Depois de anos de tentativa de convergência, através da adoção das normas internacionais (IFRS) pelos Estados Unidos, o contador chefe da SEC, Schnurr (foto), a entidade correspondente a CVM naquele país, afirmou que provavelmente não irá recomendar a adoção das IFRS ou que empresas dos EUA possam escolher estes padrões.
Estas afirmações ocorreram durante a 14ª. conferência anual do Baruch College, na cidade de Nova Iorque. Segundo suas palavras:
“there is little support for the SEC to provide an option allowing [U.S. public] companies to prepare their financial statements under IFRS.”
Desde 2007 as empresas estrangeiras com ações nos Estados Unidos podem preparar suas demonstrações usando as IFRS sem precisar fazer um conciliação com as normas dos Estados Unidos. Mas segundo Schnurr “there does seem to be continued support for the objective of a single set of high-quality globally accepted accounting standards.” Quando Schnurr foi contratado, a presidenta da SEC solicitou uma recomendação sobre a incorporação ou não das IFRS no mercado de capitais dos Estados Unidos. Inicialmente a posição de Schnurr parecia contraria ao documento da SEC de 2012, que tinha pesadas críticas ao Iasb.
É importante destacar que as palavras de Schnurr inclui o termo “provavelmente”. A recomendação definitiva deve levar um pouco mais de tempo.
11 maio 2015
10 maio 2015
História da Contabilidade: Aula do Commércio no Brasil 2
O método das partidas dobradas só chegou a Portugal com a criação da Aula do Comércio, em meados do século XVIII. No ínicio do século XIX, as tropas de Napoleão invadem Portugal e o rei Dom João VI decidi mudar a corte para o Brasil. Junto com a corte, chegam ao Brasil profissionais formados na escola criada anos antes pelo Marques de Pombal.
A pergunta que iremos responder nesta postagem é o que ocorreu com a Aula de Comércio. Em 23 de agosto de 1808 o príncipe Regente cria o Tribunal da Real Junta do Commercio Agricultura, Fabricas e Navegação (1). Esta Junta seguia os moldes daquela criada em Portugal em 30 de setembro de 1755, sendo um tribunal superior (2). No decreto de criação original estava previsto a preparação dos alunos nas práticas contábeis e mercantis, através da Aula de Comércio (3). Vianna, em 1843, afirmava, sobre a Junta (4):
“(...) Ela ocupa-se hoje da matrícula dos negociantes; tem a inspeção da Aula do Comércio; manda passar certidões; e consulta quando lhe é ordenado (...). As justificativas dos negociantes podem ser feitas perante os juízes territoriais; e as provisões passadas na Corte pela Secretaria do Império, e nas Províncias pelos respectivos Presidentes: a Aula do Comércio lucrará com a direção do Ministro do Império, enquanto não é criada a Universidade; e depois do estabelecimento do Conselho de Estado, a este compete consultar em todos os negócios.
Quando da criação da Junta no Brasil em 1808 não estava previsto a criação da Aula de Comércio no país, mas informava que a Junta deveria regular sobre a matéria em Portugal (5). Entretanto, o Alvará de 15 de julho de 1809 dispunha:
Eu o Principe Regente faço saber aos que o presente Alvará com força de lei virem, que, sendo-me presente em Consulta da Real Junta do Commercio, Agricultura, fabricas e Navegação deste Estado e Dominios Ultramarinos:que havendo eu creado este Tribunal com o designio de fazer prosperar estes objectos de sua incumbencia para augmento da felicidade publica, era de absoluta necessidade, que elle tivesse rendimentos proprios e bastantes, não só para o pagamento dos Deputados e Officiaes empregados no seu expediente, mas tambem e principalmente para as despezas que for necessario e conveniente fazer-se, já para a construcção de uma Praça de Commercio, onde se ajuntem os Commerciantes a tratar das suas transacções e emprezas mercantis, ja para o estabelecimento de Aulas de Commercio, em que se vão doutrinar aquelles dos meus vassallos, que quizerem entrarnesta util profissão, instruidos nos conhecimentos proprios della; (...) (6)
O Edital de 15 de dezembro de 1812 promoveu o concurso de lentes no Brasil, em particular na Bahia, Maranhão e Pernambuco (7), além da capital.
O primeiro lente da Aula no Rio de Janeiro foi Jose Antonio Lisboa (8), desde 1808, sendo o porteiro José Antonio d´Araujo Gomes (9). De Salvador foi Genuino Barboza Bettamio (10), do Maranhão era Francisco Justiniano da Cunha (11). Lisboa, por sinal, seria eleito deputado, com 221 votos (12).
No Maranhão as aulas foram suspensas em 1820 em razão da incapacidade do lente que resultou na falta de alunos (13).
A Aula de Comércio tinha conteúdos de princípios de geometria plana, geografia, economia política, aritmética, álgebra, comércio e escrituração, sendo que estes quatro últimos estavam previstos na Aula de Comércio portuguesa e os três primeiros foram uma inovação da filial brasileira (14). O curso estava estruturado da seguinte maneira (15):
1º ano: aritmética, álgebra, regra conjunta;
2º ano: geometria, geografia, comércio (que compreende agricultura, mineração, artes mecânicas, fontes, artes liberais, pesca e caça, colônias, navegação, moedas, câmbios, seguros, leis gerais, usos, máximas, meios);
3º ano: escrituração, economia política.
É importante salientar que a própria chegada da Família Real também trouxe profissionais formados em Lisboa, na Real Aula do Commercio (16). Um aspecto interessante é que a inscrição na Aula do Commercio era, até certo ponto, democrática, aberta as “todas as pessoas” (17).
Quantos eram os alunos da escola? Temos poucas informações sobre este fato, mas uma notícia de um jornal de Coimbra informa que a escola da Bahia apresentava 26 alunos (18).
(1) Alvará de 23 de Agosto de 1808 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_37/alvara_2308.htm
(2) CABRAL, Dilma. Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362
(3) Idem.
(4) Citado por LOPES, Walter de Mattos. A Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas e Navegação deste Estado do Brazil e seus Dominios Ultramarinos: um tribunal de antigo regime na Corte de Dom João (1808-1821). Dissertação. UFF, 2009. http://www.historia.uff.br/stricto/td/1339.pdf
(5) Vide verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362
(6) http://www2.camara.leg.br/legin/fed/alvara/anterioresa1824/alvara-40084-15-julho-1809-571756-publicacaooriginal-94875-pe.html Grifo do blog
(7) Verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362 . Lente é professor de nível secundário.
(8) Lisboa merece um destaque. Segundo Cabral http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362 era formado em matemática e filosofia pela Universidade de Coimbra e chegou ao cargo de presidente do Tesouro Público do Rio de Janeiro. Em razão do seu cargo, elaborou o Código de Comércio de 1832.
(9) Conforme Almanach do Rio de Janeiro, 1816, p. 152. Apesar de ser impresso em 1816, a informação refere-se ao ano 1808.
(10) Ide, p. 156. O nome correto é “Aula do Commercio da Bahia”. Lembrando que o nome da cidade de Salvador se confundia, e ainda confunde, com Bahia.
(11) Idem, p. 157.
(12) Gazeta do Rio de Janeiro, 14 de abr de 1821, ed 87, p. 3.
(13) Verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362 .
(14) Idem
(15) Idem
(16) Em 1812 tem-se o seguinte anúncio na Gazeta do Rio de Janeiro: Hum sugeito capaz, aprovado pela Real Aula do Commercio de Lisboa, se offerece ao respeitavel publico, para ensinar por cazas as primeiras letras, Arithmetica, e arranjo de contas, com o melhor methodo possivel, e por preços commodos. Quem se quiser aproveitar do seu prestimo, dirija-se á loja de Manoel Mandillo defronte da Capella Real. Gazeta do Rio de janeiro, 28 de outubro de 1812, ed. 87, p. 8. Dois anos depois, a Idade D´ouro, de Salvador, apresentava um classificado similar: Lucas Maria Xavier Leal, aprovado pela Real Aula do Commercio em Lisboa, propõem-se nesta Cidade a ensinar a mocidade (...). Idade d´ouro, 2 de agosto de 1814, ed 61, p. 4.
(17) “O Lente da Aula do Commercio desta Praça [Salvador], participa ao Publico, que todas as pessoas, que desejarem matricular-se naquela Aula, poderão requerer as suas respectivas matriculas ao Tribunal da Meza da Inspecçao desta Cidade (...)”. Idade d´Ouro, 21 de março de 1815, ed 23, p. 4
(18) Jornal de Coimbra, ed 14, p. 41, 1818, n LXII. É importante observar que estes dados são provavelmente de 1816. Observe que a população brasileira em 1815 foi estimada entre 2,8 milhões a 4,4 milhões, sendo 3/5 homens livres. Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/1550_1870.shtm. Quase metade da população vivia no Nordeste, conforme ABREU, Marcelo; LAGO, Luiz. A economia brasileira no Império. http://www.econ.puc-rio.br/pdf/td584.pdf.
A pergunta que iremos responder nesta postagem é o que ocorreu com a Aula de Comércio. Em 23 de agosto de 1808 o príncipe Regente cria o Tribunal da Real Junta do Commercio Agricultura, Fabricas e Navegação (1). Esta Junta seguia os moldes daquela criada em Portugal em 30 de setembro de 1755, sendo um tribunal superior (2). No decreto de criação original estava previsto a preparação dos alunos nas práticas contábeis e mercantis, através da Aula de Comércio (3). Vianna, em 1843, afirmava, sobre a Junta (4):
“(...) Ela ocupa-se hoje da matrícula dos negociantes; tem a inspeção da Aula do Comércio; manda passar certidões; e consulta quando lhe é ordenado (...). As justificativas dos negociantes podem ser feitas perante os juízes territoriais; e as provisões passadas na Corte pela Secretaria do Império, e nas Províncias pelos respectivos Presidentes: a Aula do Comércio lucrará com a direção do Ministro do Império, enquanto não é criada a Universidade; e depois do estabelecimento do Conselho de Estado, a este compete consultar em todos os negócios.
Quando da criação da Junta no Brasil em 1808 não estava previsto a criação da Aula de Comércio no país, mas informava que a Junta deveria regular sobre a matéria em Portugal (5). Entretanto, o Alvará de 15 de julho de 1809 dispunha:
Eu o Principe Regente faço saber aos que o presente Alvará com força de lei virem, que, sendo-me presente em Consulta da Real Junta do Commercio, Agricultura, fabricas e Navegação deste Estado e Dominios Ultramarinos:que havendo eu creado este Tribunal com o designio de fazer prosperar estes objectos de sua incumbencia para augmento da felicidade publica, era de absoluta necessidade, que elle tivesse rendimentos proprios e bastantes, não só para o pagamento dos Deputados e Officiaes empregados no seu expediente, mas tambem e principalmente para as despezas que for necessario e conveniente fazer-se, já para a construcção de uma Praça de Commercio, onde se ajuntem os Commerciantes a tratar das suas transacções e emprezas mercantis, ja para o estabelecimento de Aulas de Commercio, em que se vão doutrinar aquelles dos meus vassallos, que quizerem entrarnesta util profissão, instruidos nos conhecimentos proprios della; (...) (6)
O Edital de 15 de dezembro de 1812 promoveu o concurso de lentes no Brasil, em particular na Bahia, Maranhão e Pernambuco (7), além da capital.
O primeiro lente da Aula no Rio de Janeiro foi Jose Antonio Lisboa (8), desde 1808, sendo o porteiro José Antonio d´Araujo Gomes (9). De Salvador foi Genuino Barboza Bettamio (10), do Maranhão era Francisco Justiniano da Cunha (11). Lisboa, por sinal, seria eleito deputado, com 221 votos (12).
No Maranhão as aulas foram suspensas em 1820 em razão da incapacidade do lente que resultou na falta de alunos (13).
A Aula de Comércio tinha conteúdos de princípios de geometria plana, geografia, economia política, aritmética, álgebra, comércio e escrituração, sendo que estes quatro últimos estavam previstos na Aula de Comércio portuguesa e os três primeiros foram uma inovação da filial brasileira (14). O curso estava estruturado da seguinte maneira (15):
1º ano: aritmética, álgebra, regra conjunta;
2º ano: geometria, geografia, comércio (que compreende agricultura, mineração, artes mecânicas, fontes, artes liberais, pesca e caça, colônias, navegação, moedas, câmbios, seguros, leis gerais, usos, máximas, meios);
3º ano: escrituração, economia política.
É importante salientar que a própria chegada da Família Real também trouxe profissionais formados em Lisboa, na Real Aula do Commercio (16). Um aspecto interessante é que a inscrição na Aula do Commercio era, até certo ponto, democrática, aberta as “todas as pessoas” (17).
Quantos eram os alunos da escola? Temos poucas informações sobre este fato, mas uma notícia de um jornal de Coimbra informa que a escola da Bahia apresentava 26 alunos (18).
(1) Alvará de 23 de Agosto de 1808 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_37/alvara_2308.htm
(2) CABRAL, Dilma. Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362
(3) Idem.
(4) Citado por LOPES, Walter de Mattos. A Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas e Navegação deste Estado do Brazil e seus Dominios Ultramarinos: um tribunal de antigo regime na Corte de Dom João (1808-1821). Dissertação. UFF, 2009. http://www.historia.uff.br/stricto/td/1339.pdf
(5) Vide verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362
(6) http://www2.camara.leg.br/legin/fed/alvara/anterioresa1824/alvara-40084-15-julho-1809-571756-publicacaooriginal-94875-pe.html Grifo do blog
(7) Verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362 . Lente é professor de nível secundário.
(8) Lisboa merece um destaque. Segundo Cabral http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362 era formado em matemática e filosofia pela Universidade de Coimbra e chegou ao cargo de presidente do Tesouro Público do Rio de Janeiro. Em razão do seu cargo, elaborou o Código de Comércio de 1832.
(9) Conforme Almanach do Rio de Janeiro, 1816, p. 152. Apesar de ser impresso em 1816, a informação refere-se ao ano 1808.
(10) Ide, p. 156. O nome correto é “Aula do Commercio da Bahia”. Lembrando que o nome da cidade de Salvador se confundia, e ainda confunde, com Bahia.
(11) Idem, p. 157.
(12) Gazeta do Rio de Janeiro, 14 de abr de 1821, ed 87, p. 3.
(13) Verbete Aula de Comércio da Corte do Mapa Memória da Administração Pública Brasileira do Ministério de Justiça http://linux.an.gov.br/mapa/?p=362 .
(14) Idem
(15) Idem
(16) Em 1812 tem-se o seguinte anúncio na Gazeta do Rio de Janeiro: Hum sugeito capaz, aprovado pela Real Aula do Commercio de Lisboa, se offerece ao respeitavel publico, para ensinar por cazas as primeiras letras, Arithmetica, e arranjo de contas, com o melhor methodo possivel, e por preços commodos. Quem se quiser aproveitar do seu prestimo, dirija-se á loja de Manoel Mandillo defronte da Capella Real. Gazeta do Rio de janeiro, 28 de outubro de 1812, ed. 87, p. 8. Dois anos depois, a Idade D´ouro, de Salvador, apresentava um classificado similar: Lucas Maria Xavier Leal, aprovado pela Real Aula do Commercio em Lisboa, propõem-se nesta Cidade a ensinar a mocidade (...). Idade d´ouro, 2 de agosto de 1814, ed 61, p. 4.
(17) “O Lente da Aula do Commercio desta Praça [Salvador], participa ao Publico, que todas as pessoas, que desejarem matricular-se naquela Aula, poderão requerer as suas respectivas matriculas ao Tribunal da Meza da Inspecçao desta Cidade (...)”. Idade d´Ouro, 21 de março de 1815, ed 23, p. 4
(18) Jornal de Coimbra, ed 14, p. 41, 1818, n LXII. É importante observar que estes dados são provavelmente de 1816. Observe que a população brasileira em 1815 foi estimada entre 2,8 milhões a 4,4 milhões, sendo 3/5 homens livres. Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/1550_1870.shtm. Quase metade da população vivia no Nordeste, conforme ABREU, Marcelo; LAGO, Luiz. A economia brasileira no Império. http://www.econ.puc-rio.br/pdf/td584.pdf.
Profissão: mãe
Uma mulher chamada Ana foi renovar sua carteira de motorista. Pediram-lhe para informar qual era sua profissão. Ela hesitou, sem saber como se classificar.
– O que eu pergunto é se tem algum trabalho, insistiu o funcionário.
– Claro que tenho um trabalho, exclamou Ana. Sou mãe, disse.
– Nós não consideramos mãe um trabalho. Vou colocar dona de casa, disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.
– Qual é a sua ocupação, perguntou.
Não sei o que me fez dizer isto. As palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:
– Sou Doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas, falei à funcionária.
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar pra o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
– Posso perguntar disse-me ela com novo interesse: o que faz exatamente?
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:
– Desenvolvo um programa de longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda?). O grau de exigência é a nível de 14 horas por dia (para não dizer 24).
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária, que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente abriu-me a porta. Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe: uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 5. Do andar de cima, pude ouvir meu novo experimento – um bebê de seis meses – testando uma nova tonalidade de voz. Senti-me triunfante!
Maternidade… Que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas doutora-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas, as bisavós doutora-executiva-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas e as tias doutora-assistente.
Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras, doutoras na arte de fazer a vida melhor!
– O que eu pergunto é se tem algum trabalho, insistiu o funcionário.
– Claro que tenho um trabalho, exclamou Ana. Sou mãe, disse.
– Nós não consideramos mãe um trabalho. Vou colocar dona de casa, disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.
– Qual é a sua ocupação, perguntou.
Não sei o que me fez dizer isto. As palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:
– Sou Doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas, falei à funcionária.
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar pra o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
– Posso perguntar disse-me ela com novo interesse: o que faz exatamente?
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:
– Desenvolvo um programa de longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda?). O grau de exigência é a nível de 14 horas por dia (para não dizer 24).
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária, que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente abriu-me a porta. Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe: uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 5. Do andar de cima, pude ouvir meu novo experimento – um bebê de seis meses – testando uma nova tonalidade de voz. Senti-me triunfante!
Maternidade… Que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas doutora-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas, as bisavós doutora-executiva-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas e as tias doutora-assistente.
Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras, doutoras na arte de fazer a vida melhor!
09 maio 2015
Fato da Semana (19 de 2015)
Fato da Semana: Os reguladores parecem que entraram em ação. De um lado, a CVM tomou medidas com respeito a Eletrobras e a Petrobras. A empresa de energia elétrica tomou decisões contrária a entidade e favorável ao controlador. Já a investigação da petrolífera atinge os conselheiros e suas decisões ruins. Por outro lado, o TCU resolveu multar a Caixa Econômica Federal por registrar como resultado os valores de contas "inativas". O TCU questionou o conceito de receita adotado pela Caixa e os efeitos sobre o resultado da entidade. A atuação do TCU é o início da condenação das pedaladas fiscais.
Qual a relevância disto? A inércia dos reguladores é muito ruim para o ambiente de negócios em qualquer país. As autoridades colocam ordem no mercado e fazem respeitar contratos. Em ambos os casos, o controlador é o mesmo, o próprio governo. A CVM trabalhou na governança corporativa; a discussão do TCU refere-se ao próprio conceito de ativo. Básico e simples, mostrando a importância da estrutura conceitual.
Positivo ou Negativo – Positivo.
Desdobramentos – Acredito que a CVM ainda tem muito o que fazer com o que está ocorrendo com a Petrobras. E a discussão sobre responsabilidade ainda irá para o campo político. Já o TCU está sinalizando que ainda irá analisar com cuidado as pedaladas fiscais.
Qual a relevância disto? A inércia dos reguladores é muito ruim para o ambiente de negócios em qualquer país. As autoridades colocam ordem no mercado e fazem respeitar contratos. Em ambos os casos, o controlador é o mesmo, o próprio governo. A CVM trabalhou na governança corporativa; a discussão do TCU refere-se ao próprio conceito de ativo. Básico e simples, mostrando a importância da estrutura conceitual.
Positivo ou Negativo – Positivo.
Desdobramentos – Acredito que a CVM ainda tem muito o que fazer com o que está ocorrendo com a Petrobras. E a discussão sobre responsabilidade ainda irá para o campo político. Já o TCU está sinalizando que ainda irá analisar com cuidado as pedaladas fiscais.
Salário Mínimo: Comparações Internacionais
Saiu no Conversable Economist (por Timothy Taylor)
How do minimum wages around world compare, and how have they changed in the last few years? The OECD offers an overview in a May 2015 FOCUS report called "Minimum wages after the crisis: Making them pay."
As a starting point, here's the minimum wage relative to median income in various countries. The blue diamonds show the proportion in 2007; the orange triangles show the proportion in 2013. The minimum wage stayed the same or rose in most countries, with a few exceptions like Ireland, Greece, and Spain. The US would have ranked lowest in ratio of minimum wage to median wage in 2007 (lowest blue diamond), but ranks third-lowest after the recent increases. Of course, some will see this relatively low level as cause for concern, while others will see it as cause for congratulation. The minimum wage as a share of income for Colombia may be misleading because it applies only to workers in the "formal" sector of the economy, and those in the informal sector would on average have lower wages.
As a different metric, how many hours does a person need to work at a minimum wage job before they reach total earnings of half the minimum income? The calculation here includes an adjustment for payroll and income taxes paid, as well as for other cash benefits being scaled back. The orange bars show the number of hours for a single parent with two children; the blue diamonds show the number of hours for a single-earner, two-parent couple with two children. Of course, assumptions about the number of hours a person would need to work at a minimum wage job are based on the assumption that such a job is in fact available.
Finally, what share of workers is actually paid the minimum wage? Of course, this information gives a sense of how many workers would be directly affected by altering the minimum wage. The orange bars show the share of workers getting the minimum wage by country (based on differing data sources), while the blue triangles are a reminder of the minimum wage as a percentage of the median wage in each country. One would expect that countries with a high minimum wage would tend to have more workers receiving the minimum wage, but that pattern doesn't always hold. For example, the share of the population in Greece and in Portugal being paid the minimum wage in those countries is lower than in the US, although the minimum wage in those countries is a higher share of median income.
08 maio 2015
Contador promovido a novo CEO da Alibaba
Saiu na Bloomberg:
Um ex-contador pode ser justamente o que a Alibaba precisa em um diretor financeiro
Jack Ma admite ter dito uma vez:
“Não há nada mais temeroso que um diretor financeiro fingindo ser um CEO”.
Ter um diretor financeiro no comando pode ser exatamente o que a Alibaba Group precisa. Em 10 de maio, Daniel Zhang assumirá o posto de CEO da empresa chinesa. Ao indicar Zhang, que substitui Jonathan Lu, a Alibaba sinaliza que está focada nos fundamentos em um momento em que procura se resignar com uma perda de até US$ 90 bilhões em seu valor de mercado nos últimos seis meses.
Zhang, 43, ingressou há oito anos como diretor financeiro da Taobao Marketplace, pertencente ao grupo, e foi subindo até se tornar diretor de operações da Alibaba, em 2013. Conhecido por seu estilo tranquilo e sereno, ele ajudou a construir as plataformas de comércio eletrônico da Alibaba e a inventar o Dia dos Solteiros, uma promoção de compras realizada em 11 de novembro que rende o melhor dia de vendas da empresa e que agora foi adotada por outras empresas chinesas.
A nomeação surge em um momento crucial. A Alibaba está lidando com a desaceleração da economia chinesa e com a maior concorrência de outras empresas de comércio online. A empresa anunciou o congelamento das contratações na semana passada dizendo que o objetivo é impulsionar a inovação e a eficiência.
Em janeiro, a Administração Estatal da Indústria e do Comércio da China emitiu um informe acusando as lojas da Alibaba de aceitarem propinas e comercializarem produtos falsificados uma qualificação que a empresa contestou veementemente . Todos esses fatores fizeram as ações da
Alibaba despencarem. A boa notícia para Zhang é que os investidores gostam do que viram nesta quintafeira. As ações da Alibaba subiram aproximadamente 12 por cento nas negociações, mais cedo, depois que os resultados do quarto trimestre da empresa superaram as estimativas dos analistas.
Jack Ma, fundador do grupo Alibaba |
Jack Ma admite ter dito uma vez:
“Não há nada mais temeroso que um diretor financeiro fingindo ser um CEO”.
Ter um diretor financeiro no comando pode ser exatamente o que a Alibaba Group precisa. Em 10 de maio, Daniel Zhang assumirá o posto de CEO da empresa chinesa. Ao indicar Zhang, que substitui Jonathan Lu, a Alibaba sinaliza que está focada nos fundamentos em um momento em que procura se resignar com uma perda de até US$ 90 bilhões em seu valor de mercado nos últimos seis meses.
Zhang, 43, ingressou há oito anos como diretor financeiro da Taobao Marketplace, pertencente ao grupo, e foi subindo até se tornar diretor de operações da Alibaba, em 2013. Conhecido por seu estilo tranquilo e sereno, ele ajudou a construir as plataformas de comércio eletrônico da Alibaba e a inventar o Dia dos Solteiros, uma promoção de compras realizada em 11 de novembro que rende o melhor dia de vendas da empresa e que agora foi adotada por outras empresas chinesas.
A nomeação surge em um momento crucial. A Alibaba está lidando com a desaceleração da economia chinesa e com a maior concorrência de outras empresas de comércio online. A empresa anunciou o congelamento das contratações na semana passada dizendo que o objetivo é impulsionar a inovação e a eficiência.
Em janeiro, a Administração Estatal da Indústria e do Comércio da China emitiu um informe acusando as lojas da Alibaba de aceitarem propinas e comercializarem produtos falsificados uma qualificação que a empresa contestou veementemente . Todos esses fatores fizeram as ações da
Alibaba despencarem. A boa notícia para Zhang é que os investidores gostam do que viram nesta quintafeira. As ações da Alibaba subiram aproximadamente 12 por cento nas negociações, mais cedo, depois que os resultados do quarto trimestre da empresa superaram as estimativas dos analistas.
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