09 fevereiro 2024
Capitalismo e Caridade
Scott Alexander, no astralcodexten.com, apresenta algumas reflexões interessantes sobre capitalismo e caridade. É um texto comparativo entre os dois para tentar chegar a resposta de qual é o melhor. Parece algo estranho a comparação, mas não tanto quando lemos o texto. Vou tentar resumir os argumentos dele a seguir.
Inicialmente parece inegável que os países que ficaram ricos, assim o fizeram a partir do capitalismo. Isto inclui, por exemplo, os Estados Unidos, a Alemanha e, mais recentemente, a Coreia e Japão. Aqueles que tentaram outro caminho aparentemente fracassaram, como é o caso notório da extinta União Soviética. Se existem pessoas boas no mundo e estas querem ajudar os outros, talvez seja interessante deixar de lado a caridade, pura e simples, e passar a “doar para o capitalismo”.
Algumas opções que podem incluir a doação para capitalismo: gastar o dinheiro com algo desejável e com empresas eficientes ou doe para instituições que busquem promover o capitalismo de alguma forma.
A partir desta ideia, Alexander comparar gastar dinheiro com Instacart – uma espécie de Uber de compras, versus uma instituição de caridade que promove água potável para população carente. Esta instituição de caridade é uma escolha do GiveWell, o que significa, em outras palavras, que é algo sério. Se você tivesse um milhão para gastar para fazer o bem, qual seria a melhor opção? O senso comum escolheria a entidade do terceiro setor. Mas Alexander mostra que “doar” para o capitalismo pode criar empregos, promove uma empresa que tem uma continuidade clara, há efeitos de segunda ordem (o salário do empregado da Instacart gera outros benefícios indiretos), há um retorno do investimento, entre outros aspectos.
Portanto, diante dessas considerações, a abordagem proposta por Scott Alexander nos leva a repensar a tradicional dicotomia entre caridade e capitalismo. A sugestão de investir no capitalismo como uma forma de impacto social, ao criar empregos, gerar benefícios indiretos e promover a continuidade de empresas eficientes, oferece uma perspectiva intrigante.
Entretanto, a carência de entidades do terceiro setor que promovam o capitalismo de maneira séria apresenta um desafio significativo. Nesse contexto, surge a indagação sobre a possibilidade de entidades como o sistema CFC desempenharem esse papel crucial. Seria o momento de repensar o papel das organizações não governamentais e filantrópicas, buscando formas inovadoras de promover sua contribuição para a vida das pessoas.
Evidenciação contábil na literatura
The mapping of the academic production network is important for representing scientific activity in an area of knowledge. The objective of this study was to map the scientific collaboration networks regarding accounting disclosure and the underlying theories. The bibliometric method of exploratory nature was used with the use of the network analysis techniques of authorship in documents extracted from Elsevier's Scopus base in the period from 1968 to 2019. The sample was composed of 486 documents, the analysis being aided by the Vosviewer software. The results indicate that the groups with the most significant links in the authorship networks were represented by the authors Qingliang Tang (Western Sydney University), Lúcia Lima Rodrigues (University of Minho) and Dennis M. Patten (Illinois State University) besides their respective co-authors. The most widely endorsed theories were: the Legitimacy Theory, the Institutional Theory, the Agency Theory and the Stakeholders Theory. In the analysis of the proximity between fields of investigation, three clusters were identified, one relating to corporate governance and social responsibility, another linked to the disclosure of carbon and climate change, and a third that constituted a discussion link between mandatory and voluntary disclosure. The evidence points to the existence of international research groups with a certain cohesion of relations between countries and researchers in the global north. The implications of the results point to the need to strengthen the ties of researchers and institutions inside and outside the country in this field of investigation, especially when considering the country as strategic in relation to the challenges of the climate and environmental crisis.
Fonte: aqui. Trabalho da Luciana Sardeiro e Bilhim. O levantamento é muito abrangente e deveria servir de base para qualquer discussão sobre o assunto a partir de agora. Veja que as conclusões foge do tradicional Verecchia.
08 fevereiro 2024
Nudge e Gerenciamento de resultado
Eis o resumo:
Esta pesquisa teve por objetivo verificar os efeitos da utilização dos nudges na redução do gerenciamento de resultados. O estudo se classificou como um experimento do tipo entre sujeitos (between-subject). A amostra foi composta por 40 contadores. Para a análise e interpretação dos dados, utilizou-se de estatísticas descritivas, análise de variância, modelo de equações estruturais e testes de médias. Os resultados evidenciaram três achados principais, demonstrando suporte para as hipóteses desenvolvidas. Primeiro, o nível de gerenciamento de resultados dos profissionais contábeis é menor na presença do que na ausência de nudges; segundo, o nível de gerenciamento de resultados dos profissionais contábeis é menor na presença do que na ausência de nudge injuntivo emitido pelo líder; e terceiro, que não existe diferença no nível de gerenciamento de resultados dos profissionais contábeis quando o nudge descritivo é emitido pelo líder, em comparação à ausência de nudge.
Pesquisa de C. S. Moreira; R. G. de Sousa; O. S. Martins; A. B. de Aguiar / Rev. Cont. Org. (2023), v. 17: e214068. Instigante, principalmente que o uso do nudge tem sido criticado por ser uma ferramenta de manipulação. E gerenciamento de resultado vai na mesma linha.
Coisas interessantes que aprendi em 2023
Ao final de cada ano há uma mania de listas: os melhores filmes, os melhores livros e assim por diante. Uma das listas favoritas é “Coisas Interessantes que aprendi no ano”. Originalmente por Tom Whitwell, que lista 52 coisas. Jason Kottke também faz sua lista. Para 2023 e usando as duas listas, selecionei o seguinte algumas preciosidades. O link para fonte você poderá encontrar no original:
- O Departamento de Defesa dos Estados Unidos tem receita de 100 milhões de dólares com máquinas de caça-níqueis usadas por soldados nas bases
- Nos dias atuais, uma de cada cinco pessoas possui uma deficiência e 100% das pessoas terão alguma forma de deficiência durante a vida
- Alguns policiais mexicanos corruptos estão usando maquinhas de cartão para coletar os subornos no trânsito
- Originalmente a bebida champanhe era adoçada em graus diferentes, conforme o gosto local. Os russos tinham uma adição de 300 gramas de açúcar e o britânicos 50. Um dia, em 1842, Perrier-Jouet resolveu lançar o champanhe sem açúcar. Inicialmente foi um fracasso e deram um nome de Brut. Mas o lançamento deu certo.
- 75% dos assassinatos na cidade de Chicago começam com discussões que foram longe demais.
- Uma geladeira média dos Estados Unidos usa de 3 a 5 vezes a eletricidades que uma pessoa na Nigéria consome
- A Escócia recuperou sua cobertura florestal que tinha há mil anos. E está ocorrendo com a Inglaterra, que atualmente possui um nível de 1350.
- O pão ciabatta foi inventado em 1982
- O metrô da cidade de São Francisco é operado pelos moderno disquetes de 5 ¼
- A montanha de Gangkhar Puensum (foto) possui 7.570 metros de altura e nunca foi escalada. A principal razão é que o montanhismo é proibido no Butão, onde a montanha está localizada.
- Os furacões não atravessam a linha do Equador.
- Os juízes de futebol da Premier League não podem apitar os jogos dos seus times favoritos ou de rivais próximos. Se a regra for adotada no Brasil, para alguns times será necessário trazer árbitros do exterior
- A palavra computador no difícil idoma islandês tem o significado poético de “profetisa de números”
- Ernest Hemingway usou somente 59 pontos de exclamação na sua obra. Lembrei que sabia de alguém na literatura brasileira e o Gemini (ex-Bard) afirmou que Clarice Lispector não gostava da pontuação excessiva, incluindo o ponto de exclamação. Segundo o Gemini, em uma carta a seu amigo Paulo Rónai, Lispector escreveu: "Eu não gosto de ponto de exclamação. Acho que ele é um sinal de fraqueza. Se a frase não é forte o suficiente por si mesma, então não vale a pena exclamá-la."
- Quase 75% dos filmes da idade de ouro do cinema mudo, entre 1912 e 1929, se perderam
Aceitável ou não no Zoom
Com a pandemia, nos acostumamos com as reuniões virtuais. Passados quatro anos, já podemos falar em uma etiqueta de comportamento para esses encontros. O gráfico acima apresenta o resultado das respostas para a seguinte pergunta: "O que você pensa sobre... em uma reunião virtual de trabalho?". Foram entrevistados mil adultos dos Estados Unidos. (Alguém poderia argumentar que se trata de outra cultura, mas devemos lembrar que muitas reuniões virtuais são internacionais e há uma grande chance de prevalecer a cultura dos americanos).
Se você estiver em uma reunião, não beba uma cerveja gelada, mesmo que esteja em casa. Fumar e vaporizar também não devem fazer parte da etiqueta. E ter a TV ligada é o maior dos pecados. Olhando para a lista, devo reconhecer que às vezes cometo o pecado de comer nessas reuniões. E é o único pecado que cometo, pois não está na lista tomar o meu café.
O crime ambiental mais sem sentido do século XX
Li um grande texto sobre o crime ambiental mais sem sentido do século XX. O link para o texto está aqui e irei fazer um resumo da história. O crime era um programa ilegal de caça à baleia da União Soviética, entre 1948 e 1973, quando este ex-país comunista matou pelo menos 180.000 baleias a mais do que o relatado, principalmente baleias jubarte no Hemisfério Sul e outras espécies no Pacífico Norte.
O número acima é uma estimativa, já que os registros da época do comunismo ainda possui um certo sigilo. Mas os jornais da época noticiavam que navios pesqueiros soviéticos realmente estavam matando as baleias.
E aonde entra o fato de ser um crime sem sentido? O governo soviético estabelecia cotas de produção, o que incluía na área de pesca. A questão é que estas cotas não eram “sustentáveis”. Inicialmente, era fácil matar as baleias, já que os animais eram comuns no oceano. Além disso, existia o desejo de "alcançar" outras nações baleeiras e a falta de preocupação com as consequências a longo prazo de suas ações.
O relato do texto mostra que a matança adquire um tom trágico ainda maior quando se sabe que os soviéticos não usavam os produtos derivados da baleia e que muitos animais eram mortos e deixados no próprio oceano. Ou seja, matava por matar.
A caça ilegal teve um impacto devastador nas populações de baleias, com algumas espécies como a baleia franca do Pacífico Norte provavelmente à beira da extinção. O programa ilegal de caça à baleia terminou na década de 1970 devido a uma combinação de fatores, incluindo o esgotamento dos estoques de baleias e a pressão internacional. Neste sentido, o programa ilegal de caça à baleia da União Soviética foi um crime ambiental significativo que teve um impacto importante nas populações de baleias.
07 fevereiro 2024
Vida difícil das Big Four na Austrália
O resultado líquido? Os gastos do governo federal com as quatro grandes empresas de consultoria, juntamente com a Accenture e a Scyne (o antigo braço de consultoria do setor público da PwC), caíram mais de US$ 240 milhões entre julho e o final de dezembro - o nível mais baixo em 10 anos.
Não ajudando as empresas está o fato de que a demanda do setor privado também diminuiu durante 2023, à medida que as empresas reduziram os gastos com consultores externos. O impacto combinado levou todas as empresas a reduzirem o número de funcionários no ano passado (e, mais discretamente, os parceiros também). (Da newsletter do AFR)
A descoberta do escândalo em que a PwC ajudava o governo na legislação tributária e usava a informação para conquistar/manter seus clientes, informando-os sobre os novos procedimentos, parece que prejudicou a todos.
Promessas das empresas sobre o clima estão
Quando a preocupação ambiental ganhou destaque nas empresas, muitas anunciaram que estavam agindo de maneira ambientalmente responsável. Isso incluiu promessas climáticas. No entanto, com o tempo, essas empresas estão sendo cobradas e algumas estão percebendo que não conseguem cumprir suas promessas.
Essa situação pode ser problemática, pois promessas feitas anteriormente podem ter sido enganosas para investidores e para a sociedade em geral. Existem vários exemplos disso. Em 2022, a gigante dos seguros AIG declarou que não faria mais seguros para projetos de combustíveis fósseis, uma atitude elogiável para alguns investidores e setores da sociedade. No entanto, a empresa está envolvida em projetos de extração de petróleo no Canadá e de gás na Austrália. A Amazon também fez promessas sobre emissões até 2030, mas recentemente alterou suas metas, alegando que o novo objetivo é mais ambicioso, embora o prazo agora seja 2040.
Empresas que têm grande parte dos lucros provenientes da exploração de petróleo tiveram resultados expressivos nos últimos anos. Isso levou empresas como Shell, BP e Chevron a recuarem em suas metas. No Brasil, a Petrobrás, cujo lucro está ligado ao petróleo, está se distanciando de questões ambientais devido à exploração de novas reservas no norte do país.
Uma reportagem do Washington Post (de Evan Halper, traduzido pelo Estadão) revelou que apenas cerca de 4% das empresas que se comprometeram a zerar emissões até 2050 estão cumprindo as metas do Acordo de Paris. Isso significa que as empresas mencionadas aqui não estão sozinhas nesse cenário. Apesar de muitas empresas terem estabelecido metas voluntárias com horizontes temporais até 2030 ou 2050, poucas estão cumprindo essas promessas. A sociedade precisa cobrar responsabilidade das empresas e dos executivos que anunciaram essas metas, especialmente se essas promessas foram oficialmente divulgadas nos documentos da empresa, como suas demonstrações contábeis.
06 fevereiro 2024
O custo da implantação da IA pode ser um entrave para seu uso
Uma pesquisa do MIT encontrou que em muitos casos fazer a substituição de trabalhadores humanos por inteligência artificial pode não ser vantajoso. A pesquisa observou um conjunto de mil tarefas de em 800 ocupações e concluiu que é mais interessante manter o ser humano, em razão dos custos iniciais da inteligência artificial.
Segundo o site Futurism, que divulgou a pesquisa, o resultado parece sugerir que a substituição dos empresas será gradual. As conclusões do artigo são limitadas, já que a pesquisa trabalhou com “tarefas assistidas pela visão computacional”. Um exemplo seria o trabalhador de padaria verificando visualmente os ingredientes para garantir que eles sejam de boa qualidade. Uma câmera e um sistema treinado poderia substituir o empregado. Mas o custo de implantação de um sistema como este seria muito elevado.
Um ponto importante, considerado pelo Futurism, é que a pesquisa foi apoiada, financeiramente, pelo Watson AI Lab da IBM. Assim, poderia ter existido um interesse em minimizar os riscos da IA.
Segundo Neil Thompson, um dos autores da pesquisa, "nossos resultados revelam que esse processo (de substituição do empregado) levará anos, ou mesmo décadas, para se desenrolar e, portanto, que há tempo para que iniciativas políticas sejam implementadas".
Melhor fotografia da Nature
"Este panorama mostra a beleza da Chapada dos Veadeiros, um parque nacional brasileiro que abriga uma rica biodiversidade e paisagens de tirar o fôlego.
As flores brancas que se destacam no primeiro plano são uma espécie rara de Paepalanthus, um gênero de plantas endêmicas da região.
Elas foram iluminadas por uma lâmpada scurion para criar um contraste com o céu escuro.
Ao fundo, a Via Láctea se curva sobre as colinas, revelando as cores e as formas das estrelas e nebulosas.
Esse pano foi tirado com uma câmera especializada em astrofotografia, que permite capturar mais detalhes do universo."
Foto: Marcio Cabral. Fonte: aqui
05 fevereiro 2024
Desmistificando Previsões: Entre Especialistas, Modelos Estatísticos e a Heurística na Contabilidade Empresarial
Nós sabemos hoje que os especialistas não são tão bons em fazer previsões. Na verdade, as pesquisas estão mostrando que algumas pessoas não especialistas são capazes de fazer previsões melhor do que os especialistas. Mas imagine que você esteja analisando uma demonstração contábil de uma empresa e exista uma linha explicando uma previsão feita na contabilidade.
Abrindo um parêntese aqui, há diversas situações onde isso pode ocorrer. Vou listar quatro casos: a vida útil futura de um ativo, o percentual de clientes que não irá pagar suas contas, a chance de sucesso ou insucesso nos processos judiciais e a projeção do fluxo de caixa futuro usada para calcular o valor em uso.
Suponha agora que você leia que a empresa utilizou, na sua previsão, a opinião de um especialista da área. Você já sabe que ter a opinião deste especialista não significa uma verdade absoluta, pois a ciência já mostrou que seu nível de erro é elevado. Imagine agora outro caso onde a empresa informa que fez sua previsão usando não especialistas. Com qual informação você, usuário da informação, ficaria mais tranquilo? Provavelmente com a do especialista, apesar das pesquisas indicarem o contrário.
Conforme a ciência tem mostrado, as melhores pessoas em fazer previsões são aquelas hábeis em fazer previsões em outras áreas, mesmo com pouco conhecimento. Mas vamos recuar um pouco. Se queremos fazer uma previsão sobre o futuro, temos as seguintes possibilidades: especialistas, modelos estatísticos, uso de pessoas (especialistas ou não) que emitem sua opinião e mercados de previsão.
Em situações descritas anteriormente, os mercados de previsão talvez sejam a opção pior. Não pela qualidade do resultado ou pela ausência de defensores. Desde o livro “Sabedoria das multidões” sabemos que os mercados de previsão são alternativas adequadas. Tanto é assim que tem sido usado pelo Banco Central (Focus) ou pelo Ministério da Fazenda (previsão dos itens das contas públicas), além de ter gerado sites como Metaculus ou PredicIt. Mas para que o instrumento funcione, é necessário que o mercado seja grande, líquido e acessível para as pessoas apostarem, o que fatalmente não seria o caso de um mercado para prever a vida útil do ativo de uma empresa, por exemplo.
Os modelos estatísticos se desenvolveram muito nos últimos anos. E isso ocorreu graças ao desenvolvimento não de técnicas tradicionais, como regressão, mas da expansão da análise bayesiana. Entretanto, talvez ainda seja um sonho falar em análise bayesiana em contabilidade, mesmo existindo já um grande volume de pesquisa na área, uma vez que não ensinamos esta ferramenta e usamos de maneira adequada na área. De qualquer forma, os modelos estatísticos podem ser uma alternativa para as previsões, uma vez que legitimam o número apresentado e aparentemente seriam mais isentos do que o uso de pessoas para emitirem opinião.
Contar com especialistas pode ter dois problemas sérios. O primeiro é o fato de ser uma opinião cara para a empresa. Imagine contratar um especialista em vida útil de um ativo para emitir sua opinião na grande quantidade de itens que compõem o patrimônio de uma empresa. O segundo problema é a qualidade do resultado, pois, conforme já foi demonstrado, o resultado geralmente é inferior às opiniões de pessoas. A grande vantagem é o fato de que um especialista dá credibilidade ao resultado. Na contabilidade, as empresas contratam empresas especializadas para dizer que suas informações estão adequadas e este profissional recebe o nome de auditor.
A opção de usar um julgamento de alguém pode ser feita e provavelmente é feita em muitos casos. Imagine que no final do exercício é necessário fazer uma estimativa do percentual de valores a receber que seria incobrável no futuro. As pessoas dentro da empresa possuem uma estimativa do valor. Talvez seja justamente este valor que irá prevalecer no final. Para o usuário da informação, isto talvez não fique claro ou fique subentendido. Caso seja necessário, pode-se usar o chavão técnico usual para dizer que o método usado foi a abordagem heurística. Por sinal, se a empresa escrevesse que usou a abordagem heurística, provavelmente a maioria das pessoas não entenderia bem o que isso significa.
Se a contabilidade depende da previsão, como tem ocorrido cada vez mais, talvez seja importante que fique bem claro qual o método iremos adotar. Mas a sinceridade de revelar que a previsão foi realizada com base na abordagem heurística seja crua demais para os leitores das demonstrações, que preferem ser enganados acreditando que modelos complexos, estatísticos ou não, foram empregados na estimativa realizada.
Acredite quem quiser.
Nota: O texto foi inspirado em um artigo publicado no IFP. Este texto é bem mais completo do que as linhas acima e possui uma grande quantidade de links interessantes.
Cursos gratuitos de capacitação profissional
O Conselho Regional de Contabilidade do Distrito Federal está ofertando capacitação profissional gratuita a partir de fevereiro de 2024.
Conforme o portal:
A gratuidade é válida para os profissionais da contabilidade que possuam registro ativo e regular em qualquer CRC do território nacional. Também serão beneficiados os estudantes de Ciências Contábeis regularmente matriculados em instituições de ensino superior de todo o Brasil. Por ano, são ofertados, em média, 40 cursos.
Os que estão disponíveis no mês de fevereiro são:
· EFD REINF
· DCTF WEB
· FECHAMENTO E CONCILIAÇÃO DE BALANÇO
· IRPF – BASE TEÓRICA DA DECLARAÇÃO
· CRUZAMENTOS DIRF X DMEB X DIMOB
Efeitos da imigração no Brasil
Eis o abstrat traduzido pelo ChatGPT:
Os efeitos da imigração são razoavelmente compreendidos em países desenvolvidos, mas são muito menos compreendidos em países em desenvolvimento, apesar da importância desses países como destinos de imigrantes. Abordamos essa lacuna ao estudar os efeitos da imigração para o Brasil durante a Era da Grande Migração em seu setor agrícola em 1920. Este contexto se beneficia do reconhecido valor da perspectiva histórica em estudos sobre os efeitos da imigração. Ao contrário de estudos que se concentram nos Estados Unidos para entender os efeitos da migração de países pobres para ricos, nosso contexto informa a experiência de países em desenvolvimento, pois o Brasil neste período era único entre os principais destinos de migrantes como um país de baixa renda com um grande setor agrícola e instituições frágeis. Usando como instrumento a participação de imigrantes em um município por meio da interação entre os fluxos agregados de imigrantes e a expansão da rede ferroviária do Brasil, descobrimos que uma maior participação de imigrantes em um município resultou em um aumento nos valores das fazendas. Mostramos que a maior parte do efeito da imigração pode ser explicada pelo cultivo mais intenso da terra, o que atribuímos ao esforço de trabalho mais intenso dos imigrantes temporários em comparação com os nativos. Por fim, concluímos que é improvável que o efeito da imigração na agricultura tenha retardado a transformação estrutural do Brasil.
Gostei muito deste gráfico:
Eis a evolução da economia no período do estudo:
Um erro com algarismo romano e sua consequência sobre o direito autoral de um filme
O caso é bem engraçado, mas que deve ter custado um bom dinheiro. Basicamente a lei de direitos autorais institui um prazo para que os donos, e seus herdeiros, possam usufruir da obra. Após um determinado prazo, instituído na lei, a obra artística torna-se domínio público. Ou seja, qualquer pessoa pode explorar a obra.
Em 1954 foi lançado o filme "A última vez que vi Paris", um filme com quase duas horas de duração, com Elizabeth Taylor no papel de Helen Ellswirth. Não é um clássico, mas é o centro do caso.
Em obra deste tipo, há um aviso de direito autoral. No caso, escreveram MCMXLIV como ano do lançamento. Se o leitor prestou a atenção, o número romano corresponde a 1944, e não 1954. Isso significa dizer que o prazo normal para os direitos autorais acabou dez anos antes. Em casos como este, o estúdio poderia alegar o erro e pedir uma prorrogação, mas não fez nada. Resultado, pela lei da época, o filme entrou em domínio público em 1972.
O filme pode ser encontrado no Youtube. O erro aparece logo no início:
04 fevereiro 2024
Países viciados na tela
26 janeiro 2024
Celular e educação
Como professor, tenho que pensar como lidar com meus alunos de usam celular em classe. Há alguns anos adotava uma atitude simples e direta de não permitir o uso do aparelho na minha aula. O aluno que usasse o celular em sala de aula seria chamado a atenção e deveria sair da sala. Nos últimos anos, confesso que fui vencido pelo cansaço. Minha atitude mudou: agora, considero que o problema é de cada um que usa o seu aparelho. No último semestre, na minha aula de graduação, era comum olhar para a turma e perceber que 80% dos alunos estavam usando seus aparelhos em sala de aula. Me considerava um grande vencedor por ter apenas 20% dos alunos aparentemente prestando atenção.
O celular tem forçado as pessoas a lerem, mesmo que sejam mensagens curtas e muitas vezes irrelevantes, e a escreverem, idem. Em Dataclisma, Rudder mostra que a geração recente não necessariamente piorou o seu desempenho em termos de escrita em comparação com o que escreve nas redes sociais. Em Hamlet, a palavra média tinha 3,99 caracteres, enquanto que em uma amostra do Twitter, a palavra média tinha 4,80 caracteres, como observa Rudder. No entanto, não devemos olhar apenas para este lado da questão, pois há um senso comum de que as pessoas estão menos atentas quando estão usando o aparelho.
Recentemente, o governo republicano da Flórida promulgou uma lei que proíbe o uso de celulares em escolas públicas. Isso significa que, durante as aulas, os alunos não podem usar os aparelhos, incluindo fones de ouvido. Em termos científicos, ainda há pouca comprovação de que o celular esteja afetando, de forma negativa, o desempenho acadêmico. Um fato é que muito difícil fazer uma associação como essa, por uma série de motivos. Um deles, é que o o efeito de qualquer política pública sobre o desempenho de um aluno vai depender uma visão de longo prazo. Além disso, há muitas variáveis que podem afetar este desempenho.
Derek Thompson, em um artigo para o The Atlantic, lembra que o bem-estar dos jovens sofreram um declínio há dez anos em muitos países, exatamente quando a rede social tornou-se uma parte essencial da nossa vida. Mas uma análise das pontuações do PISA pode ser mais convincente, segundo Thompson.
O PISA é um exame internacional que avalia o desempenho de jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências de diferentes países. É feito pela OCDE. Em 2022 a média global foi de 493, 490 e 496 pontos, na ordem. Só para fins de comparação, o desempenho do jovem brasileiro foi de 407, 377 e 403, abaixo portanto da média global.
A questão é que entre 2018 e 2022 o desempenho mundial caiu. Como esta redução aconteceu antes da pandemia, não é possível culpar o problema de saúde ao desempenho escolar. Em termos mundiais, o melhor desempenho ocorreu antes do advento das mídias sociais, mais especificamente entre 2009 e 2012. E esse fracasso ocorreu tanto em países com elevado nível de educação, como Finlândia ou Coréia, como em outros países.
O relatório do PISA aponta as possíveis causas para o desempenho ruim a partir de 2012 e parece que os alunos que ficam mais tempo olhando os celulares possuem menor desempenho. Talvez a proibição na escola do uso do celular, como está sendo testado na Flórida, não seja suficiente para melhorar o desempenho do aluno. Afinal uma pessoa tem seu aparelho ao lado muito mais tempo do que o período em sala de aula. Mas talvez seja melhor o que está sendo testado nos lugares que está proibindo os celulares do que não fazer nada.
Em termos pessoais, eu devo voltar ao período que proibia meus alunos de usarem os celulares em sala de aula?