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11 janeiro 2017

Resenha: Bull

É difícil resistir a uma boa série de televisão. Tem para todos os gostos: comédia, romântica, histórica, terror, ação etc. Nós, do blog contabilidade financeira, somos apaixonados por uma boa série. E no ano de 2016 tivermos diversas estreias, além daquelas que continuaram dos anos passados (Elementary, The Big Bang Theory e Longmire são algumas delas).

Billions, com Damien “Homeland” Lewis e nota no IMDB de 8,4, é sobre mercado financeiro, fraude e criminosos de terno. Chance, com Hugh “Doutor House” Laurie, é sobre um psiquiatra e tem IMDB de 7,9. Frequency é um policial que junta pai e filha que se comunicam no tempo (IMDB = 7,8) e é mais interessante que o resumo. Gilmore Girls é sobre o relacionamento entre mãe e filha, de volta após anos do seu encerramento, parece hoje mais cansativa (IMDB = 8,1). Shooter é uma série de ação, baseada no filme O Atirador, que fez sucesso no passado (IMDB = 7,8). Sweet Vicious é uma ação, comédia e suspense, que mostra duas garotas que se unem para combater estupros no campus de um colégio. É bem legalzinha e feminista (IMDB = 7,3). Good Behavior é sobre uma golpista, que termina por fazer uma parceria com um assassino; obviamente acontece um relacionamento entre eles (IMDB = 8,2). Lethal Weapon é uma série de ação, com toques de comédia, sobre dois policiais: um certinho e outro maluquinho. É baseado nos filmes Máquina Mortífera que fizeram sucesso no passado com Mel Gibson. O IMDB é de 7,9. Medici é uma série italiana, com a participação muito especial de Dustin Hoffman, sobre a família de Florença que é conhecida dos contadores por adotar, de forma inovadora, as partidas dobradas. A nota do IMDB é de 8,1 e vale a pena conferir. E tem The Crown, que consegue tornar interessante a vida da rainha Isabel (ou Elizabeth como conhecemos). Com um IMDB de 8,9 – um dos maiores para uma série – cada episódio é bem caprichado em termos de atuação, roteiro e cenário. O diálogo entre Churchill e Isabel, num dos últimos episódios da primeira temporada, sobre a confiança que a rainha deveria ter no seu primeiro ministro é o ponto alto de The Crown.

Em termos de nota, Bull é bem pior que as anteriores: IMDB de 6,7. Talvez seja aquela série que terá somente uma temporada. O Dr. Bull é um especialista no julgamento humano. Ele usa este conhecimento para vencer casos de júri. No décimo episódio, por exemplo, Bull ajuda uma empresa de automóveis sem motorista num crime contra seu funcionário: o automóvel atropelou o engenheiro que estava testando o protótipo. Dr. Bull ajuda a escolher o júri e cria estratégias para a condução do processo. Também ajuda a descobrir o culpado verdadeiro pelo crime. O que eu acho interessante na série é o fato de usar conceitos de psicologia; no episódio comentado, sua equipe descobre que a empresária estava mentindo pelo movimento dos pés e a quantidade de piscadas dos seus olhos.

A sua equipe possui especialistas em moda, tecnologia, direito e uma ex-agente do FBI. Acredito que a nota do IMDB esteja correta, já que o roteiro é meio forçado; apesar de dizer que é baseado na vida do famoso Dr. Phil, é difícil de acreditar que ele foi tudo isto. Além disto, a solução de cada episódio não é muito crível. Finalmente, nem todo mundo gosta de filme/serie de júri, que parece ser uma mania dos gringos.

Vale a Pena?
Se você busca uma série perfeita, não. Os defeitos de Bull são visíveis. Mas se por um acaso você quiser diversão com uma análise rasteira sobre a aplicação de conhecimentos de psicologia, eis a série.

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

10 janeiro 2017

Anuidade do CFC



O Conselho Federal de Contabilidade anunciou os novos valores da anuidade. Usando um indexador, o CFC corrigiu em torno de 6% o valor pago pelos cadastrados. No ano passado fizemos uma longa análise em relação a estes valores, que ainda permanece válida. A partir de 2006 a entidade fez uma distinção entre contador e técnico; quando se usa os valores corrigidos tem-se que o maior valor ocorreu em 2004 e o menor em 2002.

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09 janeiro 2017

Custo de entrada

Um texto do The Economist (via aqui) comenta sobre a redução do custo de entrada num mercado:

O que permite a uma startup mirar tão alto é o fato de as tecnologias digitais estarem reduzindo consideravelmente o custo de entrada em segmentos industriais até pouco tempo atrás dominados por gigantes corporativos. O fenômeno é particularmente significativo no tocante ao dispendioso e prolongado processo desenvolvimento de produtos. Entre os primeiros esboços e construção de protótipos em argila e, em seguida, a produção de componentes e a realização de testes, as montadoras de automóveis costumavam levar cinco anos ou mais para pôr um modelo novo no mercado. A coisa era igualmente demorada para as fabricantes de motocicletas.

Hoje em dia, com a ajuda de softwares de projeto 3D, técnicas de engenharia e sistemas de simulação, algumas montadoras dão conta do recado em apenas dois anos. O produto, tanto no caso de um carro, como de uma motocicleta ou até mesmo de um avião, ganha existência no mundo digital, onde pode ser esculpido e longamente testado antes de ganhar a concretude de um objeto real. Também é possível simular métodos de produção.


O texto analisa o caso da Vanguard, uma fabricante de motocicletas:

É essa a abordagem da Vanguard, que foi criada em 2013 pelo ex-consultor de empresas François-Xavier Terny e pelo projetista de motocicletas Edward Jacobs. Contando atualmente com apenas alguns poucos funcionários e sem dispor do volume de recursos das grandes fabricantes, a startup utilizou o software Solidworks, da francesa Dassault Systèmes, para projetar uma motocicleta digital antes de transformá-la numa máquina de verdade. Sistemas como esse vêm se beneficiando de preços cada vez baixos e performance crescente de poder computacional. “Em termos de ferramentas de projeto e engenharia, estamos no mesmo nível que as grandes do setor, coisa que teria sido impossível há dez anos”, diz Terny.

Os projetos digitais também franqueiam um acesso mais ágil e descomplicado aos fornecedores globais, permitindo que eles ofereçam seus melhores preços para as peças de que a fabricante precisa. Os arquivos do projeto podem ser enviados por e-mail para uma vasta rede de firmas de engenharia que oferecem serviços online.


O elevado custo de entrada funcionava como uma "barreira" para os concorrentes. A barreira pode ser legal (como é o caso do serviço de táxi) ou do volume de investimento exigido, como é o caso da empresa de motocicletas. Se isto ocorre neste setor, área similares também devem sofrer o mesmo impacto, como é o caso da produção de automóveis.

CGU e a corrupção

Os esquemas de corrupção tendem a prosperar em situações nas quais a presença de instrumentos de controle são frágeis. Caso estes controles estejam presentes, torna-se necessário enfraquecer ou se apossar deles. Isso ocorreu durante o governo Collor, que enfraqueceu os controles internos da área pública.

Uma notícia do jornal O Estado de S Paulo parece indicar que também é o caso da corrupção durante o governo Lula-Dilma. Um e-mail de Marcelo Odebrecht, o executivo mais relevante da principal empresa corruptora, apresenta indícios disso:

“Chefe, (...) não sei se você conhece Luiz Navarro, secretário executivo da Controladoria-Geral da União. A pessoa dele comandou de forma efetiva a CGU, e penso que isso é reconhecido dentro e fora do órgão. Acho que vale a pena você recebê-lo para avaliar como ele poderia se ajustar em espaços do novo governo”


O e-mail era direcionado para Palocci. Navarro não somente foi mantido no cargo, como no ano seguinte foi promovido a chefia da CGU e no ano passado foi nomeado para a Comissão de Ética da Presidência da República.

É interessante notar que a CGU teve e está tendo um papel secundário no processo de investigação dos problemas que ocorreram na administração pública federal nos últimos anos. (Dias atrás vi um automóvel destacando o papel da CGU no combate a corrupção. Os dizeres eram o mesmo da fotografia ilustrada aqui.)

Blogs de Contabilidade: Contabilidade Etc



Acabamos de descobrir que mais um blog de contabilidade foi criado, o Contabilidade Etc. O autor é o professor doutor Edilson Paulo da Universidade Federal da Paraíba. Para saber mais, clique aqui e leia a apresentação.

Vida longa ao Contabilidade Etc! E bem vindo ao grupo de contadores blogueiros.

Rir é o melhor remédio

Segundos antes da felicidade

08 janeiro 2017

Listas: Atores mais bem pagos no Prêmio Globo de Ouro

O Prêmio Globo de Ouro  está no ar e enquanto esperamos a melhor parte – a apresentação dos auditores – vamos a algumas listas.

Os atores nominados mais ricos:

Apenas três dos indicados estão dentre os atores mais bem pagos: Amy Adams, Julia Louis-Dreyfus e Kerry Washington.

Adams: US$13,5 milhões

Washington: 13,5 milhões

Louis-Dreyfus: US$ 7,5 milhões

A base foi a lista de atores mais bem pagos e 2016 de acordo com a revista Forbes.

História da Contabilidade: Ensinando contabilidade em meados do século XIX

No final de 1857 a cidade de São Paulo tinha menos de 30 mil habitantes e se concentrava na região da República, Sé e Brás (1). Mesmo com este número reduzido, já existiam jornais diários na cidade, assim como intensa atividade comercial. No final de dezembro de 1857 o Correio Paulistano publicou um anúncio extenso de J. A. T. Romeiro, que oferecia seus préstimos para ensinar contabilidade (2). O título era o seguinte: “J. A. T. Romeiro, guarda livros da caixa filial do banco do Brasil em S. Paulo”. Este banco do Brasil corresponde a instituição financeira de mesmo nome que conhecemos nos dias de hoje. Tinha matriz na capital, o Rio de Janeiro, e provavelmente uma das suas maiores filiais estava localizada em São Paulo. Observe que Romeiro informa ser “guarda livros”, a antiga denominação do profissional contábil.

O primeiro parágrafo apresentava o seguinte trecho (3):

Ensina teoria e pratica de escrituração por partidas dobradas; e de contabilidade aplicada especialmente as operações comerciais, não só em relação aos mercados do Brasil, mas ainda as praças estrangeiras, segundo seu sistema monetário, usos, medidas e câmbios.

Com respeito ao trecho é importante destacar que apesar do país ainda ter sua economia baseada na agricultura e extrativismo, a principal utilização da contabilidade era na atividade comercial. Neste ponto se destacava o comércio com o exterior. Daí a importância de saber o câmbio e entender o que acontecia nas “praças estrangeiras”, denominação da época para as cidades estrangeiras. Isto também aparece no texto acima sob a forma do termo “contabilidade aplicada especialmente as operações comerciais”. Para isto, saber o câmbio e a conversão de medidas era bastante útil. Também é interessante notar que Romeiro apresentava como um professor da teoria e da prática; era importante para o profissional “saber como fazer”, ou seja, ter a noção da prática. Finalmente, Romeiro ensinava as partidas dobradas. Nos dias de hoje é praticamente inconcebível entender a contabilidade sem associar com o lançamento a débito e a crédito. Mas o método veneziano não foi absorvido por todos e em todas as situações. Era muito comum naquela época a utilização das “partidas simples”; esta forma de contabilização era usada na contabilidade pública, por exemplo. Assim, Romeiro avisa que sabe as partidas dobradas, mais comum no comércio.

No parágrafo seguinte do anúncio tem-se:

A pratica gradual de uma escrituração suposta abrangendo o desenvolvimento progressivo de uma casa comercial, dada a grande variedade de especulações durante as diversas gerencias pessoais e sociais até dissolver-se e liquidar-se; e seguidamente a mesma prática, já aperfeiçoada, dirigindo-a as operações de um estabelecimento bancário adstrito a sua lei orgânica: servirá de lição clara e correta – auxiliada pela explicação das regras, pelas fórmulas a seguir nos livros, pela praxe mais geralmente admitida e sobretudo pelas prescrições do código comercial brasileiro.

Romeiro indica neste parágrafo seu método de ensino: através de uma situação simulada, onde o aluno irá trabalhar em exemplos de um comércio, da sua constituição até sua dissolução e liquidação. Nada muito diferente do que temos nos dias de hoje em sala de aula. A seguir, usando também de exemplos fictícios, ensina o que denominamos de contabilidade bancária; nada de se espantar, já que o professor era guarda livros de um estabelecimento deste tipo. Tudo isto é realizado conforme inclusive a prática contábil geralmente usada na época, mas especialmente o código comercial. A adequação da contabilidade as normas legais são bastante antigas, portanto. Continua o anúncio:

Há bem poucos anos, talvez, um semelhante liceu na cidade de S Paulo, fosse considerado supérfluo, estéril e até exótico; hoje, aqueles que raciocinam sobre o progresso da indústria no Brasil e se felicitam de ver o credito territorial e o sistema bancário ramificando-se pelo país e expandindo seus benefícios, reconhecem que a mocidade carece de ser habilitada no estudo e trato mercantil, ao qual é chamada tanto pelas felizes disposições da atualidade como pela insinuação repercutida da tribuna, da imprensa e da administração pública, e que por conseguinte, este meu propósito é tão oportuno quanto pode ser útil.

Gostaria de destacar que o termo “indústria” não corresponde necessariamente a imagem que temos nos dias de hoje, mas muito mais a setor econômico, como é o caso do comércio. Romeiro enfatiza a relevância da proposta. E continua

O método que adotei está estoado (4) de todas as antigualhas e preceitos difusos ou impertinentes: na aplicação aos exercícios bancários alongo-me a apreciar os balanços das diversas instituições de crédito, os orçamentos do império, a riqueza e recursos financeiros de diversos estados e análise de trabalhos estatísticos: de sorte que este ensino compreenda os conhecimentos que se requerem em um guarda-livros ou um funcionário público e os que convém geralmente a gerencia de estabelecimentos de ordem superior.

Observe que Romeiro não somente ensina contabilidade bancária como também orçamento público – já que o governo se vale de empréstimos para financiar suas despesas – assim como análise de dados. No texto acima, Romeiro destaca, portanto, que o ensino é prático, não voltado para assuntos de pouco importância. A seguir, sob o título de Condições, ele destaca os termos do ensino:

Oito mil reis mensais, pagos adiantados.
Duas sessões de ensino em cada semana, nos dias quartas e sábados, começando as 4 horas da tarde.
Às quintas-feiras, para as pessoas que tendo luzes do sistema de escrituração queiram exercitar-se numa determinada aplicação.
Abrem-se as lições no dia 3 de janeiro de 1858; as pessoas que quiserem frequentá-las são rogadas a inscrever-se até este dia, na casa do anunciante, rua da Constituição.

Observe que naquela época não existia luz elétrica. Assim, as aulas começavam no final da tarde e provavelmente avançavam até as seis/sete horas da noite. Também é interessante que o início do calendário era bem cedo no ano: início de janeiro. Como o curso poderia servir para aqueles que já tinham seus negócios, Romeiro faz um alerta interessante:

Para os comerciantes de grande ou pequeno negócio, que desejarem seguir em suas casas a escrita de partidas dobradas = como, sendo aquela que lhes pode mostrar rapidamente o ativo e o passivo isento de erros: ofereço-lhes formar os métodos elaborados conforme o maneio que praticam, representando por algarismos arbitrários os verdadeiros, para ser a escrituração feita por seus caixeiros, escusando-me assim de tomar conhecimento dos haveres reais de suas casas.

Mais adiante ele afirma que:

Escusado parece, mas sempre é bom dizer: que sendo eu empregado em um estabelecimento onde a indiscrição é uma incapacidade destruidora de todos os merecimentos pessoais, pode o meu comitente ter a segurança de que seus negócios não ficarão expostos a esta repreensível veleidade.

Ou seja, não irá usar as informações do curso no seu trabalho de guarda-livros do banco.


(1) Este número refere-se ao censo de 1872, ou seja, quinze anos depois. Veja o histórico demográfico da cidade em http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1872.php
(2) Correio Paulistano, 19 de dezembro de 1857, ano IV, n. 506, p. 4.
(3) Adaptei a grafia da época, para tornar a leitura mais agradável.
(4) Não consegui encontrar o significado desta palavra, mas antigualhas corresponde a antiguidade.

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