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17 junho 2008

Uma conseqüência do aumento do custo do combustível

A alta no custo do transporte está forçando algumas indústrias dos Estados Unidos a transferir a produção de volta à América do Norte e a congelar planos para enviar trabalho para o exterior.

“Meu custo de transportar um contêiner da China para cá só tem aumentado — e eu não acho que vá melhorar logo”, diz Claude Hayes, presidente da divisão de aquecedores da Desa LLC. Ele ressalta que o custo aumentou 15% desde janeiro, para cerca de US$ 5.300, e deve aumentar de novo mês que vem para US$ 5.600.

(...) A migração de fábricas para países de baixo custo cada vez mais distantes teve duas facetas distintas para a economia americana: fez com que trabalhadores perdessem empregos industriais bem remunerados mas ao mesmo tempo derrubou o preço dos bens de consumo. Mas essa marcha está perdendo força.

O custo de transportar um contêiner de 40 pés da Ásia à Costa Leste dos EUA já triplicou desde 2000 e vai dobrar novamente se o petróleo se aproximar de US$ 200 o barril, diz Jeff Rubin, economista-chefe do banco canadense de investimentos CIBC World Markets. Rubin calcula que os transportes já equivalem a uma sobretaxa de 9% nos produtos importados que chegam aos portos americanos, ante apenas 3% quando o petróleo era vendido a US$ 20 o barril, em 2000.

“Num mundo de preços do petróleo na casa dos três dígitos, a distância custa dinheiro”, escreveu Rubin num relatório recente. Ele estima que para cada aumento de 10% na distância de uma viagem, os custos com combustível aumentam 4,5%.

O custo do transporte é apenas mais um dos elementos na onda inflacionária que assola a indústria mundial, já acuada pela alta das matérias-primas, como aço e resinas. O custo de operar na China, especialmente, tem crescido, à medida que os trabalhadores exigem salários mais altos e o governo aumenta a fiscalização sobre violações ambientais. O iuane chinês também se valorizou perante o dólar.

Para muitas empresas, o petróleo acima de US$ 130 o barril foi o ponto de desequilíbrio. (...)


Custo do transporte faz empresas dos EUA levar produção de volta ao país
Timothy Aeppel, The Wall Street Journal
16/06/08 - The Wall Street Journal Americas

Qual o passivo da Gol? Qual o ativo?

Eis um exemplo de como a contabilidade é complexa!:

Gol já admite perder a Varig na Justiça
LEONEL ROCHA
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro - 17/06/2008

A direção da Gol Linhas Aéreas Inteligentes trabalha com a possibilidade de perder a Varig por decisão da Justiça Federal no final do processo que analisa um dos maiores e mais importantes negócios dos últimos anos no Brasil.

Nas próximas semanas, para decidir sobre o futuro da transação, o juiz José Paulo Magano, da 17ª Vara Civil de São Paulo, vai analisar a documentação da formação acionária da Volo do Brasil, empresa criada pelo fundo norte-americano Matlin Patterson e três investidores brasileiros para comprar o grupo Varig em 2006. A Gol decidiu comprar a Varig em março do ano passado, por US$ 320 milhões.

São fortes os indícios de irregularidades no negócio que, se for anulado, fará com que a transferência acionária da Varig para a Gol seja obrigatoriamente revertida. "Se a Justiça anular a compra original da VarigLog pela Volo do Brasil, a revenda da marca Varig para a Gol necessariamente também será cancelada, porque teria sido contaminada por um negócio ilegal na origem", comentou um ministro de tribunal superior que preferiu o anonimato, porque pode vir a julgar o caso. Oficialmente, a Gol não admite que o cancelamento do negócio possa ocorrer.

A possível anulação da compra da VarigLog pelo Matlin Patterson e pelos brasileiros Marcos Michel Haftel, Marco Antônio Audi e Luiz Eduardo Gallo obrigará o retorno das ações de todo o grupo Varig para a antiga Fundação Rubem Berta, dona original da companhia. Isto obrigará a Gol a entrar na Justiça brasileira e buscar, até nos tribunais internacionais, receber de volta milhões pagos pela empresa concorrente, que estava em processo falimentar. A briga vai parar em tribunais superiores.

O cancelamento do negócio provocará desdobramentos, inclusive para a saúde financeira do fundo Aeros, dos funcionários da Varig, que vendeu o equivalente a R$ 100 milhões das debêntures emitidas pela companhia aérea e também compradas pela Gol, que negociou um deságio no valor dos papéis e antecipou o pagamento previsto para os próximos 10 anos.

Outro temor já discutido por todas as empresas envolvidas é a contaminação das antigas dívidas da Varig com a contabilidade da Gol. Mesmo com a separação da parte "podre" da Varig pela Justiça – a dívida de quase R$ 7 bilhões da companhia com a Previdência Social e Infraero e fornecedores foi transferida para a parte do grupo empresarial que continuou com a Fundação Rubem Berta –, o risco de sucessão de dívidas existe porque a Gol teve que readmitir um sindicalista registrado na antiga Varig, demitido no processo de transferência de controle acionário. "Se a Gol foi obrigada a assumir uma parte da dívida trabalhista, mesmo referente a apenas um funcionário da antiga Varig, por que não deveria assumir o restante das demais dívidas?", questiona um consultor do mercado de aviação.

O grupo Gol ainda vai enfrentar outro problema. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) até hoje não aprovou a fusão da companhia com a Varig. Um extenso processo que tramita no conselho sobre a união das duas empresas vai provocar demora na análise da situação, já que o Cade vai debater se a concentração de linhas aéreas nas mãos de duas empresas – Gol e TAM – deixa o setor excessivamente concentrado ou não. O conselho não tem data para julgar o caso. Diante da repercussão política da transação, só deverá incluir o tema na pauta no próximo ano.

Auditoria de ONGs

TCE faz pente-fino em repasses de verba para ONGs
Fausto Macedo
O Estado de São Paulo - 17/06/2008

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo deu início a um pente-fino nos processos de repasse de dinheiro público para organizações sociais e organizações sociais de interesse público, popularmente chamadas de ONGs (organizações não-governamentais). A auditoria mira o exercício de 2007, ano em que dezenas de prefeituras efetuaram 8.932 transferências que somaram R$ 798 milhões em favor das entidades. A projeção para 2008 é que esse montante alcance R$ 1,6 bilhão, valor que inclui liberações também do governo estadual.

Para executar a mais ampla investigação já realizada sobre ONGs, o TCE criou o Sistema de Repasses Públicos ao Terceiro Setor (SisRTS), por meio do qual os auditores começaram a inspecionar as organizações em suas próprias sedes para constatação de atividade, consulta de livros de contabilidade e cruzamento de dados relativos ao fluxo de caixa - entrada e saída de dinheiro.

(...) Os fiscais devem apurar se os valores recebidos foram contabilizados e depositados em instituição financeira, se existe registro e controle de atendimentos, se o conselho fiscal da entidade é atuante, se a estrutura física é adequada. Também vão checar se o objetivo social é compatível com a natureza dessas transferências, se a entidade apresentou plano de trabalho e se as atividades desenvolvidas e os valores despendidos atendem a esse programa. (...)

Revolução Contábil

Esse texto tinha passado desapercebido (mas não pelo Ricardo Viana, que chamou a atenção. Grato, novamente)

Novas regras prometem emoções fortes
Por Nelson Niero, de São Paulo
Valor Econômico - 13/06/2008

Com a discrição que lhes é peculiar, os contadores prepararam uma revolução. Ela já está em curso desde o primeiro dia do ano, quando entrou em vigor a Lei 11.638, que reforma a parte contábil da Lei das Sociedades por Ações, de 1976.

Não se engane, não é mais um calhamaço de regras esotéricas. É um coquetel molotov que promete "reinventar a profissão", nas palavras de Nelson Carvalho, o representante brasileiro no Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb, na sigla em inglês), a entidade com sede em Londres responsável pela nova ordem mundial das demonstrações financeiras.

A invocação "contadores do mundo, uni-vos" pode ser ouvida pelos quatro cantos do planeta e agora também em qualquer seminário perto de você. Sim, são vários, especialmente das firmas de auditoria e consultoria que se preparam para um ano de muito trabalho e honorários.

Só a BDO Trevisan, sociedade do empresário Antoninho Marmo Trevisan com a multinacional BDO, planeja nada menos que 100 neste ano. Na segunda-feira, a empresa lança seu "guia de bolso" para a lei, intitulado "Uma revolução na contabilidade das empresas". Dois dias depois, a Trevisan Escola de Negócios promove um curso intensivo de contabilidade internacional com foco em IFRS - sigla em inglês para as normas internacionais de informações financeiras.

Imagine que as suas concorrentes, principalmente as chamadas "quatro grandes" - Deloitte, Ernst & Young, KPMG e PwC - também estejam cheias de planos para o futuro e teremos o ano recorde para a locação de auditórios.

Mas centenas de seminários não vão evitar que o ano seja "uma bagunça", como previu um acadêmico durante um dos muitos encontros realizados nos últimos meses para discutir o assunto. Ele não se referia só às mudanças visíveis, como a troca de um conjunto de contas por outro e pontos polêmicos como marcação de ativos pelo valor mercado. A confusão se dará por uma mudança radical na postura de quem faz os balanços. Essência sobre a forma, este é o mantra entoado pelos gurus da nova religião contábil.

Não se trata de uma tarefa simples mudar a maneira como pensam auditores, contadores e acadêmicos para que adotem o "subjetivismo responsável", termo criado por Sérgio de Iudícibus, professor aposentado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

O tempo do "check list" acabou, dizem os arautos da revolução que vem sendo tramada desde o começo da década de 90 - e, depois de várias várias concessões, foi aprovada no fim de 2007. Não basta cumprir as regras, "consultar os papeizinhos com fórmulas no bolso", segundo Nelson Carvalho, que, além de membro do Iasb, também é professor da USP. Mais poder e responsabilidade para os contadores, quase uma redenção de uma categoria sempre relegada ao segundo plano nas decisões empresariais.

Mas a "harmonização" com os países que usam as regras internacionais (entre os quais, diga-se, não estão os Estados Unidos, o principal mercado de capitais do mundo) não é exatamente harmônica entre os profissionais brasileiros. Olívio Konder, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que a nova lei desrespeita os princípios fundamentais da contabilidade e defende uma nova reforma contábil. Antônio Lopes de Sá, mentor de uma corrente chamada "neopatrimonialismo" e conhecido por sua prolífera produção literária, tem vários artigos na sua página na internet desancando a harmonização das regras contábeis.

Valor Econômico

Legislação e Lei 11.638

Recebi o seguinte e-mail do Jomar sobre a questão da tributação e a Lei 11.638 (aqui, aqui e aqui):

Não me segurei ao ler a reportagem sobre o caso da tributação, comentado pela Superintendência da Receita Federal no Estado do Rio Grande do Sul. Então, me resguardei nas normas estabelecidas pela Lei 11.638/07.

Em primeiro lugar, a Lei 6.385/76, (Art. 8º, inc I) delega a CVM a responsabilidade "em regulamentar, com observância da política definida pelo Conselho Monetário Nacional, as matérias expressamente previstas nesta Lei e na lei de sociedades por ações".

Assim, a CVM emitiu a IN/CVM 469/08 (02/05/2008), o qual trata da contabilização dos prêmios recebidos na emissão de debêntures e as doações e subvenções (texto abaixo).

Esta contabilização, para o ano de 2008, não será contabilizada em resultado, mas sim em Resultados de Exercícios Futuros. Propositalmente, a CVM emitiu esta norma até que se regulamente a receitas que, anterior a nova lei contábil, não eram tributadas.

Acredito que a Superintedência da Receita no Estado do Rio Grande do Sul se precipitou.

Um abraço,

Jomar

Eis o texto:

INSTRUÇÃO CVM Nº 469, DE 2 DE MAIO DE 2008 Dispõe sobre a aplicação da Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera as Instruções CVM n° 247, de 27 de março de 1996 e 331, de 4 de abril de 2000.

(...)

Saldos das Reservas de Capital Alteradas pela Lei nº 11.638, de 2007

Art. 3º Os prêmios recebidos na emissão de debêntures e as doações e subvenções, decorrentes de operações e eventos ocorridos a partir da vigência da Lei nº 11.638, de 2007, serão transitoriamente registrados em contas específicas de resultado de exercícios futuros, com divulgação do fato e dos valores envolvidos, em nota explicativa, até que a CVM edite norma específica sobre a matéria.

Parágrafo único. Os saldos das reservas de capital referentes a prêmios recebidos na emissão de debêntures e doações e subvenções para investimento, existentes no início do exercício social de 2008, poderão ser mantidos nessas respectivas contas até a sua total utilização, na forma prevista em lei.

Vale: nova aquisição?

Os rumores são fortes: a Vale do Rio Doce estaria preparando uma nova aquisição (aqui e aqui)

Os possíveis alvos: Freeport-McMoran Copper (FCX), Alcoa e Anglo American. Uma das análises cita o jornal Estado de S. Paulo, que informou que a empresa está preparando uma proposta de aquisição.

A Vale já fez 14 aquisições desde 2001, que inclui o takeover da Inco em 2006.

16 junho 2008

Rir é o melhor remédio


Uma propaganda criativa do preservativo Durex, desejando feliz dias dos pais (que ocorreu nesse final de semana nos Estados Unidos) para os clientes das marcas concorrentes.

Baixo custo do álcool no Brasil

O Los Angeles Times (Human cost of Brazil's biofuels boom, Patrick J. McDonnell, 16/06/2008) explica a razão da competitividade do álcool brasileiro: o baixo custo da mão-de-obra.

E o segredo é as condições primitivas dos trabalhadores que cortam cana, que recebem um tratamento degradante (segundo termos da reportagem).

Contabilidade pública e LDO

Mudança na LDO abre porta para superfaturamento de obras
Sérgio Gobetti - O Estado de São Paulo - 16/06/2008

A troca de apenas uma palavra - “unitários” por “globais” - no texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) encaminhada recentemente pelo governo ao Congresso pode abrir a porta para o superfaturamento de obras públicas com recursos federais. Tradicionalmente, o texto da LDO dizia: “Os custos unitários de materiais e serviços de obras executadas com recursos do Orçamento...”. E agora a lei de 2009 diz: “Os custos globais de obras e serviços...” A mudança promovida pelos técnicos do governo permite que os órgãos da União contratem serviços e comprem materiais com preço unitário superior à média do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), desde que o custo global não seja mais alto do que aquele obtido pela mesma pesquisa de preços.

Trocando em miúdos, a proposta da LDO para 2009 possibilita que alguns itens de uma obra sejam orçados a preços mais elevados do que a média apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e isso seja compensado com custos mais baixos em outros itens.

Atualmente, essa forma de “compensação” não é permitida, porque a LDO veda “custos unitários” maiores do que a chamada mediana do Sinapi, o banco de dados da Caixa alimentado pelas pesquisas do IBGE.

Desde 2003 a legislação utiliza os preços do Sinapi como limite para os “custos unitários” das obras executadas com recursos federais. No primeiro ano em que a regra foi aplicada ainda houve uma margem de tolerância de 30% sobre esse limite, mas, nos últimos cinco anos, o teto tem sido aplicado de forma absoluta para cada item do projeto básico de uma obra, do cimento a peças mais complexas utilizadas nas construções.

(...) De acordo com parecer do Tribunal de Contas da União (TCU), obtido pelo Estado, a aprovação do projeto do governo facilitaria o denominado “jogo de planilhas” por parte das empreiteiras contratadas.

“Esse jogo consiste em adotar preços mais elevados para itens e serviços sujeitos a acréscimo de quantitativos no decorrer da obra e preços mais baixos para os itens sujeitos a decréscimos, o que acaba por frustrar o procedimento licitatório e promover o superfaturamento do empreendimento”, diz o texto do TCU.

O controle de custos globais, segundo os técnicos, não funciona porque às vezes as empreiteiras chegam a propor a exclusão ou a substituição dos itens do projeto que, propositalmente, tiveram seus preços fixados em patamar mais baixo. Como exemplo, é citado o caso do Aeroporto de Vitória, cujo projeto original previa a utilização de concreto convencional e recentemente foi alterado para estruturas pré-moldadas.

“As decisões que o Congresso recebe do TCU demonstram o absoluto descaso com que são executadas as obras públicas do País”, critica Kátia Abreu. No ano passado, 78 obras federais fiscalizadas pelo órgão apresentaram indícios de irregularidade grave (veja quadro). “De cada 400 obras analisadas por ano, 20% apresentam problema grave.” A polêmica sobre os custos das obras levou o Ministério do Planejamento a promover, na semana passada, uma reunião de conciliação entre a Caixa e a CGU. O gerente nacional de Engenharia da Caixa, Clóvis Marcelo Bueno, disse que o governo deverá propor um novo texto que mantém o controle dos custos unitários sobre os itens “mais significativos” do projeto.

“A Caixa tem hoje 35 mil operações ativas em 27 unidades da Federação, e controlamos a curva de custos a partir de 80% dos itens mais significativos”, diz Bueno. O controle exclusivamente por custos unitários “não agrega segurança, além de criar grandes obstáculos”, explica. “Posso ser impossibilitado de repassar recursos para a construção de um hospital por causa do preço de uma dobradiça de porta”, argumenta o engenheiro.

ESTRADAS

Os técnicos do TCU, no entanto, dizem que o risco de “jogo de planilhas” é mais acentuado em obras de estradas, que nem passam pelo sistema de controle da Caixa. Nesses casos, eles avaliam que todos os itens precisam ser monitorados e até mesmo o preço de referência do Sinapi oferece margem para superfaturamento, já que se trata de uma média do mercado. Essa conclusão é derivada de uma experiência prática: nas licitações com grande competitividade, os preços praticados ficam 20% abaixo do Sinapi.

Além disso, o projeto do governo também permite que, no caso de os itens do projeto não serem pesquisados pelo IBGE, haja a utilização de “tabelas de custo de órgãos oficiais locais” de confiabilidade duvidosa, em detrimento dos índices editados por órgãos federais. “Não podemos aceitar que o mesmo gestor que licita obras tenha a função de atualizar as tabelas de custo”, afirma Kátia Abreu.

Lei 11.638 e Tributação 2

Sobre a questão da nova lei contábil (Lei 11.638) e o impacto fiscal:

Receita espera estudo sobre nova lei contábil
Valor Econômico - 16/06/2008

Tem fundamento o temor de elevação da carga tributária das empresas decorrente da nova lei contábil. A Receita Federal acaba de orientar suas superintendências regionais a evitarem respostas às consultas sobre o tema enquanto não forem concluídos os estudos sobre a legislação que vai regulamentar as novas normas, o que deve ocorrer em pouco tempo. Em 30 de junho, encerra-se o prazo do grupo que recebeu essa tarefa na Receita. (...)

Há, no mínimo, outros quatro temas que podem impor às empresas maior carga tributária. São eles: os tratamentos do leasing e do ágio, o valor presente dos bens das companhias e a variação cambial sobre as controladas no exterior. A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) garante que "vai às últimas conseqüências" para que seja honrado o acordo político que prometia neutralidade tributária para as novas normas contábeis. O vice-presidente da entidade, Alfried Plöger, afirmou ao Valor que isso "não será levado na maciota". A insegurança jurídica está instalada e a resposta da Superintendência Regional da Receita reforça os temores das empresas. (...)

O grupo de estudos da Receita começou seus trabalhos em fevereiro. Todos os principais atores envolvidos na questão serão ouvidos. Como exemplo, ela cita Banco Central (BC), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Conselho Federal de Contabilidade e o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).


Ainda sobre esse assunto:

O fiscal sempre prevaleceu sobre o contábil
Valor Econômico - 16/06/2008

Contadores, analistas, auditores e a Comissão de Valores Mobiliários esperaram mais de dez anos para levar o Brasil para o mundo globalizado das informações financeiras. Agora, correm o risco de ver o sonho da "harmonização" desaparecer num piscar de olhos.

Desde o anteprojeto de 1996 até a aprovação no fim do ano passado, a reforma da parte contábil da Lei das S.A. foi um trabalho árduo. Não faltaram rixas internas e lobbies no Congresso dos inimigos externos da nova lei, que mexe com assuntos sensíveis como a publicação dos balanços das companhias fechadas de grande porte. Mas tudo isso é irrelevante perto da ameaça tributária. A lei original, de 1976, tentou evitar a interferência da Receita sobre a contabilidade, criando registros auxiliares para fins de Imposto de Renda.

Não deu certo.Desta vez, criou-se um "livro de apuração do lucro contábil": a empresa faz um balanço pela legislação fiscal, que será entregue à Receita, e depois ajusta os números pela legislação societária.

Aparentemente, tudo foi combinado com os russos. Representantes do Fisco participaram das discussões do projeto e teria havido um "acordo de cavalheiros" para que prevalecesse os princípios da contabilidade - que garantem uma informação de melhor qualidade - sobre a conhecida sanha arrecadadora da Receita. No entanto, o histórico não é favorável e a nova lei corre sérios de riscos de seguir o mesmo caminho da velha.

O Brasil mudou muito desde 1976, e o país está muito mais exposto aos olhos de investidores estrangeiros para que esse atropelo contábil passe despercebido. Mas, por outro lado, talvez a Receita não tenha mudado o suficiente.

15 junho 2008

Mais um Teste

Aqui, você tem um teste sobre questões contábeis. Teste seu conhecimento.

Ativos dos museus

A questão da contabilidade dos museus é interessante. Como considerar um quadro como ativo? Em 'Heritage assets' scheme could see Stonehenge appearing on the books, Jennifer Hughes (Financial Times, 14/06/2008, London Ed2, p. 04) informa que UK Accounting Standards Board - que é responsável pelas normas contábeis na Inglaterra para o terceiro setor, propôs regras para evidenciação dos ativos e seu potencial valor:

Previous attempts to make museums account more clearly for their holdings have met with fierce opposition and this week's proposal is, in fact, a rare second draft after parts of its predecessor drew criticism.

The ASB's argument centres around the fact that heritage assets, be they ancient artefacts or vintage cars, are just that - assets - which have an economic value to the institution that holds them and should therefore appear in the books, at least in the footnotes.

But museums and galleries claim that producing values for each of their holdings is a time-consuming and costly process and of little benefit to anyone.

The National Gallery, for example, last year reported balance sheet assets of just £318m, of which heritage assets made up £65m, courtesy of a change to the rules in 2001 that forced institutions to report acquisitions and disposals after that date.

Its footnotes, however, made clear its disapproval. "The collection . . . is inalienable, unique, irreplaceable, ancient, fragile and very valuable. It is truly 'priceless' in that it cannot be valued meaningfully," it added.

Accountants are divided on the issue. Most appreciate the theoretical value of putting assets clearly on the books but concede the practical difficulties in these cases.

"Does Stonehenge have a value? I bet Disney would buy it. But would that value really mean anything? Probably not," said Ken Wild, national director of accounting at Deloitte.

"There are those who say there's no point putting some things in when so much will still be off the books, but is it then right that none of it appears when it clearly has some economic value."

Museums have made much of the fact that it is hard to find a proper value and even where there are markets, such as for paintings, prices are still subjective.

"I'm not sure a numerical value really adds much unless you were planning to sell," said Steve Taylor, a valuation specialist at Ernst & Young.

"You could end up trying to use cash flow from gate receipts, or some other measure for something like the Rosetta Stone [a tablet that unlocked the meaning of Egyptian hieroglyphics]. But what if there was a terrorist attack on London and there were less tourists? Would reported values then fall?"

14 junho 2008

Links

1. SEC anuncia uma comissão para modernizar a contabilidade de empresas de petróleo e gás (SEC Staff Recommends Commission Action to Modernize Oil and Gas Reporting Requirements)

2. O Fasb anunciou planos para melhorar (o que não é muito difícil) o FAS 133, Accounting for Derivative Instruments and Hedging Activities, reduzindo as mais de 800 páginas de regras e orientações. Data proposta da nova regra: 2009

3. Dois bancos suíços encerram sua participação no caso Parmalat

4. Rede Globo manipula o som do jogo Coríntians e Sport para parecer que a torcida corintiana era maior aqui e aqui

Inbev e Bud 3

Anheuser tem poucas opções para defender-se da oferta da InBev
David Kesmodel, Matthew Karnitschnig e Dana Cimilluca, The Wall Street Journal
The Wall Street Journal Americas - 13/06/2008

A Anheuser-Busch Cos. parece despreparada para enfrentar uma oferta indesejada, a de US$ 46,35 bilhões feita pela InBev NV, o que aumenta as chances de mais uma conhecida empresa americana ser digerida por uma empresa estrangeira.

Mas enquanto a cervejaria americana, que tem sede em St. Louis, recolhia-se ontem para estudar a oferta da InBev, da US$ 65 por ação, surgiu a informação de que ela iniciou negociações preliminares com a mexicana Grupo Modelo SA para uma união que pudesse ajudá-la a rechaçar a oferta, segundo pessoas a par do assunto.

A Anheuser já tem 50% da Modelo e se comprasse o resto provavelmente se tornaria uma empresa cara demais para a InBev.

(...) As opções da Anheuser para fugir à oferta da InBev são limitadas, dizem analistas. A melhor defesa da cervejaria pode ser fazer um acordo com a mexicana Grupo Modelo SA. A Anheuser já tem 50% da Modelo e se comprar o resto provavelmente se tornaria uma empresa cara demais para a InBev comprar.

(...) Não está claro que tipo de transação a Anheuser e a Modelo teriam discutido, e há enormes obstáculos a qualquer união. A Modelo teria de estar disposta a perder sua valorizada independência para permitir que a Anheuser mantivesse a dela. Ambas as empresas também teriam de deixar de lado anos de hostilidade e ressentimentos que surgiram ao longo de sua parceria, que remonta ao início dos anos 90.

(...) A InBev afirma que quer negociar amigavelmente com a Anheuser. Mas, se refutar essa abordagem, a Anheuser não parece bem posicionada para enfrentar uma oferta hostil. Para começar, os conselheiros dela são eleitos a cada ano, o que facilita para um comprador hostil removê-los. A Anheuser também não dispõe da chamada “pílula de veneno”, que muitas empresas usam para manter compradores indesejados ao largo.

A companhia poderia tentar usar sua influência política para organizar uma oposição, sob o argumento de que estrangeiros não deveriam poder adquirir a maior cervejaria americana. Embora haja poucos obstáculos legais para evitar que a Anheuser seja adquirida por estrangeiros, pessoas envolvidas no negócio dizem que pressão política poderia complicar a questão para alguns acionistas da Anheuser. Warren Buffett, segundo maior investidor da Anheuser, com 4,99%, é conhecido por não gostar de situações hostis.

Os alvos de ofertas hostis costumam buscar os tais cavaleiros brancos, ou um comprador amigável. Mas no caso da Anheuser a chegada de um parece improvável. Isso se deve em parte ao fato de as maiores cervejarias do mundo já terem se fundido recentemente. A Heineken NV, uma possível sócia para a Anheuser, acabou de fechar um acordo com a Carlsberg AS para comprar e dividir os ativos da gigante britânica Scottish & Newcastle PLC. A combinação da Anheuser com a Heineken também poderia ter questões antitruste nos EUA porque a Heineken tem uma presença significativa no mercado americano. A Heineken também poderia se opor a ter mais exposição a um mercado cervejeiro que cresce tão pouco quanto o dos EUA, dizem analistas.

Outro possível sócio numa aquisição, a gigante londrina de destilados Diageo PLC, é pouco provável que se interesse pela Anheuser, dizem analistas. A Diageo, apesar de vender a Guinness e outras cervejas, concentra-se principalmente no setor de destilados e está interessada em expandir-se em mercados emergentes.

Enquanto isso, a SABMiller PLC, de Londres, que é a maior cervejaria do mundo em volume, está no meio de uma fusão de sua unidade americana Miller Brewing com a da Molson Coors Brewing Co. Prevê-se que esse negócio seja concluído no fim deste mês.

“Não acho que haja nenhuma cervejaria por aí que seja um cavaleiro branco”, disse Carrie Schloss, um analista de ações da Talon Asset Management em Chicago, que detém ações da Anheuser.

Analistas disseram esperar que a Anheuser vá considerar a oferta da InBev baixa demais e recusá-la, o que poderia levar a InBev a tentar uma aquisição hostil. Analistas dizem que o preço pela Anheuser poderia subir até US$ 70 por ação, mas que um preço assim tão alto exigiria enormes cortes de custos na Anheuser que seriam difíceis de realizar sem prejudicar as marcas da cervejaria e sua fatia de mercado nos EUA.

Subsídio ao futebol



Kevin Zhou discute em Subsidized Soccer Stadium Proposal Deserves a Red Card a justiça/injustiça do subsídio a construção de um estádio de futebol. Construir um estádio com subsídio do governo, algo comum no Brasil, deveria analisado sob a ótica econômica, comparando se o uso do capital é mais produtivo do que em outras alternativas. Mas em geral o subsídio beneficia os dirigentes dos clubes (que no Brasil se apropriam da riqueza dos clubes – geralmente de forma ilícita) e os jogadores, além de uma pequena parcela de fãs.

Entretanto, já se sabe que esportes recebe uma cobertura desproporcional da imprensa, indicando que o público gosta de esportes (mas provavelmente não de contabilidade). Mas Zhou pergunta se é justo os outros contribuintes pagarem por isso.

Partida Dobrada

Um exemplo das partidas dobradas, onde uma operação entre duas entidades deve aparecer deve ter registro contábil em ambas:

Banrisul: me dê motivo

Yeda Crusius [governandora do Rio Grande do Sul] irritou tão profundamente acionistas minoritários do Banrisul que eles prometem agir. Em reunião do conselho de administração do banco, segunda-feira, votou-se por esperar mais dados do Tribunal de Contas do Estado para afastar ou punir diretores da instituição. O relatório de 97 páginas não foi considerado definitivo ou suficiente.

Não é o que acham os minoritários. Pelo que se vê no relatório obtido por esta coluna, há 13 irregularidades claramente especificadas pelo TCE gaúcho. Exemplo? Contratos com empresas cujos serviços não foram prestados, mas foram pagos pelo Banrisul. E pior. Na contabilidade das empresas prestadoras de serviços, não consta o... pagamento feito pelo banco gaúcho.

O Estado de São Paulo - Direto da fonte - Sonia Racy - 13/06/2008

13 junho 2008

Rir é o melhor remédio


Manipulação tosca do Washington Post. Fonte: Aqui

Links

1. Fiasco do Vista da Microsoft

2. Novela no Brasil e controle de natalidade (aqui e aqui)

3. Quem jogou pior: Microsoft ou Yahoo?

4. Remuneração de executivo

5. Fundo Hedge, segundo a The Economist

Inbev e Bud 2


O gráfico compara as cotações da Inbev e da Anheuser-Busch. Observe que o mercado já sabia que algo estava acontecendo (vide aqui)

Isso significa dizer que o prêmio de 14% sobre as cotações recentes representava um prêmio de 35% da média antes da especulação, segundo o WS Journal. O mesmo jornal lembra que na constituição da Inbev, a operação foi considerada uma aquisição dos belgas sobre a Ambev e que na prática, hoje, é vista como uma aquisição contrária (aqui)

Mais sobre Valor justo

Segundo Michael Starkie, contador da BP, o International Accounting Standards Board, responsável pela convergência internacional, não possui experiência da produzir regras contábeis "truly useful".

Mr Starkie's views also reflect a long-running concern among many accountants and investors about the focus of some IASB members on developing a coherent theoretical accounting framework without due regard for business practicalities. The danger, they fear, is that if accounting becomes less reflective of companies' operations, investors could lose trust in published accounts, which would raise the cost of capital for companies and upset financial markets.


Accounting rule-makers attacked for putting theory before reality
Jennifer Hughes - Financial Times - 12/06/2008 - London Ed1 - 17

the fundamental problem is the members of the IASB. Collectively as board members they do not have the experience and wisdom to produce and maintain accounting standards that are useful for the capital markets and the wider economy. And some of the board members are clearly committed to an extreme view of recognition and measurement which will severely damage the operation of markets and ultimately economies. Recent appointments to the board are too little and too late to change the overall thrust.

I call on the IASC Foundation trustees to take urgent action to reconstitute the board so that the accounting community can try again to capture the potential benefits of this global opportunity.


LETTERS TO THE EDITOR - Accounting rule-makers putting markets at risk
12 June 2008 - Financial Times - Asia Ed1 - 08
From Mr Michael Starkie.