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12 setembro 2024

Diagnóstico de saúde de uma empresa

Eis o resumo:

Depois de ser apresentado com 150 casos médicos, o chatbot de IA só deu um diagnóstico correto menos da metade do tempo, conforme detalhado em um novo estudo publicado na revista Plos One.

Os resultados mostram que, em sua forma atual, o ChatGPT “não é preciso como uma ferramenta de diagnóstico”, escreveram os pesquisadores, o que questionaria os esforços de empresas como o Google que estão experimentando chatbots sendo usados em hospitais. E como os modelos de IA estão sendo lançados especificamente para fins médicos, os autores temem que o público superestime as capacidades da tecnologia.

O estudo apresentou o histórico de um paciente e solicitou que se escolhesse entre quatro alternativas, das quais apenas uma estava correta. Como o estudo foi publicado em um periódico respeitável, podemos estabelecer uma conexão entre ele e a contabilidade. Sim, há uma lição interessante aqui. O médico precisa fazer um diagnóstico com base nas informações coletadas sobre o paciente. Embora essa não seja a única tarefa de um médico, é provavelmente uma das mais nobres.

Há uma similaridade com a contabilidade e as empresas. Após reunir informações sobre a "saúde" da entidade, o profissional contábil-financeiro precisa diagnosticar o que deve ser feito. Por exemplo, o contador gerencial apura os custos dos produtos e, aplicando técnicas como a programação linear, determina o melhor mix de produção. Será que a inteligência artificial também alcançaria esse nível de precisão?

11 setembro 2024

Quanto vale um executivo?

É uma boa pergunta, mas nem sempre temos uma resposta adequada. Uma maneira de mensurar isso é calcular o valor presente dos salários e benefícios que ele receberá. Em um mundo onde a responsabilidade está sendo diluída dentro das organizações, talvez essa abordagem superestime o valor. O mercado pode oferecer uma resposta, mas a desigualdade salarial nas empresas pode distorcer o valor obtido.

Existem situações em que isso pode ser melhor analisado, como quando um executivo famoso é contratado por uma empresa e podemos observar o impacto no preço das ações. Outra situação é quando esse executivo falece e, novamente, observamos o mercado de ações. Aqui temos um caso interessante.

No dia 13 de agosto, a Starbucks anunciou a contratação de Brian Niccol como seu novo CEO. No dia anterior, as ações da empresa estavam sendo vendidas por 77 dólares; logo após o anúncio, o preço subiu para 94 dólares. Esse aumento, multiplicado pelo número de ações, resultou em um ganho de 19 bilhões de dólares. Niccol deverá receber um salário de 1,6 milhão de dólares, além de bônus de 10 milhões e incentivos. Comparado ao ganho de valor da Starbucks, o pagamento parece ser significativamente menor. No entanto, é importante considerar o tempo e o desconto sobre os pagamentos futuros que a empresa fará a Niccol. Além disso, enquanto o aumento no valor da empresa reflete uma expectativa do mercado sobre a competência de Niccol, o salário é algo “certo”. Mesmo assim, parece que a remuneração generosa de Niccol representa apenas uma pequena fração do aumento no valor de mercado.

Outro fato interessante é que, enquanto trabalhava como CEO da Chipotle, Niccol elevou o valor das ações de 6 para 56 dólares. Com o anúncio de sua contratação pela Starbucks, as ações da Chipotle caíram de 56 para 52 dólares, resultando em uma perda de 5,5 bilhões de dólares no valor de mercado. Parece que o desempenho de Niccol tem um impacto significativo, e seu valor pode estar entre 5,5 bilhões e 19 bilhões de dólares. Ou, usando seu salário anual de 15 milhões de dólares, a 5% em perpetuidade, o valor atual de seu salário seria de aproximadamente 300 milhões de dólares.


Efeito ChatGPT e habilidades

Anúncio do Correio Paulistano, de 1891
Um pequeno texto no site Behavioral Economics procura chamar a atenção para como nossas habilidades irão evoluir na era do ChatGPT. A ideia é bastante intuitiva e faz sentido se pensarmos nas recentes revoluções tecnológicas e como elas mudaram a forma como nos comportamos.

Quando não tínhamos uma calculadora para realizar cálculos aritméticos, saber as operações de somar, subtrair, multiplicar e dividir era uma habilidade desejável. Admirávamos quem tinha rapidez de cálculo e, também, a partir de nossa criatividade, inventamos regras que facilitavam nossa vida. Talvez alguém se lembre da regra da multiplicação do nove, onde o resultado seguia uma evolução de 0 a 8 para a casa das dezenas e de 9 a 1 para a casa das unidades. Assim, 9x2 era 18, e para saber 9x3 bastava somar um na casa das dezenas e subtrair um na casa das unidades: 1+1=2 e 8-1=7; ou 9x3=27. Parece uma regra boba, mas esses truques facilitavam nossa vida. Quando a calculadora se tornou acessível, essas regras perderam relevância. Você provavelmente já acessou a calculadora do celular para fazer uma conta simples como 5x6 ou algo assim, pois já deixou de ocupar seu cérebro com esse tipo de conhecimento.

Esse exemplo simples serve para mostrar que a tecnologia tem uma influência sobre nosso comportamento e sobre as habilidades que valorizamos. Em trinta anos, tivemos a popularização de mapas e sistemas de navegação, que substituíram os mapas impressos e a parada em postos de combustíveis para perguntar onde ficava determinado local. Hoje, basta abrir o GPS e inserir o endereço para recebermos instruções sobre como chegar a um destino com um grau de acerto muito próximo a 100%. Mas essa facilidade tem um custo. Se sempre seguirmos a indicação do GPS, deixamos de experimentar novos caminhos ou de escolher rotas mais agradáveis. Uma recomendação típica para quem deseja manter a mente ativa é variar o caminho que faz para o trabalho; o uso do GPS é conveniente demais na hora de tomar essa decisão. Pesquisas mostram que o uso do GPS piora nossa memória espacial e nossa habilidade de navegação. Esse seria o "efeito GPS".

Outra mudança de atitude está no "efeito Google". No passado, ficávamos admirados com a memória das pessoas em termos de fatos, dados e conhecimento geral. Temos lembrança de alguém próximo que sabia as capitais de todos os países ou era capaz de dizer a data de um evento histórico importante. Mas tudo isso pode ser obtido facilmente com uma pesquisa no Google. Não sabemos qual é a capital do Casaquistão, mas basta “dar um google” para obter a resposta. É engraçado como, em muitas conversas, surge uma dúvida que interrompe a discussão até que alguém traga o resultado do Google. Então, esquecemos qual é o nome da capital do Casaquistão, mas isso não é relevante, já que podemos recuperar a informação rapidamente na internet.

Yael Mark questiona como o ChatGPT pode mudar algumas de nossas habilidades. Como o mecanismo tem uma grande gama de usos, os efeitos também podem ser amplos. A ferramenta pode resumir um artigo, corrigir erros em um texto, melhorar o estilo da redação, fazer um parecer, etc. Se isso economiza tempo, liberando-nos para outras atividades, "deixamos de exercer nossa capacidade de nos expressar por escrito", entre outros casos. Optar por usar a velocidade e a aparente precisão da ferramenta diminui nossa habilidade de buscar originalidade e questionamento. Se no Google pedimos informações sobre um tópico, na inteligência artificial pedimos a resposta, sem praticar nossa habilidade. Eis a conclusão de Mark:


Um assistente de IA como o ChatGPT tem um grande potencial, mas também pode levar ao “Efeito ChatGPT”, onde nossos cérebros se tornam menos motivados para manter as habilidades diárias que são tratadas pela IA. A luz de como as tecnologias passadas nos mudaram, é importante estar ciente dos possíveis impactos do uso do ChatGPT e preservar nossas habilidades de escrita e ideação ou expressão. Continuar a praticar a escrita e visualizar cada correção como uma oportunidade de aprendizado pode nos ajudar a usar o ChatGPT para melhorar nossas habilidades, em vez de substituí-las. Ao usar o ChatGPT como uma ferramenta para construir nossas habilidades, e não apenas como um robô de escrita que faz nosso trabalho sujo, podemos abraçar a tecnologia como asas que podem construir nosso músculo voador, em vez de um pára-quedas que o atrofia.

10 setembro 2024

Aprendendo com o esporte

De Tim Harford

(...) o esporte de alto desempenho espera aprender com os geeks, há também a possibilidade de que os geeks possam aprender com o esporte. O esporte é muito mais restrito do que a vida, o que ajuda os cientistas sociais a procurar respostas claras e nítidas para perguntas preocupantes sobre como indivíduos e equipes se comportam.

O economista Ignacio Palácios-Huerta vem fazendo esse argumento há muitos anos e publicou recentemente um documento de trabalho intitulado “The Beautiful Dataset”, pesquisando um amplo cenário de tópicos econômicos que foram abordados usando dados do esporte.

(...) Outro exemplo é se um mercado livre tende a reduzir a discriminação injusta. Pode, em teoria: afinal, recusar-se a contratar pessoas boas com base em raça ou gênero não é apenas repugnante, mas um vício caro. Mas na prática? É difícil de dizer.

A história do beisebol oferece uma pista: depois de 1947, as equipes da liga principal foram autorizadas a contratar jogadores negros. Muitos gerentes desdenharam essa ideia. Aqueles que eram mais abertos poderiam contratar bons jogadores negros de forma barata e ganhar uma vantagem na liga. Será que eles fizeram? A resposta, de acordo com um estudo de 1974: sim. . . mas com lentidão ultrajante.

O pênalti no futebol é um ótimo exemplo da simplicidade de algumas situações esportivas. A maioria dos atacantes terá um lado mais forte, mas favorecê-lo demais é se tornar previsível. O atacante pode apontar para o lado mais fraco em vez disso. Então, o atacante deve apontar para a esquerda, ou para a direita? E já que o goleiro tem que adivinhar para onde mergulhar, para onde eles devem seguir?

A situação, argumenta Palacios-Huerta, é perfeita para testar uma base da teoria dos jogos: o teorema do Minimax, provado pelo brilhante matemático John von Neumann em 1928. Depois de olhar para centenas, e depois milhares, de pênaltis, Palacios-Huerta concluiu que tanto os atacantes quanto os goleiros jogam de acordo com a estratégia teórica ideal, equilibrando perfeitamente a vantagem da imprevisibilidade e a vantagem de favorecer o lado mais forte.

09 setembro 2024

Declínio do uso de informações contábeis no crédito

Declínio do uso de informações contábeis na concessão de crédito. Eis o resumo:

Usando um conjunto de dados que abrange 3 milhões de demonstrações financeiras de mutuários comerciais, documentamos um declínio substancial, quase monotônico, no uso de demonstrações financeiras atestadas (DFA) pelos bancos em empréstimos ao longo das últimas duas décadas. Duas forças de mercado ajudam a explicar essa tendência. Primeiro, os avanços tecnológicos fornecem aos credores acesso a uma variedade crescente de fontes de informações sobre mutuários que podem substituir as DFA. Segundo, os bancos estão cada vez mais competindo com credores não bancários, que dependem menos das DFA na triagem e monitoramento. Nossos resultados ilustram como a adoção de tecnologia e as mudanças na estrutura do mercado de crédito podem tornar as DFA menos eficientes do que fontes de informação alternativas para triagem e monitoramento.

Aqui o artigo original.

Iluminação Pública e Crime: Menos Luz Pode Ser Mais Eficiente?

Um longo artigo da The Atlantic (Turn Down the Streetlights) discute se existe uma associação entre a iluminação pública e a atividade criminosa. O senso comum costuma nos dizer que, em locais onde há uma boa iluminação, o número de roubos e furtos reduz substancialmente. Assim, o estado, ou as empresas de concessão pública, deveriam instalar postes de iluminação para reduzir a atividade criminosa. Parece bastante adequado, e algumas pesquisas conduzem a esse resultado. Uma meta-análise (https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.4073/csr.2008.13) publicada em 2008 sugere que realmente existiria uma relação entre as duas variáveis. Contudo, a pesquisa indicou que não é a iluminação a responsável pelo resultado, mas o que ela representa em termos de orgulho da comunidade e controle social informal. Um projeto da cidade de Nova York instalou holofotes em 15 conjuntos habitacionais e recebeu uma avaliação adequada do NBER (https://www.nber.org/system/files/working_papers/w25798/w25798.pdf).

A questão é que existem impactos secundários causados pela iluminação, como a privação do sono e os efeitos sobre o meio ambiente. O fato de os estudos serem localizados, muitas vezes em comunidades mais pobres, também não ajuda. Existem pesquisas, em Calgary e no Reino Unido, que mostram que o efeito da iluminação pode não existir ou ser inverso ao esperado. O texto desafia a crença comum de que mais luzes nas ruas reduzem crimes, mesmo que os resultados sejam contraditórios. Talvez, nesse caso, menos iluminação possa, em alguns contextos, ser mais eficiente.

Ao ler o texto, pensei que o financiamento de um grande estudo, mesmo que experimental, poderia ser muito interessante para os cofres públicos. Através de uma ampla pesquisa, se chegarmos à conclusão de que "menos é mais", isso pode representar, no longo prazo, uma grande economia de recursos públicos.

08 setembro 2024

Sobre o mercado editorial

Veja como funciona o mercado editorial no exterior. Pesquisadores realizam seus trabalhos originais, financiados por iniciativas privadas, dinheiro público, entre outros. Após concluírem seus estudos, enviam os artigos para periódicos acadêmicos, geralmente com fins lucrativos. Esses periódicos revisam os trabalhos utilizando mão de obra gratuita, ou seja, os próprios pesquisadores. Se o artigo é aceito, os autores precisam pagar uma taxa de publicação, que é ainda maior se quiserem que o artigo fique em "acesso aberto". Posteriormente, as universidades compram esses artigos por meio de assinaturas de periódicos. É um sistema injusto, no qual as editoras científicas são as grandes beneficiadas.




Apesar das falhas, esse ciclo é difícil de ser rompido. As editoras atuam de forma rigorosa contra qualquer tentativa de burlar o sistema. Para quem deseja mais detalhes, veja a história de Aaron Swartz

Defensor da cultura livre, Swartz contrapôs-se à prática adotada pelo repositório JSTOR, de remunerar as editoras e não remunerar os autores, cobrando pelo acesso aos artigos e limitando esse acesso à comunidade acadêmica. Em 2011, foi preso pela polícia do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) sob acusações de invasão, depois de conectar seu computador à rede da universidade em um armário aberto e não sinalizado e configurá-lo para baixar sistematicamente artigos acadêmicos do repositório JSTOR, usando uma conta de usuário fornecida pelo próprio MIT para seu uso pessoal. Em seguida, promotores federais o acusaram de transmissão eletrónica para a prática de fraude, além de crime de invasão de computadores, sujeito a uma pena máxima acumulada de até 1 milhão de dólares em multas, 35 anos na prisão e confisco de bens.

Swartz rejeitou um acordo onde ele ficaria preso por seis meses em uma prisão federal. Dois dias depois da promotoria negar uma contraproposta feita por ele, foi encontrado enforcado em seu apartamento no Brooklyn, em um aparente suicídio. Após a sua morte, a promotoria federal de Boston retirou as acusações.

Uma reação ao controle das editoras surgiu com os sites de pré-impressão, onde os pesquisadores podem arquivar suas pesquisas antes de serem capturadas pelos periódicos. No entanto, as grandes editoras reagiram. A Elsevier, por exemplo, comprou a SSRN. Outro exemplo é o Sci-Hub, que disponibiliza artigos gratuitamente, ajudando cientistas a acessar textos de forma livre.
No passado, houve uma reação contra essa situação através de boicotes. A Universidade da Califórnia anunciou o corte de assinaturas da Elsevier  , seguido pelo MIT . Anos depois, ambas as instituições parecem não sentir falta do acesso a esses periódicos. Um relato recente mostra o caso do MIT. Como está a situação do MIT ?

Estão se saindo bem. Se alguém no MIT precisa de um artigo da Elsevier, geralmente pode consegui-lo pedindo diretamente ao pesquisador por e-mail, baixando de sites de pré-impressão ou até do site do próprio pesquisador. Quando isso não funciona, o empréstimo entre bibliotecas permite que outras instituições enviem os artigos em um ou dois dias. Para necessidades urgentes, a biblioteca compra o acesso a artigos individuais por meio de um serviço sob demanda.


E como isso afeta a pesquisa no Brasil? Algumas áreas acadêmicas brasileiras têm forte conexão com o exterior, o que faz com que o país pague altos valores para garantir que seus pesquisadores tenham acesso aos artigos internacionais. Embora o custo seja menor comparado a outros países, o Brasil, sendo mais pobre, continua favorecendo as grandes editoras.

Em algumas áreas, como a contabilidade, existe uma cultura de acesso aberto nos periódicos nacionais. No entanto, com a expansão da internet e a pressão por publicações, o número de periódicos aumentou excessivamente. Com o tempo, muitos passaram a atrasar suas publicações, e alguns até deixaram de operar. A Capes tem sido vista como vilã ao forçar a publicação em periódicos que seguem métricas estrangeiras. Para os periódicos locais, isso significa obter o “aval” de entidades que cobram taxas elevadas. Sem recursos, esses periódicos tendem a se concentrar em poucos títulos ou fechar. Já existem casos de periódicos comprados por entidades com fins lucrativos. Para sobreviver e serem citados, alguns exigem que os artigos sejam traduzidos para o inglês, com o custo arcado pelo pesquisador.
Além disso, a qualidade do atendimento aos autores tem piorado, e é cada vez mais comum um artigo demorar mais de um ano para obter resposta de um periódico nacional. Recentemente, tive um artigo que levou 500 dias e passou por cinco revisões antes de ser rejeitado. Esse prazo é muito longo no meio acadêmico, além de ser desrespeitoso para o pesquisador.

Diante desse cenário, publicar no exterior acaba sendo uma opção mais atraente, mesmo que custe mais de mil dólares para publicar um artigo.

Como medir o impacto líquido de um bilionário?

De um comentário sobre o livro Billionaire Nerd Savior King:

Bill Gates tem mais de 200 funcionários que gerenciam as casas de sua família, fazendas de cavalos, refeições, segurança, jatos e viagens. Outros 150 estão focados em gerenciar sua fortuna pessoal, juntamente com os ativos de sua fundação. Mas esse não é o único tipo de ajuda que ele tem à sua disposição: ao longo do livro, Das faz referência às dezenas de profissionais de relações públicas, especialistas em criação de conteúdo e consultores de estilo que trabalham em sua equipe pessoal, na fundação ou em outros lugares do reino de Gateshood – todos os quais estão no negócio de nos fazer perceber Gates e os tópicos que o cercam, da maneira que ele deseja. 


Ou seja, a reputação é um bem comprável. Se você tem um sentimento geralmente caloroso e confuso sobre Bill Gates e seu trabalho de filantropia, vale a pena examinar de onde vem esse sentimento. Foi a partir de um artigo de notícias? Um publicitário provavelmente agendou a entrevista com um jornalista amigável. Foi um post no blog que ele escreveu? Gates tem escritores e editores fantasmas à mão para polir aqueles para ele. Um vídeo do YouTube? Editado. Um podcast? Preparado com treinamento de mídia e entrevistas simuladas. Esta não é uma prática nefasta, mas é industrial. E é algo que precisamos considerar sempre que calculamos quem era Gates. Ele é um produto de mídia, afinal – não apenas uma pessoa. 

Recomendo a leitura do texto para responder a pergunta do título do post. Mas certamente a mensuração do impacto líquido será influenciada por este grande número de funcionários que Gates tem a disposição. 

05 setembro 2024

Os melhores episódios de séries

A revista Rolling Stones divulgou a relação dos melhores episódios de séries de todos os tempos. São 100 episódios, mas a presença do The Office americano (mas não o inglês) e a ausência de Narcos pode levantar suspeita da qualidade. Você pode conferir no link. Mas o episódio de melhor qualidade é ...


O poder da televisão dramática, plenamente realizado. A maior vantagem desse meio sobre o cinema é a quantidade de tempo que temos para passar com os personagens e suas histórias, episódio após episódio, ano após ano. Muitos dos episódios desta lista têm tanto impacto justamente por conhecermos tão bem os personagens e os conflitos naquele ponto. Nenhum é tão devastador, ou tão meticulosamente preparado, quanto "Ozymandias", a hora em que todas as coisas terríveis que Walter White (Bryan Cranston) fez ao longo de mais de cinco temporadas finalmente explodem em seu rosto. Tio Jack (Michael Bowen) e sua gangue de neonazistas matam Hank (Dean Norris) e roubam o dinheiro de Walt. Skyler (Anna Gunn) e Flynn (RJ Mitte) se recusam a fugir com Walt, e quando ele vê o terror nos olhos deles diante do monstro em que se tornou — vê a verdade fria e cruel da sua situação, em vez da mentira que tem contado a si mesmo sobre ter feito todas essas coisas terríveis por sua família — ele sequestra a bebê Holly e foge. Até mesmo uma trama há muito adormecida — Jesse (Aaron Paul) descobriria que Walt foi responsável pela morte de Jane, e se sim, como reagiria? — tem um desfecho incrível quando Walt casualmente conta a Jesse sobre isso, apenas para torcer ainda mais a faca antes de deixar seu ex-parceiro para ser morto (ou assim ele pensa) pelos capangas de Jack. "Ozymandias" (escrito por Moira Walley-Beckett e dirigido por Rian Johnson) lidera nossa lista não só por como constrói em cima do que veio antes, mas por ser uma hora de narrativa perfeita por si só, repleta de momentos inesquecíveis: Hank dizendo a Walt que Jack decidiu matá-lo 10 minutos atrás; as calças perdidas de Walt do episódio piloto reaparecendo no momento mais baixo de seu dono; uma Skyler desesperada gritando na rua após Walt roubar sua filha; e tantos outros. O melhor de todos os tempos. —A.S.

As maiores empresas do mundo por empregados (e do Brasil também)

As maiores empresas do mundo por empregados:


1. Walmart - 2.100 mil

2. Amazon - 1.525

3. Foxconn (Taiwan) - 826,6

4. Accenture - 750

5. Volkswagem - 656,1

6. Tata Consultancy Services - 601,5

7. DHL Group (Deutsche Post) - 594,9

8. BYD - 570,1

9. Compass Group (Reino Unido) - 550

10. Jingdong Mall (China) - 517,1

E agora a relação do Brasil:

62. JBS - 270 mil

265. BRF - 100 mil

327. Banco do Brasil - 86 mil

355. Assai - 80 mil

392. Banco Bradesco - 74,2

408. Multiplan - 70,4

444. Hapvida - 66

513. Raia Drogasil - 57,3

531. Santander - 55,2

563. Simpar - 51 mil

(Bem interessante a presença de algumas empresas na lista acima)

As maiores empresas do mundo em Receita (e do Brasil também)

As maiores empresas do mundo em volume de receita:


1. Walmart - 657,33 bilhões

2. Amazon - 604,33

3. Saudi Aramco - 495,35

4. Sinopec (China) - 473,53

5. PetroChina - 430,65

6. Berkshire Hathaway - 402,87

7. Apple - 385,60

8. UnitedHealth - 381,25

9. CVS Health (EUA) - 363,24

10.  Volkswagen - 350,67

E as brasileiras são:

18. JBS - 281,46

122. Petrobras - 78,37

260. Vale - 42,05

375. Itau Unibanco - 30,42

386. Banco do Brasil - 29,78

464. Ultrapar Participações - 25,17

538. Atacadão - 22,0

597. Banco Bradesco - 19,77

746. Ambev - 15,77

850. Braskem - 13,73

As maiores empresas do mundo em lucro (e do Brasil também)

A relação das maiores empresas do mundo em termos de lucro é a seguinte:


1. Saudi Aramco - 228,37 bilhões de dólares

2. Apple - 121,62 bilhões

3. Microsoft - 107,78

4. Alphabet (Google) - 101,82 

5. Berkshire Hathaway - 88,9 

6. JP Morgan Chase - 68,78

7. Meta - 60,64

8. ICBC (China) - 58,25

9. Amazon - 56,85

10. China Construction Bank - 53,91

Isto totaliza um lucro somado de 947 bilhões de dólares.Eis a relação das empresas brasileiras:

48. Petrobras - 19,22

93. Vale - 12,74

124. Banco do Brasil - 9,93

146. Itau Unibanco - 8,78

469. Ambev - 3,28

502. BTG Pactual - 3,12

509. Itausa - 3,09

513. Banco Santander Brasil - 3,05

662. Nu Holdings - 2,27

721. Rede D'Or São Luiz - 2,06

As maiores empresas do mundo em valor de mercado (e as dez maiores do Brasil)

 

A imagem mostra a relação das dez maiores empresas por valor de mercado. As cinco primeiras são da área de tecnologia e dos Estados Unidos. Somam 18 trilhões de dólares de valor de mercado. A primeira empresa da América do Sul é a Mercado Libre, com 102 bilhões de valor de mercado. A empresa argentina está na posição 156. A Petrobras está logo abaixo, com valor de mercado de 93 bilhões de dólares, na posição 181. A seguir, na ordem, temos:

276. Nu Holdings - 68 bilhões

307. Itau Unibanco - 61 bilhões

426. Vale - 45,87

484. WEG - 40,64

546. Ambev - 36,96

652. BTG Pactual - 30,38

663. Banco do Brasil - 29,91

693. Banco Bradesco - 28,68

908. Banco Santander Brasil - 21,18

A soma das empresas brasileiras corresponde a 455 bilhões de dólares de valor de mercado. Um pouco acima da Mastercard (valor de mercado de 441 bilhões e 19a. posição). Nas dez maiores, seis são do setor financeiro. Isto não deveria ser normal.

04 setembro 2024

Evolução histórica do PIB Brasileiro

 

Os dados são do Maddison Project (via OurWorldData) e mostra na linha verde a evolução do PIB per capita dos Estados Unidos, desde 1650. De vermelho escuro, o mesmo PIB per capita, para o Brasil, a partir de 1808. Neste ano, o índice era de US$867, a preços de 2011, para o Brasil, versus 2.545 para os Estados Unidos. Ou seja, três vezes. Mas durante o século XIX, enquanto o valor cresceu substancialmente nos Estados Unidos, ficamos praticamente estagnados. Em 1900, o PIB per capita era de 8.038 versus 874, mais de nove vezes. É a confirmação das críticas ao império brasileiro e sua economia, feita por Caldeira em História da Riqueza no Brasil. Sendo mais claro, o reinado foi um atraso para nosso país. 

Em 2022, o PIB per capita dos Estados Unidos era de 58.487, o nosso 14.640. Voltamos a quatro vezes a relação - poderia ser melhor se não fosse a grande crise econômica de 2014-16. Mas estamos abaixo da média mundial (16.677). 


A Crise Invisível: A Escassez de Contadores e os Desafios para o Futuro da Profissão

Provavelmente, o leitor já ouviu alguém dizer que a palavra "crise" não combina com o trabalho do contador. Ou seja, trata-se de uma profissão que, supostamente, está imune aos altos e baixos do mercado. No passado, este blog fazia um acompanhamento mensal do mercado de trabalho no Brasil e mostrava que, sim, existia crise de emprego na contabilidade. (Deixamos de fazer esse acompanhamento tanto pelo extenso trabalho que demandava quanto pela dificuldade de acesso a uma base de dados segmentada).

Parece que essa realidade também se aplica aos Estados Unidos. Na maior economia do mundo, a crise chegou à profissão contábil, mas não por razões como a substituição do trabalho pela Inteligência Artificial ou algo semelhante. Segundo um relatório da Business Insider (via aqui), há uma escassez de contadores. No período de 2021-22, o número de estudantes graduados foi de 47.067, uma redução de 8% em relação ao período anterior. O problema é que esse foi o sexto ano consecutivo de queda. No caso do mestrado, o número caiu para 18.238, também uma redução. (Veja gráfico)

Mas o diploma não é suficiente. É necessário passar por quatro exames profissionais (CPA), cada um com quatro horas de duração, dentro de um prazo de 18 meses, além de trabalhar por um ano com um CPA licenciado, antes de poder atuar no mercado de trabalho. A queda no número de novos profissionais é agravada pelo envelhecimento da força de trabalho: estima-se que 75% dos empregados na área atingiram a idade de aposentadoria em 2020.

Para tentar amenizar o problema, há uma proposta de reduzir a quantidade de educação necessária para se tornar um CPA e expandir os programas de mestrado. O grande desafio é que a remuneração média dos contadores, de 80 mil dólares, está abaixo da de profissionais equivalentes na área financeira.


A crise na profissão contábil parece ser então decorrente da queda no número de novos profissionais e do desafio de atrair jovens talentos para uma carreira que exige altos níveis de qualificação, mas oferece remunerações inferiores a outras áreas financeiras.

Dieselgate e a fraude ambiental da Volkswagen vai a julgamento

Está começando, com quase dez anos de atraso, um dos maiores julgamentos relacionados a fraudes ambientais. O ex-executivo da Volkswagen, Martin Winterkorn (foto), está sendo acusado no escândalo conhecido como dieselgate. A Volkswagen, uma das maiores fabricantes de automóveis do mundo, precisava cumprir os padrões ambientais para seus carros a diesel. Para isso, a empresa recorreu a uma solução mais simples, porém desonesta: instalou um software nos veículos que manipulava os testes de emissões. Esse software desligava o sistema de controle de emissões enquanto o carro estava em movimento e o reativava durante os testes. Quando ativo, o sistema atendia aos requisitos legais, mas, desligado, permitia que o carro emitisse até 40 vezes mais óxido de nitrogênio do que o permitido. Com essa estratégia, a Volkswagen conseguiu a aprovação de seus carros pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).

Ao todo, 11 milhões de veículos no mundo todo, fabricados entre 2009 e 2015, foram equipados com esse software. As suspeitas começaram em 2013, quando uma equipe da Universidade da Virgínia Ocidental realizou testes em condições reais de condução e descobriu que dois modelos da Volkswagen emitiam níveis de óxido de nitrogênio muito acima dos limites legais. Com base nesses resultados, a EPA anunciou em 2015 que a Volkswagen estava violando a lei. O anúncio derrubou as ações da empresa (gráfico), levou vários países a iniciarem investigações e forçou a renúncia de executivos, incluindo o CEO Martin Winterkorn, que agora está sendo julgado. Um ano depois, a Volkswagen começou a firmar acordos legais, admitindo que a direção da empresa havia solicitado o desenvolvimento do software e tentado encobrir o caso.

Além disso, o escândalo revelou que o problema de emissões também afetava carros de outras marcas. Estima-se que pelo menos 30 pessoas da administração da Volkswagen soubessem da fraude por anos, apesar de a empresa ter negado inicialmente em 2015.

Os veículos modernos possuem sensores e componentes eletrônicos que conseguem detectar o início de um teste de emissões em laboratório, e alguns sistemas de controle de poluição podem funcionar apenas durante esses testes.

O julgamento de Martin Winterkorn, agora com 77 anos, pode resultar em uma pena de até 10 anos de prisão por fraude, manipulação do mercado e perjúrio. Curiosamente, ele agora nega as acusações. Até o momento, o escândalo já custou à Volkswagen mais de 38 bilhões de dólares em multas e compensações.


Há um verbete na Wikipedia que detalha o escândalo em termos técnicos. Clique aqui. A notícia do julgamento é da newsletter 1440.

02 setembro 2024

Contabilidade não é mais legal

O texto é de Matt Levine, para Bloomberg: 

Bem, eu acho que contabilidade é legal. A contabilidade, assim como o direito tributário ou o grego antigo, possui uma constelação de características agradáveis:

1. É um corpo de conhecimento detalhado e esotérico, então, se você tem uma mente voltada para detalhes e que gosta de curiosidades, pode apreciá-la, e se você se tornar bom nisso, as pessoas ficarão impressionadas com todas as coisas aleatórias que você conhece.

2. Mas não é aleatório. Apesar das complexidades, é um corpo de conhecimento fundamentalmente baseado em princípios: as regras se encaixam de uma maneira em grande parte sensata para alcançar alguns objetivos centrais. Na contabilidade, os objetivos básicos incluem apresentar de forma precisa e útil a posição financeira de uma empresa, refletir com precisão as mudanças nessa posição, etc.
 

3. É um corpo de conhecimento social: as regras contábeis são feitas por comitês com base em experiências humanas; elas não são fatos dados do mundo natural. Compreender as pessoas ajuda a entender a contabilidade, e vice-versa.

4. Se você entender profundamente os princípios e estudar todas as complexidades, pode encontrar pequenas falhas, pequenos lugares onde as regras reais podem ser usadas para realizar coisas que parecem contradizer os princípios fundamentais. No direito tributário, as falhas tendem a ter a forma de "fazer a renda desaparecer." Na contabilidade, as falhas tendem a ter a forma de "fazer a renda aparecer do nada." Encontrar essas falhas é um esforço intelectual satisfatório e uma maneira de demonstrar a si mesmo que você realmente dominou tanto os princípios quanto os detalhes.

5. Além disso, se você for bom em encontrar essas falhas, pode transformá-las em muito dinheiro. (Isso não funciona com o grego antigo.)

Isso parece atraente para você? Provavelmente a maioria de vocês está dizendo "o quê, não," e uma minoria considerável está pensando "sim, isso parece legal, é basicamente o que eu faço no meu trabalho como [estruturador de derivativos][investidor em crédito em dificuldades][engenheiro de software][fundador de fintech][fraudador financeiro], embora eu provavelmente ganhe mais do que os contadores," e alguns de vocês estão pensando "sou contador e isso não soa muito como o meu trabalho diário," e então um de vocês vai me enviar um e-mail dizendo "sou contador em um escritório nacional da Big Four e obrigado por apreciar minha arte."

Mas muitos jovens de 18 anos vão começar a faculdade em breve, e todos eles acham que contabilidade é chata, então há uma grande escassez de contadores.

Tradução e imagem: GPT

27 agosto 2024

Brian May, ciência e os direitos dos animais

Quem conhece um pouco de música provavelmente já deve ter escutado uma música da banda de rock Queen. A figura de Freddie Mercury é o centro das atenções, mas o guitarrista Brian May – aquele cabeludo da fotografia abaixo – merece nossa consideração. Além de músico, May é cientista. Originalmente astrofísico, com especialização em imagens de corpos distantes, ele já trabalhou com a NASA. Começou seu doutorado em 1974, mas abandonou para seguir carreira musical. Mais adiante, concluiu o curso em 2007.

Nos últimos anos, May tem se concentrado em uma disputa científica interessante, fora da astrofísica ou da música. O foco é a origem da tuberculose bovina. Há uma crença de que a doença pode ter sua origem no texugo europeu. Se isso for verdade, a eliminação do texugo pode reduzir o problema. Desde 2013, estima-se que cerca de 230 mil texugos foram abatidos. Uma alternativa seria a vacinação, mas ainda existem licenças para o abate dos animais.

May se dedica há uma década em pesquisas para tentar entender o assunto e confirmar que o texugo não tem culpa no problema.

Entrevista:

Qual foi a influência da sua formação científica sobre o seu trabalho com os animais? Você acha que isso lhe deu mais confiança?

Com certeza. O método científico é algo precioso, e você aprende – da maneira mais difícil – se estiver fazendo um doutorado. Tudo se resume a fazer as perguntas certas, manter a mente aberta e resistir à terrível inclinação que os cientistas têm, porque são seres humanos, de encontrar o que esperam encontrar. Todos nós fomos ensinados que os texugos são responsáveis pela disseminação do patógeno, então procuramos esse padrão. E, infelizmente, acho que é por isso que o mito se perpetuou.

Você estava convencido desde o início de que os texugos não estavam causando a propagação da tuberculose em bovinos?

Sempre fui desconfiado, mas não tinha nada que justificasse minha posição. Mas eu sentia que, mesmo que fossem responsáveis, não era culpa deles. Lembro-me de estar em uma reunião da Sociedade Zoológica há cerca de 13 anos, onde tive a audácia de me levantar e dizer: "Ninguém acha que isso é moralmente errado?" E me senti como uma criança, porque todo mundo olhou para mim com tanto desprezo. Percebi que a única maneira de progredir era parar de gritar, começar a ouvir e me aprofundar na ciência. Ao longo do caminho, acho que fizemos avanços que eu nem sonhava em alcançar.

Você passou os últimos 12 anos como parte de uma equipe de pesquisa na fazenda Gatcombe, em Devon, perto da costa sul da Inglaterra, estudando a transmissão da tuberculose. O que você descobriu?

Desenvolvemos uma visão sobre como o Mycobacterium responsável pela TB é transmitido de um animal para outro. A tuberculose tem sido classicamente conhecida como uma doença respiratória, mas nossa descoberta é que uma vaca não contrai a tuberculose respirando algo, mas sim ingerindo o patógeno presente nas fezes de uma vaca vizinha. É uma descoberta monumental, porque, uma vez que você começa a entender seu inimigo, pode começar a derrotá-lo. Agora sabemos que a doença é transmitida de vaca para vaca por falta de higiene.

Como os testes contribuem para o problema?

Também descobrimos que o teste cutâneo [sancionado pelo governo] para tuberculose tem uma precisão de apenas 50%. Isso é algo terrível de se descobrir, porque é como jogar uma moeda. Descobrimos que uma vaca passou pelo teste cutâneo 30 vezes e foi considerada saudável, mas quando foi realizada uma autópsia, estava cheia de tuberculose. Portanto, o teste cutâneo é o vilão da história, e o fato de os agricultores confiarem nesse teste incrivelmente impreciso para remover vacas de seus preciosos rebanhos e levá-las para o abate é um escândalo.

Você tem planos de publicar suas descobertas em um artigo científico?

Com certeza. Esse é definitivamente um dos nossos próximos passos. É um pouco frustrante que ainda não tenhamos um artigo científico publicado, mas tudo a seu tempo.

O que o deixa tão convencido de que os texugos não desempenham nenhum papel na transmissão?

Na fazenda de Robert Reid, tivemos, por algum tempo, um rebanho saudável com uma população infectada de texugos ao seu redor. E durante todo esse período, quase 10 anos, nunca houve uma única infecção nas vacas que pastavam nos campos, perto de onde os texugos viviam. Todas as infecções ocorreram nos galpões.

Há também um agricultor em Tiverton que construiu uma cerca incrível de oito quilômetros de comprimento em torno de seu rebanho de carne para manter a vida selvagem fora. Eventualmente, ele perdeu metade do seu rebanho. Como isso aconteceu? É altamente provável que um novo touro – considerado saudável pelo teste cutâneo – tenha sido o responsável pela destruição desse rebanho. É provável que esse padrão tenha sido visto em muitos outros lugares também. Eu gostaria que os agricultores vissem o documentário e pensassem: "OK, talvez estejamos prontos para uma mudança." Precisamos mudar muitos métodos na pecuária para resolver esse problema.

No filme, você diz que falar contra o abate de texugos se tornou tão importante para você quanto sua música. Onde a astrofísica se encaixa nisso?

Ela está lá em cima. Eu ainda faço astrofísica. Tenho o privilégio de fazer parte de algumas equipes de exploração na NASA, na Agência Espacial Europeia e na Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial. Eu me divirto muito fazendo isso. O que eu contribuo é a estereoscopia, e tem sido muito divertido, porque ela oferece insights muito humanos sobre a exploração desses lugares maravilhosos que estão sendo visitados.

O que o caso da tuberculose bovina nos ensina sobre ciência e formulação de políticas?

Tudo o que gostaria de dizer é que me preocupa que o processo de revisão por pares possa conter falhas. Se as pessoas que fazem a revisão são do mesmo grupo, você não examinará o material de maneira suficientemente rigorosa.


24 agosto 2024

As grandes empresas de auditoria

 A listagem das maiores empresas de auditoria dos Estados Unidos é a expressão do comportamento mundial. As Big Four predominam sendo que a receita da primeira, a Deloitte, é 19 vezes a receita da décima da lista, a Baker Tilly. E responde por 78% da receita somada das vinte maiores empresas.



23 agosto 2024

IA pode produzir uma pesquisa em contabilidade?

Eis o resumo:

Objetivo – Este estudo tem como objetivo verificar se artigos de pesquisa em contabilidade podem ser potencialmente gerados por inteligência artificial. Se a inteligência artificial puder produzir trabalhos de qualidade, a integridade da pesquisa acadêmica poderá ser comprometida.

Design/metodologia/abordagem – O ChatGPT foi utilizado para criar um artigo sobre uma meta-análise da relação entre relatórios de sustentabilidade e relevância do valor. Após a geração do artigo, as referências tiveram que ser adicionadas manualmente com base nas citações criadas pelo ChatGPT. O artigo foi então apresentado como estava para revisão.

Resultados – O ChatGPT conseguiu criar um artigo de pesquisa de qualidade relativamente boa, que recebeu duas revisões importantes de especialistas independentes nas áreas de contabilidade e finanças. Embora haja incerteza quanto à adequação de todas as referências e os resultados não possam ser confirmados, existe o risco de que um revisor considere o artigo publicável, pois os revisores não são obrigados a verificar as referências e a precisão dos resultados se métodos adequados foram usados e aparentam ser suficientes à primeira vista.

Originalidade/valor – A inteligência artificial para escrita acadêmica ainda é relativamente nova, e ainda há incerteza significativa quanto ao impacto que pode ter na pesquisa acadêmica. Isso é especialmente problemático porque as aplicações de inteligência artificial melhoram a cada segundo.


Fonte: Accounting Research Journal, Vol. 37 No. 4, 2024, pp. 365-380 . 

Imagem gerada pelo ChatGPT. Tradução do ChatGPT