disse que estava economizando US$ 10.000 em combustível por ano ao tirar cinco revistas de cada avião. As companhias também tiraram telefones do encosto dos assentos, já que eles não eram mais usados, e agora carregam menos água a bordo para reduzir peso.
A JetBlue e a America West passaram a ter cabines de comando sem papel para que os pilotos não levem a bordo maletas pesadas com gráficos e mapas. A American Airlines, da AMR Corp., diz que está estudando o uso de "bolsas de vôo eletrônicas", que pesariam menos que as maletas de 18 quilos que os pilotos carregam hoje.
Ao todo, as empresas aéreas americanas queimaram 52,2 bilhões de litros de combustível em rotas domésticas, 4% menos do que em 1999, segundo o Escritório de Estatísticas de Transporte dos EUA.
05 junho 2006
Uso da Web e o Custo dos Bancos
Uso da web dispara e reduz custo de banco
Em 2005, correntistas fizeram 5,8 bilhões de operações usando a internet contra só 3,7 bilhões realizadas nos caixas. Mudança turbina os lucros pois o custo na rede é de R$ 0,10, enquanto no caixa chega a R$ 1,10, segundo sindicato dos bancários
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A internet ganha cada vez mais a preferência dos clientes de bancos. Em 2005, as transações pela rede bateram de longe as realizadas pessoalmente no caixa, ampliando a vantagem constatada já em 2004. Comodidade e rapidez são os principais tópicos apontados para explicar o fenômeno.
Em 2005, as operações bancárias feitas pela internet totalizaram 5,85 bilhões. As feitas no caixa somaram apenas 3,72 bilhões. Há muito pouco tempo, em 2003, a realidade era bem diferente: naquele ano, as transações via internet chegaram a 2,63 bilhões, enquanto as no caixa bateram os 4,45 bilhões. Os dados pertencem a estudo feito pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
"A internet trouxe várias comodidades para o cliente. Ele não tem mais que sair de casa para fazer suas operações bancárias. As pessoas podem agora até agendar pagamentos de contas, além de poder cuidar de suas contas mesmo viajando", diz Luís Marques de Azevedo, consultor da Febraban.
Um rápido crescimento no número de pessoas com acesso ao internet banking também ocorreu nos últimos anos. De um universo de 8,3 milhões de pessoas em 2000, chegou-se ao número de 26,3 milhões no fim de 2005 -ano que registrou um aumento de 45,3% em relação a 2004.
As operações de pessoa física e jurídica feitas em 2000 via internet representaram 3,7% do total das transações bancárias. No ano passado, já haviam alcançado 17% do total.
Além da explosão do uso da internet, os postos de auto-atendimento também têm ganhado considerável terreno nos últimos anos. Em 2000, foram contabilizadas 6,16 bilhões de operações por esse meio. Em 2005, somaram 10,79 bilhões.
Para os bancos, essa informatização dos clientes é bastante vantajosa, com queda em seus custos operacionais.
"As instituições financeiras só têm a comemorar essa mudança no perfil de seus clientes. Caem os custos operacionais e se reduz a necessidade de ampliar o quadro de funcionários. Esse movimento se refletiu também na diminuição no volume de cheques compensados, que eram mais onerosos para os bancos", afirma Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).
O número de cheques compensados em 2005 caiu 7,93% se comparado a 2004. No ano passado, foram 1,94 bilhão de cheques compensados. Em 2000, foram 2,64 bilhões.
E isso tem ocorrido em um período em que cada vez mais pessoas têm acesso aos serviços bancários -a bancarização. De 2000 para 2005, o número de contas-correntes saltou de 63,7 milhões para 95,1 milhões.
Segundo informação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o custo médio para os bancos em um operação feita no caixa é de R$ 1,10. Quando a operação é feita por um meio eletrônico (internet ou caixa eletrônico), esse custo cai drasticamente, para R$ 0,10.
"O canal internet representou um benefício excepcional para os dois lados. O cliente passou a poder fazer suas operações a qualquer momento e em qualquer lugar. E, para os bancos, o sistema é um filé mignon, explicando parte dos crescentes ganhos das instituições", afirma Azevedo.
"É indiscutível que os bancos tiveram grandes benefícios com essa mudança no perfil das operações. Além de custos menores, não tiveram de ampliar expressivamente o número de agências e funcionários para acomodar o crescimento da bancarização no país", diz Carminatti.
Modismo em Investimentos
Aplicações - Investimentos que ganham fama
repentina nem sempre são indicados para o longo prazo
YUKI YOKOI
DO JORNAL DO COMMERCIO
Os investimentos financeiros também estão sujeitos aos modismos. São aqueles períodos em que determinadas aplicações ganham maior visibilidade e parecem ser, sem dúvidas, a alternativa mais atraente do mercado. Os ativos rurais já foram moda e, recentemente, ganharam novamente as manchetes dos jornais. Casos como Boi Gordo e Avestruz Master traumatizaram muitos investidores. No entanto, nem tudo que está na moda é prejudicial ao investidor. Pelo contrário. Aplicações como previdência privada e fundos multimercados ganharam fama e continuam a conquistar espaço no mercado, com produtos cada vez mais diversificados. Evidenciam de que nem tudo que é moda tem caráter efêmero, como diz a definição semântica.
Em dezembro de 2000, o patrimônio dos fundos multimercados representava 4,16% de todo o setor de fundos de investimentos. Um ano depois, a aplicação já era responsável por 22,46% dos recursos aplicados no segmento, o que representa um aumento de 439% em 12 meses. Atualmente, os multimercados representam 18,35% do patrimônio líquido total de R$ 805,4 milhões. Parte do crescimento e do desenvolvimento destes produtos deve-se ao aumento do número de gestores independentes e à estabilidade econômica dos últimos anos.
Estratégias variadas e possibilidade de investimento em ativos diversos seduziram muitos investidores que, recentemente aderiram a outra moda: os multimercados com estratégia long/short. Este tipo de aplicação é também chamada de não-direcional, já que não acompanha a evolução de um mercado específico ao buscar ganhos com a movimentação relativa dos preços.
Acompanhamos cerca de 27 fundos long/short. No ano passado, a captação líquida dessa mostra de aplicações somou R$ 1,3 milhão e patrimônio de R$ 3,7 bilhões. É um movimento tão recente que não temos dados anteriores. Neste ano, a captação soma R$ 719 milhões e o patrimônio, R$ 4,7 bilhões disse Marcelo Mazironi, sócio da Hedging Griffo Corretora.
O especialista destacou ainda a onda de saques que dominou o segmento a partir do final de 2004. Até então, os multimercados haviam passado apenas por momentos positivos e, com o aumento da volatilidade, cerca de R$ 3 bilhões da mostra de fundos acompanhada pela Hedging Griffo saíram da aplicação. "Em 2004, os cerca de 66 multimercados que acompanhamos registram ingresso de apenas R$ 470 milhões e patrimônio de R$ 17 bilhões". Mazironi afirma ainda que a participação dos multimercados continuará crescente. "Mas será em uma velocidade menor", afirmou.
Os títulos públicos indexados à inflação, como as NTN-B, também viraram moda nos últimos meses. Prêmios atrativos e incentivo fiscal para estrangeiros que comprassem os papéis elevaram a procura pelos títulos. Atualmente, as NTN-B voltaram a ter preços atrativos, após a realização de lucros do mês de maio. No entanto, segundo um especialista, não há compradores devido à elevada procura anterior.
Em 2000, os papéis preferenciais da Net chegaram a valer R$ 30,18. Na época, investidores de todo o mundo apostavam em massa nas companhias do setor tecnológico, principalmente Internet. No Brasil, a empresa que mais se assemelhava ao modelo da moda era Net, o que provocou uma elevação exagerada dos preços. Para muitos aplicadores e profissionais do mercado, a empresa de TV a cabo seria a transmissora, no País, de toda a tecnologia de ponta que estava para chegar.
No entanto, o período que ficou conhecido como a bolha da Internet estourou. Os atentados de 11 de setembro de 2001 também ajudaram a impor maior pessimismo aos aplicadores. Em 14 de fevereiro de 2003, Net PN chegou à mínima de R$ 0,14. A perda acumulada em relação à máxima foi de exatos 99,53%. Atualmente, os papéis preferenciais da empresa valem cerca de R$ 1,13 e, nos primeiros cinco meses do ano, acumulam alta de 5,6%.
Lucio Graccho, do HSBC Investments, lembra que os fundos diferenciados de ações já foram moda. "Em 2002 e 2003 surgiram muitos fundos focados em dividendos. Anteriormente, as atenções estavam voltadas para os setoriais. Todos esses produtos continuam no mercado, mas sempre há uma empolgação maior por parte dos investidores enquanto o produto é novidade", disse.
Outro tipo de modismo é quando o movimento é baseado em oportunidades de mercado. Foi o que aconteceu em 2002, quando a disputa presidencial provocou forte pessimismo. Na época, o dólar assumiu trajetória ascendente em relação ao real e chegou a quase R$ 4 em outubro. "Este foi um modismo que teve explicação. Estava associado à instabilidade política e perdeu muitos cotistas quando o mercado se acalmou", lembrou Alan Gandelman, da Ágora Senior Corretora.
Evitar alocações excessivas em investimentos, mesmo os que estão na moda, é fundamental. De acordo com especialistas, cada aplicador deve analisar claramente se os recursos investidos estão de acordo com suas expectativas. Nesta hora, risco da aplicação e metas de retorno são características que não podem ficar esquecidas.
Armadilhas que escondem as aplicações da moda
Estar na moda não significa ser um mau negócio. Os produtos ganham visibilidade no mercado quando somam características positivas, como projeção favorável e risco compatível. No entanto, podem ser também uma armadilha para os investidores mais afoitos. De acordo com a consultora Lilian Gallagher, da LMG Consultores Associados, os principais erros cometidos pelos seguidores de modismos do mercado são desconhecimento do produto e perfil inadequado à aplicação. Para evitar problemas, a especialista recomenda:
1 - Buscar informações sobre o produto em questão. O investidor deve ter noção de como a aplicação reagirá diante de cenários positivos e negativos e relacionar estes dados à sua expectativa de retorno. 2 - Conhecer o próprio perfil e sua adequação ao investimento desejado. Cada investidor tem um grau diferente de tolerância ao risco. 3 - Analisar o prazo da aplicação, a liquidez e a volatilidade. A dica é aplicar somente os recursos que são adequados a estas características, evitando saques em momentos inadequados.
ALGUNS MODISMOS DO MERCADO
NET - Em 2000, as ações preferenciais chegaram a valer R$ 30,18. Na época, o mercado americano passava pelo boom das empresas ligadas à tecnologia, principalmente Internet. No Brasil, a companhia que mais se aproximava era a Net. O aumento da demanda provocou uma alta exagerada dos preços. Na mínima desde o início do Plano Real, Net PN chegou a R$ 0,14, em fevereiro de 2003. Neste ano, a alta é de XX%.
BOI GORDO - Em outubro de 2001, a Fazenda Reunidas Boi Gordo entrou com pedido de concordata. A empresa de capital aberto emitia Contratos de Investimentos Coletivos (CICs) e foi o caso mais famoso de investidores insatisfeitos após aplicação em ativos rurais. Com a promessa de ganhos de até 40% ao ano, atraiu cerca de 35 mil credores, entre eles atores e jogadores de futebol, além de pequenos investidores. A falência foi decretada em abril de 2004.
PREVIDÊNCIA PRIVADA - De 2002 ao final de 2004, a participação do patrimônio dos fundos de previdência aumentou mais de 100%. Segundo profissionais, resultado da estabilidade econômica, que permitiu aos investidores buscar aplicações de longo prazo. A tendência é o segmento continuar a crescer, principalmente após a implantação da tabela regressiva do Imposto de Renda.
FUNDOS CAMBIAIS - Tiveram seu auge em 2002, às vésperas da eleição presidencial, quando o dólar chegou a valer cerca de R$ 4. É um típico de exemplo de modismo baseado em oportunidade de mercado. Na época, a tensão política gerou forte procura pela moeda. Ao final de 2002, a classe de fundos representava 1,73% de todo o patrimônio líquido do setor. Hoje, a participação é de 0,21%.
AVESTRUZ MASTER - É mais um caso de investidores lesados após serem atraídos por ganhos acima da média com aplicações em ativos rurais. Boatos sobre as dificuldades financeiras da empresa e uma possível falência surgiram com força no mercado em novembro de 2005. A companhia, sem registro na CVM para distribuição de valores mobiliários, chegou a prometer ganhos de 11% ao mês. O caso ainda está sendo analisado pela Justiça.
FUNDOS MULTIMERCADOS E COM ESTRATÉGIA LONG/SHORT - De dezembro de 2000 até dezembro de 2001, o patrimônio dos multimercados no setor de fundos aumentou 439%. Já os fundos com estratégia long/short surgiram mais tarde e tendem a ganhar cada vez mais espaço. São também chamados de não-direcionais porque buscam ganhos com a movimentação relativa dos preços. A Anbid ainda não tem uma classificação específica para este tipo de fundo.
AÇÕES ESTREANTES - As ações que estréiam na Bovespa, em geral, têm pouca cobertura dos analistas do mercado, mas muita procura por parte dos investidores. Natura ON foi a primeira da série de IPOs bem sucedidos, realizados desde 2004. O histórico recente de lucros acima da média atrai cada vez mais aplicadores e pode ser uma armadilha. Nada garante ao investidor que a maré de sucesso continuará.
04 junho 2006
A conta da natureza
A natureza cobra a sua conta
Cresce no mundo um movimento pelo pagamento por serviços ecológicos como incentivo à conservação
Herton Escobar
Quanto vale um hectare de floresta intocada? Normalmente, esse valor seria calculado com base apenas nos produtos que podem ser extraídos e comercializados diretamente, como madeira, frutos e resinas. Mas e quanto à água captada da chuva, o carbono absorvido da atmosfera, o controle de temperatura, a manutenção da biodiversidade e o apelo turístico da paisagem? Esses serviços não deveriam ser contabilizados também?
Se a natureza cobrasse por todos os serviços que presta ao homem, a conta seria gigantesca. Segundo um estudo publicado na revista Nature em 1997, o valor total dos serviços ambientas fornecidos pelos principais biomas do planeta chega a US$ 33 trilhões, incluindo fatores como regulação climática, produção de alimentos e reciclagem de água.
O cálculo já é antigo, mas o assunto está mais quente do que nunca. Cada vez mais, autoridades ambientais, e até mesmo empresariais, defendem o pagamento por serviços ecológicos como uma opção econômica de incentivo à conservação. Dessa forma, o mesmo fazendeiro que derruba a floresta para vender a madeira e fazer uma plantação poderia, em vez disso, receber dinheiro para manter a floresta em pé, em troca dos serviços ecológicos prestados à sociedade.
"Queremos criar a figura do produtor de serviços ambientais", diz a coordenadora do Projeto de Recuperação de Mata Ciliar da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Helena Carrascosa von Glehn. Com cerca de 1 milhão de hectares para serem reflorestados no Estado, a idéia é aplicar a remuneração desses serviços como incentivo à recuperação de matas degradadas, assim como à manutenção daquelas que ainda estão preservadas.
"Quando um produtor polui a água, ele não prejudica só a fazenda dele, mas todos os usuários do rio. Da mesma forma, aquele que preserva suas matas e não polui o rio beneficia toda a sociedade", explica Helena.
Os ecossistemas florestais - em especial, as matas ciliares - são essenciais para a manutenção da qualidade e da quantidade dos recursos hídricos, além de evitar a erosão e o assoreamento dos cursos d'água. A cobertura vegetal absorve e segura a água da chuva, como uma esponja, impedindo que ela corra diretamente para o rios - arrastando terra, areia, lixo e outros sedimentos pelo caminho. Serviços que, segundo os especialistas, valem muito mais para a sociedade do que uma tora de madeira, um pé de alface ou uma vaca no pasto.
"Se reconhecemos isso como algo que deve ser remunerado, oferecemos uma alternativa econômica para o produtor com a conservação", defende Helena.
SERVIÇO OBRIGATÓRIO?
A preservação das matas ciliares é uma obrigação estabelecida em lei pelo Código Florestal. Com relação a áreas já desmatadas, entretanto, a legislação diz que o proprietário da terra não pode impedir a regeneração da vegetação, mas não o obriga a fazer o reflorestamento.
"A lei parte da premissa de que a regeneração natural é sempre possível, mas na prática não é assim", diz Helena. "Em muitos casos o ecossistema foi tão alterado que não tem condições de se recuperar sozinho. Se deixarmos isso intocado, a situação só vai piorar." É nesses casos, segundo ela, que o pagamento por serviços ambientais poderia estimular o reflorestamento.
"É um incentivo para que as pessoas façam mais", diz o especialista Michael Jenkins, diretor executivo da Forest Trends, organização com sede em Washington que trabalha com a valorização comercial de serviços ambientais. "É exatamente isso o que queremos: que o desenvolvimento econômico promova a conservação."
Vários projetos e mercados já estão tomando forma ao redor do mundo. Na França, segundo Jenkins, a empresa de água Perrier-Vitel paga US$ 230 por hectare/ano a fazendeiros das proximidades para que mantenham suas nascentes protegidas com vegetação. No México, o governo federal paga comunidades e proprietários de terras para que preservem suas florestas em áreas de mananciais.
Na Costa Rica, impostos cobrados sobre água e gasolina são revertidos para proprietários de florestas em troca da preservação dos recursos hídricos e do seqüestro de carbono da atmosfera feito pela vegetação. Cada "fornecedor" recebe cerca de US$ 80 por hectare/ano de mata preservada, segundo Carlos Manuel Rodríguez, ex-ministro de Meio Ambiente do país e atual diretor regional para América Central da organização Conservação Internacional.
O valor completo, incluindo serviços de proteção da biodiversidade e manutenção da paisagem para o turismo, segundo ele, pode chegar a US$ 300 por hectare/ano. "Estamos pagando abaixo do valor real, mas isso será ajustado com o tempo", diz. Hoje, a remuneração por água e carbono beneficia 11 mil pessoas, num total de US$ 15 milhões anuais.
MERCADOS LOCAIS
No Brasil, alguns projetos também já estão sendo colocados em prática. Em Itacaré, no sul da Bahia, um grupo de três hotéis paga meio salário mínimo a 20 proprietários de terras do entorno para que mantenham suas áreas de floresta preservadas. Além disso, para receber o dinheiro, os produtores precisam aderir a práticas de produção sustentável, como a agricultura orgânica.
"O interesse é manter a paisagem da região estável e, ao mesmo tempo, criar um vínculo de produção ecológica de hortaliças, frutas e mudas para abastecer os hotéis", diz o agrônomo e diretor do Instituto Floresta Viva, Rui Barbosa Rocha, que apóia a iniciativa.
A mesma lógica serve para o Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar - Proambiente, desenvolvido na Amazônia pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Criado pela sociedade civil em 2000 e incorporado pelo governo em 2003, o projeto premia com um terço de salário mínimo (cerca de R$ 100) famílias que incorporam práticas sustentáveis em sua produção. Por exemplo, a substituição de agrotóxicos e abandono do uso do fogo.
"Isso acaba sendo um serviço ambiental que os agricultores prestam para a sociedade", diz o diretor de Gestão Ambiental e Territorial do MMA, Roberto Vizentin. "As queimadas na Amazônia não prejudicam só a Amazônia, mas todo o País, contribuindo para as mudanças climáticas. Isso já está mais do que provado." Os primeiros pagamentos foram feitos neste ano, em escala piloto, a cerca de mil famílias do Acre, Maranhão e Pará.
O Ibama também estuda a viabilidade de cobrança pelos serviços ambientais prestados por unidades de conservação federais - possibilidade que está prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). Um dos casos em estudo é o do Parque Nacional de Brasília, cujas nascentes abastecem a Barragem de Santa Maria, que supre 60% do Plano Piloto de Brasília. Graças ao parque, o custo de produção da água para a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) é muito menor: basta filtrar e colocar cloro, segundo o diretor de Ecossistemas do Ibama, Valmir Ortega.
"Isso só é possível graças aos serviços ambientais prestados pelo parque", diz. "Estamos tentando desenvolver uma metodologia universal que permita fazer essa cobrança em todas as unidades, mas ainda não chegamos a essa equação."
O valor, a princípio, seria equivalente ao que a empresa economiza com o tratamento da água. Mas os cálculos são mais complicados do que parecem.
"Sabemos que uma árvore ajuda a produzir água limpa. Mas quanto?", diz a economista Leslie Lipper, da Fundação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). "Há muita expectativa de que isso será algo muito grande, mas ainda estamos muito no início."