Saiu na Exame:
A Uber deu entrada na noite desta quinta-feira em seu aguardado IPO e, com isso, a empresa de transporte por aplicativo divulgou números até então inéditos sobre sua operação, incluindo mais detalhes sobre o Brasil.
Já se sabia que o Brasil era o segundo maior mercado da Uber no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Com os números divulgados hoje, é possível ter uma dimensão melhor das operações da empresa por aqui.
No Brasil, a empresa faturou 959 milhões de dólares no ano passado, um crescimento de 115% em relação a 2017. A longo prazo, o crescimento é impressionante no país, com o faturamento subindo 406% em relação a 2016. No mundo, a Uber teve faturamento de 11,3 bilhões de dólares em 2018 (crescimento de 149% em relação a 2017 e 318% desde 2016).
O número de usuários no mundo fechou 2018 em 91 milhões e cresceu 35% em relação a 2017. A Uber tem mais de 22 milhões de usuários no Brasil e mais de 600 mil motoristas parceiros, estando presente em mais de 100 cidades.
A Uber chegou ao Brasil em 2014, inicialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, para operar na Copa do Mundo de futebol daquele ano. No Brasil, as principais concorrentes são a brasileira 99 (comprada no ano passado pela chinesa Didi Chuxing) e a espanhola Cabify.
São Paulo também está entre os destaques do comunicado da empresa, estando entre as cinco maiores regiões metropolitanas onde a Uber opera. No ano passado, 24% do valor das corridas (sem descontar o percentual pago ao motorista) veio desta cinco regiões metropolitanas, que são, além de São Paulo, Los Angeles, Nova York, São Francisco e Londres.
Apesar de ser o segundo mercado da Uber no mundo, o Brasil ainda está longe dos Estados Unidos, país natal do serviço e que responde por mais de metade do faturamento da Uber no mundo. Em 2018, a empresa faturou 6 bilhões de dólares no país.
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Mas embora tenha crescido na casa dos três dígitos nos últimos anos, a Uber acredita que ainda está longe de atingir o máximo de seu potencial. A empresa aponta que somente 2% da população nos 63 países em que opera usou seus serviços no último trimestre de 2018. “Apesar de termos crescido em uma escala incomparável, só estamos começando”, afirma a empresa no documento.
O problema é que o ritmo de crescimento está diminuindo, em vez de aumentar. O faturamento do último trimestre de 2018, de 2,97 bilhões de dólares, foi praticamente igual ao do trimestre anterior, de 2,94 bilhões. Ou seja, para conquistar os 98% da população que falta, a empresa precisará voltar a acelerar. O dinheiro da abertura de capital pode ser uma boa oportunidade. A questão é que uma nova frente de investimentos em marketing e em promoções dificultaria ainda mais um desafio crônico da companhia: ganhar dinheiro.
O caminho da empresa até o IPO não foi fácil. O documento divulgado nesta quinta-feira mostra que a Uber teve 6,8 bilhões de dólares de prejuízo entre 2014 e 2018. Algo comum entre startups, mas, ainda assim, uma perda maior até mesmo que a da varejista Amazon em seus primeiros anos. Nos primeiros 17 trimestres (ou quatro anos) de operação, a empresa fundada por Jeff Bezos teve prejuízo de 2,8 bilhões de dólares.
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Mesmo após a abertura de capital, os desafios devem continuar. Os mercados de mobilidade pessoal, entrega de alimentos e logística para indústria são altamente competitivos, com rivais maduros, bem estabelecidos e com custos baixos em quase todos os grandes mercados da Uber.
Para se manter competitivo nesses mercados, a empresa corta as taxas de serviço e oferece incentivos aos motoristas e promoções aos consumidores. Assim, a empresa apresenta perdas significativas desde o início e não tem previsão de lucro.
“Esperamos que nossas despesas operacionais cresçam consideravelmente no futuro próximo e podemos não alcançar lucratividade”, escreveu a empresa.
O início dos processos para o IPO da Uber vem duas semanas depois de a Lyft, principal concorrente nos Estados Unidos, fazer sua oferta pública de ações. A Lyft foi a primeira de uma série de IPOs de empresas de tecnologia esperados para este ano. Mas desde o lançamento das ações, em 29 de março, a empresa vem vendo o valor dos papéis caírem dia após dia, com preocupação dos investidores sobre a potencial de lucratividade da empresa.
As ações da Lyft, inclusive, chegaram a seu menor patamar nesta quinta-feira, pressionadas pela proximidade do IPO da maior concorrente. A ação fechou o pregão a 60,12 dólares, quase 16,5% abaixo dos 72 dólares por ação da abertura de capital.
A Uber deve enfrentar os mesmos questionamentos e desconfiança dos investidores. Apesar do comunicado trazendo mais detalhes sobre as finanças da companhia, ainda não se sabe quanto custará uma ação da empresa: os números oficiais e o preço das ações devem ser divulgados somente no fim do mês, com a primeira oferta na bolsa vindo somente em maio.
A imprensa noticiou que a Uber espera arrecadar cerca de 10 bilhões de dólares com as ações lançadas no mercado, além de obter uma valorização de 90 a 100 bilhões de dólares, segundo o jornal Wall Street Journal. O jornal americano também aposta que as ações devem ficar entre 48 e 55 dólares.
Com o IPO, Uber e Lyft se lançam na corrida por usuários e investidores — mas ainda continuarão longe da corrida pelo lucro.
12 abril 2019
11 abril 2019
Mais sobre a esposa do Ghosn
Via G1:
Carole Ghosn, mulher de Carlos Ghosn, está de volta ao Japão, onde deve ser ouvida pela Justiça na investigação sobre as suspeitas de fraudes que teriam sido cometidas pelo ex-presidente da aliança Nissan-Renault-Mitsubishi - informou seu advogado, François Zimeray, nesta quarta-feira (10).
Ela havia deixado o Japão no último fim de semana, depois da recente detenção do marido, afirmando que "se sentiu em perigo". Segundo diferentes jornais japoneses, porém, a Justiça queria interrogá-la.
[...]
De acordo com a agência de notícias Kyodo, o escritório do promotor de Tóquio suspeita que somas de dinheiro desviado teriam passado por uma empresa administrada por ela.
Carlos Ghosn foi preso em 4 de abril em Tóquio por novas suspeitas de crimes financeiros, um mês depois de ser libertado sob fiança.
Sua mulher, que estava presente quando foi preso, disse que voltou para a França, apesar de seu passaporte libanês ter sido confiscado pela polícia japonesa. Carole disse que usou seu outro passaporte, americano.
Carole Ghosn, mulher de Carlos Ghosn, está de volta ao Japão, onde deve ser ouvida pela Justiça na investigação sobre as suspeitas de fraudes que teriam sido cometidas pelo ex-presidente da aliança Nissan-Renault-Mitsubishi - informou seu advogado, François Zimeray, nesta quarta-feira (10).
Ela havia deixado o Japão no último fim de semana, depois da recente detenção do marido, afirmando que "se sentiu em perigo". Segundo diferentes jornais japoneses, porém, a Justiça queria interrogá-la.
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De acordo com a agência de notícias Kyodo, o escritório do promotor de Tóquio suspeita que somas de dinheiro desviado teriam passado por uma empresa administrada por ela.
Carlos Ghosn foi preso em 4 de abril em Tóquio por novas suspeitas de crimes financeiros, um mês depois de ser libertado sob fiança.
Sua mulher, que estava presente quando foi preso, disse que voltou para a França, apesar de seu passaporte libanês ter sido confiscado pela polícia japonesa. Carole disse que usou seu outro passaporte, americano.
TPM
Segundo o Google Analytics, 56% do nosso público é composto por mulheres. Esta é uma postagem "off topic", mas achei válida por demonstrar de uma forma bem sintetizada algo que acontece com a maioria de nós a cada ciclo menstrual. Haja fôlego!
09 abril 2019
Austeridade Fiscal: quando funciona?
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At the moment the consensus among economists seems to be that governments need to approach any fiscal consolidation with caution since they risk disrupting economic growth or making a recession worse, and should take care to balance spending cuts with tax increases. This book argues this approach is a mistake.The authors think that the evidence of various austerity programmes over the last four decades suggests that the negative impact of economic austerity on growth has been exaggerated. While tax hikes can indeed be bad for the economy, cuts in public spending can actually boost economic growth, by increasing confidence among investors that spending is under control. What’s more, austerity is far from the “political kiss of death” that many people believe it to be – voters are willing to back a government with the “courage” to make difficult sacrifices to get a country’s house in order.
[...]
Fonte: aqui
08 abril 2019
Crise da Replicação pode ser bom para a ciência
A discussão sobre a reprodução de pesquisas na ciência tem mostrado que diversos estudos (aqui, por exemplo) realizados no passado, publicados em periódicos científicos de excelência, apresentaram resultados forçados.
Há alguns anos um erro em uma planilha Excel foi descoberto graças a replicação de um trabalho.
Um texto do The Conversation afirma que a “crise da replicação” é boa para ciência. E apresenta diversos argumentos onde o esforço de replicação pode ajudar no progresso científico.
Alguns periódicos agora exigem que os cientistas disponibilizem seus dados e códigos de computador, o que torna mais provável que outros detectem erros em seu trabalho. Além do mais, alguns cientistas podem agora "pré-registrar" suas hipóteses antes de iniciar seu estudo - o equivalente a chamar sua chance antes de começar.
Combinado com o compartilhamento aberto de materiais e dados, o pré-registro melhora a transparência e a reprodutibilidade da ciência, assegurando que uma fração menor de estudos futuros não seja replicada.
Além disto, a discussão pode fazer com que os pesquisadores tenham uma visão melhor sobre os métodos usados. Recentemente, um grupo de cientistas defendeu o abandono da significância estatística.
A incrível possibilidade de que uma grande fração das descobertas de pesquisas publicadas possa ser apenas casual é exatamente o motivo pelo qual as pessoas falam da crise de replicação. Mas não é realmente uma crise científica, porque a consciência está trazendo melhorias na prática de pesquisa, novos entendimentos sobre inferência estatística e uma apreciação de que descobertas isoladas devem ser interpretadas como parte de um padrão maior.
Em vez de minar a ciência, sinto que isso está reafirmando as melhores práticas do método científico.
Há alguns anos um erro em uma planilha Excel foi descoberto graças a replicação de um trabalho.
Um texto do The Conversation afirma que a “crise da replicação” é boa para ciência. E apresenta diversos argumentos onde o esforço de replicação pode ajudar no progresso científico.
Alguns periódicos agora exigem que os cientistas disponibilizem seus dados e códigos de computador, o que torna mais provável que outros detectem erros em seu trabalho. Além do mais, alguns cientistas podem agora "pré-registrar" suas hipóteses antes de iniciar seu estudo - o equivalente a chamar sua chance antes de começar.
Combinado com o compartilhamento aberto de materiais e dados, o pré-registro melhora a transparência e a reprodutibilidade da ciência, assegurando que uma fração menor de estudos futuros não seja replicada.
Além disto, a discussão pode fazer com que os pesquisadores tenham uma visão melhor sobre os métodos usados. Recentemente, um grupo de cientistas defendeu o abandono da significância estatística.
A incrível possibilidade de que uma grande fração das descobertas de pesquisas publicadas possa ser apenas casual é exatamente o motivo pelo qual as pessoas falam da crise de replicação. Mas não é realmente uma crise científica, porque a consciência está trazendo melhorias na prática de pesquisa, novos entendimentos sobre inferência estatística e uma apreciação de que descobertas isoladas devem ser interpretadas como parte de um padrão maior.
Em vez de minar a ciência, sinto que isso está reafirmando as melhores práticas do método científico.
Estimativas Contábeis via Machine Learning
Resumo:
The progressive migration of financial reporting from the cost basis to fair values has created the need for a wide range of estimates to be included into the process. These values are in general clearly an improvement on obsolete cost based measurements but also create the possibility of self-serving manipulation of critical financial information. This study shows that critical estimates in one particular industry are quite weak and finds that the usage of a set of different algorithms including the ones used in machine learning to predict estimates produces far superior results.
Fonte: Ding, Kexing and Lev, Baruch Itamar and Peng, Xuan and Sun, Ting and Vasarhelyi, Miklos A., On Creating Accounting Estimates using Machine Learning (September 21, 2018). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=3253220 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3253220
[...]
To prove this I teamed up with a great group of ML experts at Rutgers University (Miklos Vasarhelyi, Kexing Ding, Xuan Peng, and Ting Sun). In the first research on the use of ML in accounting, we focus on property & casualty insurance companies. The reason: a major cost item of these companies is the “future loss estimate.” Explanation: For insurance policies written (earned) in a given year, the major cost item are the payments made on insurance claims (car accidents, home damage, etc.). But that’s not the end of the story. People can, and often do claim damages years later, like long-term effects of concussions. So, in addition to claims paid during the insured year, there will be claims to be paid in the future years (“insurance long tails”). Thus, a proper measurement of insurance companies’ earnings requires accounting for both claims paid during the year, and an estimate of future claims― “future loss estimates.” These are generally large estimates having a material effect on insurance companies’ reported earnings. We focus on these estimates in our ML research.
Summarizing, this is the first demonstration of the use of Machine Learning in improving the quality and reliability of financial information. In addition to insurance companies’ loss estimates, ML can be applied to a wide range of managerial accounting estimates, like the bad debt reserve, future payments on warranties, pension estimates, etc., etc. Very promising indeed, leading me to the final figure:
The progressive migration of financial reporting from the cost basis to fair values has created the need for a wide range of estimates to be included into the process. These values are in general clearly an improvement on obsolete cost based measurements but also create the possibility of self-serving manipulation of critical financial information. This study shows that critical estimates in one particular industry are quite weak and finds that the usage of a set of different algorithms including the ones used in machine learning to predict estimates produces far superior results.
Fonte: Ding, Kexing and Lev, Baruch Itamar and Peng, Xuan and Sun, Ting and Vasarhelyi, Miklos A., On Creating Accounting Estimates using Machine Learning (September 21, 2018). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=3253220 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3253220
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To prove this I teamed up with a great group of ML experts at Rutgers University (Miklos Vasarhelyi, Kexing Ding, Xuan Peng, and Ting Sun). In the first research on the use of ML in accounting, we focus on property & casualty insurance companies. The reason: a major cost item of these companies is the “future loss estimate.” Explanation: For insurance policies written (earned) in a given year, the major cost item are the payments made on insurance claims (car accidents, home damage, etc.). But that’s not the end of the story. People can, and often do claim damages years later, like long-term effects of concussions. So, in addition to claims paid during the insured year, there will be claims to be paid in the future years (“insurance long tails”). Thus, a proper measurement of insurance companies’ earnings requires accounting for both claims paid during the year, and an estimate of future claims― “future loss estimates.” These are generally large estimates having a material effect on insurance companies’ reported earnings. We focus on these estimates in our ML research.
In essence, we conducted a horse-race between managers’ annual loss estimates and the ML predictions of future claims, both compared to the actual claims paid over the subsequent 10 years. Humans, with all their frailties (manipulation) vs. machines, like former world chess champion Gary Kasparov playing against a computer.
[...]
By using ML, you can cut managers’ errors by more than a third! And this is just our initial run of ML predictions. Improvements are coming. (The third row in the table show the impact of one of our predictors―top management compensation. Without this key variable, the average error improvement decreases by 5-10%. Second vs. third rows).
Summarizing, this is the first demonstration of the use of Machine Learning in improving the quality and reliability of financial information. In addition to insurance companies’ loss estimates, ML can be applied to a wide range of managerial accounting estimates, like the bad debt reserve, future payments on warranties, pension estimates, etc., etc. Very promising indeed, leading me to the final figure:
07 abril 2019
Grandes cientistas
Na sua coluna semanal, Fernando Reinach comenta sobre o que seria um grande cientista (grifo nosso):
(...) Recentemente, usando esse método [de mais citações], a Clarivate Analytics elaborou uma lista dos 6.078 melhores cientistas entre os 9 milhões que existem na Terra. E entre os 6.078 estão alguns brasileiros que trabalham aqui na pátria amada. Não aguentei e fui ver quem era o mais citado do Brasil. Encontrei o nome de Álvaro Avezum, um cardiologista do Dante Pazzanese. Ele é o brasileiro com mais citações: 39.593 distribuídas em 237 trabalhos científicos. [Recentemente, o Valor Econômico deu destaque para esta lista, no seu caderno de final de semana]
Mas o que teria descoberto Álvaro Avezum para ser tão citado? Imediatamente fui atrás do seu trabalho científico mais citado. É um trabalho de 2004 publicado na Lancet, uma das melhores revistas científicas do mundo, talvez a melhor da área médica. Esse trabalho teve nada menos que 11.367 citações desde 2004. Para você ter uma ideia, o trabalho de Watson e Crick, publicado em 1953, relata talvez a mais importante descoberta do século 20, a estrutura do DNA. Esse trabalho, que rendeu um Prêmio Nobel aos dois, só acumulou 12.572 citações. Claro que fui ler o tão citado trabalho do brasileiro.
O trabalho é realmente importante. Foi ele que demonstrou que fumar, ter colesterol alto, diabete, sobrepeso e sedentarismo são fatores de risco para doenças cardiovasculares, principalmente enfarte do miocárdio. É com base nele que toda a prevenção de doenças cardiovasculares se baseia. E eu que não sabia que isso havia sido descoberto por um brasileiro! Mas vamos aos detalhes, que é onde o diabo se esconde.
A descoberta que esses fatores aumentam sua chance de enfartar foi feita na Europa bem antes desse trabalho ser iniciado. Mas como a amostra de pacientes só incluía europeus, um grupo de cientistas canadenses decidiu que era preciso estender essa observação para o resto da população mundial e resolveu repetir o estudo. Foi montada uma rede de cardiologistas em 262 centros de pesquisa em 52 países.
O trabalho consistia em selecionar pacientes que aparecessem no hospital sofrendo um enfarte do miocárdio. Para cada paciente era necessário um questionário e amostra de sangue e identificar uma pessoa com características semelhantes que não tivesse enfartado. O estudo coletou dados de 15.152 pacientes e 14.820 controles. Após longa análise, os canadenses concluíram que os resultados dos pacientes europeus valiam para todos.
Como esse trabalho envolveu médicos de todo o mundo, o número de autores no trabalho é enorme: são 415. Entre eles estão 19 brasileiros, e entre os brasileiros está Álvaro Avezum, que coordenou as atividades no Brasil. Mas qual foi a contribuição? Entre fevereiro de 1999 e março de 2003, eles enviaram dados de brasileiros para o Canadá. Cada um dos 19 cientistas brasileiros enviou dados de dois pacientes por mês, em média. Foi essa a contribuição brasileira.
É claro que essa não é a mais importante descoberta da ciência brasileira. Recentemente, um matemático do Rio ganhou a medalha Fields – o prêmio de matemática mais importante do Mundo. Esses 19 brasileiros colaboraram em um trabalho científico que se tornou importante, é verdade e louvável. Mas dizer que essa é a mais importante descoberta do mais importante cientista brasileiro é claramente um erro crasso de julgamento. Se realmente queremos avaliar cientistas de maneira justa vamos ter que voltar ao básico: grande cientista é quem faz grande descoberta e para isso é necessário entender a descoberta, sua importância e a contribuição do autor.
Outra situação interessante: um dos autores mais citados é Gujarati. O que fez ele? Escreveu um excelente de estatística. Muitos trabalhos científicos citam Gujarati para sustentar suas escolhas nos métodos.
(...) Recentemente, usando esse método [de mais citações], a Clarivate Analytics elaborou uma lista dos 6.078 melhores cientistas entre os 9 milhões que existem na Terra. E entre os 6.078 estão alguns brasileiros que trabalham aqui na pátria amada. Não aguentei e fui ver quem era o mais citado do Brasil. Encontrei o nome de Álvaro Avezum, um cardiologista do Dante Pazzanese. Ele é o brasileiro com mais citações: 39.593 distribuídas em 237 trabalhos científicos. [Recentemente, o Valor Econômico deu destaque para esta lista, no seu caderno de final de semana]
Mas o que teria descoberto Álvaro Avezum para ser tão citado? Imediatamente fui atrás do seu trabalho científico mais citado. É um trabalho de 2004 publicado na Lancet, uma das melhores revistas científicas do mundo, talvez a melhor da área médica. Esse trabalho teve nada menos que 11.367 citações desde 2004. Para você ter uma ideia, o trabalho de Watson e Crick, publicado em 1953, relata talvez a mais importante descoberta do século 20, a estrutura do DNA. Esse trabalho, que rendeu um Prêmio Nobel aos dois, só acumulou 12.572 citações. Claro que fui ler o tão citado trabalho do brasileiro.
O trabalho é realmente importante. Foi ele que demonstrou que fumar, ter colesterol alto, diabete, sobrepeso e sedentarismo são fatores de risco para doenças cardiovasculares, principalmente enfarte do miocárdio. É com base nele que toda a prevenção de doenças cardiovasculares se baseia. E eu que não sabia que isso havia sido descoberto por um brasileiro! Mas vamos aos detalhes, que é onde o diabo se esconde.
A descoberta que esses fatores aumentam sua chance de enfartar foi feita na Europa bem antes desse trabalho ser iniciado. Mas como a amostra de pacientes só incluía europeus, um grupo de cientistas canadenses decidiu que era preciso estender essa observação para o resto da população mundial e resolveu repetir o estudo. Foi montada uma rede de cardiologistas em 262 centros de pesquisa em 52 países.
O trabalho consistia em selecionar pacientes que aparecessem no hospital sofrendo um enfarte do miocárdio. Para cada paciente era necessário um questionário e amostra de sangue e identificar uma pessoa com características semelhantes que não tivesse enfartado. O estudo coletou dados de 15.152 pacientes e 14.820 controles. Após longa análise, os canadenses concluíram que os resultados dos pacientes europeus valiam para todos.
Como esse trabalho envolveu médicos de todo o mundo, o número de autores no trabalho é enorme: são 415. Entre eles estão 19 brasileiros, e entre os brasileiros está Álvaro Avezum, que coordenou as atividades no Brasil. Mas qual foi a contribuição? Entre fevereiro de 1999 e março de 2003, eles enviaram dados de brasileiros para o Canadá. Cada um dos 19 cientistas brasileiros enviou dados de dois pacientes por mês, em média. Foi essa a contribuição brasileira.
É claro que essa não é a mais importante descoberta da ciência brasileira. Recentemente, um matemático do Rio ganhou a medalha Fields – o prêmio de matemática mais importante do Mundo. Esses 19 brasileiros colaboraram em um trabalho científico que se tornou importante, é verdade e louvável. Mas dizer que essa é a mais importante descoberta do mais importante cientista brasileiro é claramente um erro crasso de julgamento. Se realmente queremos avaliar cientistas de maneira justa vamos ter que voltar ao básico: grande cientista é quem faz grande descoberta e para isso é necessário entender a descoberta, sua importância e a contribuição do autor.
Outra situação interessante: um dos autores mais citados é Gujarati. O que fez ele? Escreveu um excelente de estatística. Muitos trabalhos científicos citam Gujarati para sustentar suas escolhas nos métodos.
O que realmente deveríamos estudar na escola
Vimos a dica do vídeo no Instagram @conversacontabil.
No vídeo ela comenta que geralmente uma família elege uma pessoa para declarar o imposto de renda de todo mundo. Alguém se identifica?
Eu achei engraçado e ri um pouco da confusão...
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