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15 fevereiro 2010

Remuneração dos banqueiros 2

Qual o interesse da contabilidade pela remuneração dos banqueiros? Podemos citar pelo menos três motivos que tornam interessante ler sobre o assunto.

Em primeiro lugar, a remuneração representou uma importante discussão contábil sobre a forma de contabilização dos valores. Basicamente a discussão estava em como contabilizar alguns benefícios indiretos, como as opções de ações. Existiam duas correntes, uma que defendia que não deveria aparecer no resultado do exercício da empresa e outra que considerava que o reconhecimento seria como despesa, influenciando o lucro do exercício. Esta discussão foi relevante na década de noventa já que alguns pesquisadores defendiam que considerar as opções como despesas teria impacto sobre o desempenho de empresas em fase de crescimento, reduzindo sua atratividade e, por conseguinte, o volume de investimento. Acredito que existe um consenso que as opções são despesas, apesar de alguma resistência por parte dos executivos de empresas com baixo retorno.

Outro aspecto importante da discussão da remuneração dos banqueiros está em torno da evidenciação das informações. Esta é uma questão mais tropical, já que a transparência destas informações já existe em outros países. Naturalmente que evidenciar estes valores ainda será objeto de resistência por parte dos banqueiros brasileiros.

Finalmente, a discussão sobre remuneração apresenta uma questão interessante dentro da teoria da agência. Esta teoria mostra os conflitos entre principal e agente, discutindo a existência de maneiras de reduzir seus efeitos. Na situação da remuneração, o agente (o executivo) possui interesse de que a remuneração seja a maior possível; mas o principal (os acionistas) provavelmente está interessado em desempenho. Veja o caso do Citi. Apesar de este banco ter apresentado nos últimos anos um baixo desempenho, inclusive sendo socorrido pelo governo dos Estados Unidos, o seu executivo principal, Pandit, recebeu 10,8 milhões de dólares em compensação. Nesta situação específica, provavelmente os interesses do agente estão sobrepujando os interesses dos acionistas, já que maior remuneração significa menor lucro.

Remuneração dos banqueiros

A questão da remuneração dos banqueiros tem despertado muito interesse na imprensa econômica. Uma das questões apresentadas é até que ponto os órgãos reguladores devem interferir no processo que representa uma decisão interna.

Dois gráficos apresentados aqui são interessantes e contribuem para a discussão. Ambos são favoráveis a intervenção neste processo.

O primeiro gráfico foi retirado do blog espanhol El Blog Salmon e mostra a remuneração recebida pelo ex-secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson. Durante seu mandato ocorreu a crise financeira. Os valores apresentados mostram a razão pela qual Paulson não fez muito por medidas contra os excessivos recebimentos dos executivos: quando fazia parte da Goldman Sachs, Paulson um valor expressivo de remuneração.


O segundo gráfico é do blog de Ritholtz e compara a remuneração dos executivos (do lado esquerdo) com a capitalização do mercado, do lado direito. Os bancos chineses pagam valores proporcionalmente reduzidos para seus executivos. Mas os banqueiros estadunidenses recebem valores proporcionalmente elevados.


Nota de zero rúpia

Na Índia uma organização sem fins lucrativos desenvolveu um projeto para lugar contra a corrupção. Apesar da corrupção ser um crime punido, é raro existir resistência por parte das pessoas comuns quando funcionários públicos exigem o "do café". A ONG lançou uma nota de zero rúpia, moeda local, que representa uma declaração contra a corrupção.

Conforme o sítio Nudge, o programa é um sucesso já que existem pessoas dispostas a utilizar as notas. Elas tem pouco a perder e as notas é um sinal de que existe uma organização que está lutando contra a corrupção.

14 fevereiro 2010

Rir é o melhor remédio

A fita com o marido sequestrado e a surpresa final...

Carnaval e Economia

Alegoria de carnaval da ‘Economist’
O Globo - 13/2/2010

Revista britânica compara alta de gastos do governo brasileiro aos excessos do período

LONDRES. O aumento dos gastos do governo brasileiro é um entrave ao corte da taxa básica de juros (Selic) e ao crescimento do país, afirma a revista “The Economist” que chegou às bancas britânicas esta semana. O artigo, chamado “Entrando no espírito do carnaval”, mostra estranheza com alguns hábitos do país nesta época do ano — “quem chega nos aeroportos ganha camisinhas do programa de saúde pública do governo — e diz que “o excesso deste período parece atingir também os pensamentos de economistas e financistas brasileiros”. O motivo são as projeções de crescimento entre 5% e 6% este ano, depois de superar a crise global, e os sinais de superaquecimento e inflação apontados pelo Banco Central (BC).

Além do avanço da inflação em janeiro, de 0,75%, que levou a taxa dos últimos 12 meses a 4,6%, a “Economist” cita outros sinais das elevadas expectativas para 2010. São eles as ofertas de ações previstas para o ano e as preocupações com os gargalos na infraestrutura, que prejudicam, entre outros, as exportações.

“Para desacelerar um pouco as coisas e tentar evitar uma série de alta nos juros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou este mês que o Orçamento será enxugado, a fim de obter no ano um superávit primário (receita menos despesas antes do pagamento dos juros da dívida pública) de 3,3%”. A “Economist” lembra ainda o fim das isenções fiscais para automóveis e produtos da linha branca, o que merece elogios: “retirar estímulos em um ano de eleição mostra maturidade política”.

A “Economist” ressalta, porém, que, no caso brasileiro, os estímulos foram pequenos, de apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). E faz uma crítica: “a maior parte dos gastos extras foi para a contratação de mais funcionários públicos, em vez de construção de estradas, portos e hospitais. Como os funcionários públicos quase nunca são demitidos e enxugar a Previdência Social é cada vez mais difícil, os estímulos deixarão o balanço do governo com uma ressaca bastante prolongada”.

A “Economist” afirma ainda, citando economistas do Itaú, que, para obter o superávit primário prometido por Mantega, o governo teria de cortar suas despesas discricionárias (custeio, investimentos etc., excluindo gastos com pessoal e dívida) em R$496 bilhões. “Isso será difícil em um ano de eleições, quando o governo federal normalmente abre o cofre”, ressalta o artigo.

A revista lembra que as despesas do governo vêm crescendo de forma quase contínua desde 2003, em torno de 8% ao ano em termos reais. “Isso foi possível porque as receitas também cresceram (...). Mas enquanto os recursos extras forem para contratar funcionários em vez de fazer coisas que permitam a economia crescer mais rápido, sem superaquecer, as taxas de juros permanecerão altas”. A Selic hoje está em 8,75% ao ano, o que, segundo a “Economist”, é “absurdamente alta” para a maior parte das grandes economias. “Para o Brasil, é aparentemente muito frouxa”.

“O governo pode gastar menos e abrira caminho para a redução dos juros. Ou pode continuar gastando e ver os juros continuarem elevados, restringindo a taxa sustentável de crescimento do Brasil a cerca de 5%. Isso não é ruim quando se olha o passado recente, mas não é tão bom quanto poderia. O carnaval, porém, trata-se de aproveitar o presente e esquecer o amanhã”.

Política e Contabilidade

Como combater as doações ilegais?

Um dos aspectos mais nefastos no processo eleitoral é justamente o caixa 2. Mas eliminar o caixa 2 não me parece viável.

Por quê?

Porque não tem como, ninguém confessa, nem do lado de cá, nem do lado de lá. O caixa 2 não existe só na eleição, o caixa 2 é geral no Brasil. É relativamente generalizado. Só que eliminar eu não acredito, mesmo em termos eleitorais. Mas é obrigação minimizar o quanto for possível, reduzir o dano.

Reconhece fracasso da Justiça Eleitoral no duelo com o caixa 2?

Não acho que seja fracasso. Acho que há uma extrema dificuldade de se apurar. O ideal, mas não sei se isso é viável, é que a doação apareça imediatamente nos registros, com a identificação do doador. Se ele faz a doação e não declara, fica muito difícil identificar. É a mesma coisa nos crimes de corrupção. Os dois estão de acordo, o corruptor e o corrompido, nenhum deles vai dar subsídio para a Justiça agir. A Justiça só trata com provas e a prova do caixa 2 é que é difícil. A menos que um deles rompa o pacto. Quando alguém rompe é ótimo. (...)

Onde começa o erro?

O problema é que o empresário que doa não quer se identificar. Ele não tem interesse nenhum em se identificar como doador daquele candidato. A lei permite a doação ao partido político que redistribui os recursos da forma como quiser. O que se pretende é que haja uma perfeita identificação. Eu, como eleitor, como cidadão, gostaria de saber quem financiou o meu candidato ou aquele em quem estou cogitando votar. Quem é o financiador? Eu posso concluir: bom, esse financiamento parece absolutamente normal. (...)


'Caixa 2 é geral no Brasil, não só na eleição' - Fausto Macedo - 14/2/2010 - O Estado de São Paulo - Entrevista com Walter de Almeida Guilherme, presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo

13 fevereiro 2010

Rir é o melhor remédio


A Grécia e o Euro

Segredo de Investimento 3

Sergey Aleynikov era funcionário da Goldman Sachs. Quando saiu da instituição, recebeu uma carta de recomendação da empresa. Mas logo depois a Goldman Sachs descobriu que Sergey tinha roubado os códigos secretos de avaliação de investimento da instituição e utilizado para fazer investimentos. Agora a notícia que ele foi formalmente indiciado.

Sergey foi notícia anteriormente neste blog (aqui e aqui)

12 fevereiro 2010

Rir é o melhor remédio




Túmulos, mais aqui

Maldição do Ganhador

A maldição do ganhador é conceito interessante e já foi inclusive tema de livro de Richard Thaler, um dos mais renomados cientistas da área financeira e influente pensador na área de finanças comportamentais. Para entender o conceito, faço uma longa citação do livro de Tim Harford:

Um exemplo conhecido é a “maldição do ganhador”. A maldição decorre de uma característica dos leilões: você só ganha quando os outros interessados acham que você está fazendo um lance muito alto. Posso invocar a maldição e produzir comportamentos desordenados oferecendo em leilão um pote de moedas. Se eu pedir a várias pessoas que estimem o valor total das moedas no pote, provavelmente terei uma resposta bastante precisa. Apesar disso, se eu fizer um leilão do valor das moedas no pote, oferecendo emitir ao vencedor um cheque no valor que for, é quase certo que farei um bom negócio, porque pelo menos um interessado será muito otimista. É a “maldição do ganhador” em ação.

Isso ocorre não porque o leilão produza algum tipo de comportamento psicológico excêntrico, mas sim porque, enquanto a pesquisa com as pessoas nos dá uma estimativa média do valor das moedas, o leilão não produz essa média. Ao contrário, o leilão seleciona automaticamente o maior lance; quanto mais extravagante, melhor. A pesquisa revela aquilo que James Surowiecki, colunista do New Yorker, chama de “sabedoria das multidões”. O leilão, por sua vez, revela o maior dos tolos

HARFORD, Tim. A lógica da vida. Rio de Janeiro, Record, 2009, p. 71-72

A questão da maldição do ganhador é interessante no setor público brasileiro por duas razões principais. A primeira diz respeito ao processo de privatização e a segunda a sistema de compras.

Vamos começar com a privatização. O governo ao promover a privatização das suas empresas está redirecionando seus esforços para áreas que ele entende serem mais relevantes. Assim, em lugar de concentrar na produção de minério, o governo aloca recursos em escolas, por exemplo. Uma das maiores críticas ao processo de privatização promovido na década de noventa do século passado é que as empresas foram vendidas por um preço baixo. A leitura do texto de Tim Harford dá a entender que esta crítica não procede, pois sendo um processo de leilão, o vencedor foi o maior dos tolos.

Mas isto só é verdadeiro quando o processo garante um número razoável de participantes ou pelo menos a possibilidade de que este número seja elevado. Em geral, quando o número de participantes é elevado, aumenta a chance de aparecer um grande tolo. Entretanto, existe aqui um trade-off, pois o governo precisa, de certa forma, garantir que o vencedor tenha realmente condições de absorver a empresa privatizada, o que por si conduz a regras de restringem o aumento no número de participantes.

O sistema de compras possui também um tipo de leilão, sendo o objetivo obter o menor preço. Novamente aqui temos uma grande vantagem, que é reduzir os gastos públicos. Entretanto, o sistema precisa garantir que as empresas que participem possuam um grau mínimo de qualidade; além disto, o risco não pode ser grande, pois isto conduziria a repetição do processo de leilão. Em alguns casos, as empresas que participam terminam por desistir do processo, trazendo prejuízos para a área pública.

Teste #231

Ser presidente de um banco central não é uma tarefa fácil. Imagina-se que o salário seja compensador. Os três presidentes de bancos centrais abaixo ganham 1,320 mil de dólar, 450 mil dólares e 191 mil dólares. Quem você acha que ganha 1,32 milhão por ano?


 

Ben Bernanke - dos EUA

Jean-Claude Trichet - da Comunidade Européia

Joseph Yam - de Hong Kong


 

Resposta: está na ordem. O blog do Becker é o mais relevante. Fonte: Blogmetrics , de Franklin G Mixon Jr. and Kamal P Upadhyaya, Eastern Economic Journal (2010) 36, 1–10

Representatividade dos investidores no Iasb

Na semana passada, duas pessoas com background corporativos foram nomeados para o IASB. (...)

Historicamente, os investidores raramente têm uma representação adequada no IASB e nas organizações antecessoras. Normalmente, os membros do IASB têm um background de uma grande empresa de auditoria, mas uma grande minoria dos membros tem origem na contabilidade das empresas. Dos atuais 15 membros do grupo, apenas dois ou três membros possuem um background de um fundo de investimento. (...)

Este é um evento significativo, com implicações graves. Empresas preferem regras contábeis flexíveis, de modo que as transações semelhantes podem ser contabilizadas de forma diferente por empresas ou mesmo por uma única empresa. Os investidores preferem regras contábeis mais rígidas, para que as transações são contabilizadas de maneira uniforme.

Corporações e os auditores afirmam que a contabilidade flexível irá fornecer divulgações mais informativas. Os investidores estão céticos (...)

Investidores nos Estados Unidos devem estar cientes da diferença de foco entre as regras contábeis do FASB e do IASB. Nos Estados Unidos, o objetivo da contabilidade financeira é visto amplamente como o fornecimento de informações aos investidores para que eles possam tomar as melhores decisões de investimento. Em contraste, a finalidade da contabilidade financeira no âmbito do IASB é ajudar as empresas a levantar capital. Na prática, as regras contábeis podem diferir significativamente nas duas ênfases. (...)

Fonte: Investors dissed as Two Appointed to Iasb, David Albrecht, 6 de fevereiro de 2010-02-11