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01 novembro 2023

Um cartoon que vale 175 mil dólares

5 de julho de 1993 foi um período mais simples, uma década antes do Facebook e 17 anos antes do Instagram. A maioria dos computadores ainda acessava a Internet via dial-up, e a forma mais rápida de comunicação para a maioria das pessoas era o fax. O iPhone nem sequer brilhava nos olhos de Steve Jobs.

E, no entanto, o cartunista Peter Steiner, na edição da semana New Yorker, de alguma forma foi capaz de destilar uma verdade essencial da Internet então protegida em uma história em quadrinhos agora amada. Nele, um cachorro senta-se em uma mesa com um computador, olhando alegremente para outro canino, dizendo: "Na internet, ninguém sabe que você é um cachorro."


Essa história em quadrinhos, que passou a ser a mais reimpressa da história da revista, se mostra tão duradouramente popular que recentemente vendido em leilão por US $ 175.000, o preço mais alto de um único cartoon já registrado.

E enquanto o New York Times disse que a imagem “capturava o espírito da internet” e Bill Gates pagou US $ 200 para reimprimi-la em seu livro de 1995 A estrada à frente, sobre a revolução provocada por computadores pessoais, Steiner revelado aos Leilões do Patrimônio de Dallas, que lidaram com a venda, que sua intenção "não era sobre a internet. Era sobre o meu senso que estou me safando de algo.

"Percebi que o desenho animado é autobiográfico e que se trata de ser um impostor ou de um impostor", acrescentou Steiner. "Eu tive várias carreiras quadriculadas e, em todas, me senti um pouco fraudulenta. Quero dizer, acho que muitas pessoas têm essa síndrome, a sensação de que sim, todo mundo foi enganado: 'Eles acham que eu sei o que estou fazendo e acham que sou bom nisso. Então, para mim, nesta manhã, essa foi uma espécie de revelação interessante no final do jogo."

Como é o caminho, o desenho animado quase não deu um pontinho com sua publicação original. Mas causou uma impressão duradoura o suficiente de que, ao longo dos anos, sua popularidade cresceu. Foi impresso em canecas e camisetas e até inspirou uma peça de 1995.

Steiner já contribuiu com mais de 400 desenhos para a revista, além de outras publicações como Saturday Review e Lampoon Nacional. Ele passou a ter uma carreira de sucesso como pintor e autor de romances de espionagem. Mas é essa imagem que pode ser a que o define, para melhor ou para pior.

Fonte: aqui

e eu perguntaria para minha turma: cartoon pode ser um ativo? No futuro teremos memes também isso, não? 

Atualização sobre FTX


No final de 2022, a empresa de Sam Bankman-Fried (SBF), que comercializava títulos atrelados a criptomoeda, reconheceu que estava quebrada. Como o acontecido trouxe prejuízo para investidores do maior mercado de títulos do mundo, um processo foi aberto e encontra na sua fase inicial. Depoimentos estão sendo colhidos para permitir o julgamento dos executivos que comandavam a empresa. E detalhes do caso também surgem. O empresário SBF procura reverter a imagem de bandido, que comandou um grande desvio de dinheiro de investidores idiotas. 

Na sexta passada SBF, em depoimento ao juiz do caso, disse que dois meses antes da quebra já temia que sua equipe “não fosse excelente”. Ele afirmou que levou a preocupação para a CEO da empresa Alameda, a ex-namorada Caroline Ellison, que a empresa não tinha hedge para uma queda substancial no preço do bitcoin. Ellison pode ter feito um acordo com a justiça para contar o que sabe e reduzir sua pena, algo que SBF demorou entender. Muita roupa suja será divulgada 

CVM e sustentabilidade

Um texto da Capital Aberto traz considerações sobre a agenda ambiental da CVM e alguns aspectos contábeis. São advogados da empresa Vieira Rezende Advogados respondendo sobre o assunto e destaquei alguns pontos. A discussão começa com a recente Resolução 193, de outubro de 2023, sobre a adoção do International Sustainability Standards Board (ISSB). Os relatórios de sustentabilidade serão obrigatórios a partir de partir de 2027 para companhias das categorias A e B.


Ao adotarem uma linguagem comum para divulgar impactos, riscos e oportunidades relacionados ao clima, os padrões do ISSB, S1 e S2 ajudarão a melhorar a confiança nas divulgações das empresas sobre sustentabilidade.

O objetivo da Orientação [CPC 10 – Créditos de descarbonização]  é tratar dos requisitos básicos de reconhecimento, mensuração e evidenciação de créditos de descarbonização, a serem observados pelas entidades na originação [sic], negociação e aquisição para cumprimento de metas de descarbonização. Esta orientação abordará os créditos de descarbonização, incentivando investimentos em energias limpas. A relevância dessa iniciativa se dá em razão do crescente interesse dos atores privados em desenvolver projetos e soluções para desenvolvimento dos mercados voluntários de carbono.

Um grande avanço nesse tópico foi alcançado pela Resolução 175/22, como a possibilidade dos Fundos de Investimento Financeiros (FIF) investirem em créditos de descarbonização (CBIO) e créditos de carbono, observados certos limites e requisitos, como o registro em sistema de liquidação financeira de ativos autorizados pelo Banco Central ou pela CVM ou negociados em mercado administrado por entidade administradora de mercado organizado autorizada pela CVM.

As normas do ISSB foram criadas para garantir que as empresas forneçam informações relacionadas à sustentabilidade juntamente com as demonstrações financeiras – no mesmo “pacote” de relatórios, evitando que as informações relacionadas à sustentabilidade venham apartadas, completamente desconectadas das informações financeiras das empresas.

O IFRS S1 trata de uma estrutura conceitual básica dos relatórios, contemplando requisitos gerais para divulgações de informações financeiras sobre sustentabilidade e o IFRS S2 às publicações relacionadas a questões temáticas como clima, poluição, emissão de gases de efeito estufa. Um importante aspecto é que o tema deverá necessariamente envolver a alta direção da companhia, inclusive o conselho de administração, ampliando o conceito de dever fiduciário.

31 outubro 2023

Direitos humanos sendo reconhecido pela contabilidade (?)

Muhammad Azizul Islam, professor de contabilidade e sustentabilidade, destaca a exploração e práticas injustas nas cadeias de suprimentos, especialmente em Bangladesh. Sua pesquisa revelou que 90% das marcas de moda no Reino Unido, União Europeia e América do Norte estavam envolvidas em práticas prejudiciais nas fábricas de roupas em Bangladesh, afetando fornecedores e trabalhadores. Ele enfatiza a necessidade de regulamentações mais rígidas e sugere que CFOs e líderes financeiros podem promover mudanças em suas organizações. Ele propõe três ações imediatas: transparência na localização de produção, auditorias sociais independentes e revisão de contratos. Ele argumenta que as empresas devem adotar uma abordagem de melhoria contínua e destaca a classificação por organizações da sociedade civil com base em condições de trabalho e transparência. O professor Islam sublinha a capacidade dos CFOs e CEOs de tomar decisões sobre pagamentos a fornecedores, enfatizando práticas justas de compra.


Eis um trecho da reportagem que achei interessante: 

Se você não cuida da sua cadeia de suprimentos, é muito mais fácil para funcionários descontentes ou jornalistas disfarçados gravar vídeos e compartilhar nos canais de mídia social. É aqui que entra o valor de um auditor social independente.

Do ponto de vista implacável das finanças, a melhor maneira de considerar a inclusão dos direitos humanos no balanço é por meio de uma análise de custo-benefício. Há um custo associado à adoção das melhores práticas - seu fluxo de caixa será impactado negativamente, uma vez que você pagará fornecedores mais rapidamente, e o custo por unidade pode ser ligeiramente maior. No entanto, o benefício é a mitigação de riscos.

E gostei do seguinte comentário de um leitor:

Os direitos humanos são um ativo ou um passivo da empresa? Qual é o registro?

Mais um ranking: melhor lugar para fazer um curso superior

Eis o resumo:


Os estudantes na Polônia têm a melhor vantagem global devido aos preços baixos, considerável apoio do governo e boas perspectivas após a formatura.

Um diploma aumenta os ganhos dos graduados americanos mais do que em qualquer outro lugar. Em média, graduados americanos com idades entre 45 e 54 anos ganham o dobro da renda média do país.

Onze países têm as mensalidades mais baixas no estudo, porque oferecem educação superior gratuitamente, mas o Reino Unido não está entre eles. Os estudantes britânicos estão sujeitos às educações universitárias mais caras em geral, com um diploma custando em média $12,255 por ano.

A vida estudantil é mais acessível no México, onde o índice de custo de vida é apenas 25 em 100.

O governo da Noruega contribui mais para o ensino superior do que qualquer outro país, com 92,2% de seu orçamento de educação terciária financiado por fontes públicas.

O sucesso pós-graduação é maior na Lituânia, onde os estudantes universitários podem esperar boas perspectivas de carreira e salários elevados após a educação superior.

Há problemas aqui: a amostra são dos 30 países da OCDE; o uso do custo de vida como uma aproximação do custo de vida do estudante pode ser questionável; o acesso ao ensino pode ser inviável para quem deseja aproveitar o ranking, entre outros. Mas é interessante.  

Rir é o melhor remédio

 


Fonte: aqui

Novamente o escopo do auditor

Nos Estados Unidos, a supervisão do trabalho dos auditores é realizado pelo PCAOB, uma entidade criada após o escândalo da Enron. O Conselho está agora avançando para um campo polêmico de aumentar a responsabilidade dos auditores em situação que existe o não cumprimento de leis e regulamentos por parte dos seus clientes. Ou seja, mais deveres para os auditores, basicamente a capacidade de detectar atos ilegais. 

A proposta já tem a oposição das empresas de contabilidade, talvez pelo modelo não ter sido projetado para atender a proposta. E desafiam as práticas existentes de auditoria. E tornaria a defesa do profissional, em casos de processos, mais complicada. 

Aqui um texto crítico sobre o assunto. 

Empresas que mais adicionaram valor ao acionista: de 1926 até hoje

 

Uma análise feita com 28 mi empresas dos Estados Unidos, entre 1926 até hoje, o quadro acima mostra as 25 melhores ações em termos de adicionar valor aos acionistas. O retorno proporcionado ao acionista foi comparado com o título do tesouro. A descrição existente aqui não fornece muitos detalhes, mas parece ser razoável. 

Nos primeiros lugares, as empresas de tecnologia. Uma lista como essa termina por penalizar empresas mais antigas, dado a questão da sobrevivência. Empresas antigas, como a Coca Cola, merecem destaque por conseguir permanecer atrativas mesmo depois de quase um século de negociação. 


30 outubro 2023

Rir é o melhor remédio


 

Custo de auditoria ao longo do tempo

 

O gráfico acima é de uma pesquisa realizada pela Ideagen Audit Analytics, que analisou o valor cobrado pelas auditorias entre 2002 a 2022. O gráfico apresenta os valores médios. O estudo afirma que a  complexidade das auditorias levou a um aumento nas taxas de auditoria.

O relatório fornece informações detalhadas sobre a classificação das empresas de auditoria em 2022, com PwC liderando a lista, seguida por EY, Deloitte e KPMG. Os valores são para os Estados Unidos. 

Parece piada: fique longe dos médicos

Os autores nem sempre se tornam queridos para seus colegas. Em um estudo intrigante abrangendo uma década e envolvendo 200.000 pacientes, uma revelação surpreendente surgiu. Os pacientes que tiveram um ataque cardíaco durante uma semana em que cirurgiões cardíacos renomados estavam ausentes em conferências nacionais tinham maior probabilidade de sobreviver. Parece uma piada - fique longe dos hospitais porque é onde muitas pessoas morrem - mas as estatísticas são sólidas. Os cirurgiões cardíacos mais propensos a participar das reuniões nacionais tendem a ser os mais determinados, ansiosos para cortar e demonstrar sua destreza na sala de cirurgia. Quando esses cirurgiões estão ausentes, as taxas de mortalidade diminuem cerca de 12,5%, uma diminuição "semelhante em magnitude a alguns dos melhores tratamentos que temos disponíveis para ataques cardíacos" (ênfase no original). O presidente da Associação Americana do Coração rejeitou de forma descontraída as conclusões do estudo, dizendo que "não há nada neste estudo que nos leve a recomendar uma mudança na prática clínica". Tal rejeição diante de evidências significativas parece equivaler a negligência.

Agora, há um reconhecimento generalizado de que excesso de cuidados médicos pode ser desperdício, mas menos reconhecimento de que também pode ser prejudicial. Infelizmente, quase todas as partes interessadas, incluindo pacientes, médicos, empresas farmacêuticas e hospitais, têm incentivos para gastar e fazer mais. Apenas as seguradoras carregam o fardo de dizer não. Dada a inclinação inerente de nossas fontes de informação para o positivismo, é crucial permanecer vigilante quanto aos casos em que o atendimento médico ultrapassou limites razoáveis.

Via aqui

Viés da autoconveniência

O viés da auto conveniência é aquele em que atribuímos nossas falhas a fatores externos e nossos sucessos a nossas próprias qualidades e esforços admiráveis.


Assim, um tenista pode creditar internamente seu atletismo e habilidade por sua vitória, enquanto o perdedor pode culpar as decisões do árbitro, sua raquete ou a quadra. Você pode ter visto isso em esportes profissionais.

O viés da auto conveniência pode ser racional e positivo, mantendo nossa auto-estima e uma visão positiva de nós mesmos. Por outro lado, ele pode ocultar a realidade (e dar aos árbitros e árbitros um trabalho mais desgastante) ou nos fazer rejeitar feedback negativo, mas objetivo.

O viés é uma forma de viés de atribuição onde atribuímos mal comportamentos ou eventos a características, em vez de circunstâncias ou vice-versa.

Traduzido daqui. Em Português, aqui 

Autoritarismo e a crise climática

A crise climática pode aumentar os apelos por estruturas de tomada de decisão mais autoritárias, amplamente vistas como mais eficientes. Entretanto, a noção de que qualquer versão de um sistema autoritário estaria livre de "interesses especiais" e seria gerenciada por tecnocratas neutros e racionais é implausível. 

Preocupações sobre a capacidade das democracias de agir rapidamente e eficientemente não são algo novo. Um governo que permite que todos participem (em teoria, se não sempre na prática) resulta em um sistema imperfeito e lento. Participantes influentes frequentemente conseguem vetar ações apoiadas pela maioria. Por outro lado, a visão de que as massas irracionais detêm muito poder - por muito tempo expressa de maneira discreta - tornou-se totalmente aceitável na era de Donald Trump. Por exemplo, os eleitores tendem a punir os políticos por tomar medidas para prevenir catástrofes e recompensá-los por parecerem heróicos durante um desastre, embora o alívio de desastres seja muito mais caro do que a prevenção.


As democracias se baseiam em compromissos, mas muitas vezes esses acordos se revelam incoerentes, especialmente em sistemas de múltiplos partidos, nos quais muitos jogadores políticos diferentes desejam fazer valer suas vontades. 

Alguns advogam uma abordagem mais tecnocrática e citam a China como um exemplo brilhante. (A ironia de que a China é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo)

Essas propostas levantam questões óbvias que seus defensores nunca abordam completamente. Se, em nome da ação climática, o poder é concentrado nas mãos de um estado que não presta contas ao povo, o que impediria os abusos desse poder? 

(Adaptado e resumido daqui)

Crise de pareceristas em periódicos


"Em novembro de 2022, o economista da saúde Chris Sampson se viu precisando desesperadamente de um herói. Como editor associado do Frontiers in Health Services, ele tentava revisar um artigo desde abril. Ele enviou cerca de 150 convites para possíveis revisores e recebeu quatro críticas, mas apenas uma de qualidade suficiente para ser útil.

...

"A situação de Sampson é um problema enfrentado pelos editores de todo o mundo diante do crescimento descontrolado do número de periódicos e jornais. A contagem de artigos indexados pelo banco de dados de citações Web of Science triplicou de cerca de um milhão em 1990 para quase três milhões em 2016, de acordo com o site Publons.

...

"Balazs Aczel é psicólogo da Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste, que estuda os processos da ciência. Usando um conjunto de dados que abrange mais de 87.000 periódicos acadêmicos, Aczel e seus colegas estimaram que os pesquisadores globalmente, em conjunto, passaram o equivalente a mais de 15.000 anos em revisão por pares somente em 20202). E muitos cientistas estão se recusando a revisar com mais frequência.

...

"Muitos cientistas estão cada vez mais frustrados com os periódicos - a natureza entre eles - que se beneficiam do trabalho não remunerado de revisar enquanto cobram taxas altas para publicar neles ou ler seu conteúdo.

...

Do blog de Al Roth. Foto: AbsolutVision

Notícia como negócio

(...) O USA Today e The Tennessean anunciaram esta semana [setembro] que vão contratar um repórter em tempo integral para cobrir a superestrela do pop, Taylor Swift, cuja turnê está causando um impacto tão grande que pode ser literalmente observado nos dados econômicos rastreados pelo Federal Reserve. (...)


A ideia aqui não é complicada. A Gannett demitiu muitos repórteres de notícias locais. Agora, eles estão contratando um repórter de Taylor Swift. Por que eles estão fazendo isso? Bem, agora que me revelei como um vendido neoliberal, posso te dizer exatamente por quê: Provavelmente porque eles acham que estavam perdendo dinheiro com os repórteres de notícias locais e acreditam que vão ganhar dinheiro com o repórter de Taylor Swift.

(…) Qual é a marca de jornal mais bem-sucedida dos Estados Unidos no momento? É claramente o The New York Times. (...) O Times é, de longe, o maior veículo de notícias dos EUA em termos de assinantes digitais e impressos combinados. (…) E, igualmente importante para os propósitos desta conversa, o Times está tendo um desempenho razoavelmente bom em termos de lucro.

Então, vamos perguntar o seguinte: qual história - até o momento em que estou escrevendo este rascunho na quarta-feira, tarde em Nova York - está liderando a lista de mais enviados por e-mail do Times?

Certamente, alguma reportagem investigativa profunda? Alguma atualização das linhas de frente na Ucrânia?

De jeito nenhum.

A matéria principal é um tratamento agradável de um casamento de celebridade. E a maioria dos outros itens em sua lista dos 10 mais enviados por e-mail também não são notícias duras

Em vez disso, a estratégia do The New York Times é pegar um monte de assuntos excepcionalmente populares que estão longe do jornalismo de investigação - estilo, imóveis, Wordle, colunas de opinião e matérias de estilo de vida que agradam os leitores - e agrupá-los com matérias importantes, mas que não dão lucro, como reportagens investigativas e cobertura internacional. A audiência do Times é diferente da típica, então suas histórias mais virais podem ser sobre o casamento de Robin Roberts e a busca por casas em Sag Harbor, em vez do show de Taylor Swift e da lesão de Aaron Rodgers. No entanto, a estratégia - altamente lucrativa e bem-sucedida - é fornecer muita cobertura que entretenha e alegre os leitores do Times, a maioria dela é produzida com um alto nível de qualidade, mas que não é o que você tradicionalmente pensaria como "todas as notícias dignas de impressão".

Certamente, o Times se beneficia de um efeito de halo em grande parte merecido em termos de qualidade institucional, como por ter ganho muitos Prêmios Pulitzer. Mas olha, eu já fui juiz do Pulitzer e posso te dizer que as organizações de notícias produzem muitas matérias "isca de prêmio" de alta qualidade que são caras para serem relatadas, mas não ganham muita audiência. O benefício de reputação de um prêmio ocasional pode te dar 20 centavos de volta no dólar.

Então, basicamente, o Times está usando sua versão de repórteres de Taylor Swift para subsidiar uma grande parte da reportagem importante e digna de notícia. (…)

De Nate Silver. Notícia é um produto que precisa ser vendido para gerar receita e lucro. E fazer os acionistas felizes. Simples assim. (Foto com as mais lidas do Estadão de hoje)

28 outubro 2023

Analfabetismo contábil

 Do livro Ignorância, de Peter Burke:

No mundo das finanças, expressões como "educação financeira" e "educação contábil" se tornaram comuns. A Accounting Literacy Foundation (Fundação pela Educação Contábil), que foi criada em 1982 e se tornou uma fundação em 2020, define essa forma particular de instrução como "a capacidade de ler, interpretar e comunicar uma situação ou evento financeiro, normalmente refletida nos cinco elementos do balanço patrimonial e no demonstrativo de renda [sic, da tradução para o português]: receita, patrimônio líquido, passivo, ativo e despesa" [36]

O que nos interessa aqui é o inverso, o analfabetismo contábil e suas consequências, tanto para pequenas empresas que não tem condições de contratar um especialista financeiro quanto para pessoas comuns que planejam sua aposentadoria. Nesse último caso, já se observou que "as mulheres são menos educadas financeiramente do que os homens" e que "os jovens e os idosos são menos educados financeiramente do que as pessoas de meia-idade". [37]

Quando voltamos no tempo, observamos que foi a necessidade de registrar o armazenamento e o fluxo de mercadorias que levou à invenção da escrita em tábuas de argila, na antiga Babilônia. Instruções para se fazer a contabilidade partidas dobradas (débitos de um lado, créditos do outro) podem ser encontradas em manuais para comerciantes na Itália a partir do século XV [sic. Na verdade foi já no final dos anos 1200] e, mais tarde, para chefes de família em muitas cidades europeias. Por outro lado, governantes como Filipe II (discutido no capítulo onze) e sua nobreza se contentavam em ser analfabetos em contabilidade, ao passo que a maior parte da população rural da Europa ainda não sabia nem mesmo ler e escrever no ano 1800. 


No século XIX, os contadores emergiram como uma profissão à parte, enquanto a contabilidade se tornou mais complexa, um processo que vem sendo continuado desde então. [38] Já inclusive se cogitou que a contabilidade é, em si mesma, "uma tecnologia da ignorância". Por exemplo, um estudo de dezessete escândalos de corrupção na Itália relatados entre 2014 e 2018 concluiu que "a contabilidade desempenha um papel importante na produção e na sustentação da ignorância". [39] Contrariamente a isso, pode ser argumentado que, seguindo a analogia do pensamento que diz "as estatísticas não mentem, os estatísticos, sim", a contabilidade não mente, enquanto indivíduos e empresas podem mentir e efetivamente mentem nos balanços. O preço do analfabetismo contábil é a incapacidade de detectar essas mentiras. 

[36] www.accountingliteracy.org/about-us.html. Acesso em 13 de maio de 2022 

[37] Annamaria Lusardi e Olivia S. Mitchell. ´Financial Literacy Around the World'. Journal of Pension Economics and Finance 10 (2011), 497-508

[38] Jacob Soll, The Reckoning: Financial Accountability and the Making and Breaking of Nations (Londres, 2017)

[39] Daniela Pianezzi e Muhammad Junaid Ashraf, "Accountin for Ignorance", Critical Perspectives on Accounting (2020)

Políticas de Auxílio em Emergências


Nos meus primeiros tempos de blog, eu costumava postar algumas dicas de finanças pessoais. Ando desatualizada então no momento não me aventuro por essas bandas, mas recentemente me deparei com uma situação cotidiana que me inspirou a destacar políticas de auxílio e reembolso de passagens em casos de emergência, na possibilidade de não ser conhecimento comum.

Quando nos encontramos preocupados e desesperados, o valor de certos recursos muitas vezes se torna secundário. No entanto, acredito que estar ciente das opções disponíveis pode facilitar a navegação pelas burocracias, especialmente em momentos de luto.

Um exemplo de conhecimento útil é saber da oferta, pela companhia aérea Gol, da chamada Assistência Emergencial. Com ela, em caso de falecimento de um pai, mãe, filho ou cônjuge, há um valor diferenciado que pode chegar a 80% de desconto no valor da tarifa. Para usufruir disso, é necessário o atestado de óbito e um documento que comprove a relação familiar. Em caso de passagem já adquirida, há um prazo de 7 dias a partir do falecimento (e não da compra da passagem ou da data do voo) para solicitar reembolso.

A Latam costumava ter um programa parecido, mas foi encerrado. No entanto, eles ainda oferecem um benefício chamado Passagem para Tratamento Médico, embora seja um processo burocrático e com um prazo de resposta de 20 a 30 dias úteis. Esse benefício abrange deslocamentos necessários para tratamento de saúde especializado, englobando consultas e procedimentos. Adicionalmente, é possível solicitar uma cortesia para um acompanhante.

Além dessas políticas específicas de companhias aéreas, o que mais vocês sugeririam para ajudar a reduzir os gastos em momentos como esses?

26 outubro 2023

Ser conciso pode ser uma vantagem em um e-mail

O texto a seguir defende que nossos e-mails devem ser concisos. Teremos mais retornos quando fizermos: 

A pessoa média recebe dezenas ou até centenas de mensagens, como e-mails, mensagens de texto, etc., todos os dias, e o profissional médio gasta quase um terço da sua semana de trabalho lendo e respondendo a e-mails. Esses números nem mesmo levam em consideração todas as outras comunicações que os profissionais recebem fora do ambiente de trabalho. Para leitores ocupados, lidar com essa enxurrada de informações e mensagens é como viver em um jogo interminável de Whac-A-Mole. Atualizações altamente relevantes sobre saúde e escola podem ser inadvertidamente ignoradas ou "clicadas" no botão de exclusão.


E ainda existe um equívoco alarmante entre os escritores de que mais é melhor. Talvez isso venha de lembranças de ser um estudante e tentar atingir a contagem de palavras necessária para um ensaio do nono ano. Isso pode refletir a esperança de que escrever muito faça parecermos inteligentes e com muito a dizer. Por outro lado, pode refletir o medo de que, se não escrevermos muito, deixaremos de fora alguma peça crítica de informação. Seja qual for a causa de todo esse excesso verbal, a realidade é que mais escrita faz com que os leitores sejam menos propensos a ler qualquer coisa.

Imagine que você abre sua caixa de entrada e vê as duas seguintes mensagens. Pelos assuntos e remetentes, você sabe que são relacionadas ao trabalho. Você não se envolve com as mensagens além de escanear rapidamente seus comprimentos.

Com qual você lidaria primeiro? Provavelmente com a mensagem concisa, certo? Em uma pesquisa que conduzimos, foi isso que 165 dos 166 profissionais disseram também.

Os leitores frequentemente interpretam o comprimento de uma mensagem como uma indicação de quão difícil e demorada será a resposta, o que é outra razão pela qual podem optar por não se envolver com uma comunicação extensa.

Em um estudo, enviamos duas versões de um e-mail para 7.002 membros de conselhos escolares nos Estados Unidos pedindo que completassem uma breve pesquisa online. Um e-mail tinha 127 palavras; o outro tinha 49 palavras.

O e-mail conciso obteve quase o dobro de respostas à pesquisa em comparação com o e-mail extenso - uma taxa de resposta de 4,8% em vez de 2,7%. Alguns leitores provavelmente olharam o comprimento do e-mail extenso e escolheram não se envolver com ele de forma alguma. Outros provavelmente não leram até o fim e perderam o pedido no final. Além disso, alguns leitores podem ter usado o comprimento do e-mail como um sinal de quanto tempo levaria para completar a pesquisa e decidiram recusar o pedido (que presumiram que seria cansativo).

Ambos os e-mails direcionaram os destinatários para a mesma pesquisa exata, que levou aproximadamente cinco minutos para ser concluída. No entanto, em um estudo separado, 29% dos entrevistados que viram o e-mail conciso acreditaram que a pesquisa levaria menos de cinco minutos, em comparação com apenas 15% dos entrevistados que viram o e-mail extenso. A maioria dos leitores, especialmente aqueles que têm pouco tempo, provavelmente se desencorajará por mensagens e solicitações que esperam ser difíceis de lidar.

Leitores que abandonam o meio de uma mensagem longa se envolvem no que chamamos de "abandono precoce". Eles podem passar os olhos pelo texto e decidir que é demais para lidar naquele momento - muitos tópicos, ações solicitadas ou palavras - e seguir em frente antes de terminar, esperando voltar a ele depois. Alguns desses desistentes precoces nunca retornarão de fato. Outros podem voltar à mensagem mais tarde, mas até então podem ter perdido um momento crítico: um prazo de pagamento pode ter passado, uma janela de inscrição em um seguro pode ter fechado ou todos os horários de reunião disponíveis podem ter sido preenchidos.

Em média, uma mensagem prolixa será tratada menos rapidamente do que uma mensagem concisa. No pior cenário, uma mensagem prolixa será relegada ao mesmo destino das centenas de outras mensagens que se acumulam nas caixas de entrada, nunca a serem lidas.

Mesmo quando as comunicações escritas de forma ineficaz são lidas, elas impõem um tributo desagradável sobre o tempo dos leitores. Em um evento que lideramos recentemente sobre esse tema, um participante escreveu: "E-mails longos no ambiente de trabalho de hoje são desrespeitosos com o leitor." Quanto mais longa a mensagem, maior o tributo.

Imagine se você recebe 120 e-mails todos os dias (como muitas pessoas fazem), e cada um tem três parágrafos. Lê-los na íntegra exigiria quatro horas por dia. Ou inverta a situação e imagine que você está enviando uma mensagem de três parágrafos para todos os 120 funcionários de sua organização. Você pondera sobre cada palavra; seu professor de inglês do ensino médio ficaria tão orgulhoso de você. Mas então, em média, cada funcionário leva dois minutos para ler o que você escreveu. Entre 120 funcionários, sua mensagem cuidadosamente elaborada imporia um tributo de quatro horas ao tempo deles. Se você reduzir o tamanho dela em apenas um parágrafo, economizará oitenta minutos no total do tempo dos funcionários.

Escrever de forma concisa requer uma disposição implacável para cortar palavras, frases, parágrafos e ideias desnecessárias. Pode ser difícil excluir as palavras que você passou tempo elaborando - "matar seus queridos", como aconselhado nas palestras clássicas compiladas em "On the Art of Writing". Mas fazê-lo aumenta as chances de que seu público leia o que você escreve. Nancy Gibbs, ex-editora-chefe da revista Time, costumava dizer à sua equipe que cada palavra tem que conquistar seu lugar em uma frase, cada frase tem que conquistar seu lugar em um parágrafo e cada ideia tem que conquistar seu lugar em um texto.

Investir um pouco mais de tempo desde o início para ser conciso economiza tempo para leitores e escritores, reduzindo os acompanhamentos, mal-entendidos e solicitações não atendidas.

A maioria de nós nunca foi treinada na habilidade de escrever de forma concisa. Agravando o problema, a maioria de nós também não foi treinada na habilidade de edição concisa (ou autoedição).

Pesquisadores descobriram que as pessoas tendem a adicionar palavras e conteúdo durante a edição, em vez de removê-los. Em um estudo ilustrativo realizado por Gabrielle Adams e colegas da Universidade de Virginia, os participantes do teste foram convidados a ler e resumir um curto artigo sobre a descoberta dos ossos do rei Ricardo III sob um estacionamento em Leicester, Inglaterra.

Depois de concluir o resumo, foram solicitados a editá-lo e melhorar a captura das ideias no artigo. Em resposta, 83% dos participantes adicionaram palavras. O mesmo padrão apareceu em tópicos que variavam desde itinerários de viagem até patentes: tendemos a adicionar ideias em vez de subtrair ou remover durante o processo de edição.

Escrever menos é um dos seis princípios da escrita eficaz que discutimos em nosso livro "Writing for Busy Readers". O esforço adicional necessário para escrever de forma eficaz é um investimento. Leitores ocupados são mais propensos a encontrar tempo para se envolver com mensagens curtas, bem estruturadas e de leitura rápida. E se eles se envolverem, são mais propensos a absorver as informações mais críticas.

Investir um pouco mais de tempo desde o início para ser conciso economiza tempo para leitores e escritores, reduzindo os acompanhamentos, mal-entendidos e solicitações não atendidas. 

Foto: Patrick Tomasso

Problemas com a DFC

Em um novo artigo, o membro do International Accounting Standards Board (IASB) e o ex-investidor Nick Anderson discutem a crescente prevalência de transações que não são refletidas nas demonstrações de fluxo de caixa - e onde os investidores podem encontrar as informações necessárias sobre alterações de dívida que não sejam em dinheiro para ajudar seus análise.

Alterações não monetárias na dívida ocorrem, por exemplo, quando uma empresa altera a classificação dos passivos relacionados aos acordos de financiamento de fornecedores, assume a dívida adquirida como parte de uma combinação de negócios, entra em arrendamentos, alterações cambiais ou alterações nos valores justos .

Do site do Iasb, traduzido pelo Vivaldi. Achei realmente estranho isso, pois a DFC deve refletir a movimentação do caixa.