Translate

15 agosto 2013

Capitalismo de Laços

No Brasil, as relações sociais entre empresários e governos têm suas origens no período colonial e, portanto, expressam uma matriz cultural enraizada no ambiente institucional brasileiro. A associação entre instituições privadas e públicas eram (ou são) imprescindíveis para manutenção dos negócios. Na ausência de instituições jurídicas independentes da Coroa Portuguesa, os empreendedores eram “obrigados” a estabelecer relações, mormente com contatos próximos ao governo português para solucionar problemas jurídicos e comerciais. Tanto no passado como no presente, as conexões formadas independem de vínculos sociais estreitos, pois o objetivo precípuo dos atores envolvidos é facilitar transações econômicas.

A despeito das raízes coloniais, a Primeira República, de 1890 a 1915, caracterizada por mudanças institucionais, foi um período econômico mais liberal. Com a ditadura de Vargas, no entanto, o caráter central dos governos, característico da época colonial, retomou e reforçou os laços entre Estado e setor privado. Raymundo Faoro, autor do livro Donos do Poder, caracteriza essa íntima relação como uma “combinação de estatismo com privatismo, obedecendo este às diretrizes daquele, com as compensações de seu estímulo e proteção”.

Sérgio Lazarinni, no livro Capitalismo de Laços, investiga as conexões entre atores públicos e privados por meio dos laços que são expressos na estrutura de propriedade e mecanismos de controles estratégicos das empresas. A abordagem do livro ocorre em três eixos: sistema político, governo e grupos privados.

Devido ao caráter privado e informal (às vezes, formal) entre grupos domésticos privados, sistema político e entidades públicas, o estudo dessas valiosas relações sociais deu-se por meio da análise dos proprietários e controladores de 804 empresas, nos anos de 1996, 2003 e 2009. A observação das estruturas de propriedade das empresas – por meio de laços entre firmas e proprietários, participações societárias conjuntas de vários donos em empresas comuns – revela uma rede, em que há presença de aglomerações empresariais: proprietários com posições acionárias conjuntas nas mesmas empresas, e de atores de interligação de aglomerações distintas que garantem conectividade à rede. Serviços de redes sociais como Facebook, Orkut, Twitter têm características análogas às redes de propriedade. Quando estas exibem atores de ligação que conectam várias organizações, há formação de mundos pequenos. É por isso que as pessoas costumam dizer que “o mundo é pequeno”.

Alguns sociólogos entendem que os sistemas sociais estão enraizados num contexto econômico, isto é, as transações econômicas influenciam a forma de organização da sociedade, assim como as relações sociais têm impacto nas trocas econômicas. O capitalismo de laços é caracterizado por valiosas relações sociais estabelecidas, tanto entre conhecidos ou desconhecidos, para obter recursos limitados ou proveito futuro ou facilitar trocas econômicas. Laço é, na definição de Lazzarini: “relação entre atores sociais para fins econômicos”.

Numa economia de mercado, o capitalismo de laços gera disfunções. Ao influenciar decisões econômicas, contratos sociais e relações políticas, aloca os recursos econômicos sem considerar critérios meritórios e transparentes, em outras palavras, há uma má alocação de recursos, que pode ocorrer de duas formas. Primeira: as decisões empresariais são influenciadas por razões políticas e ideológicas dos governantes, que nem sempre estão de acordo com a estratégia de mercado das firmas. Segunda: empresários que possuem valiosas conexões políticas são favorecidos com concessões de financiamento e subsídios públicos, entre outros recursos escassos.

Por outro lado, em países com ambiente institucional desfavorável – voláteis e hostis – à atividade empresarial, a associação entre entes privados e públicos é forma legítima de proteção: corrobora para a compreensão dos problemas enfrentados pelas instituições privadas. Ademais, formações de alianças serve como instrumento de troca de conhecimento, geração de eficiência produtiva, etc.


Por Pedro Correia, Brasília 15 de agosto de 2013.

Capitalismo de Laços: os donos do Brasil e suas conexões
Sérgio G. Lazzarini
Rio de Janeiro; Elsevier, 2011 – 4ª reimpressão – 184 páginas.

Relatório do Auditor

Diante dos diferentes casos onde as empresas de auditoria falharam em indicar problemas com as empresas auditadas, os reguladores voltaram sua atenção para o relatório de auditoria (ou parecer de auditoria, como queiram). Há anos o texto não sofre grandes alterações, mas isto poderá mudar.

O PCAOB, entidade que regula a auditoria nos Estados Unidos, depois de vários relatórios apontando deficiências nos trabalhos realizados pelas auditorias, resolveu tentar melhorar a qualidade deste texto. Segundo Michael Rapoport, do Wall Street Journal (New Rules Expected for Annual Audit Reports, 12 de agosto de 2013) ainda não está claro o que o PCAOB pretende. E está esperando que os próprios auditores digam o que podem fazer para melhorar o relatório. Uma das possibilidades é que o texto indique se a contabilidade da empresa é agressiva ou não.

Entretanto o WSJ indica que o problema pode estar no modelo de negócios: as empresas contratam e pagam seus auditores, o que faz com que exista certo ceticismo sobre a relação entre empregador e empregado.

Apesar da iniciativa do PCAOB é possível perceber que a mudança ainda levará certo tempo: existirá um período para comentários públicos e mais discussão.

(Fonte do Cartoon aqui)

O Câmbio e a Petrobras

A diluição do impacto cambial no resultado financeiro da Petrobras poderá ser realizada em cerca de sete anos, prazo médio da dívida da estatal, disse nesta segunda-feira (12/08) o diretor financeiro da empresa, Almir Barbassa.

O lucro líquido da petroleira no segundo trimestre superou as expectativas do mercado com uma mudança contábil para reduzir o efeito da alta do dólar na dívida.

A nova contabilidade teve um impacto positivo da ordem de R$ 5 bilhões no lucro de R$ 6,2 bilhões.

"A contabilidade de hedge coloca os números da empresa alinhados com o caixa", afirmou Barbassa durante entrevista a jornalistas.

Como resultado deste efeito benéfico da mudança contábil, a Petrobras poderá distribuir dividendos adicionais de R$ 600 milhões para detentores de ações ordinárias na segundo semestre, acrescentou o executivo.

"Não é distribuição extra, mas o que pode haver é a aprovação pelo Conselho de Administração (do dividendo a mais). Agora com lucro líquido maior, que não foi afetado pela variação cambial, há a oportunidade de aumentar participação das ON's nos dividendos referentes ao ano."

Mas o executivo pondera que a distribuição de dividendos além do esperado terá de passar ainda por decisão do Conselho e de acionistas. "Até o fim do ano ainda tem muita água para correr."

Segundo ele, a distribuição de dividendos para ações preferenciais deverá ter valor definido por percentual de 3% do patrimônio líquido.

Barbassa explicou ainda que pela nova contabilidade, se o dólar recuar, o valor de perda cambial que migrou para patrimônio líquido será retirado do resultado. Caso contrário, se a moeda americana permanecer elevada, a empresa vai descontar tais perdas da receita com exportações, e a diluição será realizada ao longo de vários anos.

Alavancagem

A alavancagem da Petrobras (relação entre o endividamento e patrimônio líquido) pode superar 35% a partir do segundo semestre, mas esse aumento seria neutralizado com uma alta na produção até o final de 2014, afirmou o executivo.

"Mesmo ultrapassando os limites de 35% de dívida líquida, duas vezes e meia o Ebitda, nós estamos vendo novas unidades este ano e ano que vem, vemos um crescimento continuado da produção que vai nos trazer mais recursos e proporcionar menos alavancagem da companhia", afirmou Barbassa.

A alavancagem ficou em 34% ao final do segundo trimestre. Já o índice de dívida líquida/Ebitda ajustado caiu para 2,57 vezes.

A perspectiva de crescimento futuro deverá deixar agências de classificação de risco confortáveis, sem afetar, portanto, o rating da companhia, segundo ele.


Impacto cambial da Petrobras pode ser diluido em 7 anos - Brasil Econômico - Por Sabrina Lorenzi, Rodrigo Viga Gaier e Jeb Blount/ Reuters - 12/08/13 16:37

Jackson

A família de Michael Jackson entrou na justiça tentando ganhar algum dinheiro da empresa AEG Live, que fez um contrato com o cantor antes da sua morte. Um depoimento de um contador forense mostra como as finanças pessoais do cantor era desorganizada. Segundo William Ackerman, contador forense (via Mirror), Jackson tinha uma dívida entre 400 a 500 milhões de dólares. Esta dívida implicou em pagamento de juros anuais de 30 milhões em 2009. A taxa de juros estava entre 7% a 16,8% ao ano.

A situação financeira de Jackson decorre de gastos inadequados (viagens, caridade, presentes, jóias, manutenção do rancho Neverland com seu jardim zoológico e trem). E a situação complicava a cada ano: segundo Ackerman, em 1993 Jackson tinha um dívida de 30 milhões, que aumentou para 140 milhões em 1998.

14 agosto 2013

1,5 milhão

O blog atingiu 1,5 milhão de visitas. Gratos!!!

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

Behavioral Economics for Dummies

A série de livros “for dummies” é muito interessante para aqueles que desejam iniciar num determinado assunto ou para os que gostariam de uma abordagem mais palatável do tema. O texto é carregado de piadinhas, o que faz com que a leitura seja bastante agradável. E é acompanhada por desenhos humorísticos que permite que o tempo passe fácil com a obra.

Comprei o livro Behavioral Economics for Dummies, de Morris Altman, com esta expectativa. Tenho também muitas obras sobre o assunto, mas até hoje não consegui ler um livro que tenha uma estrutura dos temas mais relevantes didática. A obra de Altman divide o assunto em cinco partes, com vinte capítulos no total.

Entretanto a obra é uma grande decepção. O texto não é “leve”, como outros da série “for Dummies”, o assunto não é apresentado de forma agradável ao leitor, existem poucos cartoons para animar a obra e a estrutura realmente não é boa. Por exemplo, o tema “neuroeconomia”, um assunto recente na área, aparece no capítulo 3, bem no início do livro. A última parte do livro, uma lista de “top tens” deveria ser atrativa, mas não atrai.

Em resumo, se você deseja conhecer o assunto, tente outro livro. O de Kahneman pode ser uma boa alternativa. Ou quem sabe qualquer um do Dan Ariely. Mas evite este.

Parceiros do blog:
Amazon Brasil
Americanas
Submarino

Explicações para o balanço

Ainda sobre a questão do hedge:

A adoção da contabilidade de hedge (proteção) por companhias abertas para reduzir o impacto da alta do dólar nos resultados do segundo trimestre está sendo apurada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O regulador pediu explicações para pelo menos dois grupos: Petrobrás e Braskem.

Uma consulta a dados públicos revela que a Superintendência de Relações com Empresas (SEP) da CVM abriu processos administrativos para analisar as informações trimestrais dessas companhias. O da estatal foi iniciado ontem, três dias após a publicação do balanço financeiro do segundo trimestre.

Consultada, a CVM informou que não comenta casos específicos. No entanto, confirmou que a SEP "está analisando o referido tema contábil para um conjunto de companhias, no âmbito do Sistema de Supervisão Baseada em Risco (SBR)".

A prática da contabilidade de hedge é legal e autorizada no País desde 2009. A opção por esse modelo já foi feita anteriormente por grandes companhias. A hipótese é que a CVM esteja questionando o momento e a forma como as duas empresas comunicaram ao mercado a nova política. Esse mecanismo neutraliza parte do impacto da variação sobre a dívida da empresa no curto prazo.

Em entrevista coletiva ontem, o diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, afirmou que a contabilidade de hedge "veio para ficar".

Para Barbassa, a contabilidade de hedge é um instrumento muito útil para países em desenvolvimento, que têm maior dificuldade de captar recursos no mercado internacional "e acabam expostas a variações". Além disso, reduz a volatilidade no resultado fruto de variações cambiais.

Repercussão. A decisão da Petrobrás teve forte repercussão no mercado por ter sido tomada em meio à escalada do dólar.

No segundo trimestre do ano passado, quando o dólar se valorizou 10,93%, a Petrobrás registrou prejuízo de R$ 1,346 bilhão, o primeiro balanço no vermelho desde a maxidesvalorização do real, em 1999.

Tanto a estatal quanto a Braskem passaram a adotar a contabilidade de hedge em maio. No entanto, as companhias só comunicaram a nova prática ao mercado em julho, quando os balanços já estavam fechados.

É possível que a CVM também olhe a maneira como o impacto dessa contabilidade foi destrinchada nos balanços. Outro ponto é verificar se as companhias cumpriram o trâmite necessário à adoção do hedge. Por exemplo, se há garantias de receita futura compatível com a perda contábil referente ao efeito do câmbio sobre a dívida.

Na contabilidade de hedge as exportações são usadas como proteção contra a variação da dívida em moeda estrangeira. A manobra elimina o descasamento contábil entre os efeitos benéficos da valorização do câmbio na receita de empresas exportadoras - mais demorado - e o imediato peso negativo sobre a variação da dívida em moeda estrangeira.

A decisão da Petrobrás de adotar a mudança a partir de maio evitou um resultado trimestral fraco. O lucro de R$ 6,201 bilhões reportado entre abril e junho foi alcançado porque um montante de R$ 7,982 bilhões em perdas cambiais não foi contabilizado no resultado, mas no patrimônio líquido da empresa.

No caso da Braskem, o hedge adotado evitou que o prejuízo líquido de R$ 128 milhões no segundo trimestre fosse mais de oito vezes superior.

O prejuízo da petroquímica teria chegado a R$ 1,082 bilhão no período, segundo a própria empresa.

O início da temporada de balanços do segundo trimestre já indica que nos próximos meses outras companhias tendem a usar a contabilidade de hedge. A mineradora Vale informou que estuda a adoção da prática.

No entanto, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, declarou em teleconferência com analistas e investidores que a empresa decidiu não usar a prática no segundo trimestre para não parecer uma medida "casuística".

Petrobrás e Braskem terão de explicar balanços - Estado de S Paulo, 13 de agosto de 2013

Instituições contagiosas

O Banco Central (BC) está identificando e vai divulgar ao público quais as instituições financeiras oferecem maior potencial de contágio para o sistema financeiro nacional. Delas, será exigido mais de capital para garantir suas operações. A ideia é eliminar o risco de falência - caso em que os prejuízos se espalhariam rapidamente, provocando uma crise sistêmica, como ocorreu em 2008 no mercado financeiro internacional. Na lista, além de bancos, podem estar cooperativas e financeiras.

A identificação das "instituições financeiras sistemicamente importantes" é uma exigência da terceira fase do acordo internacional de capitais, conhecido como Basileia III, que começa a ser implantado no Brasil em outubro. O acordo visa prevenir crises e manter a solidez e estabilidade do sistema financeiro internacional.

Estudo dos pesquisadores do BC Benjamim Tabak, Solange Guerra e Sérgio Rubens Souza, realizado durante um ano com metodologia própria, mostra que entre sete e 11 instituições financeiras podem ser consideradas "sistemicamente importantes" no país - e a maioria é de médio porte. "Tamanho importa menos do que as relações de vizinhança", disse Souza, sem contudo revelar os nomes dos bancos.

"Estar na lista é positivo, pois esses bancos serão vistos como os mais seguros do sistema, uma vez que o BC estará mais atento e fará de tudo para preservá-los", disse uma fonte do BC, que preferiu não se identificar. Alto potencial de contágio é diferente de alto risco de falência. Esses bancos podem ter um baixíssimo risco de quebrar mas, se esse baixíssimo risco se materializasse, os estragos seriam enormes. Por isso, a exigência de mais capital e o reforço da vigilância do BC sobre eles visam eliminar a chance de um deles falir de fato. A lista, contudo, ainda não tem data para ser publicada.

O Comitê de Estabilidade Financeira (FSB, sigla em inglês para Financial Stability Board), identificou uma lista 28 instituições globais com esse potencial (ver quadro). Nela, a maioria é de bancos de peso - e nenhum brasileiro. A lista é revisada anualmente e a próxima sai em outubro. Ben Bernanke, presidente do Fed, banco central dos Estados Unidos, já disse que há 25 bancos sistemicamente importantes nos EUA.

Todos os bancos centrais dos países participantes do acordo de Basileia tem que identificar as instituições locais. Segundo a mesma fonte do BC, os bancos brasileiros que estarão na lista já antecipam isso, e portanto já estão se preparando para aumentar o capital acima dos limites mínimos exigidos. "De 2017 a 2019, somente 2% de todo sistema financeiro nacional precisará de mais capital", disse o presidente do BC, Alexandre Tombini, durante evento sobre estabilidade financeira e contágio realizado na sexta-feira em São Paulo. Para Tombini, as exigências de capital adicional não devem impactar a oferta de crédito no país: "A implantação ocorrerá com tranquilidade, o sistema financeiro nacional já é bastante conservador e a maioria dos bancos já atua com capital acima das exigências", disse. "Basileia III melhora o custo de captação dos bancos e aumenta o potencial de expansão internacional.

Tamanho não é mais documento em outros sistemas financeiros internacionais, e não só no Brasil. Chen Zhou, economista e pesquisador do Banco Central da Holanda, descobriu em suas pesquisas que existem muitos bancos com menos de US$ 13 bilhões em ativos que podem ser considerados sistematicamente importantes.

O especialista sueco Stefan Invés, presidente do comitê de Basileia, também vê na interconectividade entre os bancos o principal fator de contágio. Para ele, não se deve menosprezar a possibilidade de novas crises: "É inevitável". Mas está convencido de que o reforço de capital é uma forma de reduzir a probabilidade e a gravidade das crises no futuro. "Há uma longa lista do que fazer. Regulamentação é só uma parte - supervisão forte é fundamental.


BC divulgará instituições financeiras “contagiosas” - Léa De Luca - Brasil Econômico

OS 28 MAIS NO MUNDO
Grupo 1
■ Citigroup
■ Deutsche Bank
■ HSBC
■ JP Morgan Chase
Grupo2
■ Barclays
■ BNP Paribas
Grupo3
■ Bankof America
■ Bankof NewYorkMellon
■ Credit Suisse
■ Goldman Sachs
■ Mitsubishi UFJ FG
■ Morgan Stanley
■ Royal Bank of Scotland
■ UBS
Grupo4
■ Bank of China
■ BBVA
■ Groupe BPCE
■ Group Crédit Agricole
■ ING Bank
■ Mizuho FG
■ Nordea
■ Santander
■ Société Générale
■ Standard Chartered
■ State Street
■ Sumitomo Mitsui FG
■ Unicredit Group
■ Wells Fargo
FONTE: Financial Stability Board ( FSB); Bancos no Grupo 1 precisam reforçar o capital em 2,5% além da regra básica de Basileia III; no Grupo 2, 2%; Grupo 3, 1,5% e Grupo 4, 1%. A lista será atualizada em outubro

13 agosto 2013

Rir é o melhor remédio

Fonte: aqui

Contabilidade e Dólar 2

O novo patamar do dólar, acima de R$ 2,25, deve levar outras companhias com receita e dívidas em dólar a adotar a contabilidade de hedge para amenizar o efeito da desvalorização do real em suas contas, dizem analistas. Para esses profissionais, uma dessas companhias deve ser a Vale, cujo lucro líquido no segundo trimestre deste ano, de US$ 424 milhões, ficou abaixo das expectativas de mercado e foi 84% menor que o verificado no mesmo período de 2012.

O presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse anteontem, em teleconferência com analistas e investidores, que a empresa decidiu não usar no segundo trimestre a prática para não parecer uma medida "casuística". Ele admitiu, porém, que a empresa avalia o uso da prática como forma de minimizar a volatilidade de seu lucro contábil.

Estudos preliminares da companhia apontam que a adoção do programa com relação ao passivo financeiro líquido reduziria a perda com variação cambial em aproximadamente US$ 2 bilhões no segundo trimestre.

Para Álvaro Bandeira, sócio da gestora de recursos Órama, a tendência é as companhias buscarem mecanismos dentro do novo padrão contábil que reduzam a volatilidade do câmbio em seus balanços.

"Não importa muito a tendência do câmbio, pois as empresas, de alguma maneira, vão encontrar uma forma de se proteger. O problema está na volatilidade. Isso é que acaba com as previsões de fluxos", afirmou. Segundo ele, a volatilidade acaba inibindo investimentos.

Segundo César Lauro, responsável pela área de gestão de riscos da Capitânia, a adoção da contabilidade de hedge para a dívida em moeda estrangeira por companhias como a Petrobrás tende a aumentar o interesse de outros grupos pela prática. Lauro explica que esse é um processo lento, que exige alinhamento interno com o conselho de administração e fiscal, bem como o estudo das consequências desse artifício no médio e longo prazos. "O resultado da variação cambial não registrado hoje fica represado no patrimônio líquido e será registrado no futuro", diz.

Na contramão. A Marfrig, entretanto, não cogita adotar a contabilidade de hedge tão cedo. O presidente da Seara Foods e futuro presidente (CEO) da Marfrig, Sergio Rial, afirmou que "a prática contábil tem uma série de vantagens, mas operacionalmente é complicado". Em teleconferência, ele disse que "o mercado é inteligente o suficiente para entender a volatilidade cambial nos resultados".

Foi justamente a desvalorização do real e seu efeito negativo na dívida em moeda americana o grande causador do prejuízo líquido de R$ 159,9 milhões da Marfrig no segundo trimestre - que exclui, por exemplo, a Seara Brasil, vendida à JBS.

Outra empresa do setor de alimentos, a BRF, já adota a contabilidade de hedge desde 2010. Conforme a empresa, "a prática contábil segue possibilitando reduções significativas na exposição líquida de balanço em moeda estrangeira, em sincronia entre os fluxos das obrigações em dólar e os embarques de exportação".

No segundo trimestre, a empresa registrou lucro líquido de R$ 208 milhões, montante 3.163% maior que os R$ 6 milhões do mesmo período de 2012. Já a Vanguarda Agro adota a contabilidade de hedge desde 1º de agosto. /


Com dólar alto, mais empresas devem recorrer ao 'hedge' - 10 de agosto de 2013 - O Estado de S.Paulo

Contabilidade e Dólar 1

As empresas que adotaram a prática de contabilidade de hedge conseguiram diminuir o impacto da alta do dólar em seus resultados do segundo trimestre de 2013. Entre as companhias que optaram pelo recurso estão Braskem e Petrobrás. Já Vale e Marfrig, que preferiram não adotar a prática, tiveram resultados piores do que os antecipados, principalmente por causa do câmbio.

A contabilidade de hedge usa as exportações como proteção contra a variação da dívida em moeda estrangeira, já que a alta em uma linha compensa a queda da outra. O efeito da variação cambial sobre a dívida em moeda estrangeira não é totalmente contabilizada no resultado financeiro da companhia, mas no patrimônio líquido. Apenas uma parcela da variação da dívida é transferida para o resultado, mas este montante corresponde ao valor que pode ser compensado pelas exportações faturadas naquele período. "Este impacto é reconhecido de forma escalonada, conforme for compensado pela receita", explica o professor de finanças do Insper, Michael Viriato.

O lucro líquido da Petrobrás, que adota a prática desde maio, somou R$ 6,201 bilhões no segundo trimestre, revertendo o prejuízo líquido de R$ 1,346 bilhão registrado em igual período de 2012. O resultado da petrolífera ficou 24% acima das estimativas dos analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Sem o hedge, esperava-se até que a companhia amargasse amargar resultado negativo - o JP Morgan, por exemplo, previa antes prejuízo acima de R$ 2 bilhões no segundo trimestre.

Ao anunciar a adoção da prática contábil, estatal afirmou que "o hedge permite que os resultados contábeis sejam melhor alinhados à realidade econômica e operacional da companhia". No entanto, para alguns analistas, a prática melhora os resultados da estatal, mas de forma artificial, o que reduz a transparência das informações.

Para a Braskem, o prejuízo líquido de R$ 128 milhões do segundo trimestre de 2013 poderia ter sido mais de oito vezes maior não fosse a adoção do hedge desde maio. Somente em maio, o dólar subiu 7,24%, encerrando a R$ 2,147. A escalada da moeda americana frente ao real continuou, e já está no patamar acima de R$ 2,25. Sem a mudança contábil, o prejuízo da petroquímica teria alcançado R$ 1,082 bilhão.

Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) à época da transição para o padrão internacional de contabilidade (IFRS) no Brasil, Eliseu Martins diz que a adoção da contabilidade hedge é importante para eliminar o descasamento contábil entre os efeitos benéficos da valorização do câmbio na receita de empresas exportadoras, que tende a demorar mais para aparecer, e o imediato peso negativo sobre a dívida em moeda estrangeira das companhias.

"Aqui a perda vai ser postergada para acompanhar o reconhecimento dos ganhos com as exportações. Do ponto de vista de informação ao mercado, o balanço fica com melhor qualidade", avalia. Martins diz que o uso do hedge ainda não foi incorporado à cultura empresarial brasileira e ganha espaço apenas quando o câmbio fica "nervoso".

Perigos. Para Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora, a adoção da contabilidade de hedge visa principalmente melhorar a última linha do balanço - garantindo, assim, melhores dividendos aos acionistas. "Por isso, é importante pra o investidor olhar outros aspectos, especialmente a geração de caixa, pois a contabilidade de hedge distorce a comparação com períodos anteriores."

Em relação à Braskem, analistas preveem que, com a contabilidade de hedge, a petroquímica deve melhorar o seu resultado anual e, assim retomar a distribuição de dividendos num futuro próximo.

O professor Eliseu Martins explica que o hedge está dentro das regras contábeis internacionais e são autorizadas no Brasil pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mas lembra que as companhias precisam saber bem o motivo da adoção desse tipo de contabilidade. "É uma prática contábil opcional, mas deve ser adotada de forma consistente. Voltar atrás pode pegar mal e levar a questionamentos da CVM e de acionistas."

O especialista diz ainda que o International Accounting Standards Board (Iasb), órgão que define as regras IFRS, prepara uma minuta para aumentar o uso de políticas de hedge contábil globalmente. A perspectiva é de que ela entre em audiência em 2014. / EULINA OLIVEIRA - O Estado de S.Paulo - COM INFORMAÇÕES DA REUTERS, COLABORARAM MARIANA DURÃO E MÔNICA CIARELLI, DO RIO - 11 de agosto de 2013